quarta-feira, 30 de março de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 13º capítulo


But I will not renounce all hope
A partir do momento que eu te vi pela primeira vez
Toda a escuridão virou luz
Uma pintura impressionista
Pequenas partículas de luz

(Madonna - Masterpiece)

Luiza

Assim que o Bill saiu com a Seren, na primeira vez em que a vi, corri até o escritório do Stephen. Perguntei:

- Ela vai ser Coyote?

- Vai. Alguma oposição quanto à isso?

- Não. Eu mesma quero treiná-la.

Ficou desconfiado, claro.

- Por quê?

- Lembra daquilo que eu tenho, de bater o olho na pessoa e dizer se vou gostar ou não dela?

Concordou.

- O santo bateu?

- High five daqueles. E outra: eu estou com o Alex. Sem falar que só seria capaz de proteger o Bill se o meu santo realmente tivesse espancado o dela.

- Fechado. Vai ser sua pupila. E você se comporte, hein?

- Apesar de a tentação de ser uma garota má ser enorme... Vou deixar esse meu lado negro para o Alex.

- Ai meu Deus... Eu realmente prefiro te imaginar como a garota doce de sete anos atrás que cruzou aquelas portas e nem conseguia dançar sobre o balcão sem sentir vergonha.

Ri e falei:

- Carta branca para transformar a menina numa Coyote como nós?

- Liberada. Olha lá, hein, Luiza...

- Confia em mim. Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Na semana seguinte, quando ela chegou com o Bill, esperei a primeira oportunidade para falar a sós com ela. Estava intimidada por mim e, assim que chegamos no camarim, avisei:

- Você provavelmente já sabe que sou a gerente daqui e você é uma Coyote em treinamento. Portanto, está em período de avaliação, do mesmo jeito que os lobinhos. Senta. - Apontei o sofá de couro vermelho que havia ali e ela prontamente obedeceu. Eu fui na direção de uma das cadeiras de maquiagem e falei: - Seguinte: Tenho uma reputação de ser durona aqui, mas quero que você saiba que se você precisar de qualquer coisa mesmo, nem é para pensar duas vezes antes de vir falar comigo. Não é para ficar com medo de mim porque as únicas pessoas que eu mordo são meu namorado e a filha daquela ruiva, a Nicola. Mas a Sophia é fofa e mordo de leve. Enfim. Dúvidas?

- Eu vou ter de dançar em cima do balcão?

- Por enquanto... Não. Mas quero fazer um teste com você depois.

- As roupas que eu tenho... Não acho que são muito...

- Sei... Vamos fazer o seguinte: Amanhã, na hora do almoço, você me encontra em Brompton que vamos fazer umas compras. - Abriu a boca para retrucar e falei: - Não senhora. Não aceito recusas porque vão ser um presente de boas-vindas. Aliás... Depois que a gente terminar, quero começar a te treinar para ser Coyote. Pelo que estou vendo, você é toda... - Estiquei os braços e as pernas, endurecendo praticamente todo o corpo. - e também um pouco tímida.

- O Bill falou que você também é.

- É. Mas o foco aqui é você. Não eu. Reparei em você outro dia e você é muito... - Falei, tentando achar uma definição boa. - Parece que você tem medo que os outros te vejam de verdade. Tem vergonha, eu diria. Estou errada?

Negou com a cabeça, que estava baixa e ela olhava para o chão.

- Tem quanto tempo desde a última vez que você namorou?

- Três anos. E desde então tive uns... Três encontros.

- É... Não vai ser mole, mas vou te ajudar. Uma das grandes vantagens de trabalhar como Coyote é justamente a autoestima que vai subir que é uma maravilha. - Riu e perguntei: - Posso então te ajudar com isso?

- Pode.

- Bem-vinda ao Coyote.

Ela sorriu largamente.

Naquela noite, depois que o cara deu em cima dela e o Bill falou com os seguranças para o tirarem dali, aproveitei e chamei a Seren num canto e perguntei:

- Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça e falei:

- Olha, infelizmente, esses caras são bem comuns por aqui. Acabam exagerando na bebida e acham que podem sair falando qualquer besteira. Quando isso acontecer, me avisa, ok?

Repetiu o gesto e voltamos ao trabalho.

No dia seguinte, assim que nos encontramos, ficamos um tempo andando e só olhando as vitrines e conversando.

- Sério, perdi a conta de quantas vezes as pessoas me chamam de Serena. - Ela contou.

- E você não tem um apelido?

Negou.

- Eu vou te arrumar um, pode ser?

Mesmo com medo, não se opôs. Quando estávamos numa das lojas que decidimos entrar, ela perguntou:

- O seu namorado é aquele cara, o... Ireland, não é?

Concordei.

- Ele estava no bar no seu primeiro dia de trabalho. - Respondi.

- Ah é?

- Foi. Vez ou outra ele vai.

Ela pareceu pensar um pouco e falei:

- Está um pouco óbvio demais que você está querendo me perguntar alguma coisa mas está sem jeito. Pode falar.

Engoliu em seco e perguntou:

- Ia ficar brava se eu... Tentasse alguma coisa com o Bill?

- Claro que não! - Respondi. - Eu te ajudo, se quiser.

Sorriu e retribuí.

Nem bem tínhamos entrado na Topshop e falei:

- Ah! Lembrei que tenho uma coisa para fazer e já venho. Pode ir começando a olhar as roupas.

Aproveitando que ela logo se distraiu, fui até a Harrod’s e, logo que cheguei à sessão feminina, encontrei o que procurava. Em seguida, fui até o subsolo. Assim que entrei na parte de vinhos, um rapaz, não tão mais velho que eu, de nariz empinado e me olhando de cima a baixo, se aproximou e disse, com ar de superioridade:

- Posso... Ajudá-la?

- O Roger está?

- Ele está em atendimento. Seria só com ele?

- Sim. Meu namorado fez a reserva de um vinho e eu vim buscar.

- A reserva foi feita no nome de quem? - Ele falou, se sentando à uma mesa e pronto para digitar.

- Alexander Ireland.

O idiota não segurou uma risada discreta e comecei a perder a paciência. Peguei o celular na bolsa e disquei o número do Alex. No terceiro toque, ele atendeu:

- Oi, linda. Estava pensando em você agora.

- Oi. Eu vim buscar o vinho aqui na Harrod’s... O Roger está ocupado e o vendedor que está me atendendo não quer acreditar no que eu estou falando...

- Deixa eu falar com ele por favor.

Entreguei o celular e, pelo que pude ouvir, o Alex passou uma descompostura daquelas no vendedor, que, assim que terminou de ouvir um monte, me devolveu o celular.

- Quando acabar as compras, eu vou lá para a casa, ok? - Perguntei, enquanto o vendedor registrava a retirada do vinho.

- Ok. Já estou quase acabando aqui também.

Nos despedimos e, quando estava prestes a pegar a carteira, fui avisada que o vinho já tinha sido pago. O vendedor, ainda tremendo e morrendo de vergonha, me entregou a embalagem e falei:

- Só uma dica, tá? Da próxima, não julgue um livro pela capa.

Bati no seu ombro de leve e saí.

Logo que encontrei a Seren na Topshop, vi que o Bill estava falando com ela. Antes de me aproximar, eu respirei fundo.

Depois de algum tempo, quando a Seren terminou de experimentar mais umas roupas que eu havia sugerido para ela, perguntou:

- O que eu estou fazendo de errado?

- Sendo teimosa. - Respondi. - As roupas que a gente usa no bar não são tão difíceis assim. É camiseta regata ou com manga curta, jeans e botas de salto. Ou aquelas de montaria. A blusa pode ter um detalhe de uma transparência, um decote não tão chamativo... É o que o povo fala que é ser sexy sem ser vulgar.

- Roupas justas?

- Preferencialmente as calças. - Falei.

- Pode ser uma camiseta mais... Solta?

- Depende. Teve alguma que você gostou?

Concordou.

- É larga, mas daquelas que deixa um ombro aparecendo.

Parei para pensar um pouco e falei:

- Talvez com um cinto mais grosso ou espartilho... É. Talvez role.

Quando ela entrou de novo no provador, a ouvi perguntar:

- O Bill não implicava com você por causa das roupas?

Dei uma risada fraca e respondi:

- Uma vez, ele cismou de comprar um vestido para mim. E um sapato. Quase bati nele na hora.

- E como era o vestido? - Ela quis saber e só então, notei que ele estava ali. Tinha trazido umas camisetas e duas calças e estava prestando atenção à nossa conversa.

- Hérve Leger.

- Mas... Não são aqueles vestidos justos... Bandagem, não é?

- É. - Respondi.

- Mas você não respondeu à minha pergunta. - Ela cobrou, saindo da cabine. Viu que ele estava ali e corou.

- Pode perguntar diretamente para ele. - Respondi e ela quase quis morrer.

Não muito tempo depois, quando tínhamos saído dali com algumas das roupas que o Bill e eu praticamente obrigamos a Seren a comprar, ouvi o meu celular e, logo que o pesquei de dentro da minha bolsa, atendi meio sem ver quem era. Tanto que me surpreendi ao ouvir a voz da Lee do outro lado da linha:

- Luiza? É a Lee. Tudo bem?

- Ah... Oi. Tudo bem. E você?

- Também. Escuta, estou tentando falar com o Alex, mas não estou conseguindo. Sabe dele?

- Falei com ele agora há pouco e me avisou que estava no trabalho.

- Pois é. Liguei para lá, mas ele já tinha saído. O celular não atende...

Olhei para o Bill e a Seren que estavam vendo a vitrine de uma loja e falei:

- Eu vou lá para Mayfair. Mas vou passar o recado logo que encontra-lo.

- Ok.

Agradeceu e nos despedimos. Me aproximei da Seren e avisei:

- Eu vou ter de ir agora.

- Sério? Aconteceu alguma coisa?

Olhei para o Bill, que estava interessado até demais na minha resposta.

- Pois é...

Para minha sorte, o próprio Alex me mandou uma mensagem e só mostrei o celular.

- Ah... Entendi. - Ela falou. - Bom, vai lá.

- Kaulitz, será que você pode ajudar a Seren pelo resto do dia?

- Claro. Aposto que vamos aproveitar muito mais do que você...

Ignorei a provocação justamente por ser o melhor que eu podia fazer.

Logo que cheguei em casa, o Alex estava no banho. Não resistindo, tirei toda a roupa e entrei no box, o surpreendendo.

Depois de um banho especialmente longo, finalmente saímos dali e, enquanto eu me vestia, ele ficou me observando.

- O que foi?- Perguntei.

- Você está chateada?

- Não... Teria algum motivo?

- Aquela garota que começou a trabalhar como Coyote...

- O que tem? Anda, Alex, fala logo de uma vez.

- Você não está com ciúmes dela com o Bill.

- Não, não estou.

Franziu as sobrancelhas e falei:

- Tá. Eu estou tentando entender o seu estranhamento com o fato de eu não sentir ciúmes da Seren.

- Porque eu vi como você ficou desde que o Bill veio de Los Angeles e toda e qualquer garota dava em cima dele no bar.

- Quer mesmo saber a verdade? - Perguntei e ele concordou. - Eu tenho namorado. E como ele não é o Kaulitz... Tudo o que posso fazer é torcer para que o Bill seja feliz com quem for. A Seren me parece uma boa pessoa e eu acho que talvez ela seja a garota certa para ele.

Me olhou, analisando e disse, surpreso:

- Você está falando sério!

- E por que eu mentiria? Estou com você, não com ele. Por mais que estejamos brigados, não tem por que desejar que o Bill coma o pão que o diabo amassou. Não tem sentido!

Ele estava chocado, fato. E eu sabia que ele não seria o único.

No dia seguinte, aproveitando que o Stephen tinha dito que estava pensando em fazer uma festa temática em março, as meninas e eu fomos até a casa da Nadine e, como ela tinha mandado fazer no porão uma sala para ensaiarmos ali (A Lola e eu também tínhamos feito uma nas nossas casas), chamamos a Claire, que tinha convencido o Stephen a deixa-la voltar às suas antigas funções de coyote, e a Seren, que estava tímida, num canto.

- Cansei! - Resmunguei, ao ver a novata morrendo de vergonha. - Seren! Vem cá.

Me obedeceu, tremendo mais que vara verde, e falei:

- Você tem que ser uma Coyote. Não uma Chihuahua. Os caras dão em cima de você, mesmo que continue com essa besteira de timidez.

- Eu tenho vergonha. Vejo vocês em cima do palco, dançando e com os caras babando por vocês...

- Do que você tem vergonha, exatamente? - A Nicola perguntou.

- De tudo. Eu sou desajeitada, acho que meu peito é grande demais, os quadris são estreitos demais, as pernas são muito finas...

Olhamos para a Nadine, que disse:

- Quer pernas mais finas que as minhas? E olha que os caras sempre babaram por elas...

- E tenho um problema sério que falta peito e sobra sutiã. - Falei e a Seren riu. - Mas você acha que isso importa? Cada cara é diferente. Cada um gosta mais de uma coisa, mas estão mais interessados é na mulher como um todo.

- Alex andou te mimando? - A Claire perguntou e concordei.

- Aprontou alguma. - Respondi, brincando. - Até tenho cá minhas suspeitas, mas... Não vou falar nada.

- O que ele fez? - A Lola logo quis saber, interessada até demais para o meu gosto.

- Acho que ele andou gastando um pouco demais em um vinho... - Comentei. - Mas a questão não é o Alex, mas sim, a Seren.

Fizemos com que ela dissesse tudo que a deixava insegura. E ainda conseguimos descobrir que ela se achava feia. Sendo que não era verdade. Ela chamava a atenção, verdade fosse dita.

- Eu sugiro uma noite só do clube da Luluzinha. - A Nadine falou. - A gente dá um perdido nos meninos e vamos à uma boate. Vamos ver quantos caras chegam em cada uma. Se a Seren receber mais de dez elogios... - A Seren se encolheu frente à possibilidade. - Vai deixar a gente te transformar. E sem reclamações, fechado?

- Vocês vão perder. - Ela retrucou e estávamos confiantes demais, verdade fosse dita. E estávamos ansiosas para começar.

Na quarta-feira, quando eu estava terminando de almoçar com o Alex, o meu celular tocou e vi que era o número do arquiteto que estava controlando a reforma da minha casa. Atendi:

- Oi?

- Luiza? Estou te ligando para avisar que está tudo pronto.

- Ah é? E quando posso fazer a mudança?

- Amanhã mesmo, se quiser. O Alex já chamou um pessoal para cuidar da limpeza e eles já estão chegando.

- Ai, que bom. Obrigada pelo aviso.

Agradeci e me despedi do arquiteto e, quando desliguei, olhei para o Alex e falei:

- Quer dizer então que você sabia que a minha casa já estava pronta, é?

Sorriu e disse:

- E já contratei o serviço de mudanças. Tem problema de eu ter marcado para domingo?

Neguei; Logo que tinha ido morar com o Alex em Mayfair, tinha empacotado tudo e por isso mesmo seria mais fácil.

- Eu... Fiz um pequeno favor ao Kaulitz. - Ele avisou.

- Que favor?

- Dei um jeito de a casa dele ficar pronta rápido também.

Ok. Por essa eu realmente não esperava.

- Eu quero te propor uma coisa. - Falou, pegando na minha mão. Enrijeci, já imagi-nando certas coisas e ele continuou: - A gente podia fazer um almoço no domingo, para comemorar seu aniversário, o que você me diz? Podemos chamar todo mundo e não se preocupe com o que vai ser servido; Pedi para minha mãe cuidar de toda essa parte e só falta mesmo você concordar.

- A casa vai estar uma bagunça.

- Posso muito bem contratar aquele pessoal que organiza tudo.

Ri fraco e disse:

- Sorte sua que todo mundo sabe como eu sou bagunceira. - Me inclinei um pouco sobre a mesa e roubei um selinho demorado.

- E então? Posso fazer o convite formal para todo mundo? - Ele perguntou, depois que saímos do restaurante.

- Eu faço isso. - Respondi.

No dia seguinte, quando as meninas e eu arrastamos a Seren para um shopping, a Di aproveitou que as outras estavam mais afastadas de nós e quis saber:

- Até quando você vai ficar brigada com o Bill?

- Depois do que falei com ele, era para o Bill nem olhar mais na minha cara.

- "O amor é como a guerra; fácil de começar, e muito difícil de terminar.".

- A prova disso é a guerra dos cem anos.

- Vai mesmo esperar um século inteiro para voltar às boas com ele? Está realmente um saco sair com vocês dois separados. Pior é o concurso para ver quem tem a maior tromba.

Ri fraco e perguntei:

- O que você sugere que eu faça?

- Liga para ele. Pede desculpas pelo que você disse. E conversa francamente. Não estou falando para você simplesmente dar um pé na bunda do Alex e ir correndo para a cama do Bill. - Franzi as sobrancelhas e ela fez uma careta também. - O que eu estou dizendo é para você não deixar passar essa chance de ter pelo menos a amizade dele.

Logo, fomos interrompidas pela Claire, que nos arrastou até o provador para darmos palpites nas roupas que ela e a Lola tinham escolhido para a Seren.

Naquela noite, aproveitando que o Alex ainda não tinha chegado, hesitei antes de pegar o celular. Quando finalmente reuni coragem... Pensei por um bom tempo no que ia escrever. Acabei optando pelo caminho curto e direto:

Eu queria conversar com você. O que vai fazer amanhã?

Respirei fundo e apertei o botão para enviar a mensagem. Em seguida, virei o telefone com a tela virada para baixo e aproveitei que a Vivi pulou em cima da cama para coçar atrás das suas orelhas. Ela se assustou com o tremor do aparelho e, sabendo que era uma resposta, li:

Sobre o que quer conversar comigo?

Ai, Kaulitz. Perdi a paciência e liguei para ele. Atendeu quase de imediato e falei:

- Antes de qualquer coisa, não me interrompe, por favor. Eu quero conversar com você porque não está dando mais para continuar assim. Reconheço que errei em ter fala-do aquilo com você e isso de ficar um virando a cara para o outro é... Irritante.

Ele ficou em silêncio.

- Me dá um bom motivo para não continuar te ignorando.

Filho da mãe.

- Eu... - Comecei a dizer, um pouco hesitante, mas, respirei fundo antes de respon-der: - Eu sinto a sua falta. Mais do que deveria.

Outra pausa, tão grande quanto a primeira.

- Onde? - Perguntou, suspirando.

- Tanto faz. O importante é a gente conversar e acabar essa briga porque eu não estou mais aguentando ficar nisso.

- Bom, foi você quem quis...

Suspirei e ele perguntou:

- A gente pode almoçar amanhã?

- Pode, claro. Tem um restaurante novo aqui perto e...

- Tem? Eu nem sabia...

Hesitei e respondi:

- Então. Eu... Acho que você percebeu que saí aí do prédio. Estou temporariamen-te em Mayfair.

- Ah... Entendi. Bom, não tem problema. Quer que eu te busque ou você passa aqui?

- Eu te busco. Uma hora está bom?

Concordou e nos despedimos, ainda mais que eu ouvi o barulho das chaves do Alex.

Então, no dia seguinte, pontualmente à uma da tarde, estava esperando pelo Bill dentro do carro e mexendo no celular, distraída. Estava trocando mensagens com a Nadine sobre a primeira mudança drástica que faríamos com a Seren quando ouvi umas batidas leves no vidro da janela do passageiro. Olhei para o lado e destravei a porta para o Bill entrar. Para a minha surpresa, ele me cumprimentou com os beijinhos no rosto e terminei de digitar a mensagem para a Di, mandando em seguida.

Logo que chegamos ao restaurante, que era italiano, o Bill deu uma boa olhada ao redor e parecia impressionado. Falei com o garçom:

- Pode me trazer, de entrada, essa porção de saltimbocca, o prato principal pode ser o cannelloni de ricota com tomate seco.

O Bill pediu as mesmas coisas, exceto a entrada. Quando o prato principal foi trazido, começamos a conversar e ele escutou tudo em silêncio o que eu tinha para dizer. Fiz o mesmo quando ele falou, inclusive, o que estava sentindo. Por fim, conseguimos nos entender.

Quando o garçom trouxe as sobremesas, o assunto já tinha mudado de rumo e o Bill comentou:

- A Seren está começando a mudar.

- Ah é? Vocês já saíram finalmente?

- Não. Sair no meio da semana é até... É ruim. Não dá para aproveitar como se deve.

Tive que concordar.

- Você podia me ajudar com ela.

Franziu as sobrancelhas e, logo, mudou a expressão, claramente pensando besteira.

- O Alex finalmente aceitou que você fizesse... - Começou a dizer e falei:

- Já fiz. Mas eu não quero sua ajuda com a Seren para isso. Quero que você me ajude fazendo com que ela ceda um pouco às ideias que eu e as meninas temos para que ela ganhe mais confiança e a gente consiga fazer com que ela dance sobre o balcão.

- Você realmente fez um ménage e o Alex concordou?

- Justamente porque era uma mulher, não outro cara.

- E aí?

- Aí que você está sendo muito intrometido. Sossega. - Bati de leve no seu ombro e ele riu.

- Ainda acho estranho que ele tenha aceitado de boa te dividir com outra mulher...

Franzi as sobrancelhas e comentei:

- Do jeito que você falou, até parece que tenho um caso com uma garota.

E para quê eu fui falar aquilo...

- Você se comporte. - Avisei. - Estamos em um lugar público e em plena luz do dia!

- Mas é você quem tá estimulando... Isso.

Suspirei e lembrei de uma coisa.

- A reforma de lá de casa acabou.

- Ah é? E quer fazer uma comemoração? - Perguntou e na mesma hora entendi o que ele quis dizer.

- Mas você quer parar? Eu quero sim comemorar, mas é o meu aniversário. No domingo e vou chamar o pessoal. Inclusive a Seren.

- Vai ser na sexta-feira, não é?

Assenti.

- E não vai fazer nada no bar? Quer dizer, acho que o Stephen não vai se importar se você tirar folga...

- Já pedi folga outro dia e não quero ficar abusando demais. Então, na sexta-feira... Nada de comemoração, ainda mais surpresa, entendido?

Concordou, se fingindo de bom moço.

Depois que cada um foi para um lado, foi estranho. Só então me dei conta do quanto senti falta dele durante aquele tempo todo em que ficamos sem nos falar direito.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 13º capítulo - Interativa








But I will not renounce all hope

A partir do momento que eu te vi pela primeira vez
Toda a escuridão virou luz
Uma pintura impressionista
Pequenas partículas de luz

(Madonna - Masterpiece)



Assim que o saiu com a Seren, na primeira vez em que a vi, corri até o escritório do Stephen. Perguntei:

- Ela vai ser Coyote?

- Vai. Alguma oposição quanto à isso?

- Não. Eu mesma quero treiná-la.

Ficou desconfiado, claro.

- Por quê?

- Lembra daquilo que eu tenho, de bater o olho na pessoa e dizer se vou gostar ou não dela?

Concordou.

- O santo bateu?

- High five daqueles. E outra: eu estou com o . Sem falar que só seria capaz de proteger o se o meu santo realmente tivesse espancado o dela.

- Fechado. Vai ser sua pupila. E você se comporte, hein?

- Apesar de a tentação de ser uma garota má ser enorme... Vou deixar esse meu lado negro para o .

- Ai meu Deus... Eu realmente prefiro te imaginar como a garota doce de sete anos atrás que cruzou aquelas portas e nem conseguia dançar sobre o balcão sem sentir vergonha.

Ri e falei:

- Carta branca para transformar a menina numa Coyote como nós?

- Liberada. Olha lá, hein, ...

- Confia em mim. Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Na semana seguinte, quando ela chegou com o , esperei a primeira oportunidade para falar a sós com ela. Estava intimidada por mim e, assim que chegamos no camarim, avisei:

- Você provavelmente já sabe que sou a gerente daqui e você é uma Coyote em treinamento. Portanto, está em período de avaliação, do mesmo jeito que os lobinhos. Senta. - Apontei o sofá de couro vermelho que havia ali e ela prontamente obedeceu. Eu fui na direção de uma das cadeiras de maquiagem e falei: - Seguinte: Tenho uma reputação de ser durona aqui, mas quero que você saiba que se você precisar de qualquer coisa mesmo, nem é para pensar duas vezes antes de vir falar comigo. Não é para ficar com medo de mim porque as únicas pessoas que eu mordo são meu namorado e a filha daquela ruiva, a Nicola. Mas a Sophia é fofa e mordo de leve. Enfim. Dúvidas?

- Eu vou ter de dançar em cima do balcão?

- Por enquanto... Não. Mas quero fazer um teste com você depois.

- As roupas que eu tenho... Não acho que são muito...

- Sei... Vamos fazer o seguinte: Amanhã, na hora do almoço, você me encontra em Brompton que vamos fazer umas compras. - Abriu a boca para retrucar e falei: - Não senhora. Não aceito recusas porque vão ser um presente de boas-vindas. Aliás... Depois que a gente terminar, quero começar a te treinar para ser Coyote. Pelo que estou vendo, você é toda... - Estiquei os braços e as pernas, endurecendo praticamente todo o corpo. - e também um pouco tímida.

- O falou que você também é.

- É. Mas o foco aqui é você. Não eu. Reparei em você outro dia e você é muito... - Falei, tentando achar uma definição boa. - Parece que você tem medo que os outros te vejam de verdade. Tem vergonha, eu diria. Estou errada?

Negou com a cabeça, que estava baixa e ela olhava para o chão.

- Tem quanto tempo desde a última vez que você namorou?

- Três anos. E desde então tive uns... Três encontros.

- É... Não vai ser mole, mas vou te ajudar. Uma das grandes vantagens de trabalhar como Coyote é justamente a autoestima que vai subir que é uma maravilha. - Riu e perguntei: - Posso então te ajudar com isso?

- Pode.

- Bem-vinda ao Coyote.

Ela sorriu largamente.

Naquela noite, depois que o cara deu em cima dela e o falou com os seguranças para o tirarem dali, aproveitei e chamei a Seren num canto e perguntei:

- Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça e falei:

- Olha, infelizmente, esses caras são bem comuns por aqui. Acabam exagerando na bebida e acham que podem sair falando qualquer besteira. Quando isso acontecer, me avisa, ok?

Repetiu o gesto e voltamos ao trabalho.

No dia seguinte, assim que nos encontramos, ficamos um tempo andando e só olhando as vitrines e conversando.

- Sério, perdi a conta de quantas vezes as pessoas me chamam de Serena. - Ela contou.

- E você não tem um apelido?

Negou.

- Eu vou te arrumar um, pode ser?

Mesmo com medo, não se opôs. Quando estávamos numa das lojas que decidimos entrar, ela perguntou:

- O seu namorado é aquele cara, o... , não é?

Concordei.

- Ele estava no bar no seu primeiro dia de trabalho. - Respondi.

- Ah é?

- Foi. Vez ou outra ele vai.

Ela pareceu pensar um pouco e falei:

- Está um pouco óbvio demais que você está querendo me perguntar alguma coisa mas está sem jeito. Pode falar.

Engoliu em seco e perguntou:

- Ia ficar brava se eu... Tentasse alguma coisa com o ?

- Claro que não! - Respondi. - Eu te ajudo, se quiser.

Sorriu e retribuí.

Nem bem tínhamos entrado na Topshop e falei:

- Ah! Lembrei que tenho uma coisa para fazer e já venho. Pode ir começando a olhar as roupas.

Aproveitando que ela logo se distraiu, fui até a Harrod’s e, logo que cheguei à sessão feminina, encontrei o que procurava. Em seguida, fui até o subsolo. Assim que entrei na parte de vinhos, um rapaz, não tão mais velho que eu, de nariz empinado e me olhando de cima a baixo, se aproximou e disse, com ar de superioridade:

- Posso... Ajudá-la?

- O Roger está?

- Ele está em atendimento. Seria só com ele?

- Sim. Meu namorado fez a reserva de um vinho e eu vim buscar.

- A reserva foi feita no nome de quem? - Ele falou, se sentando à uma mesa e pronto para digitar.

- ander .

O idiota não segurou uma risada discreta e comecei a perder a paciência. Peguei o celular na bolsa e disquei o número do . No terceiro toque, ele atendeu:

- Oi, linda. Estava pensando em você agora.

- Oi. Eu vim buscar o vinho aqui na Harrod’s... O Roger está ocupado e o vendedor que está me atendendo não quer acreditar no que eu estou falando...

- Deixa eu falar com ele por favor.

Entreguei o celular e, pelo que pude ouvir, o passou uma descompostura daquelas no vendedor, que, assim que terminou de ouvir um monte, me devolveu o celular.

- Quando acabar as compras, eu vou lá para a casa, ok? - Perguntei, enquanto o vendedor registrava a retirada do vinho.

- Ok. Já estou quase acabando aqui também.

Nos despedimos e, quando estava prestes a pegar a carteira, fui avisada que o vinho já tinha sido pago. O vendedor, ainda tremendo e morrendo de vergonha, me entregou a embalagem e falei:

- Só uma dica, tá? Da próxima, não julgue um livro pela capa.

Bati no seu ombro de leve e saí.

Logo que encontrei a Seren na Topshop, vi que o estava falando com ela. Antes de me aproximar, eu respirei fundo.

Depois de algum tempo, quando a Seren terminou de experimentar mais umas roupas que eu havia sugerido para ela, perguntou:

- O que eu estou fazendo de errado?

- Sendo teimosa. - Respondi. - As roupas que a gente usa no bar não são tão difíceis assim. É camiseta regata ou com manga curta, jeans e botas de salto. Ou aquelas de montaria. A blusa pode ter um detalhe de uma transparência, um decote não tão chamativo... É o que o povo fala que é ser sexy sem ser vulgar.

- Roupas justas?

- Preferencialmente as calças. - Falei.

- Pode ser uma camiseta mais... Solta?

- Depende. Teve alguma que você gostou?

Concordou.

- É larga, mas daquelas que deixa um ombro aparecendo.

Parei para pensar um pouco e falei:

- Talvez com um cinto mais grosso ou espartilho... É. Talvez role.

Quando ela entrou de novo no provador, a ouvi perguntar:

- O não implicava com você por causa das roupas?

Dei uma risada fraca e respondi:

- Uma vez, ele cismou de comprar um vestido para mim. E um sapato. Quase bati nele na hora.

- E como era o vestido? - Ela quis saber e só então, notei que ele estava ali. Tinha trazido umas camisetas e duas calças e estava prestando atenção à nossa conversa.

- Hérve Leger.

- Mas... Não são aqueles vestidos justos... Bandagem, não é?

- É. - Respondi.

- Mas você não respondeu à minha pergunta. - Ela cobrou, saindo da cabine. Viu que ele estava ali e corou.

- Pode perguntar diretamente para ele. - Respondi e ela quase quis morrer.

Não muito tempo depois, quando tínhamos saído dali com algumas das roupas que o e eu praticamente obrigamos a Seren a comprar, ouvi o meu celular e, logo que o pesquei de dentro da minha bolsa, atendi meio sem ver quem era. Tanto que me surpreendi ao ouvir a voz da do outro lado da linha:

- ? É a . Tudo bem?

- Ah... Oi. Tudo bem. E você?

- Também. Escuta, estou tentando falar com o , mas não estou conseguindo. Sabe dele?

- Falei com ele agora há pouco e me avisou que estava no trabalho.

- Pois é. Liguei para lá, mas ele já tinha saído. O celular não atende...

Olhei para o e a Seren que estavam vendo a vitrine de uma loja e falei:

- Eu vou lá para Mayfair. Mas vou passar o recado logo que encontra-lo.

- Ok.

Agradeceu e nos despedimos. Me aproximei da Seren e avisei:

- Eu vou ter de ir agora.

- Sério? Aconteceu alguma coisa?

Olhei para o , que estava interessado até demais na minha resposta.

- Pois é...

Para minha sorte, o próprio me mandou uma mensagem e só mostrei o celular.

- Ah... Entendi. - Ela falou. - Bom, vai lá.

- , será que você pode ajudar a Seren pelo resto do dia?

- Claro. Aposto que vamos aproveitar muito mais do que você...

Ignorei a provocação justamente por ser o melhor que eu podia fazer.

Logo que cheguei em casa, o estava no banho. Não resistindo, tirei toda a roupa e entrei no box, o surpreendendo.

Depois de um banho especialmente longo, finalmente saímos dali e, enquanto eu me vestia, ele ficou me observando.

- O que foi?- Perguntei.

- Você está chateada?

- Não... Teria algum motivo?

- Aquela garota que começou a trabalhar como Coyote...

- O que tem? Anda, , fala logo de uma vez.

- Você não está com ciúmes dela com o .

- Não, não estou.

Franziu as sobrancelhas e falei:

- Tá. Eu estou tentando entender o seu estranhamento com o fato de eu não sentir ciúmes da Seren.

- Porque eu vi como você ficou desde que o veio de Los Angeles e toda e qualquer garota dava em cima dele no bar.

- Quer mesmo saber a verdade? - Perguntei e ele concordou. - Eu tenho namorado. E como ele não é o ... Tudo o que posso fazer é torcer para que o seja feliz com quem for. A Seren me parece uma boa pessoa e eu acho que talvez ela seja a garota certa para ele.

Me olhou, analisando e disse, surpreso:

- Você está falando sério!

- E por que eu mentiria? Estou com você, não com ele. Por mais que estejamos brigados, não tem por que desejar que o coma o pão que o diabo amassou. Não tem sentido!

Ele estava chocado, fato. E eu sabia que ele não seria o único.

No dia seguinte, aproveitando que o Stephen tinha dito que estava pensando em fazer uma festa temática em março, as meninas e eu fomos até a casa da Nadine e, como ela tinha mandado fazer no porão uma sala para ensaiarmos ali (A Lola e eu também tínhamos feito uma nas nossas casas), chamamos a Claire, que tinha convencido o Stephen a deixa-la voltar às suas antigas funções de coyote, e a Seren, que estava tímida, num canto.

- Cansei! - Resmunguei, ao ver a novata morrendo de vergonha. - Seren! Vem cá.

Me obedeceu, tremendo mais que vara verde, e falei:

- Você tem que ser uma Coyote. Não uma Chihuahua. Os caras dão em cima de você, mesmo que continue com essa besteira de timidez.

- Eu tenho vergonha. Vejo vocês em cima do palco, dançando e com os caras babando por vocês...

- Do que você tem vergonha, exatamente? - A Nicola perguntou.

- De tudo. Eu sou desajeitada, acho que meu peito é grande demais, os quadris são estreitos demais, as pernas são muito finas...

Olhamos para a Nadine, que disse:

- Quer pernas mais finas que as minhas? E olha que os caras sempre babaram por elas...

- E tenho um problema sério que falta peito e sobra sutiã. - Falei e a Seren riu. - Mas você acha que isso importa? Cada cara é diferente. Cada um gosta mais de uma coisa, mas estão mais interessados é na mulher como um todo.

- andou te mimando? - A Claire perguntou e concordei.

- Aprontou alguma. - Respondi, brincando. - Até tenho cá minhas suspeitas, mas... Não vou falar nada.

- O que ele fez? - A Lola logo quis saber, interessada até demais para o meu gosto.

- Acho que ele andou gastando um pouco demais em um vinho... - Comentei. - Mas a questão não é o , mas sim, a Seren.

Fizemos com que ela dissesse tudo que a deixava insegura. E ainda conseguimos descobrir que ela se achava feia. Sendo que não era verdade. Ela chamava a atenção, verdade fosse dita.

- Eu sugiro uma noite só do clube da Luluzinha. - A Nadine falou. - A gente dá um perdido nos meninos e vamos à uma boate. Vamos ver quantos caras chegam em cada uma. Se a Seren receber mais de dez elogios... - A Seren se encolheu frente à possibilidade. - Vai deixar a gente te transformar. E sem reclamações, fechado?

- Vocês vão perder. - Ela retrucou e estávamos confiantes demais, verdade fosse dita. E estávamos ansiosas para começar.

Na quarta-feira, quando eu estava terminando de almoçar com o , o meu celular tocou e vi que era o número do arquiteto que estava controlando a reforma da minha casa. Atendi:

- Oi?

- ? Estou te ligando para avisar que está tudo pronto.

- Ah é? E quando posso fazer a mudança?

- Amanhã mesmo, se quiser. O já chamou um pessoal para cuidar da limpeza e eles já estão chegando.

- Ai, que bom. Obrigada pelo aviso.

Agradeci e me despedi do arquiteto e, quando desliguei, olhei para o e falei:

- Quer dizer então que você sabia que a minha casa já estava pronta, é?

Sorriu e disse:

- E já contratei o serviço de mudanças. Tem problema de eu ter marcado para domingo?

Neguei; Logo que tinha ido morar com o em Mayfair, tinha empacotado tudo e por isso mesmo seria mais fácil.

- Eu... Fiz um pequeno favor ao . - Ele avisou.

- Que favor?

- Dei um jeito de a casa dele ficar pronta rápido também.

Ok. Por essa eu realmente não esperava.

- Eu quero te propor uma coisa. - Falou, pegando na minha mão. Enrijeci, já imagi-nando certas coisas e ele continuou: - A gente podia fazer um almoço no domingo, para comemorar seu aniversário, o que você me diz? Podemos chamar todo mundo e não se preocupe com o que vai ser servido; Pedi para minha mãe cuidar de toda essa parte e só falta mesmo você concordar.

- A casa vai estar uma bagunça.

- Posso muito bem contratar aquele pessoal que organiza tudo.

Ri fraco e disse:

- Sorte sua que todo mundo sabe como eu sou bagunceira. - Me inclinei um pouco sobre a mesa e roubei um selinho demorado.

- E então? Posso fazer o convite formal para todo mundo? - Ele perguntou, depois que saímos do restaurante.

- Eu faço isso. - Respondi.

No dia seguinte, quando as meninas e eu arrastamos a Seren para um shopping, a Di aproveitou que as outras estavam mais afastadas de nós e quis saber:

- Até quando você vai ficar brigada com o ?

- Depois do que falei com ele, era para o nem olhar mais na minha cara.

- "O amor é como a guerra; fácil de começar, e muito difícil de terminar.".

- A prova disso é a guerra dos cem anos.

- Vai mesmo esperar um século inteiro para voltar às boas com ele? Está realmente um saco sair com vocês dois separados. Pior é o concurso para ver quem tem a maior tromba.

Ri fraco e perguntei:

- O que você sugere que eu faça?

- Liga para ele. Pede desculpas pelo que você disse. E conversa francamente. Não estou falando para você simplesmente dar um pé na bunda do e ir correndo para a cama do . - Franzi as sobrancelhas e ela fez uma careta tam-bém. - O que eu estou dizendo é para você não deixar passar essa chance de ter pelo menos a amizade dele.

Logo, fomos interrompidas pela Claire, que nos arrastou até o provador para darmos palpites nas roupas que ela e a Lola tinham escolhido para a Seren.

Naquela noite, aproveitando que o ainda não tinha chegado, hesitei antes de pegar o celular. Quando finalmente reuni coragem... Pensei por um bom tempo no que ia escrever. Acabei optando pelo caminho curto e direto:

Eu queria conversar com você. O que vai fazer amanhã?

Respirei fundo e apertei o botão para enviar a mensagem. Em seguida, virei o telefone com a tela virada para baixo e aproveitei que a Vivi pulou em cima da cama para coçar atrás das suas orelhas. Ela se assustou com o tremor do aparelho e, sabendo que era uma resposta, li:

Sobre o que quer conversar comigo?

Ai, . Perdi a paciência e liguei para ele. Atendeu quase de imediato e falei:

- Antes de qualquer coisa, não me interrompe, por favor. Eu quero conversar com você porque não está dando mais para continuar assim. Reconheço que errei em ter fala-do aquilo com você e isso de ficar um virando a cara para o outro é... Irritante.

Ele ficou em silêncio.

- Me dá um bom motivo para não continuar te ignorando.

Filho da mãe.

- Eu... - Comecei a dizer, um pouco hesitante, mas, respirei fundo antes de respon-der: - Eu sinto a sua falta. Mais do que deveria.

Outra pausa, tão grande quanto a primeira.

- Onde? - Perguntou, suspirando.

- Tanto faz. O importante é a gente conversar e acabar essa briga porque eu não estou mais aguentando ficar nisso.

- Bom, foi você quem quis...

Suspirei e ele perguntou:

- A gente pode almoçar amanhã?

- Pode, claro. Tem um restaurante novo aqui perto e...

- Tem? Eu nem sabia...

Hesitei e respondi:

- Então. Eu... Acho que você percebeu que saí aí do prédio. Estou temporariamen-te em Mayfair.

- Ah... Entendi. Bom, não tem problema. Quer que eu te busque ou você passa aqui?

- Eu te busco. Uma hora está bom?

Concordou e nos despedimos, ainda mais que eu ouvi o barulho das chaves do .

Então, no dia seguinte, pontualmente à uma da tarde, estava esperando pelo dentro do carro e mexendo no celular, distraída. Estava trocando mensagens com a Nadine sobre a primeira mudança drástica que faríamos com a Seren quando ouvi umas batidas leves no vidro da janela do passageiro. Olhei para o lado e destravei a porta para o entrar. Para a minha surpresa, ele me cumprimentou com os beijinhos no rosto e terminei de digitar a mensagem para a Di, mandando em seguida.

Logo que chegamos ao restaurante, que era italiano, o deu uma boa olhada ao redor e parecia impressionado. Falei com o garçom:

- Pode me trazer, de entrada, essa porção de saltimbocca, o prato principal pode ser o cannelloni de ricota com tomate seco.

O pediu as mesmas coisas, exceto a entrada. Quando o prato principal foi trazido, começamos a conversar e ele escutou tudo em silêncio o que eu tinha para dizer. Fiz o mesmo quando ele falou, inclusive, o que estava sentindo. Por fim, conseguimos nos entender.

Quando o garçom trouxe as sobremesas, o assunto já tinha mudado de rumo e o comentou:

- A Seren está começando a mudar.

- Ah é? Vocês já saíram finalmente?

- Não. Sair no meio da semana é até... É ruim. Não dá para aproveitar como se deve.

Tive que concordar.

- Você podia me ajudar com ela.

Franziu as sobrancelhas e, logo, mudou a expressão, claramente pensando besteira.

- O finalmente aceitou que você fizesse... - Começou a dizer e falei:

- Já fiz. Mas eu não quero sua ajuda com a Seren para isso. Quero que você me ajude fazendo com que ela ceda um pouco às ideias que eu e as meninas temos para que ela ganhe mais confiança e a gente consiga fazer com que ela dance sobre o balcão.

- Você realmente fez um ménage e o concordou?

- Justamente porque era uma mulher, não outro cara.

- E aí?

- Aí que você está sendo muito intrometido. Sossega. - Bati de leve no seu ombro e ele riu.

- Ainda acho estranho que ele tenha aceitado de boa te dividir com outra mulher...

Franzi as sobrancelhas e comentei:

- Do jeito que você falou, até parece que tenho um caso com uma garota.

E para quê eu fui falar aquilo...

- Você se comporte. - Avisei. - Estamos em um lugar público e em plena luz do dia!

- Mas é você quem tá estimulando... Isso.

Suspirei e lembrei de uma coisa.

- A reforma de lá de casa acabou.

- Ah é? E quer fazer uma comemoração? - Perguntou e na mesma hora entendi o que ele quis dizer.

- Mas você quer parar? Eu quero sim comemorar, mas é o meu aniversário. No domingo e vou chamar o pessoal. Inclusive a Seren.

- Vai ser na sexta-feira, não é?

Assenti.

- E não vai fazer nada no bar? Quer dizer, acho que o Stephen não vai se importar se você tirar folga...

- Já pedi folga outro dia e não quero ficar abusando demais. Então, na sexta-feira... Nada de comemoração, ainda mais surpresa, entendido?

Concordou, se fingindo de bom moço.

Depois que cada um foi para um lado, foi estranho. Só então me dei conta do quanto senti falta dele durante aquele tempo todo em que ficamos sem nos falar direito.

quarta-feira, 23 de março de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 12º capítulo


Forever may not be long enough for our love

Para sempre pode não ser longo o suficiente para que você saiba
O quão longe eu viajaria, quão longe eu iria
Abra o seu coração e tudo vai ficar bem
Abra seu coração, querida, saia comigo, não tenha medo

(Live - Forever may not be long enough)

Bill

A Nicola reclamava sem parar, mas eu só ouvia o som da sua voz, não as palavras exatas. Isso até que ela dissesse:

-... E não fosse a Luiza abrir a boca e falar que vocês transaram...

Antes de qualquer coisa, eu queria esclarecer que, no momento daquela conversa, estávamos na Starbucks perto de casa. Com um monte de pessoas em volta de nós.

- Ela falou? - Eu perguntei e a Nicola me olhou.

- E quem mais falaria? Quer dizer, vocês dois, um belo par de tratantes, escondendo o que aconteceu entre vocês, sendo que, no que dependesse do Tom, da Di, do Charlie, do Georg, do Gustav, do Stephen, da Claire e principalmente de mim e até da Sophia... Você seria o namorado da Izzy. Não o Alex. Os dois são... Capa de revista demais para mim.

Franzi as sobrancelhas e perguntou:

- Mas o que aconteceu? Eu ouvi só o ponto de vista de uma. Agora quero saber de você o que houve para vocês só se falarem no bar. E mesmo assim, nada além de uma frase.

Respirei fundo antes de começar a contar. Ela pareceu imparcial à primeira vista e acabei não descobrindo o que realmente pensava daquilo tudo.

Durante a folga daquele final de semana seguinte, saí com o Tom, aproveitamos inclusive, que o Gustav e o Georg vieram e fomos à um pub em Bloomsbury. Ainda não tinha voltado a falar com a Luiza e nem tínhamos nos visto fora do bar. Aliás... Não nos encontrávamos nem no hall do prédio. Parecia que ela nem estava lá, para falar a verdade.

O principal assunto, claro, eram as músicas em que estávamos trabalhando e, quando uma das garçonetes veio trazer as bebidas... Ela se atrapalhou e tomei um banho do drink que havia pedido. Morrendo de vergonha, ela pediu milhões de desculpas enquanto tentava me ajudar a me limpar:

- Eu sinto muito mesmo!

- Está tudo bem. - Respondi e senti o olhar do Tom e dos outros em nós.

- SEREN! - Ouvimos um homem gritar e ela se encolheu. Obviamente, ele atraiu a atenção de todo mundo ali e, ignorando os olhares, veio andando até a garçonete. Notei que ela tremia mais do que vara verde. - Eu te avisei. Vai já pegar as suas coisas e some daqui!

- Ei! Foi um acidente! - Eu tentei intervir em favor dela, mas, tanto o Tom quanto nossos amigos tentaram me impedir.

- É justamente essa a questão. Só temos acidentes desde que ela chegou aqui! Quase deixou um cliente estéril por derrubar um caldo quente em seu colo!

Ignorando todo mundo, tentei dissuadir o homem de demitir a garçonete, mas não teve jeito.

Quando ela foi embora do pub, eu não consegui deixar de segui-la e perguntei:

- Escuta... Eu quero te compensar.

- Eu quem tinha que te compensar. Tomou um banho de bebida... - Respondeu, timidamente. Só então, fui reparar melhor nela: Alta, magra, os cabelos eram escuros, mas com reflexos avermelhados, levemente ondulados e uma franja cobria as suas sobrancelhas. Me fez lembrar de uma boneca de porcelana. E sim. Tinha a pele muito branca. Talvez, tanto quanto a de uma certa pessoa...

- É, mas posso tentar te ajudar ao menos?

- Posso saber como?

Peguei o celular e liguei para o Stephen. No quarto toque, ele atendeu e perguntei:

- Escuta... Já achou alguém para ficar no lugar da Jean?

- Ainda não. Tem alguém em vista?

- Posso leva-la até aí?

Concordou e, assim que desliguei, depois de alguns poucos minutos, perguntei:

- Então... Serena, não é?

Negou.

- Seren. Sem o A no final.

- Sério? Você é a primeira pessoa que eu conheço com um nome tão...

- Idiota, pode falar.

- Eu ia dizer único. Sou Bill. Então. Posso te levar até o lugar que eu trabalho?

- E onde é?

- Elephant and Castle. Estou de carro, então não tem problema. O Stephen, meu chefe, liberou e diria que estava até muito curioso.

Ergueu a sobrancelha e perguntou:

- Tá, e por que você não falou que eu sou o desastre em pessoa?

- Quando a gente chegar lá, você vai ver.

- Onde você trabalha, exatamente?

- Um bar. Chama The Coyote.

Estava desconfiada e sugeri:

- Vamos fazer uma coisa, sim? Você vai comigo de táxi até o bar. Conversa com o meu chefe e, se não quiser o emprego, tudo bem. Eu te pago a corrida até a sua casa e não vou mais te encher a paciência com esse assunto. Confia em mim?

Mesmo não conseguindo confiar inteiramente, aceitou. Ainda mais que cumpri com minha palavra até o final. Assim que chegamos lá e ela viu as meninas dançando sobre o balcão, arregalou os olhos e perguntou em meio àquela confusão:

- Você quer que eu faça aquilo?

- Se você se sair melhor do que servindo os clientes... Claro que vai ter um treina-mento antes.

Ela viu a Luiza, que naquela noite não estava de folga, e ficou impressionada.

- Quisera eu ter essa coragem...

- Ela é muito tímida, acredite.

Me olhou e perguntou:

- Ok. Tem alguma coisa aqui que eu ainda não sei?

- Tem. Mas acho melhor você falar com o Stephen agora. Depois, em todo caso, te explico melhor o que aconteceu.

Dava para ver que estava com medo, mas, mesmo assim, me seguiu até o escritório do chefe. Ele a entrevistou por quase uma hora inteira e, no final das contas, ela saiu dali radiante e perguntei:

- E então?

- Começo semana que vem. - Respondeu, sorrindo.

- Sério?

Ela concordou e disse:

- Vamos. Hoje você toma um drink daqui como cliente. E é até bom porque aí já começo a ver como são feitos e tal.

Assenti e, justamente para evitar qualquer problema, sugeri de ficarmos na área VIP por ser mais tranquila.

Depois de quinze minutos, ela já tinha me contado tudo. E naquele instante, explicava o seu nome:

- É galês. Significa estrela.

- E você é de lá?

Negou.

- Sou daqui de Londres mesmo. Quer dizer, eu nasci em uma cidade chamada Co-ventry. Lá tem a sede da Jaguar. Meu pai trabalhava lá e, assim que eu terminei a escola... Juntei as minhas coisas e vim para cá. A minha intenção era a de ser atriz. Mas, entre uma coisa e outra... Acabei tendo que trabalhar em vários lugares. De loja de brinquedos à pubs. E você?

- Então... Eu prefiro esperar um pouco para te contar, se não se importa.

- Não matou ninguém, não é?

- Não. - Respondi rindo. - Só... Que é complicado e você vai tomar um susto quando eu te disser.

- Aquela garota no bar... Ela tem alguma coisa a ver com tudo isso?

- Tem e não tem.

- Mas... Dá para me contar sobre ela ou é algum segredo tão secreto quanto sua... Identidade?

Sorri e respondi:

- Ela é minha ex-mulher.

Seu queixo despencou.

- Tipo... Vocês se casaram de papel passado e tudo?

- É... Foi em Las Vegas. - Comecei a dizer. Não teve como continuar sem contar tudo para ela. No final, ela estava tão surpresa quanto quando eu disse que a Luiza e eu tínhamos nos casado.

- Bom, por um lado, eu tenho vontade de bater nela, porque, afinal de contas... Ninguém é capaz de jogar tudo tão... Facilmente para o alto por causa de um amor desse jeito.

- Eu vim porque nunca perdi a esperança.

- Então você ainda gosta dela.

Assenti.

- Só que ela seguiu em frente. E eu tenho que fazer o mesmo.

Concordou. Se endireitou e, segurando o copo alto, propôs:

- Aos ex que atrasam nossa vida. Que eles sejam felizes.

Bati a beirada do meu copo no seu e tomei um gole do meu drink.

Depois de algum tempo, quando ela ficou observando a Luiza dançar, perguntou:

- Sabe que eu não acreditei na história que ela é tímida?

- Ela é. No primeiro jantar de negócios que ela foi comigo, lá em Los Angeles, demorou para ela falar com alguém.

A Seren continuou observando a Luiza e começou a dizer:

- Ela... Você sabe...

- O que?

- Toma alguma coisa antes?

Neguei.

- Wow... - Respondeu, impressionada. - Se ela é tímida, então como consegue ser tão... Espontânea?

- Isso você vai ter de perguntar para ela. - Falei. - Aliás... É melhor você ir se acos-tumando à ideia de conviver com alguém imprevisível.

- Ela é bipolar?

- Não. - Ela respirou aliviada. - É pentapolar, como a própria diz.

Arregalou os olhos e ri.

- Não se preocupa. É mais difícil de conviver com ela quando estiver com o humor não tão bom assim. A sorte é que vai dar para você perceber de longe.

Ergueu as sobrancelhas.

Na semana seguinte, o Stephen pediu à Seren que fosse mais cedo e eu quis acompanha-la. A Luiza já estava no bar quando chegamos, bem como as meninas e o Alex, que estava quieto num canto. Logo, vi os caras e fui até eles. Estávamos perto o suficiente para ouvir o meu chefe conversando com a Seren:

- O trabalho aqui não é muito difícil. Quer dizer, você vai servir os clientes e a parte complicada é os malabarismos, mas você vai ter as aulas e tal. Todas as meninas e os lobinhos passam por uma avaliação feita por uma das coyotes e eu decidi te colocar como pupila da Luiza.

Todo mundo prendeu a respiração e deu para ouvir.

A Luiza foi andando calmamente até a Seren, que era ligeiramente mais alta, mas que parecia mais baixa. A olhou de cima a baixo e disse:

- Conselho: Nunca venha de saia a menos que a gente tenha alguma apresentação específica e te avise antes.

Pude ver que a Seren engoliu em seco.

- Como você deve ter visto semana passada, a gente costuma usar uma camiseta, seja de alça ou manga curta, jeans e sapatos de salto ou botas tipo de montaria. Vamos fazer o seguinte. Vem comigo. A gente deve ter alguma coisa para você usar hoje.

A Luiza foi andando na frente, feito uma general e a Seren a seguiu.

- Foi bom ter conhecido a Seren. - O Tom falou, batendo no meu ombro de leve. A Nadine veio correndo até a gente e perguntou:

- Só eu que estou achando que a Iza vai acabar com a coitada da menina?

Negamos com as cabeças.

Naquela noite, eu ajudei a Seren sempre que a Luiza não estava olhando. Num dado mo-mento, um dos clientes, já bêbado, começou a dar em cima da Seren, que tentava dar um fora nele, mas não conseguia. O homem falou:

- Uma boneca que nem você tinha que ficar ali em cima - Indicou o palco. - em exibição!

- Eu não danço bem. - Ela respondeu. - E se você não se importa, eu tenho um monte de coisas para fazer aqui. O que vai querer beber?

A resposta dele foi grosseira demais e pedi para um dos seguranças tirá-lo dali. Perguntei, quando o homem já estava longe:

- Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça e a Luiza logo a chamou:

- Kendrick!

A Seren foi correndo até a outra e as duas sumiram. Quando voltaram, depois de algum tempo, tinha alguma coisa estranha acontecendo.

- O que ela te disse? - Perguntei e a Seren negou com a cabeça. Fui andando até a Luiza e disparei: - Por que toda vez você tem que ficar com perseguição com os novatos, hein? O cara que deu em cima da Seren, não o contrário!

Me olhou e disse:

- Se você sabe o que é bom para você e para ela, vai voltar agora para o seu lugar e não vai me encher a paciência com isso. Se continuar insistindo em me questionar, eu te boto na rua assim. - Estalou os dedos. - Vai querer arriscar?

Suspirei e tentei manter a calma enquanto andava até o meu canto.

No final do expediente, a Seren tinha sumido. A Luiza também tinha ido embora e tive certeza que era com o Alex.

No dia seguinte, quando saí para almoçar com a Nicola, claro que o assunto não podia ser outro:

- Sério, eu já estou de saco cheio dessa briga sua com a Luiza. É tão bom quando tá todo mundo bem...

- Quem brigou aqui foi ela. Ela quem falou que... - Olhei para ver se tinha mais al-guém ouvindo. - Foi a Luiza quem falou explicitamente que a transa não tinha significado nada para ela.

De repente, fez uma ca-ra um pouco estranha e perguntei:

- Que foi?

- Nada. - Falou, enfiando uma garfada de alface na boca.

- Eu conheço essa cara porque sua amiga - Acusei. - fazia muito isso quando estava bancando a sabichona.

- A Luiza não é amiga só minha e você sabe disso.

Suspirei e ela pegou na minha mão.

- Anda. Dois turrões a gente não dá conta. E olha que a gente custou a achar alguém com uma teimosia tão... Teimosa quanto a dela.

Ri fraco e falei um pouco sombrio:

- Vão ter de dar conta. Afinal, eu não duvido nada que ela se case com o Alex e vire a cara para a gente.

- Você enche a boca para falar que passou um ano com ela e já conhece a Iza como a palma da sua mão, não é?

- E não é verdade?

- Claro que não! A Nadine e eu conhecemos a Luiza há uns cinco anos, pelo menos. Acho que a gente sabe que em 99% do tempo, ela realmente não quer dizer o que fala.

- Mesmo assim.

- Mesmo assim o quê? Quer deixar de ser tão cabeça-dura e dar o braço a torcer ainda mais que está todo mundo vendo que vocês estão sentindo falta um do outro?

- Ela te falou?

- Não foi preciso. Conheço a Luiza melhor do que você, Bill.

Terminamos o almoço falando de outros assuntos e, quando estávamos saindo do restaurante, notei que tinha um paparazzo tirando fotos nossas.

- Posso te pedir um favor? - Pedi e ela concordou, enquanto colocava os óculos de sol. - Será que você me consegue o telefone da Seren?

Me olhou, surpresa e comentou:

- Eu jurava que você já tinha...

- Ela não me deu o número ainda.

Pegou o celular na bolsa e também peguei o meu. Me ditou o número e perguntou, depois que acabei de gravar o telefone:

- Você está... Gostando dela?

- Ela é uma garota legal.

- Eu não perguntei se ela é legal, mas se você está gostando dela.

- Ainda é cedo para dizer.

Assentiu.

- Mas... Se rolar... - Insistiu.

- A Luiza voltou para o Alex. Não acho que, mesmo com o que aconteceu há alguns dias, ela vai se separar dele.

Suspirou e disse:

- Eu ainda acho que não a história de vocês não acaba aqui.

- Se eu fosse você, não teria tanta certeza assim.

Me despedi dela e cada um foi para um lado.

Não muito tempo depois, quando estava andando meio sem rumo pela região, decidi me arriscar e liguei para a Seren. No terceiro toque, ela atendeu:

- Alô?

- Seren?

- É ela... Quem é?

- Bill. Escuta, o que você está fazendo agora?

- Como você conseguiu meu telefone?

- Eu tenho minhas fontes. Mas e aí? Está fazendo o quê?

- Estou um pouco... Ocupada. Mas se quiser vir... Estou numa loja perto do Hyde Park. Chama Topshop. Conhece?

- Onde fica, exatamente?

- Perto da Brompton Road.

Dei um meio sorriso enquanto ia andando até a estação de metrô. Em menos de vinte minutos depois, eu já estava na loja, procurando pela Seren. Consegui encontra-la olhando uma das araras e, quando estava vendo uma camiseta, falei:

- Essa blusa é meio... Comportada demais para o bar.

Ela se assustou e se virou de frente para mim.

- É mesmo? E o que as meninas normalmente usam? Barriga de fora e decotes até o umbigo?

- Mais barriga de fora, apesar de vez ou outra, algumas usarem decotes, mas não até o umbigo. Posso te dar algumas sugestões?

- E desde quando você entende de moda?

- Além de a minha mãe ser costureira freelancer? Praticamente desde que me entendo por gente.

Ela ficou sem palavras. Foi estranho, porque eu estava acostumado a sempre ter uma réplica...

Vasculhei a arara e comentei:

- As meninas, diferente do filme, não ficam com barriga de fora o tempo inteiro. E quase sempre elas usam regatas.

Assentiu lentamente.

- Seren, eu acho melhor a gente ir olhar... - Nem precisei olhar para reconhecer a dona da voz. - Kaulitz.

Me virei para ela e estava com aquela pose de quem tentava intimidar.

- É incrível como você se faz onipresente até quando não é convidado. - Ela me alfinetou e dei um meio sorriso, percebendo o quanto sentia falta das suas provocações.

- Estava aqui perto e queria ver a Seren. - Falei e ela ergueu a sobrancelha.

- Sei... - Disse. - Olha, estamos comprando algumas coisas para ela usar no bar, então se você não se importa...

- De jeito nenhum. Aliás, até acho que vai ser bom ela ter uma segunda opinião, não é, Seren? - Olhamos ao mesmo tempo para ela, que estava acuada.

- Ah... Por mim tudo bem. - Ela respondeu, constrangida. A Luiza não deu chilique conforme eu imaginava. Ao invés disso, simplesmente me ignorou e disse:

- Tem uma loja aqui perto que a gente vai ter melhor sorte.

A Seren concordou, vendo a outra andar mais à frente. Como ficamos para trás, então pudemos conversar um pouco e ela comentou:

- Você tira ela do sério mesmo.

- Que isso não te sirva de incentivo para fazer o mesmo, mas... É divertido porque ela sempre cai nas minhas provocações.

- Entendi. - Respondeu, olhando para a Luiza, que ainda estava mais à frente e co-mentou: - Ela está tentando me convencer a começar a dançar sobre o balcão.

- Sério?

Concordou.

- Só que, sabendo o quanto eu sou desastrada, é bem capaz de eu tomar aquele tombo espetacular. Ela me mostrou o tamanho dos saltos que ela e as outras costumam usar... É certo que eu vou cair e matar as três de vergonha.

- Não vai. - A Luiza falou, espiando sobre o ombro. - Nós três não somos tão perfeitas quanto você imagina. Não faz tanto tempo assim que eu quase quebrei o pé. Caí que nem uma jaca durante uma apresentação.

- E o que você fez? - A Seren perguntou.

- O que mais podia ter feito? Levantei e continuei a apresentação até o final da música como se nada tivesse acontecido. Fiquei com o pé imobilizado por quase um mês, de licença em casa, mas a hora que eu voltei para o bar...

- Eu... Realmente não imaginava. - A Seren disse.

- Eu sim. - Falei e a Luiza se virou mais para me olhar. Pude ver a sombra de um sorriso no canto da sua boca e ela logo tratou de disfarçar.

Na tal loja que a Luiza tinha visto, aproveitei enquanto a Seren experimentava algumas roupas e perguntei:

- Fala a verdade. Você está se preparando para dar um bote daqueles, não é?

- E por que eu daria? - Devolveu a pergunta, não parando de olhar as araras.

- Porque você está com ciúmes. - A cara que ela fez ao me olhar era bem... Típica, estreitando os olhos e como se me desafiasse a provar que estava errada. - Está vendo que eu estou interessado na Seren...

- Está mesmo ou está só usando ela para tentar me atingir? Além de não funcionar, vai ser uma bela sacanagem com a coitada, que não tem nada a ver com a gente.

- Será mesmo que não está funcionando?

- Não. E quer saber como eu tenho tanta certeza? - Fiz um gesto, indicando que continuasse. - Falei que, se ela quiser, era para ficar com você.

- A troco de quê você ia falar isso com ela?

- Tem que ter algum motivo específico?

- Sempre tem.

- Bom... Desta vez foi só pela boa ação mesmo. - Disse, antes de se afastar.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 12º capítulo - Interativa










Forever may not be long enough for our love

Para sempre pode não ser longo o suficiente para que você saiba
O quão longe eu viajaria, quão longe eu iria
Abra o seu coração e tudo vai ficar bem
Abra seu coração, querida, saia comigo, não tenha medo

(Live - Forever may not be long enough)



A Nicola reclamava sem parar, mas eu só ouvia o som da sua voz, não as palavras exatas. Isso até que ela dissesse:

-... E não fosse a abrir a boca e falar que vocês transaram...

Antes de qualquer coisa, eu queria esclarecer que, no momento daquela conversa, estávamos na Starbucks perto de casa. Com um monte de pessoas em volta de nós.

- Ela falou? - Eu perguntei e a Nicola me olhou.

- E quem mais falaria? Quer dizer, vocês dois, um belo par de tratantes, escondendo o que aconteceu entre vocês, sendo que, no que dependesse do , da Di, do Charlie, do , do , do Stephen, da Claire e principalmente de mim e até da Sophia... Você seria o namorado da . Não o . Os dois são... Capa de revista demais para mim.

Franzi as sobrancelhas e perguntou:

- Mas o que aconteceu? Eu ouvi só o ponto de vista de uma. Agora quero saber de você o que houve para vocês só se falarem no bar. E mesmo assim, nada além de uma frase.

Respirei fundo antes de começar a contar. Ela pareceu imparcial à primeira vista e acabei não descobrindo o que realmente pensava daquilo tudo.

Durante a folga daquele final de semana seguinte, saí com o , aproveitamos inclusive, que o e o vieram e fomos à um pub em Bloomsbury. Ainda não tinha voltado a falar com a e nem tínhamos nos visto fora do bar. Aliás... Não nos encontrávamos nem no hall do prédio. Parecia que ela nem estava lá, para falar a verdade.

O principal assunto, claro, eram as músicas em que estávamos trabalhando e, quando uma das garçonetes veio trazer as bebidas... Ela se atrapalhou e tomei um banho do drink que havia pedido. Morrendo de vergonha, ela pediu milhões de desculpas enquanto tentava me ajudar a me limpar:

- Eu sinto muito mesmo!

- Está tudo bem. - Respondi e senti o olhar do e dos outros em nós.

- SEREN! - Ouvimos um homem gritar e ela se encolheu. Obviamente, ele atraiu a atenção de todo mundo ali e, ignorando os olhares, veio andando até a garçonete. Notei que ela tremia mais do que vara verde. - Eu te avisei. Vai já pegar as suas coisas e some daqui!

- Ei! Foi um acidente! - Eu tentei intervir em favor dela, mas, tanto o quanto nossos amigos tentaram me impedir.

- É justamente essa a questão. Só temos acidentes desde que ela chegou aqui! Quase deixou um cliente estéril por derrubar um caldo quente em seu colo!

Ignorando todo mundo, tentei dissuadir o homem de demitir a garçonete, mas não teve jeito.

Quando ela foi embora do pub, eu não consegui deixar de segui-la e perguntei:

- Escuta... Eu quero te compensar.

- Eu quem tinha que te compensar. Tomou um banho de bebida... - Respondeu, timidamente. Só então, fui reparar melhor nela: Alta, magra, os cabelos eram escuros, mas com reflexos avermelhados, levemente ondulados e uma franja cobria as suas sobrancelhas. Me fez lembrar de uma boneca de porcelana. E sim. Tinha a pele muito branca. Talvez, tanto quanto a de uma certa pessoa...

- É, mas posso tentar te ajudar ao menos?

- Posso saber como?

Peguei o celular e liguei para o Stephen. No quarto toque, ele atendeu e perguntei:

- Escuta... Já achou alguém para ficar no lugar da Jean?

- Ainda não. Tem alguém em vista?

- Posso leva-la até aí?

Concordou e, assim que desliguei, depois de alguns poucos minutos, perguntei:

- Então... Serena, não é?

Negou.

- Seren. Sem o A no final.

- Sério? Você é a primeira pessoa que eu conheço com um nome tão...

- Idiota, pode falar.

- Eu ia dizer único. Sou . Então. Posso te levar até o lugar que eu trabalho?

- E onde é?

- Elephant and Castle. Estou de carro, então não tem problema. O Stephen, meu chefe, liberou e diria que estava até muito curioso.

Ergueu a sobrancelha e perguntou:

- Tá, e por que você não falou que eu sou o desastre em pessoa?

- Quando a gente chegar lá, você vai ver.

- Onde você trabalha, exatamente?

- Um bar. Chama The Coyote.

Estava desconfiada e sugeri:

- Vamos fazer uma coisa, sim? Você vai comigo de táxi até o bar. Conversa com o meu chefe e, se não quiser o emprego, tudo bem. Eu te pago a corrida até a sua casa e não vou mais te encher a paciência com esse assunto. Confia em mim?

Mesmo não conseguindo confiar inteiramente, aceitou. Ainda mais que cumpri com minha palavra até o final. Assim que chegamos lá e ela viu as meninas dançando sobre o balcão, arregalou os olhos e perguntou em meio àquela confusão:

- Você quer que eu faça aquilo?

- Se você se sair melhor do que servindo os clientes... Claro que vai ter um treina-mento antes.

Ela viu a , que naquela noite não estava de folga, e ficou impressionada.

- Quisera eu ter essa coragem...

- Ela é muito tímida, acredite.

Me olhou e perguntou:

- Ok. Tem alguma coisa aqui que eu ainda não sei?

- Tem. Mas acho melhor você falar com o Stephen agora. Depois, em todo caso, te explico melhor o que aconteceu.

Dava para ver que estava com medo, mas, mesmo assim, me seguiu até o escritório do chefe. Ele a entrevistou por quase uma hora inteira e, no final das contas, ela saiu dali radiante e perguntei:

- E então?

- Começo semana que vem. - Respondeu, sorrindo.

- Sério?

Ela concordou e disse:

- Vamos. Hoje você toma um drink daqui como cliente. E é até bom porque aí já começo a ver como são feitos e tal.

Assenti e, justamente para evitar qualquer problema, sugeri de ficarmos na área VIP por ser mais tranquila.

Depois de quinze minutos, ela já tinha me contado tudo. E naquele instante, explicava o seu nome:

- É galês. Significa estrela.

- E você é de lá?

Negou.

- Sou daqui de Londres mesmo. Quer dizer, eu nasci em uma cidade chamada Co-ventry. Lá tem a sede da Jaguar. Meu pai trabalhava lá e, assim que eu terminei a escola... Juntei as minhas coisas e vim para cá. A minha intenção era a de ser atriz. Mas, entre uma coisa e outra... Acabei tendo que trabalhar em vários lugares. De loja de brinquedos à pubs. E você?

- Então... Eu prefiro esperar um pouco para te contar, se não se importa.

- Não matou ninguém, não é?

- Não. - Respondi rindo. - Só... Que é complicado e você vai tomar um susto quando eu te disser.

- Aquela garota no bar... Ela tem alguma coisa a ver com tudo isso?

- Tem e não tem.

- Mas... Dá para me contar sobre ela ou é algum segredo tão secreto quanto sua... Identidade?

Sorri e respondi:

- Ela é minha ex-mulher.

Seu queixo despencou.

- Tipo... Vocês se casaram de papel passado e tudo?

- É... Foi em Las Vegas. - Comecei a dizer. Não teve como continuar sem contar tudo para ela. No final, ela estava tão surpresa quanto quando eu disse que a e eu tínhamos nos casado.

- Bom, por um lado, eu tenho vontade de bater nela, porque, afinal de contas... Ninguém é capaz de jogar tudo tão... Facilmente para o alto por causa de um amor desse jeito.

- Eu vim porque nunca perdi a esperança.

- Então você ainda gosta dela.

Assenti.

- Só que ela seguiu em frente. E eu tenho que fazer o mesmo.

Concordou. Se endireitou e, segurando o copo alto, propôs:

- Aos ex que atrasam nossa vida. Que eles sejam felizes.

Bati a beirada do meu copo no seu e tomei um gole do meu drink.

Depois de algum tempo, quando ela ficou observando a dançar, perguntou:

- Sabe que eu não acreditei na história que ela é tímida?

- Ela é. No primeiro jantar de negócios que ela foi comigo, lá em Los Angeles, demorou para ela falar com alguém.

A Seren continuou observando a e começou a dizer:

- Ela... Você sabe...

- O que?

- Toma alguma coisa antes?

Neguei.

- Wow... - Respondeu, impressionada. - Se ela é tímida, então como consegue ser tão... Espontânea?

- Isso você vai ter de perguntar para ela. - Falei. - Aliás... É melhor você ir se acos-tumando à ideia de conviver com alguém imprevisível.

- Ela é bipolar?

- Não. - Ela respirou aliviada. - É pentapolar, como a própria diz.

Arregalou os olhos e ri.

- Não se preocupa. É mais difícil de conviver com ela quando estiver com o humor não tão bom assim. A sorte é que vai dar para você perceber de longe.

Ergueu as sobrancelhas.

Na semana seguinte, o Stephen pediu à Seren que fosse mais cedo e eu quis acompanha-la. A já estava no bar quando chegamos, bem como as meninas e o , que estava quieto num canto. Logo, vi os caras e fui até eles. Estávamos perto o suficiente para ouvir o meu chefe conversando com a Seren:

- O trabalho aqui não é muito difícil. Quer dizer, você vai servir os clientes e a parte complicada é os malabarismos, mas você vai ter as aulas e tal. Todas as meninas e os lobinhos passam por uma avaliação feita por uma das coyotes e eu decidi te colocar como pupila da .

Todo mundo prendeu a respiração e deu para ouvir.

A foi andando calmamente até a Seren, que era ligeiramente mais alta, mas que parecia mais baixa. A olhou de cima a baixo e disse:

- Conselho: Nunca venha de saia a menos que a gente tenha alguma apresentação específica e te avise antes.

Pude ver que a Seren engoliu em seco.

- Como você deve ter visto semana passada, a gente costuma usar uma camiseta, seja de alça ou manga curta, jeans e sapatos de salto ou botas tipo de montaria. Vamos fazer o seguinte. Vem comigo. A gente deve ter alguma coisa para você usar hoje.

A foi andando na frente, feito uma general e a Seren a seguiu.

- Foi bom ter conhecido a Seren. - O falou, batendo no meu ombro de leve. A Nadine veio correndo até a gente e perguntou:

- Só eu que estou achando que a Iza vai acabar com a coitada da menina?

Negamos com as cabeças.

Naquela noite, eu ajudei a Seren sempre que a não estava olhando. Num dado momento, um dos clientes, já bêbado, começou a dar em cima da Seren, que tentava dar um fora nele, mas não conseguia. O homem falou:

- Uma boneca que nem você tinha que ficar ali em cima - Indicou o palco. - em exibição!

- Eu não danço bem. - Ela respondeu. - E se você não se importa, eu tenho um monte de coisas para fazer aqui. O que vai querer beber?

A resposta dele foi grosseira demais e pedi para um dos seguranças tirá-lo dali. Perguntei, quando o homem já estava longe:

- Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça e a logo a chamou:

- Kendrick!

A Seren foi correndo até a outra e as duas sumiram. Quando voltaram, depois de algum tempo, tinha alguma coisa estranha acontecendo.

- O que ela te disse? - Perguntei e a Seren negou com a cabeça. Fui andando até a e disparei: - Por que toda vez você tem que ficar com perseguição com os novatos, hein? O cara que deu em cima da Seren, não o contrário!

Me olhou e disse:

- Se você sabe o que é bom para você e para ela, vai voltar agora para o seu lugar e não vai me encher a paciência com isso. Se continuar insistindo em me questionar, eu te boto na rua assim. - Estalou os dedos. - Vai querer arriscar?

Suspirei e tentei manter a calma enquanto andava até o meu canto.

No final do expediente, a Seren tinha sumido. A também tinha ido embora e tive certeza que era com o .

No dia seguinte, quando saí para almoçar com a Nicola, claro que o assunto não podia ser outro:

- Sério, eu já estou de saco cheio dessa briga sua com a . É tão bom quando tá todo mundo bem...

- Quem brigou aqui foi ela. Ela quem falou que... - Olhei para ver se tinha mais al-guém ouvindo. - Foi a quem falou explicitamente que a transa não tinha significado nada para ela.

De repente, fez uma ca-ra um pouco estranha e perguntei:

- Que foi?

- Nada. - Falou, enfiando uma garfada de alface na boca.

- Eu conheço essa cara porque sua amiga - Acusei. - fazia muito isso quando estava bancando a sabichona.

- A não é amiga só minha e você sabe disso.

Suspirei e ela pegou na minha mão.

- Anda. Dois turrões a gente não dá conta. E olha que a gente custou a achar alguém com uma teimosia tão... Teimosa quanto a dela.

Ri fraco e falei um pouco sombrio:

- Vão ter de dar conta. Afinal, eu não duvido nada que ela se case com o e vire a cara para a gente.

- Você enche a boca para falar que passou um ano com ela e já conhece a Iza como a palma da sua mão, não é?

- E não é verdade?

- Claro que não! A Nadine e eu conhecemos a há uns cinco anos, pelo menos. Acho que a gente sabe que em 99% do tempo, ela realmente não quer dizer o que fala.

- Mesmo assim.

- Mesmo assim o quê? Quer deixar de ser tão cabeça-dura e dar o braço a torcer ainda mais que está todo mundo vendo que vocês estão sentindo falta um do outro?

- Ela te falou?

- Não foi preciso. Conheço a melhor do que você, .

Terminamos o almoço falando de outros assuntos e, quando estávamos saindo do restaurante, notei que tinha um paparazzo tirando fotos nossas.

- Posso te pedir um favor? - Pedi e ela concordou, enquanto colocava os óculos de sol. - Será que você me consegue o telefone da Seren?

Me olhou, surpresa e comentou:

- Eu jurava que você já tinha...

- Ela não me deu o número ainda.

Pegou o celular na bolsa e também peguei o meu. Me ditou o número e perguntou, depois que acabei de gravar o telefone:

- Você está... Gostando dela?

- Ela é uma garota legal.

- Eu não perguntei se ela é legal, mas se você está gostando dela.

- Ainda é cedo para dizer.

Assentiu.

- Mas... Se rolar... - Insistiu.

- A voltou para o . Não acho que, mesmo com o que aconteceu há alguns dias, ela vai se separar dele.

Suspirou e disse:

- Eu ainda acho que não a história de vocês não acaba aqui.

- Se eu fosse você, não teria tanta certeza assim.

Me despedi dela e cada um foi para um lado.

Não muito tempo depois, quando estava andando meio sem rumo pela região, decidi me arriscar e liguei para a Seren. No terceiro toque, ela atendeu:

- Alô?

- Seren?

- É ela... Quem é?

- . Escuta, o que você está fazendo agora?

- Como você conseguiu meu telefone?

- Eu tenho minhas fontes. Mas e aí? Está fazendo o quê?

- Estou um pouco... Ocupada. Mas se quiser vir... Estou numa loja perto do Hyde Park. Chama Topshop. Conhece?

- Onde fica, exatamente?

- Perto da Brompton Road.

Dei um meio sorriso enquanto ia andando até a estação de metrô. Em menos de vinte minutos depois, eu já estava na loja, procurando pela Seren. Consegui encontra-la olhando uma das araras e, quando estava vendo uma camiseta, falei:

- Essa blusa é meio... Comportada demais para o bar.

Ela se assustou e se virou de frente para mim.

- É mesmo? E o que as meninas normalmente usam? Barriga de fora e decotes até o umbigo?

- Mais barriga de fora, apesar de vez ou outra, algumas usarem decotes, mas não até o umbigo. Posso te dar algumas sugestões?

- E desde quando você entende de moda?

- Além de a minha mãe ser costureira freelancer? Praticamente desde que me entendo por gente.

Ela ficou sem palavras. Foi estranho, porque eu estava acostumado a sempre ter uma réplica...

Vasculhei a arara e comentei:

- As meninas, diferente do filme, não ficam com barriga de fora o tempo inteiro. E quase sempre elas usam regatas.

Assentiu lentamente.

- Seren, eu acho melhor a gente ir olhar... - Nem precisei olhar para reconhecer a dona da voz. - .

Me virei para ela e estava com aquela pose de quem tentava intimidar.

- É incrível como você se faz onipresente até quando não é convidado. - Ela me alfinetou e dei um meio sorriso, percebendo o quanto sentia falta das suas provocações.

- Estava aqui perto e queria ver a Seren. - Falei e ela ergueu a sobrancelha.

- Sei... - Disse. - Olha, estamos comprando algumas coisas para ela usar no bar, então se você não se importa...

- De jeito nenhum. Aliás, até acho que vai ser bom ela ter uma segunda opinião, não é, Seren? - Olhamos ao mesmo tempo para ela, que estava acuada.

- Ah... Por mim tudo bem. - Ela respondeu, constrangida. A não deu chilique conforme eu imaginava. Ao invés disso, simplesmente me ignorou e disse:

- Tem uma loja aqui perto que a gente vai ter melhor sorte.

A Seren concordou, vendo a outra andar mais à frente. Como ficamos para trás, então pudemos conversar um pouco e ela comentou:

- Você tira ela do sério mesmo.

- Que isso não te sirva de incentivo para fazer o mesmo, mas... É divertido porque ela sempre cai nas minhas provocações.

- Entendi. - Respondeu, olhando para a , que ainda estava mais à frente e comentou: - Ela está tentando me convencer a começar a dançar sobre o balcão.

- Sério?

Concordou.

- Só que, sabendo o quanto eu sou desastrada, é bem capaz de eu tomar aquele tombo espetacular. Ela me mostrou o tamanho dos saltos que ela e as outras costumam usar... É certo que eu vou cair e matar as três de vergonha.

- Não vai. - A falou, espiando sobre o ombro. - Nós três não somos tão perfeitas quanto você imagina. Não faz tanto tempo assim que eu quase quebrei o pé. Caí que nem uma jaca durante uma apresentação.

- E o que você fez? - A Seren perguntou.

- O que mais podia ter feito? Levantei e continuei a apresentação até o final da música como se nada tivesse acontecido. Fiquei com o pé imobilizado por quase um mês, de licença em casa, mas a hora que eu voltei para o bar...

- Eu... Realmente não imaginava. - A Seren disse.

- Eu sim. - Falei e a se virou mais para me olhar. Pude ver a sombra de um sorriso no canto da sua boca e ela logo tratou de disfarçar.

Na tal loja que a tinha visto, aproveitei enquanto a Seren experimentava algumas roupas e perguntei:

- Fala a verdade. Você está se preparando para dar um bote daqueles, não é?

- E por que eu daria? - Devolveu a pergunta, não parando de olhar as araras.

- Porque você está com ciúmes. - A cara que ela fez ao me olhar era bem... Típica, estreitando os olhos e como se me desafiasse a provar que estava errada. - Está vendo que eu estou interessado na Seren...

- Está mesmo ou está só usando ela para tentar me atingir? Além de não funcionar, vai ser uma bela sacanagem com a coitada, que não tem nada a ver com a gente.

- Será mesmo que não está funcionando?

- Não. E quer saber como eu tenho tanta certeza? - Fiz um gesto, indicando que continuasse. - Falei que, se ela quiser, era para ficar com você.

- A troco de quê você ia falar isso com ela?

- Tem que ter algum motivo específico?

- Sempre tem.

- Bom... Desta vez foi só pela boa ação mesmo. - Disse, antes de se afastar.