quinta-feira, 29 de agosto de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 3º capítulo



Bem, algumas noites, eu queria que tudo isso acabasse
Porque eu poderia estar com amigos para variar
E algumas noites,
Tenho medo de que você me esquecerá de novo
Algumas noites, eu sempre ganho (eu sempre ganho)

(Fun. - Some nights)

Bill

Dois anos. Esse era o tempo que havia se passado desde aquela fatídica noite e até hoje não consegui me recuperar totalmente daquele trauma. Uma das coisas que mais fazia minha vida valer a pena, que era a banda, já não existia. As fãs, claro, ficaram decepcionadas e com raiva e não tirava a razão delas. O meu relacionamento com meus amigos havia melhorado um pouco, ainda que não fosse mais o mesmo. Agora, era mais introspectivo e soturno que antes. Dificilmente sorria espontaneamente e aprendi a viver sozinho e isolado do mundo. Nesses dois anos, não consegui sucumbir ao álcool e isso, sinceramente, era um mistério para mim.

Numa tentativa desesperada de tentar me recuperar, mudei de casa, vendendo a que morava e, depois de passar um tempo com o Tom, finalmente consegui achar um lugar que parecia perfeito, em Beverly Hills mesmo, mas numa parte mais alta. A área da piscina tinha uma vista enorme da cidade e, muitas vezes, ficava lá à noite, só observando as luzes espalhadas até chegarem ao horizonte enquanto fumava e pensava em várias coisas.

O que me salvou de uma depressão foi justamente a oportunidade de trabalhar com música. Agora, era produtor e mexia mais com demos, principalmente de bandas desconhecidas. E graças aos contatos que tinha, conseguia ajudar essas bandas. Todo santo dia, saía cedo de casa, ficava o dia inteiro enfurnado no estúdio, trabalhando, e muitas vezes, chegava tarde da noite, quase com o sol nascendo para tirar um cochilo e recomeçar a rotina.

Outra coisa que havia mudado significativamente era que, agora, estava mais parecido com o Tom, até um pouco antes de namorar a Ria. Costumava ir às boates e ia para a cama com garotas totalmente desconhecidas até a casa delas e saía antes de acordarem. Fazia isso mais para descontar a raiva que sentia da Lydia. Sem falar em todo o tempo que fiquei com ela e só na vontade.

As únicas pessoas com quem convivia mais, além do meu irmão, eram a Dani, que coincidentemente havia se mudado para a mesma rua, e a Rosa. Justamente pela Dani ser criança e não ter qualquer preocupação que não me importava que ela chegasse da escola e fosse direto lá para a casa, me pedindo ajuda com os deveres. Ainda continuava com aquele arzinho inocente, apesar de estar cada vez mais e mais esperta.

E foi justamente numa sexta-feira em que não estava me sentindo muito bem e decidi ficar em casa, que ela apareceu.

          - O que foi? - Perguntei ao notar seu ar de preocupação.

          - A professora passou um trabalho e não sei o que fazer.

          - Trabalho sobre o quê?
          
          - Ela pediu que escolhêssemos uma pessoa, que não fizesse parte da nossa família e escrevesse uma redação sobre ela.

Suspirei e disse:

          - Estou à sua disposição.

Me olhou, curiosa e disse:

          - Perguntei para a professora se podia fazer a redação com você e ela me lembrou que não vale, porque já te usei como tema de outro trabalho.

          - E que trabalho foi esse?

          - Ah... Um parecido. E você precisava ter visto as meninas da minha sala... Ficaram doidas para te conhecer. O engraçado foi a Camille, que até debocha de mim e, do nada, perguntou se podia vir aqui em casa um dia desses... Isso nem é desculpa para me convencer a trazê-la aqui, não é?

Ri e falei:

          - Eu não me incomodo.

          - Mas eu sim. - Avisou. - Prefiro ter amigos de verdade, que nem sabem quem você é do que amigos falsos que vão me visitar por sua causa.

Ergui a sobrancelha e falei:

          - Mas você é abusada, hein?

Sorriu e avisou:

          - Ah! Ontem ouvi meu pai comentando sobre uma reunião da associação de moradores.

Suspirei e a Dani disse:

          - É, ele também fez assim.

De repente, ouvi a campainha e a Rosa, que deveria estar ali perto, foi atender. Quase imediatamente, o Tom apareceu, seguido de perto pelo Georg e o Gustav e, ao notarem a Dani ali, a cumprimentaram, sendo que o Georg a fez sentar-se no seu colo. Ele, inclusive, era com quem ela mais simpatizava depois de mim.

          - O que houve para essa visita repentina? - Perguntei e eles disseram, simplesmente:

          - Temos uma proposta para te fazer. - O meu irmão anunciou. - Vamos para Vegas e você vai com a gente.

          - Mas não era uma proposta? - Indaguei e eles deram de ombros. E, obviamente, a Dani foi se intrometer:

          - Eu acho que você tem mais que ir com eles.

          - Menores de idade... Bico fechado. - Falei e o Georg a defendeu, claro:

          - A tampinha tem razão. E você precisa mais é sair dessa casa, espairecer por uns dias... Anda, não vai doer nada e ainda tem aquela máxima de “O que acontece em Vegas, fica em Vegas.”.

Respirei fundo e o Tom falou:

          - Você sabe que a gente tem razão. E você sabe que precisa disso.

Suspirei e avisei:

          - Vocês são insuportáveis quando ficam insistindo.

Os quatro riram e a Dani pediu:

          - Quero lembrança!

Rimos e concordamos.

Então, durante o mês seguinte, conseguimos preparar tudo para a viagem à Las Vegas. Estranhamente, eu estava animado para ir.

Enquanto estava arrumando as malas para passar uma semana lá, a Dani me observava, deitada na minha cama de barriga para baixo e fazendo o dever. Perguntei, pegando umas camisetas:

          - Que interesse todo é esse enquanto estou fazendo a mala?

          - Estou pensando, só isso. Bem que você poderia arrumar uma namorada bem legal lá em Las Vegas.

          - Quê? Ah, não... Não estou querendo saber de namorada.

          - Deveria. Quer dizer, você tem mais que arrumar alguém que realmente valha a pena.

          - Ô tampinha! Você tinha que estar se preocupando com bonecas e a escola do que com a minha vida!

          - Eu sei. Mas só estou dando minha opinião.

Devo ter feito uma cara não muito satisfeita e falei:

          - Olha, eu sei que você gosta muito de mim e é recíproco. Mas não acho que ainda é hora de pensar em uma namorada.

          - Você é um bundão, Bill.

Ri e terminei de arrumar as minhas coisas. Assim que fechei a mala, perguntei enquanto a colocava no chão:

          - Então... Já decidiu o que vai querer que eu te traga de Las Vegas?

          - Eu estava brincando!

A olhei e admitiu:

          - Tá. Pedi uma boneca da Monster High que vi na loja outro dia. É uma de lobisomem que uiva e fecha o olho.

Estranhei e perguntei:

          - Ela tem um nome para ajudar?

          - Clawdeen.

Assenti e a ajudei a terminar o dever. Em seguida, a acompanhei até em casa. Porém, antes de entrar, disse:

          - Sinceramente? Queria era que você voltasse com uma namorada.

Suspirei, me dando por vencido:

          - Vamos ver o que dá para fazer.

Sorriu e veio correndo me abraçar e desejou boa viagem. Naquela noite, fui dormir com a estranha sensação que algo iria acontecer exatamente quando chegássemos à cidade...

Londres
08 de maio

Luiza
          - Ah, Stephen! - Choraminguei. Tinha o apoio das meninas e ele se manteve irredutível. - Você já fez a gente tirar foto na semana passada!


          - Acontece que o site vai ter cara nova e, para combinar, precisamos de fotos mais de acordo.

Revirei os olhos e acabamos concordando. Então, nos passou o endereço do estúdio onde as fotos seriam feitas e, tão logo fomos dispensadas (Afinal de contas, era nosso dia de folga), fomos andando até a estação de metrô. Tão logo passamos pelas catracas, a Nicola disse:

          - Alguma ideia de roupa?

          - Nenhuma. A gente podia aproveitar e ir ao brechó, dar uma olhada, o que vocês acham?

Di e eu demos de ombros, dando a entender que concordávamos e fomos para a casa. Assim que chegamos, aproveitei que a Di estava no banho para falar com a Nicola:

          - Escuta... Estava pensando uma coisa. E se a gente fosse passar o aniversário da Di em Las Vegas?

Me olhou e, depois de um tempinho, perguntou:

          - Surpresa?

Assenti.

          - Lembre-se: O que acontece em Vegas, fica em Vegas.

Sorri largamente e ela retribuiu.

Dois dias depois, quando chegamos ao estúdio do fotógrafo, a Nicola e eu fomos procurar o Stephen, aproveitando que a Di estava trocando de roupa. Assim que o encontramos, contamos do plano e ele disse:

          - Ó... Deixo ir desde que façam o favor de se divertirem horrores. Ah, sim. E que cada uma me traga uma lembrancinha.

          - Deixa com a gente. - A Lola falou, piscando e sorrindo.

Cada uma das fotos que elas fizeram foi bem... Sexy. Numa das que a Nadine tirou, ela se deitou sobre uma superfície coberta com um pano preto e o fotógrafo instruiu:

          - Quero que você olhe para o alto e mexa no cabelo.

Ela obedeceu e, enquanto o fotógrafo fazia as imagens, a Lola percebeu meu leve nervosismo e perguntou:

          - O que foi?

Respirei fundo e falei:

          - Uma coisa é dançar sobre o balcão e ser sexy sem saber. Outra bem diferente é ser sexy propositalmente.

Deu um meio sorriso e disse:

          - Quer uma dica? Imagina que o Alex está aqui e você quer seduzi-lo.

Dei um estalo com a língua e ela riu. De repente, seu celular começou a tocar e, vendo sua reação, falei:

          - Ó... Vê se não fica muito tempo, viu?

Ainda sorrindo, foi para o lado de fora do estúdio e falando ao telefone com o namorado. Tentei me acalmar enquanto vi a Di sair para trocar de roupa e o Stephen se aproximou de mim, querendo saber:

          - O que foi?

Respirei fundo e respondi:

          - Estou quase tendo um ataque aqui. Eu não sei ser sexy, Stephen.

Arqueou as sobrancelhas e disse:

          - Se o que você faz lá no bar não é sexy, Iza...

          - Sim, mas é que nem eu estava falando com a Lola. No bar é espontâneo. Não forçado, como em uma sessão de fotos...

Suspirou e quis saber:

          - Então você basicamente precisa de um incentivo como no bar, é isso?

Assenti.

          - Pelo menos uma música como as que tocam lá...

Concordou, mordendo o lábio e dizendo que ia tentar.

Depois de alguns minutos, foi a vez da Nicola e, em uma das fotos, ela parecia uma diva da Hollywood antiga. O cenário montado era de um clube de sinuca. Minha amiga se sentou sobre a mesa e foi seguindo as instruções do fotógrafo. Por fim, foi a minha vez. Parecia que minhas pernas tinham se transformado em gelatina e eu mal conseguia dar um único passo sequer. Respirei fundo e o Stephen me chamou. Quando olhei, ele deu um meio sorriso e me indicou um iPod conectado à um dock. Sorri e ele apertou o play, fazendo com que uma música que eu conhecia e muito bem começasse a tocar pelo lugar. Passei pela Nadine e a Nicola e resmunguei:

          - Isso é golpe baixo!

As duas riram e fui andando até o cenário que havia sido montado enquanto trocava de roupa. Era de um bar também, mas, ao mesmo tempo, diferente. O fotógrafo me mandou subir no balcão e obedeci, com um pouco de dificuldade por causa do vestido justo. A primeira pose que escolhi foi a de pernas cruzadas, como o desenho de uma Pin-Up que havia visto. Dei um meio sorriso e a foto foi feita. Foi me dizendo o que fazer até que pediu:

          - Agora faz o seguinte: Olha para a câmera como se estivesse flertando com ela.

Tentei e não consegui. O fotógrafo ficou bem uns quinze minutos tirando um monte fotos minhas e nunca era a que ele queria. Por fim, ele tentou uma abordagem diferente, pedindo para que eu quase deitasse sobre o balcão, entre outras coisas. Obedeci e, de repente, vi o Alex ali, parado ao lado da Lola, que cobriu a boca com a mão e provavelmente cochichou algo em seu ouvido. Ele fez uma cara de tarado e vi que tocou a própria barriga, fazendo alguns gestos que não demorei muito para conseguir entender. Dei um meio sorriso e ele continuou a fazer caras, bocas e gestos. O fotógrafo, claro, adorou.

Fui trocar de roupa para as próximas fotos que, sem dúvida, seriam as mais legais de todas, já que estaríamos dançando enquanto as fotos seriam tiradas. O vestido era de paetês, prateado e, para ajudar, o Stephen colocou músicas que cada uma de nós gostava.

Quando chegou a minha vez, respirei fundo ao mesmo tempo em que comecei a ouvir uma das minhas músicas preferidas. Como tinha uma batida excelente, não demorou muito para que eu começasse a dançar, conforme o fotógrafo ia registrando os meus movimentos. Sem perceber, me soltei e acho que até um pouco demais. A prova foi que, quando a música terminou, praticamente todo mundo ali me olhava boquiaberto. Acho que o Alex era o único que estava com um sorriso lascivo.

No fim, cada uma teve de ir escolher as melhores, junto do Stephen. E, como eu tinha pedido para ser uma das últimas, então, deu tempo de ir correndo trocar de roupa e ficar um pouco com o Alex. O encontrei do lado de fora do estúdio, como sempre, encostado no carro e mexendo no celular. Fui até ele e tomei o aparelho das suas mãos, o colocando no bolso frontal do jeans que usava e, mordendo o lábio além de dar um meio sorriso, disse:

          - Depois vou pedir para o Stephen falar com o responsável que quero aquele vestido.

Arqueei a sobrancelha e falei:

          - Oi! Aquele vestido é feito com um espartilho e aperta... Tudo - Gesticulei e ele riu. - Sem falar que foi um custo sentar em cima daquele balcão usando aquela coisa.

          - É sexy, Iza. Vale o sacrifício, vai por mim.

Devo ter feito uma cara não tão satisfeita e ele perguntou:

          - E aí? Já decidiu quando vão para Las Vegas?

Neguei com a cabeça, passando os braços em torno do seu pescoço.

          - O que foi? - Perguntou e respirei fundo. - Ei... Fala comigo. Aconteceu alguma coisa?

Tomei a iniciativa e o beijei. De repente, ouvi a voz da Nicola:

          - I'm your biggest fan I'll follow you until you love me...Papa-paparazzi...

Nos separamos e olhei para ela, que indicou um ponto específico com o queixo. Me virei na direção e vi um cara com uma câmera. Suspirei e minha amiga ruiva avisou:

          - O Stephen mandou te chamar para escolher as fotos.

Assenti.

          - Quer ajudar? - Me virei para o Alex, que deu de ombros. Entrou no estúdio comigo e me ajudou a escolher as fotos. Perguntou ao meu chefe, quando apareceu a série do balcão:

          - Essa aqui pode ser a que aparece no perfil dela?

          - Alguma oposição, Luiza? - O Stephen quis saber e neguei com a cabeça. Realmente, era uma das mais sexies.

Depois que fomos liberados, as meninas foram para a casa e saí com o Alex. Fiquei com ele a tarde inteira e, enquanto estávamos deitados na sua cama, vez ou outra só nos beijando, me olhou, sério, e insistiu:

          - Você está melancólica. O que houve?

Respirei fundo e admiti:

          - Se não fosse o aniversário da Di, não acho que teria tanta vontade assim de ir para Las Vegas. Estou com um pressentimento meio estranho. Não chega a ser exatamente ruim, mas ainda sim... Estou um pouco cismada.

Sorriu e me tranquilizou:

          - Não se preocupa. Mesmo que você fique bêbada lá e se case com o primeiro que te aparecer na frente, ainda tem o divórcio.

Fiz uma careta e ele riu.

          - Agora falando sério. Percebeu que a gente sempre acaba voltando para o outro?

Assenti e ele acariciou minha bochecha.

          - Relaxa, Iza. - Pediu.

          - Ah... Já estava me esquecendo... Não vamos quebrar a tradição... Ou vamos?

Sorriu e negou com a cabeça.

          - Só que deixa para a gente cumprir quando estiver mais perto, feito?

Fiz bico e ele, rindo, roubou um beijo. Quando tive a oportunidade, perguntei:

          - Beleza. Mas nada impede de a gente... Fazer antes, não é?

Riu e falou:

          - Claro que não... Aliás...

Seu sorriso mudou para um lascivo e, quando vi, estava começando a erguer a camisa que eu usava, expondo minha barriga, acariciando a pele que ia aparecendo. Disse:

          - Já te falei o quanto adoro essa sua pele branquinha?

Dei um meio sorriso e respondi:

          - Só umas... Duzentas vezes por dia desde que a gente se conheceu.

Riu fraco e ficou por cima de mim.

          - Quero que você me prometa uma coisa quando for para Las Vegas.

          - Vou trazer alguma coisa para você, mesmo que sejam os dados.

          - Não... Não quero dados de cassino e nem nada. O que eu quero é outra coisa. Quero que você pense em uma coisa que... Quero te pedir há um bom tempo.

O olhei, enquanto desfazia o nó da sua gravata prateada. Já falei o quão terrivelmente gostoso ele ficava de terno? E, para minar com meu juízo, estava com barba por fazer.

          - Sabe muito bem que o que eu sinto por você não é mais só um enorme carinho, não é?

Assenti.

          - Então... O que eu quero te pedir é que pense muito bem se aceita a minha proposta de... Levarmos o que a gente tem para um... Nível, digamos, de mais seriedade.

          - Era muito mais fácil perguntar se quero namorar com você ao invés de ficar nessa coisa toda rebuscada.

Riu de novo e disse:

          - E como sempre... Entendeu de primeira. Mas quero que pense muito bem a respeito disso. Todo mundo que te vê comigo acha que é minha namorada e pergunta. E fico meio sem jeito de dizer que é a amiga com quem eu transo.

Arqueei as sobrancelhas e perguntei:

          - Ah, então isso tudo é porque você fica sem jeito de falar que sou a amiga com quem você transa?

          - Não, claro que não. É uma parte, muito inferior. O que importa é que sou louco por você, Iza. Quero poder te apresentar como a minha namorada principalmente porque eu...

Pus meu indicador sobre seus lábios e falei:

          - O que combinamos? Que só diria isso para mim quando tivesse certeza mais que absoluta que é o que realmente sente.

Suspirou e assentiu.

Claro que, não muito tempo depois, a conversa foi encerrada e, mais uma vez, acabamos transando. Talvez por saber que eu estava prestes a ir para o outro lado do oceano, ainda que fosse só por uma semana, ainda sim, aconteceu algo extraordinário: Ele me deixou comandar tudo. Normalmente, era um pouco submissa e eram raras as vezes em que não ficava por baixo dele.

Depois que se largou ao meu lado, poucos instantes depois de atingir o clímax, me puxou para perto e ficou abraçado comigo. Dormi quase instantaneamente.

Durante todos os dias que se seguiram, dávamos um jeito de aproveitar as chances que tínhamos e até fui ao escritório dele, depois de receber uma mensagem, avisando que estava sentindo minha falta. Não sei explicar o motivo de ter pego minhas coisas e aparecido lá, usando o vestido justo da sessão de fotos, meias 7/8 e ligas, além de um par de Louboutins vermelhos e sobretudo preto. Ah! Sem falar no coque e a pose séria que assumi. No final, ele pareceu perceber alguma coisa e comentou:

          - Tá vendo o que esse vestido faz comigo? Esqueci que a mesa tem tampo de mármore!

Só consegui rir depois daquilo. O tranquilizei, dizendo que nem estava sentindo a temperatura da pedra sob minhas costas.

Cerca de quinze dias depois, as passagens para Las Vegas estavam compradas, bem como a reserva feita no hotel (Inclusive, gentileza do Stephen) e nós estávamos arrumando as malas. A da Di era feita em segredo, aproveitando toda e qualquer oportunidade que aparecia. Por sorte, a Bertha aceitou cuidar da Vivi enquanto estávamos fora.

Quando o grande dia chegou, passamos a maior conversa na Nadine, que estava desconfiada que planejávamos alguma coisa, mas não falou nada. Conseguimos fazer com que ela entrasse no táxi, rumo ao aeroporto, vendada e ouvindo música em fones de ouvido para não suspeitar de absolutamente nada. Estava saindo tudo conforme o planejado.

Depois de quase um dia inteiro de viagem, finalmente chegamos ao aeroporto de Las Vegas e mantínhamos segredo da nossa amiga, que até tentou descobrir, levantando a venda, mas eu, com meu reflexo de gato, bati na sua mão quase imediatamente. Esperamos até chegarmos no hotel e abrir a porta da suíte para finalmente revelarmos aonde estávamos. A cara que ela fez foi impagável. A Lola filmava tudo e ria da Nadine, que não sabia se gritava, sorria, nos xingava, nos batia...

          - Suas pragas! Não acredito que conseguiram me trazer até Las Vegas e não me falarem nada!

Rimos e ouvimos a campainha. Fui atender e o gerente estava do outro lado. Disse, todo sorridente:

          - Bem-vindas à Las Vegas e ao Bellagio.

Fez todo um discurso, ressaltando as coisas que haviam no hotel, inclusive, o casino e avisou que, como era aniversário da Nadine, tinham preparado umas coisas especiais, como as refeições e até mesmo disponibilizaram um guia para nos mostrar a cidade. Agradecemos e, tão logo ficamos sozinhas, a Di nos abraçou ao mesmo tempo e agradeceu à surpresa. Avisou:

          - Ó... A partir de amanhã, a gente toca o terror aqui, hein? Hoje estou morta de cansaço e tenho que recarregar as baterias.

Sorrimos e, como a suíte era com dois quartos (Um maior, com uma cama de casal e o outro com duas de solteiro), avisamos à Di que ela dormiria sozinha enquanto eu e a Lola dividiríamos o outro quarto. Enquanto trocava de roupa, ouvi a ruiva dizer, do banheiro:

          - O que a Bertha disse sobre a viagem?

          - Me desejou boa sorte, uai... - Respondi.

Ela saiu do banheiro, estranhando, e com o fio dental na mão:

          - Boa sorte, Iza?

Assenti.

          - Vamos combinar que a Bertha nunca foi cem por cento certa, né? E ainda fica botando carta de tarô para mim praticamente o tempo inteiro...

          - E o que ela falou desta vez?

Respirei fundo e tentei me lembrar:

          - Disse que uma mudança grande estava para acontecer e envolvia um homem. Pela lógica, deve acontecer depois que a gente voltar para Londres.

          - Por quê?

          - Ah... Sabe como é, né? Fui pedida em namoro e estou decidida a aceitar.

Sua expressão de choque foi tão engraçada quanto a da Nadine.

          - Está de sacanagem!

Neguei com a cabeça, rindo.

          - Finalmente! - Praticamente gritou, pulando em cima de mim.

          - Engraçadinha. - Resmunguei, quando ela me deixou respirar depois de alguns minutos quase me esmagando.

          - Mas o que te fez tomar essa decisão tão... - Perguntou, gesticulando e fazendo círculos com as mãos. - Repentina?

          - São quase dois anos que estou com o Alex... Acho que já está mais que na hora de, como ele disse, levar a um nível de mais seriedade.

         - Ah, mentira que ele falou isso?

Assenti e continuamos rindo e conversando até pegarmos no sono.

Na manhã seguinte, quando acordamos, descobrimos a Di dormindo no chão, sobre o edredom estirado entre as camas. Olhei para a Lola, que também ficou com dó de acordá-la. Então, demos um tempinho e, quando a Di levantou, perguntamos para ela o que tinha acontecido e a resposta foi a seguinte:

          - A gente já dorme separadas em Londres. Aí, quando viemos para cá... Vocês ficam juntas e eu isolada? Justo eu?

Não resistimos e a abraçamos, combinando de levar os colchões até a suíte para podermos ficar mais próximas uma da outra.

Quando estávamos tomando o café da manhã, combinamos de darmos uma volta, mais à tardinha e deixar para ir aos casinos e boates à noite. Aproveitamos também para começar a planejar como seria a saída no dia do aniversário da Di. Ela, claro, já tinha a resposta pronta e até mesmo avisou que queria ir a uma boate e concordamos. Combinamos de, durante o almoço, dar uma pesquisada na internet a respeito dos melhores lugares para podermos ir.

Por volta de duas da tarde, as meninas decidiram ir para a piscina eu voltei para o quarto, tomar banho e aproveitei para dar uma olhada nos meus e-mails. Aproveitei que tinha uma hidromassagem lá e fiquei de molho por um bom tempo. Ouvi o barulho da porta e, pensando que era uma das duas (Ou até mesmo as duas), avisei:

          - Estou na banheira!

Continuei a tomar banho, lavando minha perna esquerda e a esticando e, quando a pus sob a água novamente, a porta se abriu. Distraída, comecei a falar:

          - Por favor, me lembre de, quando voltarmos à Londres, agradecer ao Stephen pela gentileza de nos arrumar essa suíte divina.

Houve um silêncio estranho e, quando olhei para a porta, a minha primeira reação foi a de gritar. De imediato, demorou um pouco para cair a ficha que o Bill Kaulitz estava parado na porta do banheiro, me olhando, com expressão de choque.


segunda-feira, 26 de agosto de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 2º capítulo


Levante-se e comprometa-se
Mostre o seu poder aprisionado
Faça apenas o que você quiser
Agora levante-se e comece

(Muse - Panic Station)

Londres, Inglaterra

Luiza


Mal via a hora de chegar em casa. Quer dizer, aquele ovo de beija-flor que eu chamava de casa. Morava em Londres não havia nem um mês e as coisas iam de mal a pior. A única coisa boa que havia me acontecido desde que cheguei à terra da rainha foi conseguir um emprego numa loja de discos em Soho. Pagavam até que muito bem e eu, sabe-se lá como, conseguia me virar com o salário. Estava pensando seriamente em arrumar outro emprego. Ia me sacrificar muito, mas sabia que valeria a pena. Ainda mais que meu sonho era sair daquele maldito lugar. Para começar, era melhor derrubar o prédio e reconstruir do zero. Os canos estavam enferrujados e rangiam a noite inteira. Quase todas as janelas eram emperradas. Sem falar que revivia aquele pesadelo de, se um vizinho desse descarga, a água do chuveiro ficava gelada. Não contemos os cupins e baratas que apareciam, vez ou outra e tinha que sair correndo para evitar a Vivi de me presentear[1]. Acho que o pior de tudo era as brigas da vizinha de porta. Estava bem dormindo quando, do nada, escutava os piores palavrões. Isso quando não tinha um som, parecido com o de tapa. E no dia seguinte, quando encontrava o marido, o coitado estava com a marca da bofetada que tomara na noite anterior. Era um sujeito simpático, assim como a esposa. O problema, pelo que era possível escutar, era que ele era mole demais.

E num começo de noite de sexta-feira, quando estava saindo do trabalho na loja, me despedi do gerente e fui andando na direção da estação do metrô. E aquela criatura abençoada do Murphy teve que mexer seus pauzinhos... Começou a cair aquele pé d’água e, antes mesmo de conseguir pegar a sombrinha, já estava ensopada. De repente, passei em frente à uma daquelas lojas esotéricas e meu olhar foi atraído para seu interior. A dona, uma mulher de meia-idade, vestida como uma hippie de Woodstock, me notou ali e sorriu. Fez sinal para que eu entrasse e foi o que fiz.

          - Me deixe adivinhar. - Falou, me olhando. - Rabugenta. Curiosa... Signo de ar, estou certa?

          - Aquariana. - Respondi, sorrindo.

          - E estou sentindo que você está com um pouco de preocupações demais ocupando sua cabeça...

Assenti.

          - Queria tentar conseguir um segundo emprego para sair do ovo de beija-flor em que moro, mas não sei exatamente com o que posso mexer.

Estreitou os olhos, claramente me avaliando e disse:

          - Estou precisando de ajuda aqui na loja. O que me diz?

          - Por mim, tudo bem. Quer dizer, só precisamos combinar o horário, para não dar problema com o meu outro trabalho.

Concordou e indicou uma cadeira. Começamos a discutir aquele pequeno detalhe e, por fim, chegamos a um consenso. A partir da manhã seguinte, já seria vendedora da loja. A minha nova chefe se chamava Bertha e, além de vender coisas como estátuas de bruxas, fadas, gnomos, cristais e outras coisas do gênero, ainda fazia consultas de tarô e quiromancia. A loja tinha o típico cheiro de incenso, mas era fraco e não era ruim; Era muito gostoso, para falar a verdade.

Assim, minha primeira semana no segundo emprego foi puxada, não nego. No entanto, numa sexta-feira à noite, depois do expediente na loja de discos, o dono chamou todo mundo e avisou que estava fechando a loja, porque seu pai estava doente e ele iria para o interior, ajudar. Claro que todo mundo ficou daquele jeito, mas ao mesmo tempo, todo mundo desejou o melhor para o pai do nosso, agora, ex-chefe.

Quando cheguei à loja da Bertha, no sábado de manhã, ela, como sempre, bateu o olho em mim e disse:

          - Não me diz nada. Você vai ficar em período integral aqui comigo, é isso?

Assenti e contei a história. Ela ficou com pena, claro, mas ao mesmo tempo, gostou de ter minha ajuda por mais tempo.

Estava terminando de recolocar uma estátua de ninfa no lugar (Sobre uma prateleira alta) e a sineta tocou. Gemi fraco e falei:

          - Só um segundo.

Arrumei a estátua e desci da escada. Na minha frente estava simplesmente um modelo de cueca da Calvin Klein. Parecia zueira, mas se ele não trabalhava com isso... Era hora de reconsiderar. Era de estatura mediana, aparentemente com o físico em dia, loiro e de olhos pequenos e claros. O rosto era de homem mesmo, com barba por fazer e aquele maxilar bem delineado, que me deu vontade de dar uma mordida, confesso.

          - Bom dia, posso te ajudar? - Perguntei, sendo simpática e até sorrindo.

          - Na realidade... Pode. Tenho uma amiga que gosta desse tipo de coisa e, como é aniversário dela amanhã, preciso dar um presente.

          - Ah sim. Bom, como é essa sua amiga?

Começou a me dar a descrição da garota e aos poucos, fui dando as ideias. Por fim, escolheu um móbile de fadas. Enquanto terminava de registrar a compra, notei que estava me olhando fixamente. Perguntou:

          - Você é nova aqui?

Assenti.

          - Engraçado, porque tenho a impressão que já te vi antes... - Comentou e respondi:

          - Eu trabalhava numa loja de discos no Soho.

          - É. Isso mesmo. Fui atendido por outra pessoa, mas lembro de você na loja. E no dia estava atendendo à uma mãe com três filhos.

Fiz uma careta ao lembrar.

          - Nem me fale. Ficou me alugando por quase uma hora e no fim, não levou nada. - Respondi e ele sorriu.

          - Sou Alex.

          - Luiza. Pode chamar de Iza.

          - Obrigada pela ajuda. Iza. - Disse, ainda sorrindo. O acompanhei até a porta da loja e ele perguntou, disfarçando: - E que horas você trabalha aqui?

          - Da hora que abre até a hora em que fecha.

Concordou em silêncio e falei:

          - Sempre que precisar... Estamos aí. E sendo bem clichê... Volte sempre.

Riu e assentiu, começando a ir.

No final da tarde, quando a Bertha voltou da consulta médica em que tinha ido, perguntei:

          - E então?

          - Só o colesterol que está um pouco alto, mas isso é fácil de controlar. E como foi tudo por aqui?

Sorri, mostrando o relatório de vendas e ela ficou impressionada. E satisfeita.

          - Só por isso... Quero fazer uma coisa por você. Mas depois que fecharmos a loja.

Estranhei e ela perguntou:

          - Entre tarô e quiromancia, em qual você acredita mais?

Dei de ombros.

          - Tanto faz. Acho que acredito nos dois igualmente.

Concordou e foi até sua sala. Até a hora de fechar, apareceram mais três clientes, que compraram, mesmo que fosse só incenso. Depois que fechei a porta de vidro, a Bertha já estava à postos, embaralhando as cartas de tarô. Me sentei ao banco de madeira envelhecida e, quando espalhou o baralho sobre a mesa, em formato de leque, disse:

          - Escolha as cartas, por favor.

Obedeci e fui fazendo conforme ela me dizia. Explicou o significado de cada uma das cartas e tinha que confessar que fiquei com um pouco de medo quando abriu a carta do diabo. E tarô era sempre a coisa mais engraçada. A carta da morte, te dá uma ideia terrível. E nem sempre era sinal de coisa ruim. Já a dos amantes...

          - Eu sei o que você está pensando. E te digo que a carta do diabo é referente à paixões. - Disse, tentando me acalmar. Continuou a explicar, fazendo as recomendações e, assim que acabou, me liberou para ir para a casa.

A partir da semana seguinte, aconteceram duas coisas: A Bertha começou a me olhar com certa curiosidade, como se soubesse algum segredo ao meu respeito e até esperasse que aquilo fosse acontecer. E a outra... Bom, o Alex passou a ir na loja todo santo dia, com as desculpas menos convincentes possíveis. No final, estava até perdendo a paciência com esse assédio todo dele.

Numa sexta-feira em que estava terminando de ajudar a Bertha a fechar a loja, a minha chefe olhou para um ponto mais adiante e disse, sorrindo:

          - Eu sei que você provavelmente vai continuar com seu ceticismo, mas... Depois que pus as cartas para você naquele dia, andei fazendo mais consultas e descobri que tem um rapaz no seu caminho...

Nem precisei me virar para entender de quem ela estava falando. Suspirei e perguntei:

          - E por um acaso essas cartas te disseram o quanto ele pode ser inconveniente com a insistência?

Ela riu e disse:

          - Vai lá. Deixa que eu termino aqui.

Suspirei, pegando a minha bolsa, vendo que não ia ter discussão, e me despedi dela. Assim que saí, o vi mexendo no celular, distraído. Passei por ele e avisei:

          - Só uma dica: Continua sendo insistente desse jeito que você perde todas as chances que pode ter comigo.

Ergueu o olhar para mim e continuei andando. Quando vi, estava correndo para me alcançar e perguntou:

          - Posso tentar me redimir então?

Arqueei a sobrancelha, o olhando e ele disse:

          - Tem uma cafeteria perto do meu trabalho e simplesmente vende o melhor café e os melhores acompanhamentos da cidade. Ganha em disparada da Starbucks. O que me diz?

Abri a jaqueta e mostrei a camiseta que usava. Ele leu e riu, me guiando até seu carro. Assim que parei em frente ao veículo, ele notou minha cara e disse:

          - O Murcielago estava em falta.

Arqueei uma das sobrancelhas e entrei no carro ao mesmo tempo em que ele. Eu simplesmente estava dentro de um Lamborghini Gallardo grafite e fosco, ao lado de um cara lindo e que estava me levando para ir tomar café. Esqueci de mais alguma coisa? Ah, sim. Esse mesmo cara passou a semana inteira bancando meu stalker e aparecendo na loja todo santo dia, com as desculpas mais esfarrapadas possíveis.

Depois de alguns minutos, quando ele me ajudou a sair do carro, atravessamos a rua e entramos na tal cafeteria. Era extremamente aconchegante e o cheiro de café do lugar era delicioso. Me indicou uma mesa num canto mais reservado e, tão logo uma das garçonetes trouxe o cardápio, dei uma olhada na lista e escolhi o café, mas pedi ajuda para o Alex para me decidir sobre o que ia comer. Depois que ela se afastou, com os pedidos anotados, perguntei:

          - Então... Algum motivo para todo esse assédio durante a semana?

Sorriu daquele jeito que me deixou derretida e respondeu:

          - Para falar a verdade... Não sei bem como explicar. O que eu posso te dizer é que sentia que tinha de ir à loja e te ver, ainda que não entrasse.

Estreitei os olhos, dando um meio sorriso e ele continuou me contando, inclusive, que a amiga havia gostado do móbile.

Depois que a garçonete trouxe os pedidos, começamos a comer e continuamos a conversa, mas agora falávamos sobre nossas vidas particulares. Descobri que ele era empresário e vinha de uma família rica e por isso o Lamborghini. Contei de onde vinha e como tinha ido parar na loja da Bertha.

A partir daquele dia, comecei a ver o Alex cada vez mais e ele sempre me dava uma carona até em casa. Não tinha coragem de deixa-lo entrar ali por ser um lugar tão... terrível; Tinha até vergonha.

Assim que terminei de ajudar a Bertha a fechar a loja, numa quinta-feira à noite, estava indo me encontrar com o Alex quando a minha chefe avisou:

          - Escuta... Vai se preparando porque acho que vai precisar usar seu instinto protetor.

A olhei, estranhando e me despedi. Fui andando pela rua e, de repente, vi uma confusão um pouco mais à frente assim que virei a esquina. Parei para observar e eram duas garotas dando “A” surra num cara. De repente, ele puxou a bolsa de uma das duas e começou a correr. Foi a deixa que eu precisava. Não me pergunte como, mas consegui ver que ele não estava armado. Saí correndo atrás do trio e, me esforçando para dar maiores passadas, lá fui eu bancar a perereca e pular nas costas do infeliz, inclusive, começando a bater nele. Não muito tempo depois, uma viatura parou bem perto de onde estávamos e ouvi o guarda dizer:

          - De pé, agora!

Tive que obedecer e notei que o ladrão, um bicho magrelo e narigudo, estava quase chorando. Pelo amor de Deus!

          - Daniels, prende esse aí. E quanto à vocês três... Para a delegacia comigo, agora!

Olhei para as duas, que aparentemente estavam com a adrenalina no seu pico e nem olharam para mim. Entramos no carro, uma ao lado da outra no banco de trás, ainda em silêncio.

Assim que chegamos, o guarda pediu que esperássemos ali no corredor e uma das garotas disse:

          - Hey... Hã, obrigada por ter... Derrubado o cara.

A olhei e vi que era uma menina que poderia muito bem se passar por uma californiana; Era alta, magra, sua pele era bronzeada, os cabelos castanhos, assim como os olhos, e na altura do busto. O nariz era fino, reto e a ponta era redonda. A boca era carnuda, sendo que o lábio inferior era maior que o de cima. Seu rosto era fino e ovalado.

          - Disponha. - Respondi e ela riu, assim como a outra.

          - Nadine. - A morena disse, esticando a mão para mim. A apertei.

          - Luiza. Pode me chamar de Iza.

          - Lola. - A outra disse. Era tão branca quanto eu. E, não bastasse, seus cabelos eram ruivos, na altura dos ombros e os olhos eram azuis, bem vivos. O nariz era comprido e a ponta, assim como o da outra, era redonda. Até mais bolinha, inclusive. A boca era fina e ela usava um batom vermelho, que contrastava e muito com os cabelos. Quando esticou a mão para me cumprimentar, reparei que tinha sardas nos braços, mas só na parte externa e até os pulsos. As unhas eram compridas e tinham sido lixadas de modo que as pontas eram redondas e afinadas. Sem falar no esmalte do mesmo tom que o batom. Taí uma pessoa discreta.

          - Seu nome é Lola mesmo ou...?

          - Nicola, para falar a verdade. Só que eu prefiro que me chamem de Lola. Nic é comum demais.

          - É que nem “Lu”. Ainda mais que eu não sou a única da família cujo nome começa com essas duas letras...

... E continuamos a conversar. Quando vi, já estávamos amigas, inclusive combinando de sairmos. Depois do que pareceu ser uma hora inteira, finalmente fomos recebidas pelo chefe da delegacia. Era um homem gordo, de cabelos grisalhos e com o topo da cabeça bem ralo, olhos azuis e rosto redondo e vermelho. Imaginei, por um instante, que ele deveria ser do tipo que cuspia quando gritava com os policiais. Indicou as três cadeiras de frente para sua escrivaninha e nos perguntou:

          - Pois muito bem. O que houve?

Nós três começamos a falar ao mesmo tempo. Obviamente, ele mandou que cada uma contasse separadamente e assim o fizemos. Quando chegou minha vez, falei:

          - Sabe o que aconteceu? Vi que a criatura tentou roubar a bolsa de uma delas e fui ajudar. Eu reconheço que errei em ter batido nele, mas... Ô chefe, tenta acompanhar meu raciocínio, sim?

Me olhava, interessado na narrativa.

          - Sejamos francos. Sou brasileira e estou aqui em Londres a trabalho e estudo. Não deveria mesmo ter me metido em confusão, mas tente se colocar no meu lugar. Se... Fosse sua filha, por exemplo. Não ia lá e tentaria ajudar?

Concordou, ainda com os braços cruzados na altura do estômago.

          - Só não entendi até agora o que o fato de você ser brasileira tem a ver com seu ato heroico, senhorita.

          - Brasileiro tem disso, de querer meter o bedelho onde não é chamado, fato. - Respondi. - Olha, se quiser, a gente pode conversar a respeito de um julgamento para uma pena do tipo... Serviço comunitário.

          - Vamos fazer o seguinte. Hoje você passa. Mas se eu descobrir que a senhorita andou aprontando de novo...

          - Vai ter notícias de mim, mas boas, pode confiar. - Respondi, sorrindo. Ele acabou nos dispensando e, uma vez fora da delegacia, a Lola quis saber:

          - Ei! Vai fazer alguma coisa agora?

          - Ir para a casa, por quê?

A sua resposta foi um som de escárnio e perguntou:

          - Sério que você vai querer ficar mofando em casa pelo resto da noite de sexta-feira?

          - O que eu posso fazer? Não conheço quase ninguém aqui em Londres e nem me atrevi a sair...

As duas se entreolharam e a Nadine falou:

          - Em primeiro lugar: Você vai se atrever a sair de casa. E com a gente. Em segundo lugar... Você nos conhece. E acredite... Isso não é pouca coisa. Ainda mais depois dessa ajuda que nos deu com aquele magrelo.

E saíram me guiando pela rua até que a Lola estendeu um braço e um táxi parou na nossa frente. E pensar que eu mal sabia que minha vida ia mudar totalmente daquele dia em diante...

Dois anos depois, minha vida mudou muito. Ainda trabalhava com a Bertha e a novidade é que tinha conseguido um canto para morar. As meninas, depois de um ano, me chamaram para dividir um apartamento com elas. Por sorte, o condomínio aceitava animais. Então, levei a Vivi e as meninas eram doidas com ela e vice-versa. Além disso, mantinha a rotina dos dois empregos. Desta vez, era graças à a Nadine (Que já tinha virado simplesmente “Di”) tinha me ajudado a conseguir o emprego de garçonete em um bar, tipo o do filme do Show bar. Vez ou outra, tínhamos de subir num balcão separado e cantar. Para não fazer feio, tomava aulas.

Além dessas mudanças físicas... Eu mesma tinha mudado. De uma garota tímida e caseira, passei a sair com as meninas e frequentar, não só festas, mas boates. Não conseguia gostar da música, mas só de não ficar enfiada em casa já estava bom. E como as duas eram excelentes companhias...


Já as coisas com o Alex estavam mais... Estacionadas. Na realidade, ele havia começado a dar umas diretas e eu conseguia me esquivar. Mas, do mesmo jeito que acontecia quando nos conhecemos... Ele era insistente. As meninas sabiam dele, mas ainda não tiveram a chance de se conhecerem, uma vez que o Alex precisava viajar constantemente a negócios.

Num sábado, estava me preparando para ir trabalhar. Não nego que, apesar de tudo que fiz desde que fiquei amiga das meninas, não podia evitar de sentir um pouco de nervosismo por bancar a “coiote” (Para quem não viu o filme, basicamente são as garçonetes). E numa tentativa desesperada de conseguir um pouco mais de confiança para algo tão... Ousado, preferi usar uma calça justa à minissaia. Por mais que tenha mudado um bocado desde que comecei a andar com as meninas, ainda sim, a Luiza de antes ainda existia. E nem a nova, nem a anterior teriam coragem o suficiente de uma loucura dessas. Quer dizer, a nova ainda não teria.

Encarei meu próprio reflexo no espelho e dei um sorriso torto. Havia maquiado meus olhos com sombra preta e esfumacei o lápis, além de uma boa quantidade de camada de rímel. A boca, conforme ditavam, estava só com um leve brilho, graças ao batom nude que eu usava. O nude, no caso, não era daqueles quase brancos, mas da cor dos meus lábios mesmo. Minha roupa era composta por, além da calça, uma camiseta branca sem manga e com a estampa da Debbie Harry. Além disso, um par de ankle boots emprestadas da Di (Aproveitando que calçávamos o mesmo número), um rabo-de-cavalo todo bagunçado e acessórios estilo punk, como o bracelete de couro preto, que nada mais era que duas tiras cruzadas e um pingente de crânio, além do par de argolas que estavam nas minhas orelhas. É. Bem rocker, muito diferente da Luiza do dia-a-dia, que usa mais camiseta, jeans e All Star.

Assim que estava pronta, dei uma última olhada geral, para ver se não estava esquecendo de nada e saí, trancando a porta ao passar. Não muito tempo depois, cheguei à estação de metrô e lá fui eu para o trabalho.

Cheguei no bar e já estava começando a ficar lotado. Algumas meninas já estavam dançando sobre o balcão e outras serviam os clientes. Me juntei ao segundo grupo.

Exatamente à meia-noite, o meu chefe me mandou trocar de lugar e tive que respirar fundo e ir andando até o balcão. Por sorte (Ou não), a Di e a Lola estavam lá. E sim. Antes que me pergunte, elas trabalhavam no bar comigo. Lola, para falar a verdade, também tinha dois empregos: O diurno era em um ateliê de moda e o noturno... Bem, já deu para sacar, né? A sorte dela é que só precisava ir ao bar nos finais de semana.

De repente, começou a tocar “Pour some sugar on me” do Def Leppard. Olhei para as duas, insegura e elas fizeram um sinal para que eu subisse ali e ficasse ao lado delas. Vendo que eu não ia reagir, a Di falou:

          - Te desafio a subir nesse balcão e dançar como se não houvesse amanhã. Senão fizer isso, eu juro que posto uma foto bem embaraçosa sua no Facebook.

Fui mais pelo desafio que a ameaça.

Conforme as batidas começaram, fui rebolando lentamente, atraindo a atenção de quase 100% da população masculina que estava naquele bar. Fechei os olhos e fui me deixando levar, ouvindo vários gritos, alguns até obscenos, dos caras. No refrão, olhei para a Di (Aproveitando que a Lola estava dançando com outra menina) e ela pegou minha mão. Esticamos os braços e começamos a jogar as cabeças de um lado para o outro. Apesar de tudo, estava sendo divertido. Olhei para o Stephen, dono do bar, e fiz um sinal específico para ele, que hesitou um pouco. Mas permitiu. Tanto que me jogou seu isqueiro. E eu, com meu reflexo de Mulher-Aranha, o peguei no ar. Abri a tampa e logo consegui fazer a chama. Em seguida, estiquei o braço para cima e, depois de alguns poucos segundos, os sprinklers do lugar foram ativados. Joguei o isqueiro de volta e no trecho depois do solo, uma coisa significativa aconteceu: A Luiza que saiu de casa deixou de existir. Agora, quem dançava sobre aquele balcão da maneira mais sexy imaginável, rebolando e jogando os cabelos molhados de um lado para o outro era outra, totalmente nova e diferente. Não sei explicar, mas me sentia poderosa. E sexy. Ainda mais com aquele bando de homem gritando coisas como “Gostosa”.

Assim que a música acabou, pude descer do balcão e confesso que não tive medo se algum cara chegasse em mim. Quer dizer, desde que ele mantivesse o respeito...

Depois que o bar fechou, quase com o sol nascendo, a Lola se aproximou, toda serelepe e com um sorrisão nos lábios. Disse:

          - Tem um modelo de cuecas da Calvin Klein perguntando sobre você...

          - Quê? - Perguntei, me levantando de um salto do banco em que estava sentada. O Stephen riu enquanto me via correndo até a porta. Assim que saí do bar, o Alex estava ali, encostado no mesmo Lamborghini e dei um meio sorriso. Perguntou:

          - Então... Os boatos são verdadeiros? Você trabalha aqui à noite?

Assenti.

          - E você, como o bom inglês que é, chegou na hora certa.

Estranhou e quis saber:

          - Hora certa para quê?

          - Vou só pegar as minhas coisas. Só saia de onde está para entrar no carro e quando eu voltar, entendido?

Concordou e voltei correndo para o bar. O Stephen me provocou:

          -... E ela volta para tirar o pai da forca.

Ri e fui até a área dos empregados, com escaninhos para guardarmos nossas coisas. Peguei a bolsa e a jaqueta e notei as meninas paradas ali na porta, me fixando.

          - É o Alex? - A Di quis saber e assenti.

          - Pelo visto... - A Nicola falou, andando até onde eu estava. - Vai precisar disso aqui.

Me mostrou uma embalagem de camisinha. Suspirei e avisei:

          - Sou amiga do Alex há dois anos e, apesar de todo o assédio dele para cima de mim... Não vou ceder tão facilmente.

As duas suspiraram e a Lola disse:

          - Você vê, é exatamente esse o problema. Você está cozinhando o coitado em banho-Maria há tanto tempo que daqui a pouco aparece uma periguete e toma ele de você. E se tiver de pegada e gostosura o que tem de beleza... Vou te falar que não vai demorar tanto assim para isso acontecer.

Respirei fundo e peguei o pacote de camisinha, mas só para parar com a insistência das duas. Assim que terminei de pegar as coisas, me despedi delas e acenei para o Stephen antes de sair do bar. Quando cheguei no lado de fora, perguntou ao abrir a porta para mim:

          - Você trabalha usando essa roupa?

Arqueei a sobrancelha.

          - Só um aviso: Ciúmes comigo não, ok?

Riu e disse:

          - Estava só te testando.

Estreitei os olhos e falei:

          - Toca essa lata velha para Whitechapel.

          - Lata velha? Aí não, Iza! Aí já é esculacho! Assim o Ghini se ofende. - Disse, passando a mão no painel.

          - Você está de sacanagem comigo que o carro tem nome e pior: Que eu ouvi o que acho que acabei de escutar!

Riu e finalmente deu a partida.

Assim que chegamos à lanchonete, havia um grupo de caras, provavelmente de vinte anos, que ficou me olhando e até cochichando. O Alex, com seu instinto protetor, passou o braço por cima dos meus ombros e me senti grata. Apesar de serem novos, eram em maioria e pior: Caras. Vai que eles cismassem de avançar em cima de mim?

Depois que fiz os pedidos e fui buscar, um deles se arriscou:

          - Me chama de Frodo que te mostro o precioso...

Tive que rir e falei:

          - Está vendo aquele cara ali? - Indiquei o Alex, que nos observava. - Então. É meu namorado. E me responde uma coisa: Ia gostar que mexessem com sua garota?

Deu um meio sorriso e avisei:

          - E uma dica: Cavalheirismo, ao contrário do que todo mundo pensa, é sempre bem-vindo. E vê se melhora a cantada, viu, bonitinho?

Apertei sua bochecha e os amigos dele o encaravam, boquiabertos. Fui me sentar e ele perguntou:

          - O que foi?

          - Nada. Só... Uma criança querendo bancar o Casanova. Claro que não deu certo...

Me olhou e de repente, tive uma ideia. Saí andando e sendo seguida pelo Alex até o cais, que era ali perto. Me sentei em um banco, tipo aquele de praça, e comecei a comer, percebendo que ele se sentou ao meu lado, repetindo meu gesto. Quando terminamos, levantei para jogar as embalagens da comida numa lixeira ali perto e, quando voltei, percebi que ele me olhava. Perguntei:

          - O que foi?

          - Como você consegue andar em cima disso? - Indicava as botas que eu usava.

          - Hoje você tá mais atacado e implicante que o comum... O que te aconteceu, hein? - Me sentei ao seu lado. Me olhou fixamente, fazendo uma cara estranha, passando a ponta da língua nos lábios e dando um meio sorriso. Perguntei:

          - Você está me botando medo, sabia disso?

Riu e disse:

          - Tem uma coisa que eu quero fazer desde a primeira vez em que te vi...

          - E... Por que não faz agora?

Se inclinou na minha direção e me beijou.

Depois de alguns minutos, as coisas foram ficando cada vez mais intensas e, depois que fui encerrando o beijo, mordi seu lábio inferior e o puxei e, logo depois, ele perguntou, sem me deixar ir:

          - Quer ir lá para a casa?

Respirei fundo e, mordendo o meu lábio, quis saber:

          - Me dá um bom motivo para eu querer ir.

          - Apesar do beijo... Eu quero que você durma lá hoje. Estou sentindo falta de uma companhia e acho que dificilmente outra pessoa conseguiria me fazer rir como você faz.

Estreitei os olhos e perguntei:

          - Então... Está querendo que eu te faça rir, é isso?

          - Iza, mesmo que nunca aconteça nada entre a gente depois de hoje, não pensa que vou te deixar em paz pelo resto da vida, mesmo que você se mude para Johanesburgo e eu vá para Helsinque...

          - Mais fácil acontecer o contrário.

Riu e disse:

          - A verdade é que não consigo mais ficar sem ter você do meu lado. Aprendi a gostar de você como amiga e como mulher.

Dei um sorriso fraco.

          - Vamos para sua casa então? - Perguntei, assumindo um ar sapeca. Ele sorriu largamente e fomos andando até o carro. Quando estávamos parados no primeiro sinal, ele quis saber:

          - Será que corro algum risco te pedindo outro beijo?

          - Em casa, mate. - Avisei e ele sorriu.

Quando chegamos, finalmente, me ajudou com a jaqueta que eu usava e perguntei, assumindo uma postura totalmente diferente da inicial:

          - Escuta... Eu estava pensando uma coisa aqui...

          - O quê? - Perguntou enquanto pendurava o próprio casaco em um cabideiro perto da porta. Dei um meio sorriso e respondi, me aproximando dele lentamente:

          - Você realmente queria que eu viesse aqui só para te fazer companhia, como estava me dizendo?

          - Bom... De certo modo, você vai.

Continuei andando até ficar parada a poucos milímetros de distância dele. Por causa do salto, não precisei ficar na ponta dos pés. Fechei os olhos aos poucos até que senti sua boca se moldando à minha novamente. Não muito tempo depois, me levou ao seu quarto, sem interromper o beijo e, quando dei por mim, já não havia a barreira das roupas nos atrapalhando. Tão logo terminou de colocar a camisinha, ficou me olhando de um jeito estranho e perguntei:

          - O que foi?

Se inclinou na minha direção e me beijou enquanto começava a se movimentar lentamente, me penetrando. Depois de algum tempo, quando finalmente atingimos o clímax, ele se largou em cima de mim, ainda tão ofegante quanto eu e comentei, enquanto beijava seu rosto:

          - Esteja ciente que, depois do que acabou de acontecer, eu é que não vou te deixar.

Riu e perguntou, me olhando e se fingindo de ofendido:

          - Ah, então é por isso que você me quer por perto? Só para usar e abusar do meu corpo?

Dei um estalo com a língua e o provoquei:

          - Droga, fui descoberta.

Ri também e me estiquei para roubar um beijo seu. Sentia que realmente depois do que acontecera, não tinha mais volta. Ainda bem.


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[1] É bastante comum gatos caçarem bichos como lagartixas e barata e darem de presentes para os donos. E se ofendem, caso o dono recuse. Particularmente, tive sorte de a Vivi nunca ter feito isso comigo, apesar de terem aparecido aqui em casa ao menos dois de cada um :X

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Imagens, música e outros

domingo, 25 de agosto de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 1º capítulo


Não podemos amar, não desta maneira
Você me destruiu, será que eu ao menos existo?
Depois de tudo, dei-lhe tudo, perdi tudo
O amor é tão solitário agora

(Cheryl - Screw you (feat. Wretch 32))

Londres, Inglaterra

Bill

Estava me preparando para um Meet & Greet enquanto cada um de nós fazia uma coisa: O Georg estava mexendo no celular e meu irmão conversava com o Gustav. E eu andava de um lado para o outro. Estava ansioso e ao menos nem sabia o motivo. De repente, o mais velho atraiu nossa atenção:


          - Acho que já sei aonde vamos...

Claro que aquilo atiçou nossa curiosidade. Fomos andando até ele, que mostrou o site de um bar chamado “The Coyote”. Imediatamente, cada um pegou o próprio celular e começou a ver o site. O lugar era como o do filme “Show Bar” e as garçonetes dançavam sobre o balcão.

          - Ei... Achei a parte com as biografias das meninas que trabalham lá. - Meu irmão avisou e obviamente começamos a procurar, seguindo as instruções dele. Tinha começado a ver a de uma garota brasileira quando o Jost apareceu, estragando totalmente nossa alegria, dizendo:

          - Guardem esses celulares e se preparem.

Obedecemos, mesmo contrariados, e, aproveitando uma breve distração do nosso empresário, peguei o aparelho, favoritando a página com a biografia da garota que havia aberto. Logo, as aliens vieram e tiraram foto com a gente.

O mundo pareceu parar quando a vi. Era exatamente o tipo de garota que eu gostava: Cabelos escuros, olhos claros, pele parecendo ser feita de porcelana... Estava a um canto, com cara de tédio e fiquei imaginando se, por um acaso, era amiga ou irmã de alguma das fãs com quem tirávamos fotos. Não consegui desviar o olhar dela por um segundo sequer e, quando uma das últimas aliens veio, mal podia se controlar, de tão animada que estava. Parecia que ia ter um ataque a qualquer segundo e, depois que tiramos a foto, perguntei:

          - Você está com ela?

Assentiu.

          - É minha prima, Lydia. Mora nos Estados Unidos e consegui arrastá-la para cá. - Respondeu, sorrindo.

          - E onde ela mora, exatamente?

          - Los Angeles. Beverly Hills. Por quê?

          - Curiosidade. - Respondi, disfarçando. Assim que elas saíram, aproveitei para pedir um favor a um dos seguranças.

Horas depois, quando o show acabou, estava exausto, mas não via a hora de voltarmos ao hotel. Assim que finalmente saí do carro, praticamente corri até o bar e ela não estava ali. O Tom parecia ter se materializado ali e, pondo a mão sobre meu ombro, disse:

          - Se estiver procurando aquela garota que mora em Los Angeles... Lamento te desapontar, mas acho que, se estivesse interessada, para começo de conversa, não estaria fazendo a maior cara de tédio do mundo.

Suspirei, assentindo.

          - E seguinte: Amanhã nós vamos aproveitar nossa folga aqui em Londres e vamos àquele bar. Quer vir?

Concordei, estranhamente animado.

Um tempo depois, quando me deitei na cama, encarei o teto, pensando, principalmente na garota do Meet & Greet. Estava claro que não era nossa fã e, talvez por isso, me chamou a atenção. Bom, além, claro, da sua aparência e ser a garota dos meus sonhos.

Naquela noite, sonhei com garotas dançando em cima de balcões de bar. E uma delas me parecia estranhamente familiar...

Conforme o costume, acordei e já era tarde. Olhei no relógio digital sobre o criado-mudo e vi que marcava quatro horas. Me levantei e a primeira coisa que fiz foi tomar banho, me arrumando depois. Desci e encontrei meu irmão conversando com o Georg e o Gustav e os três estavam animados.

          - Qual o motivo dessa alegria toda? - Perguntei e eles se entreolharam.

          - Tem uma brasileira trabalhando no bar. - Meu irmão disse, sorrindo.

          - Eu sei. Estava quase vendo a biografia dela quando o Jost apareceu.

          - Brasileira, Bill. - Repetiu, calmamente. - Deve ser aquele monumento. Típica mulata.

          - E como vocês descobriram? - Eu quis saber e o Georg respondeu:

          - A gente perguntou na recepção e confirmaram. Parece que o primo do gerente conhece o dono do bar e rola aquela propaganda básica.

Assenti.

          - O Tom está desse jeito por causa de uma delas... Não é a brasileira. - O Gustav avisou e perguntei, aproveitando a oportunidade:

          - Me deixa adivinhar. Se parece com a Jessica Alba?

Deu um estalo impaciente com a língua e é claro que rimos.

          - Nada disso. A menina é diferente. - Tentou se justificar e o Georg o provocou:

          - É. Tanto que ele se encantou pelo sorriso dela.

Olhei para o Tom, estranhando e ele disse:

          - Georg, vai se foder. E ela tem realmente um sorriso lindo.

          - Quem é você e o que fez com o meu irmão? - O provoquei também e os outros dois riram. Já meu irmão, me mandou o dedo do meio.

          - Tem foto dela? - Perguntei, curioso e, enquanto o Tom mexia de novo no celular, falou:

          - Detalhe que eu não fui o único. Ah, se a Hannah descobre... Vai ter baixista solteiro daqui a uns dias...

Olhei para o Georg, que disse:

          - É uma loirinha que chamou minha atenção, não nego. Mas olhar não tira pedaço. E o que os olhos não veem, o coração não sente.

Sorri e o Tom me mostrou as fotos. A que ele tinha gostado era realmente bonita. Seu sorriso era realmente contagioso, daquele tipo que, quando a pessoa sorri, seus olhos quase fecham e é largo, espontâneo. A que o Georg havia gostado era diferente. Dava para ver que tinha os olhos claros, mas, ao contrário do que haviam dito...

          - Essa menina não é loira nem aqui, nem na China. O cabelo dela deve ser castanho. - Avisei e logo começaram a me perturbar.

          - Vem cá, ainda não tem foto da brasileira? - O Georg quis saber e meu irmão, depois de mexer mais um pouco, negou com a cabeça.

          - Epa... Nada feito. Aqui tá falando que ela não vai se apresentar hoje, por estar doente. - O Tom avisou e os outros dois resmungaram.

          - Deve ser jogada de marketing, para atiçar a curiosidade de todo mundo e conseguir mais público. - Falei.

          - Será? - O Georg perguntou e assenti.

Então, continuamos ali, comemos qualquer besteira e combinamos de ir ao tal bar às onze.

Enquanto estava me arrumando, fiquei tentando imaginar a tal brasileira, confesso. Imaginei uma garota como as que havíamos visto quando fomos lá. Só que não conseguia, por mais que tentasse.

Assim que estava pronto, desci ao térreo quando o gerente me avisou:

          - Pediram para avisá-lo de que estão lhe esperando no bar.

Agradeci e fui lá. Sentada em um dos banquinhos ao bar, estava a garota entediada do Meet & Greet. Usava um vestido preto, tomara-que-caia e seus cabelos estavam soltos. Brincava com a azeitona dentro da taça de Martini. Peguei o celular, rapidamente digitando uma mensagem para o meu irmão e reunindo coragem, fui até o bar. Me sentei num banco, um pouco mais afastado dela, e pedi uma bebida qualquer ao barman. Consegui atrair a atenção dela e perguntou:

          - Se queria tanto me encontrar, por que está sentado aí?

Hesitei um pouco antes de me levantar e ir para o banco ao seu lado.

          - Então... Fiquei sabendo que você também mora em Los Angeles... - Puxei o assunto e ela sorriu, concordando.

          - Nasci aqui e estou terminando a faculdade lá. Decidi esperar um pouco assim que terminei a escola.

Continuamos a conversar e a cada instante que se passava, eu ficava mais e mais hipnotizado por ela.

Quando vi, estávamos sentados à uma mesa e, aproveitando que não tinha praticamente ninguém ali além de nós, tomei a coragem e a beijei. Ela não recusou. Muito pelo contrário; Retribuiu. Apesar de ela beijar muito bem... Não sentia aquela atração forte e inexplicável. Quer dizer, tinha, mas não era nem um pouco avassaladora.

Porém, antes de ir embora, me passou seu telefone, falando para nos encontrarmos quando voltasse à Los Angeles. Concordei e, depois que foi embora, fui para o quarto, com ela tomando conta dos meus pensamentos.

O tempo foi passando, sempre mantive contato com ela e, assim que cheguei da turnê, já tinha marcado de sairmos. Meu irmão estava me incentivando, vendo minha ansiedade e, por falta de oportunidade durante a turnê, aproveitei para perguntar, durante o almoço da tarde seguinte à nossa chegada:

          - E a garota do bar?

          - Linda. Mas nem me deu bola. E a garota por quem o Georg se encantou tem namorado também. E não é loira e nem tem cabelo castanho. É ruiva.

          - Sério?

Assentiu.

          - E pelo que o dono me falou, a brasileira ainda não tinha começado a trabalhar e precisou ser afastada.

          - O que houve?

          - Parece que está com pneumonia.

          - Está de brincadeira!

Negou com a cabeça.

          - Mas o dono falou como vai fazer?

          - Procurar outra garota. Não estava totalmente satisfeito, mas, já que não tem outro jeito...

          - Tomara que ela melhore.

Concordou.

Naquela noite, me encontrei com a Lydia. Era a garota perfeita. Fisicamente, era tudo aquilo que sonhei. Seus olhos eram azuis, o nariz pequeno e reto e a boca carnuda. O busto e os quadris eram estreitos, mas acabei não ligando muito para isso. Seus movimentos eram delicados e gostava de compará-la à uma bailarina por causa da graciosidade. Sua fala era calma e pausada, só abrindo a boca depois de pensar por um bom tempo. Era discreta e isso se refletia na sua aparência.

O tempo foi passando, consegui marcar vários encontros com ela e, menos de seis meses depois, já estávamos namorando.

Vivia em dieta, apesar de já ser magra, detestava McDonald’s e vivia controlando as calorias que ingeria. E odiava massas. Como alguém em sã consciência pode odiar massas? Outra coisa que não fazia de jeito nenhum era beber. Sempre tomava ou suco ou água sem gás, mesmo quando saíamos e íamos à uma boate. E um dos seus poucos defeitos era que não gostava muito de animais. Além de falar explicitamente que não gostava de gatos, dava para ver que ficava um pouco hesitante quando meus cachorros estavam por perto. Dizia que tinha medo e, sabendo que tinham pessoas com fobia, acabava aceitando quando ela me pedia para prender os cães do lado de fora da casa.

No início, foi tudo muito bem, obrigada. Aos poucos, meus amigos começaram a falar umas coisas sem sentido sobre ela, como por exemplo, que a Lydia não prestava, que estava interessada no meu dinheiro, entre outras coisas descabidas. Não podia negar que via realmente um certo brilho no seu olhar quando dava algum presente, como uma roupa de marca, joia ou até mesmo a levava para jantar em um lugar mais requintado. Não a culpava, porque vida de luxo era boa, querendo ou não... Costumávamos ir aos melhores lugares de Los Angeles, quase sempre indo onde as celebridades estavam. E verdade fosse dita, ela preferia sempre fazer os programas como a balada mais cara da cidade a ir à praia, por exemplo. Essa era outra característica dela que não gostava tanto assim. Depois da primeira tentativa que fizemos em Santa Monica, desisti ao ouvir suas reclamações de tudo, desde o cheiro de maresia até os gritos das pessoas que estavam na montanha-russa do parque que havia no píer.

No entanto, aos poucos foi começando a implicar com a banda e com as fãs. Não era tão tolerante assim com o assédio e histeria das meninas. Na última turnê, havia se encontrado comigo antes do show, no meio do Meet & Greet e percebi que simplesmente fechou a cara para as aliens que queriam tirar foto comigo e com o resto da banda. Sabia que ela tinha ciúmes e havia cansado de dizer que não era para dar tanta importância àquilo, mas quem disse que me ouvia? E quando o assunto eram os paparazzi, torcia o nariz um pouco, mas agia como se eles nem existissem quando estava comigo; Não se intimidava pelas lentes das câmeras e eram nessas horas que parecia mais carinhosa do que era normalmente. Muitas vezes, tentava afastá-la, principalmente para tentar manter nossa privacidade, mas não tinha muito jeito. Por isso, acabei me acostumando quando ela, de repente, roubava um beijo cinematográfico no meio do restaurante, por exemplo.

Além disso, vivia implicando com o Tom e não conquistou nem a simpatia da minha mãe. Aliás... Era ódio mútuo entre as duas.

Depois do primeiro ano de namoro, a Lydia começou a implicar quando eu saía com os meus amigos. Sempre brigava comigo quando eu decidia ir à uma boate com os caras e uma das coisas que mais me irritava nela era o fato que ela podia sair com seu melhor amigo, Jason. Era um daqueles típicos jogadores de futebol americano, loiro e quase da minha altura. Mas em compensação, burro que nem uma porta. A gente costumava falar sobre certas coisas e ele ficava lá, com aquela cara de besta. E nunca fui com a cara dele, antes que me pergunte. O que podia fazer, para o bem do meu namoro, era engolir o orgulho e aceitar a presença dele na maioria das vezes em que saíamos em grupo. Por isso, vez ou outra, acabava brigando com a Lydia por ciúmes, principalmente desse idiota.

Apesar de tudo, tínhamos muitos interesses em comum e o principal era a moda. Estava começando a carreira de estilista e, portanto, vivia sempre em lojas de marcas como Chanel e Dior. E como eu também gostava... A única em que não ia comigo era a da Alexander McQueen, já que, segundo havia me dito uma vez, era mórbido e excêntrico demais.

Gostava de roupas mais clássicas e em tons claros. Sempre que via algo chamativo, franzia o nariz e dizia que nunca seria capaz de usar aquela camiseta ou até mesmo sapato. Nem o coitado do Christian Louboutin escapava da sua ira. Se via um sapato daqueles modelos clássicos, mas com salto altíssimo, logo começava a criticar o modelo. E sim. Odiava o meu estilo, apesar de não dizer nada. Por ela, tinha certeza que me vestiria como um daqueles riquinhos metidos à besta.

E na contramão, o que mais discordávamos era música. A Lydia ouvia músicas tipo as da Lana Del Rey e a única banda de rock que sabia que ela gostava eram os Beatles. De resto, odiava Aerosmith (Dizia que o Steven parecia uma velha), criticava o Bowie e quase sempre isso era motivo de discussão.

De resto... Havia só uma única coisa que entendia até certo ponto, apesar de sentir que não era recíproco: Muitas vezes, ela me provocava até eu quase não aguentar e, quando atingia meu limite e estava prestes a agarrá-la, ela dava as mesmas desculpas: Além de vez ou outra dizer que estava menstruada, ainda dizia que não estava pronta e queria esperar um pouco. Até tentava ir mais além com ela, mas não dava muito certo. O jeito, então, era esperar e, infelizmente, ficar só na vontade.

Então, numa manhã em que ela havia dormido na minha casa, acordei e estava abraçado à Lydia. De repente, começou a se mexer e, assim que se virou de frente para mim, murmurou um “bom dia” e tentei me aproximar dela. Entendendo quais eram as minhas intenções, deu um jeito de me afastar e falou:

          - Pelo amor de Deus, Bill! Acabei de acordar!

Suspirei e se levantou, indo até o banheiro. Depois de alguns minutos, saiu e falei:

          - Não está dando mais para aguentar ficar nessa abstinência.

          - Ah, mas você vai ter de aguentar. Imagina se meus pais descobrem que dormi com você antes do casamento?

          - Mas você não é mais virgem!

          - Mais um motivo para que não avancemos o sinal. Meu pai não sabe e imagina se ele descobre a verdade?

          - Lydia... - Falei, exasperado. - Seu pai não está aqui. Ele não vai saber de nada, ainda mais se depender de mim.

Suspirou e veio andando até a cama e, ao subir no colchão, veio engatinhando até onde eu estava, deixando seu rosto muito perto do meu e disse, fazendo um biquinho:

          - Ô meu amor, não fica bravo, vai... Te prometo que você não vai se arrepender de ter esperado pela noite de núpcias.

Era o jeito...

Uns dias depois, ela começou a fazer coisas inéditas, como se oferecer para fazer o café e até mesmo ir dar uma volta com os cachorros comigo. Não nego que era estranho. Mas mesmo assim...

Passadas algumas semanas, estava no meu quarto, me preparando para ir jantar fora com ela e comemorar o aniversário de namoro. Seríamos só nós dois e estava planejando aquilo havia algum tempo. Decidi não contar para ninguém justamente para não ter as críticas costumeiras. Dei uma última olhada no espelho antes de sair de casa e, estava quase chegando à garagem quando percebi que alguém estava ligando para o meu celular. Peguei o aparelho do bolso da calça e vi que era o Tom. Apertei o botão para atender enquanto destrancava a porta do carro. Falei:

          - Estou quase saindo, Tom.

          - E vai aonde?

          - Jantar com a Lydia. Hoje é o nosso aniversário de namoro.

          - Ah... - Disse, decepcionado.

          - O que houve?

          - Nada. Estava pensando em te chamar para a gente sair, já que o Georg e Gustav estão aqui, mas já que você está com outros planos, deixa para lá.

          - Nada impede de a gente sair amanhã, não é?

Hesitou e não precisou dizer mais nada para que eu soubesse o que estava pensando.

          - Na boa, acho que já está mais que na hora de você aceitar que estou namorando a Lydia e não vou terminar com ela tão cedo...

Suspirou e disse:

          - Eu não vou falar mais nada.

          - Não é nem falar, mas respeitar a minha escolha.

          - Desculpa, mas não consigo respeitar a escolha de namorar uma garota como ela, que tem ciúmes das fãs e nem te deixa sair com a gente. Agora ela pode sair quando quiser com aquele idiota e você tem que ficar quieto.

Foi a minha vez de suspirar. Sabia que ele estava certo e quase imediatamente, se despediu de mim e tive que desligar. Desde que começara a namorar a Lydia, as brigas com o Tom eram bastante frequentes e até mesmo passávamos um bom tempo sem nos falar. Nunca tinha acontecido isso com a gente e sentia que estávamos nos distanciando cada vez mais.

Algum tempo depois, quando entramos no restaurante, pedi ao maître para nos levar à mesa que havia reservado. Quase imediatamente, fizemos os pedidos e, quando ele se afastou, a Lydia quis saber:

          - O que houve?

          - Nada. - Respondi, sorrindo sem mostrar os dentes. - Estou bem.

Deu de ombros e ficou observando o lugar.

          - Adorei esse restaurante!

          - Ouvi dizer que era bom... Decidi te trazer aqui para experimentarmos.

Sorriu largamente. Estiquei minha mão sobre a mesa e ela disse:

          - Eu acho que vou ao toalete, já venho.

Em seguida, se levantou. Depois de um tempinho, voltou e o garçom já trazia os pedidos. A Lydia se sentou de frente para mim e começamos a comer. E como sempre, começou seu monólogo sobre a semana de moda de Paris e que queria ir para lá. Acabei entrando no piloto automático sem perceber. Quando o garçom trouxe as sobremesas, voltei à realidade e avisei:

          - Lydia... Eu estava pensando em uma coisa.

          - Em ir comigo para Paris? Não desta vez. Quero ir sozinha.

          - Não. Na realidade... Estava querendo te perguntar algo.

          - O que?

Sabia que atrairia atenção, mas não liguei. Levantei da mesa e andei até parar do seu lado. Me olhava com censura e me ajoelhei na sua frente. Peguei a caixa de veludo preto do bolso e a abri, enquanto dizia:

          - Você sabe o quanto eu te amo, não é?

          - O que você está fazendo, Bill? Levanta daí que está todo mundo olhando!

          - Só... Me deixa terminar, sim? Então. Já faz algum tempo  que estava querendo te perguntar isso e acho que hoje é um bom dia. Lydia, você quer se casar comigo?

Ela literalmente ficou sem saber o que dizer. Piscou várias vezes antes de sorrir e aceitar.

Poucos dias depois, a notícia do meu casamento veio à público e tive a sensação que o mundo estava se virando contra essa minha decisão. A minha mãe e o Tom, claro, foram os primeiros a desaprovarem. Seguidos do Georg, Gustav e Andreas. As aliens chegaram até mesmo a ameaçar a Lydia e ela não parecia dar muita importância.

O casamento foi marcado para dali a uns dois meses, para dar tempo de organizar tudo. Conforme havia dito, ela foi até Paris e disse que aproveitaria e compraria o vestido lá. E eu? Pedi para minha mãe me ajudar a escolher o terno.

Estávamos em uma loja no centro de Los Angeles e, o tempo inteiro, ela ficou de cara amarrada. Perguntei, quando entrou na cabine, depois que pedi sua opinião:

          - Você sabe que não vai conseguir me dissuadir, não é?

          - Sei. E nem vou tentar. Mas que fique claro que nunca gostei e acho que dificilmente vou mudar de opinião sobre a Lydia. Onde já se viu agir do jeito que age com você, te proibindo de sair com seus amigos, fazendo com que você brigue direto com o Tom? Não gosto dessa menina, Bill. Acho que você merecia coisa muito melhor.

          - Entende uma coisa, mãe. Eu amo a Lydia. Ela é a mulher da minha vida, me faz feliz e é com ela que eu quero ficar.

Torceu a boca e disse:

          - Você é quem sabe.

Depois que encomendei o terno, a levei de volta para a casa do meu irmão e fui para a minha própria. Chegando lá, encontrei a Rosa, a moça que costumava fazer a faxina, conversando com a minha vizinha, Danielle. Era uma menina de sete anos que me fazia lembrar a Lisa Simpson, principalmente por ser CDF e engajada em certas coisas que a personagem do desenho era. A Dani era uma menina tímida, quieta e que vivia enfiada na biblioteca. Gostava muito dela, era recíproco, assim como a antipatia que sentia pela Lydia.

          - Já estou sabendo do que você fez. - Disse, em tom magoado. - Bill, não casa com ela.

          - Me dá um bom motivo. - Falei, brincando.

          - Ela é nojenta. - Respondeu, franzindo o nariz e ri. Me fazia lembrar daquela menininha do filme da “Pequena miss Sunshine”, com seus cabelos dourados, olhos grandes e azuis, escondidos por trás de um par de óculos enormes e redondos, e postura desajeitada. E, ao contrário da menininha do filme, era magricela.

          - Você sabe que, se eu pudesse, me casaria com você. Mas o problema é que tenho idade para ser seu pai. E não acho que sua mãe concordaria com isso.

De repente, meu celular começou a tocar e, pegando o aparelho do bolso da minha jaqueta, apertei o botão para atender e ouvi a voz do meu irmão do outro lado da linha:

          - A Lydia te disse que queria ir para Paris sozinha, não é?

          - É. Por quê?

          - Fui entrar no meu e-mail e adivinha quem está na página principal? E adivinha com quem ela está?

          - Tom, não vai funcionar.

          - Vai olhar então.

Perdi a paciência e acabei desligando sem me despedir.

          - O que foi? - A Rosa perguntou e a Dani exclamou, enquanto mexia no celular:

          - Não acredito!

Me estendeu o aparelho e vi uma foto da Lydia andando de braços dados com o Jason.

          - Não quer dizer nada. - Tentei me defender e tive que aguentar o olhar fixo de censura da minha vizinha. Suspirei.

Depois que a Rosa foi embora, aproveitando para acompanhar a Dani até em casa, fui até o estúdio que tinha em casa e acessei o tal site que a minha vizinha me mostrou. Realmente, tinham várias fotos da Lydia e o brutamontes, mas nenhuma tão comprometedora. Na matéria, falavam um monte de baboseiras, que ela estava em Paris e com ele e até falavam que podia estar me traindo. Quer dizer, por mais que eu tivesse ciúmes, sabia muito bem que a Lydia jamais seria capaz daquilo.

E assim, o resto daquela semana passou em um piscar de olhos. Quando vi, ela já estava de volta e, numa noite de sábado, durante um filme, disse:

          - Estava pensando em uma coisa. Como essa casa vai ser minha também, acho que vou mudar algumas coisas.

          - Tipo o quê?

          - A decoração mesmo, para uma coisa mais sóbria e chique.

Não me opus, simplesmente para não arrumar uma discussão.

          - Eu estava pensando em, também, acabar com aquela adega e construir um estúdio para mim no lugar. Fazer algumas mudanças.

          - Lydia, já te falei que não me importo que faça mudanças aqui em casa. Mas a adega e o estúdio são os dois cômodos que não quero que você mude.

          - E onde eu vou montar meu estúdio, Bill? Preciso de um lugar para trabalhar quando não estiver no ateliê!

          - A gente pode transformar um dos quartos de hóspede. É até melhor por ser mais iluminado!

          - Não, isso está fora de cogitação. Você sabe que faço questão de hospedar, tanto minha família quanto a sua quando vierem nos visitar.

Suspirei e a discussão se estendeu por mais um tempo, sendo que ela ainda defendia sua ideia de reformarmos meu estúdio para transformar em um ateliê e eu era totalmente contra. Como éramos dois teimosos, então já deve ter dado para imaginar o que aconteceu.

Na manhã seguinte, a discussão continuou, mas por outro motivo: Os convidados do casamento. E a festa. E o bufê.

          - De jeito nenhum! - Protestei quando me disse que eu não poderia convidar o Georg, o Gustav e o Andreas. - Eles são meus amigos e faço questão que eles estejam na festa.

          - Eles me odeiam. Assim como todo mundo ao seu redor. Para quê vou convidá-los se não gostam de mim e são contra o casamento?

          - Lydia, querendo ou não, eles são meus amigos! O Georg e o Gustav são meus companheiros de banda e praticamente meus irmãos. Não tem como simplesmente deixa-los de fora!

          - Você que se vire. Já mandei trocarem os nomes deles pelo de três primas minhas e...

          - Como você faz uma coisa dessas sem me consultar?

          - Ah Bill, pelo amor de Deus! Fazendo drama por nada?

          - Não é drama por nada! São os meus amigos e faço questão que eles vão ao casamento!

          - Acho ótimo que só a sua vontade conta sempre!

          - Não. Na realidade, é só você que importa! Só você pode sair com aquele idiota, não posso nem tirar foto com as fãs porque implica com elas! Quando aceitou namorar comigo, sabia que sou uma pessoa pública e que teria esse assédio todo em cima de mim. Inclusive o da imprensa!

          - Justamente! Quantas coisas tive que abrir mão por sua causa? Da minha própria privacidade, de ter você só para mim!

Suspirei e ela se levantou da mesa.

          - Quer saber? Você está de cabeça quente. Eu vou trabalhar e mais tarde a gente se fala. - Disse, se levantando e saindo de casa.

O tempo passou e, quando vi, estávamos mais perto do dia do casamento. Descobri que a Lydia aprontou mais coisas e por muito pouco mesmo, não cancelei, de tanta raiva que sentia dela.

Poucos dias depois, estava no meio da minha despedida de solteiro. Todos meus amigos estavam lá e realmente estava bom. Entretanto, sempre que olhava para o Georg, o Gustav e o Andreas sentia um pouco de remorso, já que eu não havia conseguido os convites para eles.

Me levaram para um clube de strip e foi realmente divertido... Até a hora em que a Lydia apareceu ali. Fez o maior escândalo e conseguiu acabar com a alegria de todo mundo. Não bastasse isso, ela ainda começou a discutir com o Tom e os outros e, justo quando consegui tirá-la da boate, falou:

          - Ainda bem que amanhã não vou ter de encontrar vocês no meu casamento!

          - Espera aí. Que história é essa? - Meu irmão quis saber.

          - Sério que você não contou para eles, amor? - A Lydia perguntou, fingindo surpresa.
        
          - Contou o quê? - O Georg perguntou.

          - Amor, eu vou buscar o carro, ok?

Assim que ela se afastou, tive que contar. E a reação deles foi a pior possível:

          - Quer saber? - O Andreas disse. - Todo mundo já estava percebendo que você estava vivendo em função da Lydia. E essa história de não convidar a gente deu a certeza que não é mais o mesmo.

          - E acham mesmo que eu concordei com tudo isso?  Claro que não! Descobri depois que essa troca foi feita! Nunca deixaria ela fazer algo assim!

          - Bill, acho melhor a gente parar por aqui. - O Georg falou. - E não estou falando só da banda, porque do jeito que está não vai dar para continuar.

Hesitei e, justo naquela hora, a Lydia chegou.

          - Vai lá. - O Gustav disse, claramente chateado, como os outros. E com razão. - Boa sorte para você.

De repente, ela começou a buzinar e tive que ir, me arrependendo mortalmente.

Na manhã seguinte, meu irmão só apareceu porque ele era o padrinho. Senão, duvido que tivesse vindo, mesmo que a Lydia tivesse o convidado de livre e espontânea vontade. Não vi o Tom o dia inteiro e minha mãe, que já sabia de tudo, estava reprovando meu comportamento.

          - Se eu fosse você, não continuaria com todo esse circo. Ainda mais depois do que ela aprontou com os seus amigos.

          - Eu não gostei nada disso, mas já não tem mais jeito.

Negou com a cabeça e ouvimos uma batida na porta. Era o organizador do casamento e avisou:

          - Bill... Já está na hora. Vamos?

          - Sim. Vou só... Pegar meu celular.

Me virei para a mesinha onde havia deixado o aparelho e vi que não estava mais ali.

          - O que foi? - Minha mãe perguntou, notando meu estranhamento.

          - Não estou achando meu celular. Vão indo que já encontro com vocês.

          - Não demora, hein? - O organizador disse. Assim que saíram, olhei em praticamente todos os quartos do andar que havíamos reservado no hotel, justamente para as famílias ficarem e, quando entrei no da Lydia, vi que a porta que dividia a antessala e o quarto estava entreaberta. Encontrei o meu celular sobre a mesinha de centro e, quando me abaixei para pegá-lo, ouvi um barulho seguido de uma risadinha. Me levantei e, não conseguindo resistir à tentação, fui espiar. E como me arrependi de tê-lo feito. A Lydia simplesmente estava ali, sem roupa nenhuma e com a cabeça tombada para trás enquanto aquele filho da puta do Jason estava beijando seu pescoço, também sem roupa e se movendo lentamente enquanto transava com ela. Vadia.

Peguei o celular e, depois de fazer um pequeno filme dos dois, saí dali, fazendo questão de ser silencioso e fingi que não tinha acontecido absolutamente nada demais. Assim que cheguei ao salão de festa onde seria realizado o casamento, continuei agindo normalmente. Fiz o que tinha que fazer e tudo corria como o planejado. Depois de cerca de meia hora, ela chegou e ouvi a música que havia escolhido para a entrada das daminhas. Me virei de frente para a porta da igreja e quase imediatamente a vi, de braços dados com o pai. Estava usando um vestido branco tipo o da mulher do príncipe William e os cabelos estavam presos em uma trança lateral. Exibia um sorriso largo e me esforcei para imitá-la. Assim que chegaram ao altar, seu pai me a entregou e, depois que se sentou em um dos bancos na frente, tirei o véu do rosto da Lydia e beijei sua testa, reprimindo uma careta de nojo, já que era o que sentia naquele instante.

          - Irmãos... Estamos aqui reunidos hoje para celebrar a união deste jovem casal... - O padre começou a dizer. Fez o sermão e a famosa pergunta se havia alguém que sabia de algo que podia impedir o casamento. Houve aquele silêncio, quebrado apenas pela tosse de uma das convidadas e, vendo que não teria qualquer manifestação, o padre prosseguiu:

          - Lydia Barrow... Aceita este homem como seu legítimo esposo, prometendo amá-lo e respeitá-lo, sendo-lhe fiel até o último de seus dias?

          - Sim. - Ela respondeu, se virando para me olhar e sorrindo. Retribuí.

          - Bill Kaulitz... Aceita essa mulher como sua legítima esposa, prometendo amá-la e respeitá-la, sendo-lhe fiel até o último de seus dias?

Passei a mão pelo cabelo e, de repente, o vídeo começou a ser executado, sendo exibido em um telão atrás do padre. Todo mundo ali encarava as cenas da Lydia e do Jason em estado de choque.

          - Mas o quê...? - A minha noiva observava tudo embasbacada.

Todo o lugar se encheu de vozes, todas surpresas com o que estavam vendo. Assim que o vídeo terminou, falei:

          - Acho que a minha resposta está óbvia, não é?

O padre, ainda de queixo caído, engoliu em seco e concordou com a cabeça.

          - Como você pôde fazer uma coisa desse tipo? - A Lydia perguntou, irada.

          - Eu é que te pergunto como você teve coragem de me trair sabe-se lá por quanto tempo! Durante esses três anos, aguentei muita coisa por você, desde querer mandar em mim até mesmo acabar com a amizade de três pessoas que eram como se fossem parte da minha família! Você é uma vadia, isso sim! E sou um idiota por acreditar naquela sua história da carochinha que queria se guardar para o casamento!

Ela olhava para todo mundo, em pânico e disse:

          - Quer mesmo saber por que mantive esse caso com o Jason por tanto tempo? Porque eu já estava de saco cheio de você. Nunca te suportei, odeio sua bandinha medíocre e todas aquelas cretinas das suas fãs. Sem falar nessas roupas medonhas que você usa!

Claro que tentaram nos tirar dali, assim como tiveram várias pessoas que filmavam tudo. Que publicassem na internet. Podia ficar com fama de corno, mas para ela seria muito pior. Por fim, conseguiu recuperar a pose e me humilhou na frente de todo mundo. Depois que todo aquele circo acabou e fiquei sozinho em um canto, senti que alguém se sentou do meu lado e, percebendo quem era, falei:

          - Estou me odiando por ter sido tão frouxo e afastado até você.

          - Não foi por falta de aviso. Parecia que todo mundo estava sentindo que ela não prestava. - Disse. Suspirei e perguntei:

          - Acha que tem volta a amizade com os caras?

          - O primeiro passo, que é reconhecer a merda que você ia fazer, já foi dado. Acho melhor esperar a poeira baixar um pouco para ver no que dá.

Concordei com o meu irmão.

O pior, dali para frente, seria lidar com todas as consequências daquilo, começando pela mais leve, que seria o assédio da imprensa até a reação das fãs. A única coisa que eu esperava era que aquela dor, não só por ter descoberto toda a verdade sobre a Lydia, mas de ter sido humilhado por ela, passasse mais cedo ou mais tarde...


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