quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 39º capítulo


We knew this day would come, we knew it all along

E quando a luz do dia chegar, eu vou ter que ir
Mas esta noite vou lhe abraçar forte
Porque no amanhecer estaremos por conta própria
Mas esta noite preciso lhe abraçar bem forte

(Maroon 5 - Daylight)

Luiza

- Guardei porque é sempre bom ter o telefone de um advogado. Ou não? - Respondi.

- Mas por que um advogado em Roma sendo que você mora aqui em Londres?

- Porque quando eu cheguei à Europa, não vim diretamente para Londres. Fui em Roma antes, principalmente porque tenho família lá. E você realmente vai ficar me atormentando por causa de um advogado? - Perguntei e ele finalmente sossegou.

Na sexta-feira à noite, fizemos a despedida de solteira da Lola lá no apartamento mesmo. Estava indo tudo muito bem, obrigada, quando ouvimos a campainha. De início, não consegui entender o motivo de terem me mandado atender. Até que eu vi dois policiais parados do lado de fora.

- Com licença, mas... Recebemos uma queixa por causa do barulho...

- Ah... Desculpem. É que hoje é a despedida de solteira de uma amiga minha e...

- Sei. - O policial falou, meio desconfiado. - Será que a gente pode entrar para fazer uma averiguação?

Me afastei, deixando os dois entrarem e, depois que tranquei a porta, corri para alcança-los. Chegando na sala em que todo mundo estava, um deles perguntou:

- Quem é a noiva?

A Lola ergueu a mão e o policial pediu que ela viesse até ele. O outro pediu que eu fizesse o mesmo e, dando aquele riso nervoso, obedeci.

- Vira para a parede. - Ele pediu e, de novo, fiz o que pediu. A Lola ficou ao meu lado e, só quando olhei para a Nadine e ela piscou para mim é que entendi o que significava tudo aquilo. O cara começou a me revistar e, de repente, me deu um tapa na bunda.

- Ai meu Deus! - Falei, no susto.

- Tudo certo com essa aqui, Mike. - O guarda que tinha me revistado falou. O outro, que tinha feito a mesma coisa com a Lola falou que estava tudo certo também e finalmente pudemos nos sentar. Fui para perto da Nadine e avisei:

- O Tom vai saber qual é a sua fantasia, ok?

Arregalou os olhos e o tal de Paul falou:

- Eu acho que isso aqui tá mais para velório que despedida de solteira...

O outro concordou e, do nada, começou uma música animada e, quando vi, os dois já estavam arrancando a roupa. No final, apesar de tudo, foi até bem... Divertido. Quer dizer... Até a hora que eles tiraram as calças e vi aquilo... Que nem podia ser chamado de cueca.

Depois que eles foram embora, quase uma hora e meia depois, a Lola começou a abrir os presentes que tinha ganhado e acho que eu era a mais envergonhada dali. Ganhou tudo quanto era coisa para usar sozinha, com e no Charlie... Fato é que eu acho que, depois daquela noite, se ela quisesse, podia muito bem abrir uma loja de lingerie, porque olha...

Mas, tirando a vergonha, foi divertido e fiquei feliz de ver a Lola tão alegre. Era bom, só para variar um pouco...

Dois dias depois, fomos até a tal propriedade que o Alex tinha encontrado. Justamente por causa da viagem que as despedidas de solteiros dos noivos tinha sido adiantada. Nem queria imaginar o que aprontaram para o Charlie. E, pelo que conhecia da Lola... Ela também não.

Logo que saímos do carro, o Bill e eu vimos o Alex e sibilei para o meu marido (Ok. Tinha que admitir que era muito estranho usar esse tratamento):

- Vocês dois que não se comportem para ver se não vão parar no fundo daquele lago da entrada!

Travou o maxilar e o Alex, decidido a realmente brincar com o fogo, veio andando até nós e cumprimentou o Bill civilizadamente. E fez questão de me dar um abraço e um beijo no rosto. Falei, aproveitando que ele ainda não tinha me soltado:

- Se você ou o Bill aprontarem... Juro que vão se arrepender amargamente. Comportem-se, principalmente porque é o casamento da Nicola. Entendeu?

Finalmente me soltou e tinha um sorriso maldoso.

- Ireland! - O chamei enquanto andava de volta até o carro. - Estou te avisando!

- Avisando do quê? - O Bill perguntou.

- Que é bom você e ele não ferrarem o casamento da Nicola. - Respondi, pegando a minha mala.

Depois que nos instalamos num dos quartos, a Di apareceu e pediu para que o Bill fosse com ela. Nem cinco minutos depois, bateram na porta de novo e falei para entrarem. Qual não foi a minha surpresa ao ver o Alex ali?

- Se você veio aqui para...

- Vim para te garantir que, no que depender de mim, o casamento da Nicola vai ser o mais perfeito imaginável. Não se preocupe.

Olhei séria para ele. Se sentou ao meu lado na cama e perguntei:

- Não era para você ter uma certa pessoa como acompanhante?

- Era. Mas não deu certo. Já sabia que era interesseira e a gota d’água foi quando começou a querer aparecer demais.

- Nunca se sabe o que pode encontrar aqui hoje... - Falei e ele sorriu timidamente. Me olhou e quis saber:

- Realmente não tem chance de você ficar com ele?

- Não. Acho que não vou conseguir me acostumar com a vida de mulher de um roqueiro, com milhões de fãs adolescentes com os hormônios em ebulição.

Sorriu e disse:

- Sabe que pode contar comigo, não é? Sempre que precisar.

Assenti e o abracei.

- Não pensa que vai se ver livre de mim tão facilmente, Ireland.

- E quem disse que eu quero?

Quase imediatamente seu celular começou a tocar no seu bolso e foi atender, precisando de sair do quarto.

Assim, por dois dias, não houve nenhuma confusão. Quer dizer... Justamente faltando quase uma hora para o casamento, eis que a Nicola simplesmente deu um ataque.

Estava justamente falando com a minha mãe via Skype quando a Di entrou no quarto, avisando:

- Nicola falou que não vai mais ter casamento.

- Como é que é?

- Tá no quarto, chorando e se achando uma capivara.

Rolei os olhos e me despedi da minha mãe, mantendo a promessa de que mandaria as fotos via e-mail. Em seguida, fui ajudar com a Nicola. Chegando ao quarto, ela ainda estava de roupão e rolos nos cabelos. Pedi para que todo mundo ali (Exceto, claro, a Di, a Frankie e a mãe da Lola) nos desse um minuto e falei:

- Escuta bem uma coisa, Nicola Maria Roberts. Você fez esse bando de gente sair de casa, gastar uma fortuna no salão e com as roupas, sem falar no bufê, que, além do prejuízo financeiro, ainda vai estragar toda aquela comida. E olha só que pecado. Ainda mais você que tá alimentando essa bebê e a solitária que moram aí dentro. - Apontei para sua barriga e ela parou de chorar. - Portanto, se tu não casa por bem, depois desse raio dessa trabalheira toda... Tu casa por mal. Eu mesma te levo ao altar pelos cabelos. E não vou ter dó desta vez, entendeu?

Assentiu e, quando ela pediu para ficar sozinha comigo, disse, assim que foi atendida:

- Eu estou me achando feia...

- Lógico! Tá de roupão e bobs no cabelo... Aí fica realmente difícil de ficar bonita. Nem as angels da Victoria’s secret!

Riu fraco e falei:

- Agora é sério. Se tiver alguém que falar um A por causa da barriga... Deixa que eu dou um jeito. E outra coisa: Ia te dar razão se você não estivesse mais vendo os pés. E que cor que estão as suas unhas?

Respirou fundo e, olhando para cima, falou:

- Rosa.

- Viu? Vai por mim, Lolita. Você vai ser uma das noivas mais lindas que já existiram desde o Big Bang.

Riu e ela finalmente começou a se arrumar. Logo, fui tratar de fazer a mesma coisa. Pior foi quando vi o Bill quase pronto... Uma perdição! Ele realmente não era o tipo de pessoa que podia usar um terno sem causar um estrago daqueles na mulherada. Principalmente em mim. E só de saber que ele era só meu... Inflou meu ego um pouco.

- Me ajuda? - Pediu, estendendo a gravata. Era em horas como essa que eu tinha certeza absoluta que ele queria ver até onde eu ia aguentar. A passei em torno do seu pescoço e comecei a dar o nó. Quando terminei, não teve como não ficar babando...

Um tempo depois, estávamos todos alinhados, padrinhos e damas de honra e acabou que a novela dos vestidos das damas foi resumida à um vestido, mas com o padrão de cores que a Lola escolheu, entre roxo, fúcsia e magenta. Di e eu, claro, escolhemos o magenta cada uma. Seu vestido tinha decote tomara-que-caia enquanto o meu era de um ombro só. Logo, começamos a ouvir a música e, lentamente, cada casal ia avançando na direção do altar. O Charlie estava atrás do Bill e de mim, que éramos os últimos e já imaginava a reação dele ao ver a Lola...

Quando cada um assumiu seu posto e o Charlie finalmente entrou, começou a tocar Clair de Lune, do Debussy e, depois de pouquíssimos instantes, a Lola apareceu. Estava sorridente e ainda mais linda que nunca. Quando olhei o Charlie, sorria largamente e, por um instante, eu pude jurar que uma lágrima escorreu pela sua bochecha. Depois que o Paul entregou a Lola ao Charlie, o padre começou com a cerimônia. Nem bem cinco minutos depois, o inacreditável aconteceu: Comecei a chorar. Justo eu, que mal chorava em filme, quiçá em casamentos, já estava lá, me segurando para não fazer barulho. Não chorava porque estava tudo lindo e aquela emoção típica de casamentos, mas porque eu sabia que a Lola estava feliz e, por consequência, eu também estava. Então, por isso que eu não liguei muito de parecer um panda.

Fui pega no pulo justamente quando um se virou para o outro e a Lola me viu. Sorriu, fazendo cara de quem estava com dó e o estrago foi feito. Logo, sentia todo mundo me olhando e a Di perguntou, baixo:

- Que milagre é esse?

Dei um estalo com a língua e ela riu um pouco. A Lola e o Charlie trocaram as alianças e o negócio ficou mais feio ainda para o meu lado. O Bill, que tinha me visto desde o início, pegou na minha mão e ficou acariciando com o polegar.

- E agora eu os declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva. - O padre falou e, por causa do alvoroço quando teve o beijo, solucei. Justamente naquela hora, começou a garoar e, logo que o padre dispensou todo mundo, além da chuva com água, teve a com arroz.

Quando o tempo começou a apertar, todo mundo foi para o salão e, logo, fui caçar o nosso lugar. Na mesma mesa em que estávamos, além da Di e do Tom, tinham um casal de amigos e o irmão do Charlie. E, claro, o cerimonialista logo veio buscar a gente para poder tirar as fotos.

Tudo estava indo muito bem, obrigada, até que começou o bolão dos discursos. Funcionava mais ou menos assim: Cada mesa fazia uma aposta sobre quanto tempo cada discurso ia durar.

- Quem é o padrinho? - A Di perguntou. Olhei ao redor e vi que era um amigo do Charlie. Indiquei para a Nadine, que olhou para ele. Fez cara de pensativa e respondeu: - Vinte.

- Ele tem cara de quem fala muito. Meia hora. - Respondi.

Logo, chamaram a atenção de todo mundo e o primeiro a fazer o discurso foi o pai da Lola. Foi até razoavelmente rápido, assim como o do Charlie. Quando chegou a vez do padrinho... Sério, se eu já achava tenso os comentários que os meninos faziam, nem de longe, imaginava o tipo de coisa que o amigo do Charlie falaria. O pior foi quando ele deu uma escova elétrica e fez um comentário nada educado.

- Acho ótimo que até hoje você não se acostuma! - A Nadine sibilou e falei:

- Um dia a gente ainda vai num casamento brasileiro e você vai entender.

Acabou que outra mesa acertou o tempo do discurso, que foi de quarenta e cinco minutos.

De resto, a festa durou quase o dia inteiro. Uma das partes mais divertidas, verdade fosse dita, foi quando fizemos a surpresa para a Lola. Frankie, Di, eu e mais algumas amigas tínhamos decidido fazer, de palhaçada, uma espécie de filme, contando um pouco da história dela. Os amigos e irmãos do Charlie (Com a participação dos, agora, cunhados) fizeram o mesmo. Claro que o casal escolhido para representar os dois não podia ter sido outro: Fiona e Shrek. Quer dizer, não que os dois fossem um par de ogros, mas foi exclusivamente porque Fiona era ruiva como a Lola (E tinham o temperamento parecido - Tirando a mudança do quarto filme) e o Charlie era todo grandão como o ogro. Tínhamos feito todo um discurso, como se estivéssemos contando a história mesmo e tal. E ao fundo, rolavam várias cenas dos filmes. Inclusive, fizemos uma brincadeira com a cena em que a Fiona conta para o Shrek que vão ter um bebê. E fui eu mesma quem contou:

- Então, numa noite... Apesar de no filme estar de dia... - Algumas pessoas riram. - Nossa linda princesinha tinha uma notícia para dar ao noivo...

E rolou a cena.

- É. Apesar de o Charlie não estar exatamente indo em busca de um príncipe. - A Di falou e os amigos do Charlie começaram com a zuação.

No final, todo mundo que fez essa apresentação fez um breve discurso, desejando as melhores coisas para a Lola e o Charlie.

Isso sem falar que, graças à Nicola, eu e a Di tivemos de cantar. Para o azar da noiva, que nos deu total liberdade, escolhemos “Like a virgin” e a ruiva só ria, principalmente porque estávamos fazendo tudo de brincadeira, com gestos exagerados, caras e bocas.

Quando a Di e eu voltamos para a mesa, o Tom logo foi tirando a minha amiga para dançar e olhei para o Bill, tombando a cabeça um pouco para o lado. Suspirou e, logo, se levantou para ir dançar comigo também. Quase imediatamente, começou a tocar uma música mais lenta e, apesar de tudo, tive uma sensação de desconforto. Não por estar dançando com ele. Mas por não estarmos sozinhos.

- É impressão minha ou você queria estar em outro lugar? - Ele perguntou, se inclinando na minha direção e aproximando a boca da minha orelha. Tentei disfarçar a estremecida que me deu.

- Não. Mas queria que você estivesse comigo. - Respondi, dando um meio sorriso.

- Você sabe que a gente sempre pode usar uma desculpa...

Ri fraco e falei:

- Acho que uma volta, pelo menos, a gente pode dar. Ainda mais que parou de chover...

Sorriu cúmplice e, logo, estávamos indo para o lado de fora do salão. Andamos um pouco por ali e, quando estávamos perto de um chafariz, ele perguntou:

- Você realmente não vai me falar o que vai fazer em Roma, não é?

Olhei para ele e suspirei, impaciente.

- Sabe que, se você contasse, ia ser mais fácil de te ajudar, não é? - Disse e assenti.

- Vou te dar uma pista. Senão você não sossega. - Sorriu. - É... Uma coisa com valor pessoal.

Franziu as sobrancelhas e perguntou:

- Não tenho um adversário italiano, tenho? Já me basta um inglês que me dá um trabalho do cão e...

Ri fraco e falei:

- Não tem adversário italiano nenhum. E não é nada do que você está pensando. Contente-se com isso.

E recomecei a andar. Uma das coisas que eu reparei logo que chegamos foi que na propriedade tinha uma espécie de bosque. Tentamos não nos afastar muito, principalmente porque já estava escuro e, quando menos esperei, ele me pôs contra o tronco de uma árvore e me beijou. Por causa da raiz em que eu estava pisando, ele não teve que se inclinar tanto quanto de costume. O beijo começou calmo e sem pressa. Mas tão intenso quanto quando ele estava com as piores intenções. Como sempre, baguncei seu cabelo ao mesmo tempo em que apertava a minha cintura e puxava meu quadril na direção do seu. De repente, ouvimos um barulho de estalo e, olhamos para ver o que era.

- Acho que esse era o sinal para a gente voltar. - Falei com ele, que hesitou um pouco, apesar de tudo.

Claro que naquela noite, continuamos de onde havíamos parado.

Na manhã seguinte, aproveitando que a Lola e o Charlie tinham ido para a lua-de-mel e íamos nos encontrar com ela em Los Angeles, decidimos ir para lá também.

Na consulta com o terapeuta, na segunda-feira de manhã, ele pediu para falar comigo sozinha por um instante. Comentou:

- Percebi que você está um pouco melancólica.

- Acho que é porque a ficha está começando a cair e que a audiência vai ser daqui a menos de um mês.

- Você sabe que não precisa se separar do Bill se não quiser.

- Eu preciso. Não sei se vou dar conta de lidar com... A vida dele. E principalmente com a falta que eu sei que ele vai me fazer quando sair em turnê.

- Mas não é pior se você voltar para a Inglaterra sabendo que ele não vai voltar?

- Pode até ser. Mas pelo menos vou estar de volta à realidade. - Respondi.

Depois que saí do consultório, o Bill estava me esperando, encostado no batente. Passei por ele e fui andando na direção do estacionamento, enquanto colocava os óculos de sol.

- O que foi? O que ele te falou?

- Nada. E não insiste. Estou com uma enxaqueca daquelas e a última coisa de que preciso é de aborrecimento.

Suspirou, resignado, e destravou o alarme.

No meio do caminho para a casa, pedi:

- Me leva para Santa Monica?

Mesmo estranhando, atendeu o pedido.

Assim que chegamos, tirei os sapatos e pisei na areia. O Bill ficou encostado no carro, só me observando. Fui andando na direção da água e, quando a onda quebrou aos meus pés, respirei fundo, fechando os olhos. Pensei em por que não podia ser como a Nadine, que, obviamente, ia largar tudo por causa do Tom. Por que eu não conseguia simplesmente admitir para eu mesma e quem mais quisesse ouvir que, na realidade, tudo o que mais queria era jogar tudo para o alto, deixar tudo que tinha em Londres e ficar exatamente onde estava? Quer dizer, não na praia, mas deu para entender, não é?

Depois de alguns minutos, quando senti que ia começar a chorar, dei meia volta e fui andando na direção do carro. Não me atrevi a olhar para o Bill uma única vez que fosse e mantive a cabeça baixa quando abri a porta. Ele respeitou o meu silêncio e não tentou me impedir de ir para o quarto quando chegamos em casa.

Acho que naquela noite chorei como poucas vezes tinha feito na minha vida inteira. Foi tão intenso que cheguei a soluçar e até peguei no sono. Acordei na manhã seguinte e, depois que saí do banheiro, ouvi a Rosa perguntar:

- O que haces aí?

E ouvi a resposta do Bill:

- Ouvi a Luiza chorar ontem e quis ficar aqui, perto dela.

Respirei fundo e só saí do quarto depois que tive certeza de que o corredor estava deserto de novo.

Naquele dia inteiro, o que melhorou meu astral um pouco foi um e-mail que recebi da Nicola, contando da viagem e com várias fotos dela e o Charlie em Mônaco. Povo pobre esse...

Os dias foram se arrastando e, quando dei por mim, estava me arrumando para ir à audiência. Encarei meu próprio reflexo no espelho e estava apática. Não me preocupei nem com maquiagem e só peguei a bolsa e fui sem esperar o Bill. Nesses dias, havia me afastado dele, que mal parava em casa e, quando o fazia, ficava trancado no estúdio.

Assim que chegamos ao tribunal, o juiz já estava a postos. Cada um se sentou em seu lugar e, de repente, um advogado chegou, trazendo um documento. Olhei para a Nadine, que deu de ombros. O advogado entregou o envelope ao juiz, que o leu em silêncio e, depois, assentiu. O Bill não me olhou em nenhum momento e respirei fundo e estava sentado perto do Tom.

- Pois muito bem. Agora que estão todos presentes... Acho que podemos começar. - O juiz disse.

Chamou o terapeuta, que começou a comentar sobre as consultas e, ao final, disse:

- Desde o primeiro instante em que os vi, sabia que deveriam esquecer toda essa ideia de divórcio.

Fechei os olhos por um instante e senti a Nadine pegando na minha mão.

- Algo mais a acrescentar? - O juiz perguntou ao terapeuta, que negou. - Muito bem. - Se virou para nós. - Têm certeza que é isso que vocês querem?

Concordei, me recusando a olhar para o Bill. Fixei um ponto alto, numa tentativa de controlar as lágrimas mas sentia meus olhos ardendo. O juiz me observou brevemente e disse:

- Nesse caso... O divórcio está concedido. E, como o Sr. Kaulitz desistiu da sua parte do dinheiro, os seis milhões de dólares vão para a senhorita Belotti.

Olhei para a Nadine, que estava em choque também. Me virei para olhar o Bill, que estava conversando com o Tom. Nem quando assinamos o documento do divórcio, me olhou uma única vez que fosse e, logo que fomos liberados, a Nadine me seguiu. Enquanto esperávamos o táxi, ela disse, em choque:

- Ele deu todo o dinheiro para você!

- Eu sei. - Murmurei. Não conseguia ficar totalmente feliz com aquilo.

- E sabe qual é a minha vontade agora? - Perguntou e a olhei. De repente, me deu um tapa no rosto. - Pronto. Saciei.

- Mas que...? - Retruquei, inconformada.

- Vem não que, depois do que aconteceu, você bem que merecia muito mais. Deixa a Lola saber o que aconteceu...

Gemi ao imaginar o chilique da Nicola.

- Ela está grávida. Nadine, se ela perder esse bebê...

- A culpa é totalmente sua. Podia muito bem deixar as coisas do jeito que estão. Mas não... Fica aí de cu doce e querendo voltar para Londres. Vai tomar banho, Luiza!

Olhei para ela, surpresa com a sua revolta.

- E nem vem com conto da Carochinha de que não pode largar tudo porque eu estou deixando minha vida inteira em Londres por causa do Tom.

Respirei fundo, me controlando para não dar uma resposta daquelas. Já estava perdendo a paciência quando o táxi finalmente chegou.

Quando estava chegando em casa, o meu celular tocou e atendi, ao ver que era o Alex:

- Oi. - Respondi, murcha.

- Izzy? O que houve?

- Não sou mais casada.

Houve um instante de silêncio e, de repente, ouvi o barulho da garagem e respirei fundo. Ao mesmo tempo, tocaram a campainha e avisei:

- Alex, eu tenho que ir. Te ligo depois.

Abri a porta e a Nadine falou:

- Eu te odeio, sua insuportável!

E me abraçou, me fazendo rir fraco.

- Vamos... Lá para cima. Temos que arrumar tudo.

Concordei e foi comigo até o quarto. Quando começamos a arrumar as malas, em silêncio. Não aguentou por mais tempo até dizer:

- Izzy... Vai me odiar se eu te disser a pior coisa do mundo? - Quis saber e a olhei. Neguei com a cabeça em silêncio.

- Vai voltar ao The Coyote?

Dei de ombros.

- Não fica assim. Pensa que você vai ter a sua vida de antes...

- Não vou. - Respondi. - Justamente porque eu carrego um estigma de ex esposa agora.

- Se você se casar com o Alex... Garanto que isso muda. Afinal de contas... Ele é um dos maiores empresários do Reino Unido...

Comecei a guardar as blusas e, justo quando peguei a pequena pilha, algo caiu dali do meio. Me abaixei para pegar e por muito pouco mesmo não desabei: Era a minha foto com o Bill no Natal. Respirei fundo e procurei por uma caixa que fosse grande o suficiente e comecei a reunir tudo aquilo que me faria lembrar e/ou que o Bill me deu. Pus tudo na caixa e terminamos de arrumar todas as minhas coisas. Aproveitando que a Di estava no banheiro, procurei por uma caneta e uma folha de papel. Me sentei à mesa e comecei a escrever. Peguei a fita durex e, depois de dobrar a folha, a preguei com a fita sobre a tampa. Em seguida, fui até o closet e pus a caixa bem no meio da ilha. Dei uma última olhada naquele que havia sido meu quarto no último ano e, antes de sair, apaguei a luz.

Bill

Depois que ela foi embora, o Tom até insistiu que ou eu fosse passar a noite na casa dele ou ele ficasse comigo. Mas garanti que não precisava e, qualquer coisa, ligaria imediatamente. Ia ser muito estranho dormir naquela casa enorme sem ela. Tinha me acostumado com a sua presença constante e por isso que decidi não mexer no quarto em que havia ficado durante esse tempo todo. Sabia que ia ficar com a Nadine hoje e amanhã iria embora. Para sempre.

Estava trancado no estúdio, ainda que não fosse mais necessário, observando uma foto dela que tinha tirado enquanto ainda dormia. Sua expressão era de serenidade e me lembrava bem do quanto fiquei encantado ao vê-la dormindo. Tinha tirado a foto em Nova Iorque, no dia seguinte à primeira vez que tínhamos passado a noite juntos. Fiquei pensando em certas coisas, como por exemplo, por que ela tinha que dificultar as coisas, que podiam ser muito mais simples. Cheguei até a me perguntar se realmente gostava tanto assim de mim...

Decidindo que ficar ali, pensando aquelas coisas todas, não ia me ajudar em nada, me levantei da cadeira e fui até o seu quarto. Chegando lá, a primeira coisa que fiz foi ir ao closet, na esperança que ela tivesse esquecido alguma peça de roupa. Só que tudo o que ela havia deixado para trás era uma caixa com várias coisas, até mesmo o vestido que eu havia comprado para uma festa. As sandálias vermelhas que eu fiz questão de pagar e que combinavam com a peça também estavam ali. Era tudo que, de certo modo, a faria se lembrar de mim. Tinham várias fotos, inclusive de revistas e jornais, de nós dois, entre muitas outras coisas. Presa à tampa, havia uma carta e não quis ler; Já imaginava o que ela teria escrito e já sabia do seu discurso de cor e salteado. No entanto, em meio à tudo aquilo, dei por falta de duas coisas. E significativas.

Um tempo havia se passado e desde então e eu tentava demonstrar que não havia nada de errado. Tanto que me dediquei mais ainda a terminar as músicas do CD. Ficava o dia inteiro trabalhando em praticamente tudo e não evitava de pensar na Luiza. Fiquei me perguntando o que ela estava fazendo àquela hora, como estava... Sorte que tinha a Nadine para me dar notícias. Sabia que, quando voltasse à Londres, a Nicola também me contaria sobre a Iza.

Então, numa tarde em que eu estava terminando de ditar um comunicado para a Claire, ela esperou pacientemente até que eu acabasse para me dar uma notícia realmente inesperada:

- Estou pedindo a minha demissão. Vou cumprir o aviso prévio e, assim que acabar... Vou para Londres.

Olhei para ela, surpreso.

- Desculpa a intromissão, mas... O que você vai fazer lá?

- Estou me mudando para Londres. Recebi uma proposta de emprego e... - Baixou o olhar, claramente tímida. - Estou indo correr atrás da minha felicidade. - Ergueu o olhar e falou: - Você realmente deveria fazer o mesmo.

- E ia adiantar alguma coisa? - Perguntei. - Ela obviamente não quer mais nada comigo...

Suspirou e disse:

- E você ainda tem a cara-de-pau de dizer que conhece a Luiza!

- Se ela realmente quisesse, não teria ido embora.

- E me diz uma coisa. Por um acaso as coisas que vêm fácil têm tanta graça quanto as que você tem que lutar para conseguir?

Abri a boca para responder, mas não consegui emitir qualquer som. Me olhou com aquela cara de sabichona e disse:

- Veja pelo lado positivo de eu ir morar em Londres. Vai ter mais uma informante sobre ela.

Dei um meio sorriso e a única coisa que podia fazer naquele momento era desejar boa sorte.

Numa manhã de domingo, meu celular tocou antes de sete horas da manhã e estranhei. Peguei o aparelho e, quando me sentei na cama, a voz aflita da Nadine me avisou:

- A Luiza sumiu.

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