quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 8º capítulo - Interativa










You can make a sinner change his ways

Nunca botei muita fé no amor ou em milagres
Nunca quis pôr meu coração em jogo
Mas nadar em seu mundo é algo espiritual
Eu nasço de novo cada vez que você passa a noite

(Bruno Mars - Locked out of heaven)



Depois que terminei de ajudar a arrumar um pouco a casa, não aguentei ficar em pé e me sentei numa das poltronas da sala. Fechei os olhos, depois de tirar as sandálias e estava quase pegando no sono quando senti que o estava ali. Se sentou ao meu lado e perguntou:

- Quer que eu te leve lá para cima?

- Não, pode deixar. - Respondi, abrindo os olhos e o fixando. - Daqui a pouco eu animo e vou deitar.

- Posso ficar aqui?

- É a casa da sua mãe. Não tem que pedir.

- Podia até ser a TARDIS que, se você quisesse ficar sozinha, eu ainda ia pedir per-missão.

Dei um sorriso fraco e ele disse:

- Se você não gostasse nem da pulseira e nem da caixa de música... Eu estava contando que ainda tivesse alguma coisa do Doctor Who que você ainda não tivesse.

- E posso te perguntar como você ia descobrir?

- Ou ia pedir ajuda para as meninas, que com certeza, sabem. Ou então daria um jeito de eu mesmo descobrir. Sério, o que ainda te falta? Já tem camiseta, forma de gelo, saleiro e pimenteiro...

- Um daqueles bagulhos anti-stress em formato do Adipose e outro em formato de Dalek, que daqui a pouco vai ter de ser substituído porque eu estou arrancando pedaços dele com as unhas...

Me olhou de um jeito que eu não segurei a risada. Foi então que eu percebi uma mudança no seu olhar. Era... Diferente.

- O que foi? - Perguntei.

- Acho que essa é a primeira vez que te vejo rir desse jeito desde que cheguei em Londres.

Mantive o sorriso.

- Acho que é justamente porque estou bem. Quer dizer, eu me sinto bem. Foi bom ter vindo aqui.

Sorrindo fraco, pegou a minha mão e começou a desenhar círculos com o seu polegar e observava aquilo como se fosse a coisa mais interessante do universo.

-... E você continua com a obsessão com as minhas mãos. - Falei e ele sorriu um pouco menos tímido.

- Sempre gostei da forma que os seus dedos encaixam nos meus. Sempre gostei do seu toque e a temperatura da sua pele. Mesmo no calor. - Ri fraco. - E eu não deixei de gostar nem quando você me bate.

- Tem vez que você merece, admite.

- Eu mereço? Você é que é chegada nesse tipo de coisa...

Arqueei a sobrancelha e o provoquei:

- Se eu bem me lembro, logo depois que a gente voltou de Londres, alguém... - Dei ênfase. - Me fez uma proposta.

- Proposta essa que outro alguém - Ele me imitou e dei um estalo com a língua. - nem pensou duas vezes antes de aceitar.

- Está arrependido?

- Não. E você?

- Só tem uma coisa que eu me arrependo. E você sabe muito bem o que é.

- Sei. Ter voltado com o . Aposto que ele é o tipo que, depois que goza, vira para o lado, dorme e ronca.

Meu queixo caiu e ele gargalhou.

- Você é inacreditável, ! - Falei e ele logo foi tirando conclusão precipitada:

- Quer dizer então que é isso mesmo? Ele realmente é tão ruim assim? Se quiser, eu posso...

- Pode é sossegar seu facho! Eu nem confirmei e muito menos desmenti.

- Mas se você está mais rabugenta do que antes é porque tem motivo. Eu acho que não é só por causa da implicância dele com as coisas tipo o bar, eu...

Não resistindo, perguntei:

- O que você acha que ele não faz?

- Quase tudo. Tem cara de quem é fresco.

Tentei me manter séria à medida que ele ia falando.

- E aí? - Perguntou, quando terminou de enumerar as coisas que ele achava que o não fazia. - O que eu acertei?

- Nada. - Respondi. - O não é tão conser-vador assim quanto você pensa. Para falar a verdade... Ele é bem... Liberal para quase tudo.

- “Quase”?

- É. Aquelas... Coisas de segurar respiração e qualquer outra... Ideia que possa ser perigosa.

Ficou sério de repente e perguntou:

- Eu lembro que, na época, você falou que não tinha feito strip para ninguém além de mim...

- E você continua sendo o único. Tem... Certas coisas que eu só fiz com você. - Respondi.

- Por quê?

- Eu não sei. Não senti vontade - Respondi, vagamente. - ou coragem.

Manteve o olhar fixo em mim enquanto dizia:

- Não importa o que aconteça. Você pode morar em Sydney e eu fique de vez aqui na , pode namorar quantos caras quiser e até se casar com um ou todos eles que não vou mais te deixar fugir de mim de novo.

- Eu não vou.

- Se fugir, pode saber que eu vou atrás de você de novo.

Sorri e ele comentou:

- As coisas tinham que ser difíceis...

- Se fossem fáceis, não teriam graça.

Assentiu. Seu olhar baixou até a minha boca e comecei a me sentir nervosa. Não era ruim. Muito pelo contrário; Era uma ansiedade, mas boa. Sem poder me controlar, passei a ponta da língua sobre o lábio inferior e ele parecia hipnotizado com aquele simples gesto.

- Eu... - Comecei a dizer, mas ouvimos a voz da :

-... E é sempre a mesma coisa. Incrível. E o que vocês dois estão fazendo aqui?- Ela perguntou, parando na entrada da sala.

- Estamos só conversando. - O falou. - Já vamos dormir.

- Tá. Mas vejam se não demoram muito para subirem, ok? - Ela falou e deu um beijo de boa noite em cada um. Depois que a subiu, perguntei:

- De curiosidade, tá? - O concordou. - Ela ainda tem esperança de... Nós, não é?

Deu um meio sorriso antes de responder:

- Se eu te disser que passei os dois últimos anos ouvindo a minha mãe me xingar de idiota, para falar o mínimo, me mandar ir atrás de você pelo menos umas trinta vezes a cada ligação, entre muitas outras coisas, inclusive tapas quando estávamos de frente um para o outro... Serviria de resposta?

Sorri e concordei.

- Apesar de tudo, eu senti falta dela. Nesses dois anos, acho que a gente se viu umas quatro vezes, no máximo.

- E como foram esses encontros?

- Se esqueceu que a Nadine está com o ? Me encontrei com a em Londres, sempre. Três foram em aniversários e uma vez ela foi visitar o . E a gente se encontrou nessa vez por acidente. Eu não sabia que ela tinha ido e a Di me chamou para ir lá. Quando cheguei lá na casa dela, a estava lá.

- E o que ela te falou em todos esses encontros?

- Ah... Queria saber como eu estava, me dava notícias suas...

- Ela... Também me falava de você.

- Quem é que não dava notícias nossas um para o outro?

Ele sorriu.

- Bom... Eu vou deitar. Vai ficar aí? - Quis saber e neguei. Estiquei a mão quando ele se pôs de pé e me puxou. Exagerou um pouco na força e quase caí em cima dele, que conseguiu me segurar bem a tempo. Só que, obviamente, ficamos muito perto um do outro e inevitavelmente, nossos olhares se encontraram. Engoli em seco e ele também, olhando para a minha boca logo em seguida.

- Eu... - Começou a dizer e, sabendo onde aquilo ia dar, fui firme ao anunciar:

- Obrigada. E é melhor a gente subir.

Me odiei por fazer aquilo, ainda mais depois de ver sua expressão, mas, mesmo assim, não vacilei.

Depois que cada um trocou de roupa e nos deitamos, ele perguntou:

- Eu... Estava pensando...

- O quê? - Me virei para olhá-lo.

- O sabe que você está dormindo comigo?

- , eu não estou... - Comecei a dizer e grunhi. - O que eu faço é dividir a cama com você. Só.

- Mas ele sabe?

- E o que isso importa agora? Você realmente não podia ter me aparecido com um assunto mais... Sem pé nem cabeça e à essa hora!

- Está achando tão ruim de voltar a dormir na mesma cama que eu? - Insistiu e bufei.

- Estou, porque eu estou tentando pegar no sono, mas você não está me deixando!

- E eu achei que era porque você estava aqui comigo... Bem perto de mim... Podendo me tocar, se quisesse... Aliás, eu acho que você quer. Só que é orgulhosa demais para fazer qualquer coisa. Logo, vai começar com a ladainha de que está namorando o , que vai ser fiel à ele, que eu estou me achando demais... Te conheço, . Um ano, em comparação aos quase dez que o te conhece, não é muito, mas ainda sim, foi o suficiente para saber esse tipo de coisa.

Ergui a sobrancelha e perguntei:

- Quer dizer então que, você acha que eu não seria capaz de... Me deixar levar pelos meus instintos e satisfazer as minhas vontades, é isso?

- É. - Respondeu. - Eu não acho que você teria coragem... Já passamos por isso várias vezes, inclusive, me lembro muito bem que, em Nova Iorque, você teve uma postura parecida. Ficou em negação por bem uns quinze minutos até se deixar levar. E, quando assustei, você já estava em cima de mim, abrindo a minha calça e não demorou para começar a lamber o meu...

- OK. Já entendi. - O interrompi. - você está se usando de psicologia inversa e me desafiando porque sabe que, se você fizer isso, eu não vou resistir.

- Eu não estou fazendo nada!

- Sei... E eu sou tão ruiva quanto a Nicola!

- Considerando que, na época que você era minha mulher, não tinha como saber...

- Ai meu Deus... - Resmunguei. - Eu sabia que não ia prestar quando você tomasse o vinho...

- Você também tomou uma taça que eu vi.

- Que seja. E me deixa dormir senão eu te boto para fora do quarto. Azar se for seu.

- Teria coragem?

- , não testa minha paciência, que conti-nua tão curta quanto antes...

Sabia que aquela praga estava sorrindo.

- Posso te pedir uma última coisa?

Suspirei e olhei para ele. Mesmo no escuro, eu tinha certeza que a expressão tinha se transformado numa que eu dizia que era a de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

- O quê?

- Um beijo de boa noite.

Respirei fundo e já estava mirando na sua bochecha quando, de repente, ele virou o rosto muito rápido e obviamente, acabei acertando a sua boca. Eu não havia percebido que seus braços me envolviam até quando tentei escapar. Tentei fazer com que me soltasse, em vão, mas claro que não consegui. De repente, senti sua mão bem acima da minha bunda e fazia uma carícia deliciosa, verdade seja dita. Ao mesmo tempo, me puxava para mais perto, se é que aquilo era fisicamente possível, e o beijo se tornava cada vez mais... Ansioso e até mesmo mais sensual e cada vez menos delicado e... Havia alguma coisa a mais que não conseguia perceber o que era. Não quando ele me beijava daquele jeito, acabando aos poucos com o meu ar e, principalmente, o juízo.

Deu um jeito de ficar por cima de mim e, quando percebi, já estava com uma perna envolvendo seu quadril enquanto ele deixava as mãos passearem livremente pelo meu corpo. Começou na cintura e aos poucos foi explorando outros lugares. Quando dei por mim, já estava com a barriga de fora e sentia seus dedos ameaçando invadirem a blusa. Não bastasse tudo isso, ainda tinha um fator... Crescente. Como só tinha três camadas de tecido fino servindo de barreira, então senti tudo. Àquelas alturas, eu já não conseguia nem respirar direito. Foi quando ele se aproveitou para começar a beijar o meu pescoço, indo nos pontos certos, que sabia que iam me desarmar completamente. Quando eu percebi que estava com a boca perto demais da minha orelha, o ouvi dizer, com os lábios colados à minha pele:

- Senti tanta falta do seu cheiro...

Não consegui segurar um gemido e soube naquele instante que estava ferrada. Tive a certeza quando ele encarou o gemido como uma espécie de permissão para avançar mais e, por isso, acabou realmente deslizando a mão por baixo da minha blusa. Foi nesse instante em que tive um estalo e finalmente percebi o que estava acontecendo. Consegui afastá-lo e ignorei seu olhar confuso.

- O que foi? - O perguntou.

- Isso não tinha que ter acontecido. De jeito nenhum!

- Vai mesmo começar com essa ladainha?

Me virei para ele e, pegando o travesseiro e um cobertor, fui dormir na sala. Tinha certeza de que ele ia tentar me fazer voltar para o quarto, só que eu estava disposta até a, literal-mente, brigar.

Quando acordei na manhã seguinte, eu conseguia ouvir a conversando com o em um volume de voz bem baixo. Pisquei algumas vezes e, quando me espreguicei, notei que não estava sozinha. Olhei para o sofá do lado e me segurei para não dar um estalo com a língua. Me levantei, tentando fazer o mínimo possível de barulho e fui até o quarto. Peguei uma muda de roupa e me enfiei no banheiro. Depois que saí, passados alguns minutos, encontrei o , com aquela cara de sono, se arrastando até a escada e falou:

- Bom dia.

- Bom dia. Não era melhor ter ficado na cama?

Negou com a cabeça.

- A tia me avisou que quer que eu a ajude hoje...

- Ah sim... - Respondi. Ele tinha me deixado passar primeiro, mas não sei como, conseguiu ver que tinha alguma coisa errada. Segurou meu braço e perguntou:

- O que foi?

Respirei fundo e, ouvindo a voz da ficando mais alta, o puxei até o seu quarto. Encostei a porta e ele não entendia nada.

- O tem uma sorte... - Respondi, começando a andar de um lado para o outro.

- O que ele fez? Ele te obrigou a...

- Ele nunca me obrigou a fazer algo que eu não queria e é justamente esse o problema. , eu estou morrendo de ódio do .

- Vai direto ao ponto.

- A gente se beijou ontem.

- Mas... Beijo mais tipo...

- Beijo de língua. E evoluiu para um amasso.

- Por isso que você está surtando desse jeito?

Dei um estalo com a língua e ele disse:

- Posso te ser sincero? Eu nunca gostei tanto assim do . Sei lá, é como se... Ele te transformasse em outra pessoa. Eu sei que você gosta dele e tal, mas sempre achei que era mais como um amigo do que como homem. Aliás... Eu não sou o único.

Respirei fundo e, só para completar, ele disse:

- E sei que você provavelmente vai me bater, mas foi exatamente como me falou: Se você não quisesse, o não teria ido em frente e te beijado.

- Eu sei que ele não é o único culpado nessa história.

- Qual é o problema então?

Suspirei antes de me sentar ao seu lado.

- Se contar para ele, eu te castro e depois te mato, ok? - Falei, olhando para ele e esperando que conseguisse soar tão séria quanto pretendia. - O problema foi que, se eu não tivesse um estalo na hora... Teria deixado que ele continuasse. Eu achei que ia conseguir levar essa história de amizade com ele, mas... Estou vendo que não vai dar certo.

- E vai afastar o por isso?

Neguei com a cabeça.

- Para o bem de todo mundo, eu acho que o que preciso fazer é... Impor limites. Senão, vou acabar fazendo algo de que vou me arrepender depois, apesar de querer muito.

- Eu não sou tão bom conselheiro quanto você. - Dei um meio sorriso. - Mas acho que você tinha que usar sua... Intuição, apesar de eu ter certeza de que está óbvio de quem você gosta e quem você ama. Só... Tenta não fazer a escolha errada e acabar magoando todo mundo, além de si mesma.

Baixei o olhar e ele me abraçou de lado.

- Agora vamos lá antes que a tia venha buscar a gente. E aí sim... Ferrou.

Ri e fomos até a cozinha. Mas, ao passar pela sala, o viu o melhor amigo ainda dormindo no sofá e perguntou:

- Você botou ele para fora do quarto?

- Não. Eu saí e como ele gosta de bancar minha sombra...

Sorriu.

Assim que sentamos à mesa, só nós dois, porém, ouvi meu celular dando o aviso de mensagem e, assim que peguei o aparelho, vi que era uma mensagem da Nicola. Franzi as sobrancelhas e o perguntou:

- O que foi?

- “Acabei de descobrir que o chegou de surpresa em Londres na noite do dia 23 e está furioso porque ele sabe onde e com quem você está.”.

- Mas se ele... Sabe que você está aqui com a gente, então por que simplesmente não veio para cá e armou a maior confusão?

- Porque ele está esperando que eu volte para Londres. Conheço o melhor do que ele imagina.

De repente, o ficou pensativo e falei:

- Pela sua cara, você está pensando se o já...

Me olhou.

- Ele sabe que, no instante em que experimentar levantar a mão para mim, não vou pensar duas vezes antes de sumir no mundo. Aliás... Não só ele, mas qualquer outro cara.

- Vai só sumir? - Perguntou.

- Ah não... Antes eu dou um jeito de garantir que ele nunca mais levante a mão para nenhuma outra mulher.

- Não vai me dizer que teria a coragem de...?

- , eu não aguento nem ver sangue sem quase cair que nem uma pera cozida! - Exclamei e ele, como sempre que ouvia a expressão, riu. - Até parece que eu ia ter coragem de, no mínimo, cortar a mão de alguém!

- E o que você ia fazer então? Supondo que o realmente te batesse.

Dei um meio sorriso e falei:

- Se fosse especificamente o ... Para começo de conversa, eu ia trazer o caso à público, justamente para a próxima namorada dele não sofrer o mesmo. Segundo que eu não ia deixar sair impune.

Continuei falando tudo o que faria até que o assunto inevitavelmente voltou para o beijo:

- Se... Ele souber que você e o se beija-ram... - O começou a falar.

- Eu instaurei aquela política de não ter segredos justamente para o namoro dar certo. Por enquanto, tem funcionado.

- Ele já fez alguma coisa desse tipo?

Hesitei e ele entendeu na mesma hora.

- Eu perdoei por causa da honestidade dele. Ao invés de vir com mentiras, abriu o jogo comigo e eu percebi que ele estava realmente arrependido.

- Você vai me odiar por dizer isso, mas... Se eu fosse você, ficava de olho aberto. Se te traiu uma vez, não custa nada ele ir para a cama com outra de novo. Ainda mais que está incomodado com o .

Respirei fundo e perguntei:

- Não podia ser fácil, não é? - Ele deu um sorriso fraco e respondi: - É, não podia. Imagina se o Drácula tivesse a Mina de bandeja, sem o Jonathan e o Van Helsing para salvar o dia?

Sorriu mais largamente e me garantiu que, se eu precisasse... Podia contar com ele.

Quando terminamos de tomar o café, a entrou na cozinha e os dois conversaram em alemão. Consegui pescar algumas coisas e entendi que ela queria que acordássemos o .

Assim que ela saiu da cozinha, o me fez um imbróglio e, quando fui ver... Ele tinha sumido, deixando a tarefa árdua de acordar o belo adormecido. Respirando fundo, fui até a sala e, me ajoelhando no chão, bem em frente ao sofá que o estava, o observei por alguns instantes, não conseguindo resistir à tentação. Como sempre... Estava dormindo sem camisa. E a coberta ia até um pouco abaixo do elástico da boxer. Sua respiração, naquele instante, estava calma; O peito subia e descia lentamente e me perguntei, ao olhar para o seu rosto, com o que ele deveria estar sonhando. Não resisti e estiquei a mão, tocando de leve no seu cabelo.

- ... - Chamei baixinho. - Acorda.

Se mexeu um pouco, mudando de posição e ficando de costas para mim. Apoiando as mãos na beirada do sofá, falei:

- Ah, ... Não tinha nada que ter se vira-do...

Percebi que já tinha acordado e resmunguei:

- Seu... Descarado sem-vergonha!

Bati na sua bunda e ele riu.

- Inacreditável! - Eu disse, baixo e me levantando para que ele pudesse se sentar. - Eu te odeio, sua peste!

Ainda rindo, me olhou e claro que tinha que me provocar:

- Depois de ontem... Eu não teria tanta certeza...

Agarrei o meu travesseiro e joguei nele.

- Você que me aguarde! - Avisei, dobrando o cobertor que eu levara na noite anterior. - Besta.

Ele continuou rindo e me observava atentamente.

- Você trocou de roupa?- Perguntou e respondi:

- E eu sou bem o tipo que quase anda pelada na casa dos outros, ainda mais na da sua mãe!

- Eu tenho certeza que ela não ia se incomodar.

- Ai meu Deus... Anda, vai comer alguma coisa antes que eu perca a paciência.

Ele se levantou e, ao passar por mim, simplesmente me deu um tapa na bunda. Olhei para ele, que nem se deu ao trabalho de virar para trás. Enquanto subi as escadas até o seu quarto, eu resmunguei os piores xingamentos (Claro que nenhum deles era direcionado à ) e, quando passei pelo , ele ficou me olhando.

- E a culpa é sua também! - Resmunguei e ele fez cara de quem não tinha enten-dido nada. - Apanhei por sua causa, sua peste!

- Como assim? - Ele perguntou, me seguindo até o quarto do . Contei tudo e ele ficou rindo.

- Sério, eu devo ter sido o capeta de saia na outra vida, porque estou pagando to-dos os meus pecados nesta com vocês dois... Tô com dó da Di por ter de te aguentar quando está com a pá virada! - Retruquei e ele ficou rindo.

- Como se ela fosse a santa da história... - Ele respondeu e parei no meio do cami-nho.

- Mais santa que você... Ah, ela é. - Devolvi.

Só paramos com a “discussão” quando o entrou no quarto. Eu queria ter saído com o , mas não consegui.

- Eu escutei a sua conversa com o . - Ele falou enquanto vestia uma roupa. Por sorte, estava no banheiro, então não precisei ficar olhando para ele e os músculos se contraindo e relaxando à cada movimento que ele fazia.

- E o que você ouviu, exatamente?

- Tudo. Quer dizer, a partir do momento que vocês chegaram na cozinha. Falaram alguma coisa antes?

- É incrível como você consegue ser intrometido...

- E é incrível como você consegue ser rabugenta!

- O problema não é a sua mania de intromissão e nem minha rabugice. Mas que você não tinha nada que me beijar...

- Como se você não tivesse correspondido e muito bem! - Ele retrucou. De repente, saiu do banheiro e disse, não escondendo a irritação: - Você não foi obrigada a nada. A hora que você não quis mais, eu parei. Para de ficar me apontando como único culpado dessa história toda quando você também não é tão inocente assim.

Olhei para ele, que respirou fundo antes de voltar para o banheiro.

- Sabe o que eu não entendo? Como você pode ser tão teimosa. - Disse. - Eu ouvi quando o te perguntou se o tinha te traído e a resposta é óbvia.

Saiu do banheiro de novo, já completamente vestido, e me olhava fixamente.

- Agora eu te pergunto: Por quê?

- Por quê? Durante todos esses anos em que eu conheço o , ele não foi só um cara com quem eu ia para a cama. Ele foi e é muito mais do que isso. É meu namorado por um motivo. Perdoei a traição dele por um motivo. E esse motivo é que ele é importante para mim. Sempre que precisei, o estava ao meu lado para me apoiar quando era preciso, do mesmo jeito que, quando eu precisava, ele “puxava a minha orelha”. É justamente por ele ser muito mais do que um cara bonito, educado e gentil que quis dar essa chance para ele. Por mais que todo mundo teime em dizer o contrário, eu realmente amo o .

- Mais do que me amou?

Me lembrei de todos os sinais que davam a indicação antes de contar, talvez, a maior mentira da minha vida:

- Sim.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 8º capítulo


08. You can make a sinner change his ways

Nunca botei muita fé no amor ou em milagres
Nunca quis pôr meu coração em jogo
Mas nadar em seu mundo é algo espiritual
Eu nasço de novo cada vez que você passa a noite

(Bruno Mars - Locked out of heaven)

Luiza

Depois que terminei de ajudar a arrumar um pouco a casa, não aguentei ficar em pé e me sentei numa das poltronas da sala. Fechei os olhos, depois de tirar as sandálias e estava quase pegando no sono quando senti que o Bill estava ali. Se sentou ao meu lado e perguntou:

- Quer que eu te leve lá para cima?

- Não, pode deixar. - Respondi, abrindo os olhos e o fixando. - Daqui a pouco eu animo e vou deitar.

- Posso ficar aqui?

- É a casa da sua mãe. Não tem que pedir.

- Podia até ser a TARDIS que, se você quisesse ficar sozinha, eu ainda ia pedir per-missão.

Dei um sorriso fraco e ele disse:

- Se você não gostasse nem da pulseira e nem da caixa de música... Eu estava contando que ainda tivesse alguma coisa do Doctor Who que você ainda não tivesse.

- E posso te perguntar como você ia descobrir?

- Ou ia pedir ajuda para as meninas, que com certeza, sabem. Ou então daria um jeito de eu mesmo descobrir. Sério, o que ainda te falta? Já tem camiseta, forma de gelo, saleiro e pimenteiro...

- Um daqueles bagulhos anti-stress em formato do Adipose e outro em formato de Dalek, que daqui a pouco vai ter de ser substituído porque eu estou arrancando pedaços dele com as unhas...

Me olhou de um jeito que eu não segurei a risada. Foi então que eu percebi uma mudança no seu olhar. Era... Diferente.

- O que foi? - Perguntei.

- Acho que essa é a primeira vez que te vejo rir desse jeito desde que cheguei em Londres.

Mantive o sorriso.

- Acho que é justamente porque estou bem. Quer dizer, eu me sinto bem. Foi bom ter vindo aqui.

Sorrindo fraco, pegou a minha mão e começou a desenhar círculos com o seu polegar e observava aquilo como se fosse a coisa mais interessante do universo.

-... E você continua com a obsessão com as minhas mãos. - Falei e ele sorriu um pouco menos tímido.

- Sempre gostei da forma que os seus dedos encaixam nos meus. Sempre gostei do seu toque e a temperatura da sua pele. Mesmo no calor. - Ri fraco. - E eu não deixei de gostar nem quando você me bate.

- Tem vez que você merece, admite.

- Eu mereço? Você é que é chegada nesse tipo de coisa...

Arqueei a sobrancelha e o provoquei:

- Se eu bem me lembro, logo depois que a gente voltou de Londres, alguém... - Dei ênfase. - Me fez uma proposta.

- Proposta essa que outro alguém - Ele me imitou e dei um estalo com a língua. - nem pensou duas vezes antes de aceitar.

- Está arrependido?

- Não. E você?

- Só tem uma coisa que eu me arrependo. E você sabe muito bem o que é.

- Sei. Ter voltado com o Alex. Aposto que ele é o tipo que, depois que goza, vira para o lado, dorme e ronca.

Meu queixo caiu e ele gargalhou.

- Você é inacreditável, Kaulitz! - Falei e ele logo foi tirando conclusão precipitada:

- Quer dizer então que é isso mesmo? Ele realmente é tão ruim assim? Se quiser, eu posso...

- Pode é sossegar seu facho! Eu nem confirmei e muito menos desmenti.

- Mas se você está mais rabugenta do que antes é porque tem motivo. Eu acho que não é só por causa da implicância dele com as coisas tipo o bar, eu...

Não resistindo, perguntei:

- O que você acha que ele não faz?

- Quase tudo. Tem cara de quem é fresco.

Tentei me manter séria à medida que ele ia falando.

- E aí? - Perguntou, quando terminou de enumerar as coisas que ele achava que o Alex não fazia. - O que eu acertei?

- Nada. - Respondi. - O Alex não é tão conservador assim quanto você pensa. Para falar a verdade... Ele é bem... Liberal para quase tudo.

- “Quase”?

- É. Aquelas... Coisas de segurar respiração e qualquer outra... Ideia que possa ser perigosa.

Ficou sério de repente e perguntou:

- Eu lembro que, na época, você falou que não tinha feito strip para ninguém além de mim...

- E você continua sendo o único. Tem... Certas coisas que eu só fiz com você. - Respondi.

- Por quê?

- Eu não sei. Não senti vontade - Respondi, vagamente. - ou coragem.

Manteve o olhar fixo em mim enquanto dizia:

- Não importa o que aconteça. Você pode morar em Sydney e eu fique de vez aqui na Alemanha, pode namorar quantos caras quiser e até se casar com um ou todos eles que não vou mais te deixar fugir de mim de novo.

- Eu não vou.

- Se fugir, pode saber que eu vou atrás de você de novo.

Sorri e ele comentou:

- As coisas tinham que ser difíceis...

- Se fossem fáceis, não teriam graça.

Assentiu. Seu olhar baixou até a minha boca e comecei a me sentir nervosa. Não era ruim. Muito pelo contrário; Era uma ansiedade, mas boa. Sem poder me controlar, passei a ponta da língua sobre o lábio inferior e ele parecia hipnotizado com aquele simples gesto.

- Eu... - Comecei a dizer, mas ouvimos a voz da Simone:

-... E é sempre a mesma coisa. Incrível. E o que vocês dois estão fazendo aqui?- Ela perguntou, parando na entrada da sala.

- Estamos só conversando. - O Bill falou. - Já vamos dormir.

- Tá. Mas vejam se não demoram muito para subirem, ok? - Ela falou e deu um beijo de boa noite em cada um. Depois que a Simone subiu, perguntei:

- De curiosidade, tá? - O Bill concordou. - Ela ainda tem esperança de... Nós, não é?

Deu um meio sorriso antes de responder:

- Se eu te disser que passei os dois últimos anos ouvindo a minha mãe me xingar de idiota, para falar o mínimo, me mandar ir atrás de você pelo menos umas trinta vezes a cada ligação, entre muitas outras coisas, inclusive tapas quando estávamos de frente um para o outro... Serviria de resposta?

Sorri e concordei.

- Apesar de tudo, eu senti falta dela. Nesses dois anos, acho que a gente se viu umas quatro vezes, no máximo.

- E como foram esses encontros?

- Se esqueceu que a Nadine está com o Tom? Me encontrei com a Simone em Londres, sempre. Três foram em aniversários e uma vez ela foi visitar o Tom. E a gente se encontrou nessa vez por acidente. Eu não sabia que ela tinha ido e a Di me chamou para ir lá. Quando cheguei lá na casa dela, a Simone estava lá.

- E o que ela te falou em todos esses encontros?

- Ah... Queria saber como eu estava, me dava notícias suas...

- Ela... Também me falava de você.

- Quem é que não dava notícias nossas um para o outro?

Ele sorriu.

- Bom... Eu vou deitar. Vai ficar aí? - Quis saber e neguei. Estiquei a mão quando ele se pôs de pé e me puxou. Exagerou um pouco na força e quase caí em cima dele, que conseguiu me segurar bem a tempo. Só que, obviamente, ficamos muito perto um do outro e inevitavelmente, nossos olhares se encontraram. Engoli em seco e ele também, olhando para a minha boca logo em seguida.

- Eu... - Começou a dizer e, sabendo onde aquilo ia dar, fui firme ao anunciar:

- Obrigada. E é melhor a gente subir.

Me odiei por fazer aquilo, ainda mais depois de ver sua expressão, mas, mesmo assim, não vacilei.

Depois que cada um trocou de roupa e nos deitamos, ele perguntou:

- Eu... Estava pensando...

- O quê? - Me virei para olhá-lo.

- O Alex sabe que você está dormindo comigo?

- Bill, eu não estou... - Comecei a dizer e grunhi. - O que eu faço é dividir a cama com você. Só.

- Mas ele sabe?

- E o que isso importa agora? Você realmente não podia ter me aparecido com um assunto mais... Sem pé nem cabeça e à essa hora!

- Está achando tão ruim de voltar a dormir na mesma cama que eu? - Insistiu e bufei.

- Estou, porque eu estou tentando pegar no sono, mas você não está me deixando!

- E eu achei que era porque você estava aqui comigo... Bem perto de mim... Podendo me tocar, se quisesse... Aliás, eu acho que você quer. Só que é orgulhosa demais para fazer qualquer coisa. Logo, vai começar com a ladainha de que está namorando o Alex, que vai ser fiel à ele, que eu estou me achando demais... Te conheço, Luiza. Um ano, em comparação aos quase dez que o Alex te conhece, não é muito, mas ainda sim, foi o suficiente para saber esse tipo de coisa.

Ergui a sobrancelha e perguntei:

- Quer dizer então que, você acha que eu não seria capaz de... Me deixar levar pelos meus instintos e satisfazer as minhas vontades, é isso?

- É. - Respondeu. - Eu não acho que você teria coragem... Já passamos por isso várias vezes, inclusive, me lembro muito bem que, em Nova Iorque, você teve uma postura parecida. Ficou em negação por bem uns quinze minutos até se deixar levar. E, quando assustei, você já estava em cima de mim, abrindo a minha calça e não demorou para começar a lamber o meu...

- OK. Já entendi. - O interrompi. - você está se usando de psicologia inversa e me desafiando porque sabe que, se você fizer isso, eu não vou resistir.

- Eu não estou fazendo nada!

- Sei... E eu sou tão ruiva quanto a Nicola!

- Considerando que, na época que você era minha mulher, não tinha como saber...

- Ai meu Deus... - Resmunguei. - Eu sabia que não ia prestar quando você tomasse o vinho...

- Você também tomou uma taça que eu vi.

- Que seja. E me deixa dormir senão eu te boto para fora do quarto. Azar se for seu.

- Teria coragem?

- Kaulitz, não testa minha paciência, que continua tão curta quanto antes...

Sabia que aquela praga estava sorrindo.

- Posso te pedir uma última coisa?

Suspirei e olhei para ele. Mesmo no escuro, eu tinha certeza que a expressão tinha se transformado numa que eu dizia que era a de cachorro que caiu do caminhão de mudança.

- O quê?

- Um beijo de boa noite.

Respirei fundo e já estava mirando na sua bochecha quando, de repente, ele virou o rosto muito rápido e obviamente, acabei acertando a sua boca. Eu não havia percebido que seus braços me envolviam até quando tentei escapar. Tentei fazer com que me soltasse, em vão, mas claro que não consegui. De repente, senti sua mão bem acima da minha bunda e fazia uma carícia deliciosa, verdade seja dita. Ao mesmo tempo, me puxava para mais perto, se é que aquilo era fisicamente possível, e o beijo se tornava cada vez mais... Ansioso e até mesmo mais sensual e cada vez menos delicado e... Havia alguma coisa a mais que não conseguia perceber o que era. Não quando ele me beijava daquele jeito, acabando aos poucos com o meu ar e, principalmente, o juízo.

Deu um jeito de ficar por cima de mim e, quando percebi, já estava com uma perna envolvendo seu quadril enquanto ele deixava as mãos passearem livremente pelo meu corpo. Começou na cintura e aos poucos foi explorando outros lugares. Quando dei por mim, já estava com a barriga de fora e sentia seus dedos ameaçando invadirem a blusa. Não bastasse tudo isso, ainda tinha um fator... Crescente. Como só tinha três camadas de tecido fino servindo de barreira, então senti tudo. Àquelas alturas, eu já não conseguia nem respirar direito. Foi quando ele se aproveitou para começar a beijar o meu pescoço, indo nos pontos certos, que sabia que iam me desarmar completamente. Quando eu percebi que estava com a boca perto demais da minha orelha, o ouvi dizer, com os lábios colados à minha pele:

- Senti tanta falta do seu cheiro...

Não consegui segurar um gemido e soube naquele instante que estava ferrada. Tive a certeza quando ele encarou o gemido como uma espécie de permissão para avançar mais e, por isso, acabou realmente deslizando a mão por baixo da minha blusa. Foi nesse instante em que tive um estalo e finalmente percebi o que estava acontecendo. Consegui afastá-lo e ignorei seu olhar confuso.

- O que foi? - O Bill perguntou.

- Isso não tinha que ter acontecido. De jeito nenhum!

- Vai mesmo começar com essa ladainha?

Me virei para ele e, pegando o travesseiro e um cobertor, fui dormir na sala. Tinha certeza de que ele ia tentar me fazer voltar para o quarto, só que eu estava disposta até a, literal-mente, brigar.

Quando acordei na manhã seguinte, eu conseguia ouvir a Simone conversando com o Gordon em um volume de voz bem baixo. Pisquei algumas vezes e, quando me espreguicei, notei que não estava sozinha. Olhei para o sofá do lado e me segurei para não dar um estalo com a língua. Me levantei, tentando fazer o mínimo possível de barulho e fui até o quarto. Peguei uma muda de roupa e me enfiei no banheiro. Depois que saí, passados alguns minutos, encontrei o Tom, com aquela cara de sono, se arrastando até a escada e falou:

- ‘Morgen.

- Bom dia. Não era melhor ter ficado na cama?

Negou com a cabeça.

- A minha mãe me avisou que quer que eu a ajude hoje...

- Ah sim... - Respondi. Ele tinha me deixado passar primeiro, mas não sei como, conseguiu ver que tinha alguma coisa errada. Segurou meu braço e perguntou:

- O que foi?

Respirei fundo e, ouvindo a voz da Simone ficando mais alta, o puxei até o seu quarto. Encostei a porta e ele não entendia nada.

- O Bill tem uma sorte... - Respondi, começando a andar de um lado para o outro.

- O que ele fez? Ele te obrigou a...

- Ele nunca me obrigou a fazer algo que eu não queria e é justamente esse o problema. Tom, eu estou morrendo de ódio do Bill.

- Vai direto ao ponto.

- A gente se beijou ontem.

- Mas... Beijo mais tipo...

- Beijo de língua. E evoluiu para um amasso.

- Por isso que você está surtando desse jeito?

Dei um estalo com a língua e ele disse:

- Posso te ser sincero? Eu nunca gostei tanto assim do Alex. Sei lá, é como se... Ele te transformasse em outra pessoa. Eu sei que você gosta dele e tal, mas sempre achei que era mais como um amigo do que como homem. Aliás... Eu não sou o único.

Respirei fundo e, só para completar, ele disse:

- E sei que você provavelmente vai me bater, mas foi exatamente como me falou: Se você não quisesse, o Bill não teria ido em frente e te beijado.

- Eu sei que ele não é o único culpado nessa história.

- Qual é o problema então?

Suspirei antes de me sentar ao seu lado.

- Se contar para ele, eu te castro e depois te mato, ok? - Falei, olhando para ele e esperando que conseguisse soar tão séria quanto pretendia. - O problema foi que, se eu não tivesse um estalo na hora... Teria deixado que ele continuasse. Eu achei que ia conseguir levar essa história de amizade com ele, mas... Estou vendo que não vai dar certo.

- E vai afastar o Bill por isso?

Neguei com a cabeça.

- Para o bem de todo mundo, eu acho que o que preciso fazer é... Impor limites. Senão, vou acabar fazendo algo de que vou me arrepender depois, apesar de querer muito.

- Eu não sou tão bom conselheiro quanto você. - Dei um meio sorriso. - Mas acho que você tinha que usar sua... Intuição, apesar de eu ter certeza de que está óbvio de quem você gosta e quem você ama. Só... Tenta não fazer a escolha errada e acabar magoando todo mundo, além de si mesma.

Baixei o olhar e ele me abraçou de lado.

- Agora vamos lá antes que minha mãe venha buscar a gente. E aí sim... Ferrou.

Ri e fomos até a cozinha. Mas, ao passar pela sala, o Tom viu o irmão ainda dormindo no sofá e perguntou:

- Você botou ele para fora do quarto?

- Não. Eu saí e como ele gosta de bancar minha sombra...

Sorriu.

Assim que sentamos à mesa, só nós dois, porém, ouvi meu celular dando o aviso de mensagem e, assim que peguei o aparelho, vi que era uma mensagem da Nicola. Franzi as sobrancelhas e o Tom perguntou:

- O que foi?

- “Acabei de descobrir que o Alex chegou de surpresa em Londres na noite do dia 23 e está furioso porque ele sabe onde e com quem você está.”.

- Mas se ele... Sabe que você está aqui com a gente, então por que simplesmente não veio para cá e armou a maior confusão?

- Porque ele está esperando que eu volte para Londres. Conheço o Alex melhor do que ele imagina.

De repente, o Tom ficou pensativo e falei:

- Pela sua cara, você está pensando se o Alex já...

Me olhou.

- Ele sabe que, no instante em que experimentar levantar a mão para mim, não vou pensar duas vezes antes de sumir no mundo. Aliás... Não só ele, mas qualquer outro cara.

- Vai só sumir? - Perguntou.

- Ah não... Antes eu dou um jeito de garantir que ele nunca mais levante a mão para nenhuma outra mulher.

- Não vai me dizer que teria a coragem de...?

- Tom, eu não aguento nem ver sangue sem quase cair que nem uma pera cozida! - Exclamei e ele, como sempre que ouvia a expressão, riu. - Até parece que eu ia ter coragem de, no mínimo, cortar a mão de alguém!

- E o que você ia fazer então? Supondo que o Alex realmente te batesse.

Dei um meio sorriso e falei:

- Se fosse especificamente o Alex... Para começo de conversa, eu ia trazer o caso à público, justamente para a próxima namorada dele não sofrer o mesmo. Segundo que eu não ia deixar sair impune.

Continuei falando tudo o que faria até que o assunto inevitavelmente voltou para o beijo:

- Se... Ele souber que você e o Bill se beijaram... - O Tom começou a falar.

- Eu instaurei aquela política de não ter segredos justamente para o namoro dar certo. Por enquanto, tem funcionado.

- Ele já fez alguma coisa desse tipo?

Hesitei e ele entendeu na mesma hora.

- Eu perdoei por causa da honestidade dele. Ao invés de vir com mentiras, abriu o jogo comigo e eu percebi que ele estava realmente arrependido.

- Você vai me odiar por dizer isso, mas... Se eu fosse você, ficava de olho aberto. Se te traiu uma vez, não custa nada ele ir para a cama com outra de novo. Ainda mais que está incomodado com o Bill.

Respirei fundo e perguntei:

- Não podia ser fácil, não é? - Ele deu um sorriso fraco e respondi: - É, não podia. Imagina se o Drácula tivesse a Mina de bandeja, sem o Jonathan e o Van Helsing para salvar o dia?

Sorriu mais largamente e me garantiu que, se eu precisasse... Podia contar com ele.

Quando terminamos de tomar o café, a Simone entrou na cozinha e os dois conversaram em alemão. Consegui pescar algumas coisas e entendi que ela queria que acordássemos o Bill.

Assim que ela saiu da cozinha, o Tom me fez um imbróglio e, quando fui ver... Ele tinha sumido, deixando a tarefa árdua de acordar o belo adormecido. Respirando fundo, fui até a sala e, me ajoelhando no chão, bem em frente ao sofá que o Bill estava, o observei por alguns instantes, não conseguindo resistir à tentação. Como sempre... Estava dormindo sem camisa. E a coberta ia até um pouco abaixo do elástico da boxer. Sua respiração, naquele instante, estava calma; O peito subia e descia lentamente e me perguntei, ao olhar para o seu rosto, com o que ele deveria estar sonhando. Não resisti e estiquei a mão, tocando de leve no seu cabelo.

- Bill... - Chamei baixinho. - Acorda.

Se mexeu um pouco, mudando de posição e ficando de costas para mim. Apoiando as mãos na beirada do sofá, falei:

- Ah, Kaulitz... Não tinha nada que ter se virado...

Percebi que já tinha acordado e resmunguei:

- Seu... Descarado sem-vergonha!

Bati na sua bunda e ele riu.

- Inacreditável! - Eu disse, baixo e me levantando para que ele pudesse se sentar. - Eu te odeio, sua peste!

Ainda rindo, me olhou e claro que tinha que me provocar:

- Depois de ontem... Eu não teria tanta certeza...

Agarrei o meu travesseiro e joguei nele.

- Você que me aguarde! - Avisei, dobrando o cobertor que eu levara na noite anterior. - Besta.

Ele continuou rindo e me observava atentamente.

- Você trocou de roupa?- Perguntou e respondi:

- E eu sou bem o tipo que quase anda pelada na casa dos outros, ainda mais na da sua mãe!

- Eu tenho certeza que ela não ia se incomodar.

- Ai meu Deus... Anda, vai comer alguma coisa antes que eu perca a paciência.

Ele se levantou e, ao passar por mim, simplesmente me deu um tapa na bunda. Olhei para ele, que nem se deu ao trabalho de virar para trás. Enquanto subi as escadas até o seu quarto, eu resmunguei os piores xingamentos (Claro que nenhum deles era direcionado à Simone) e, quando passei pelo Tom, ele ficou me olhando.

- E a culpa é sua também! - Resmunguei e ele fez cara de quem não tinha enten-dido nada. - Apanhei por sua causa, sua peste!

- Como assim? - Ele perguntou, me seguindo até o quarto do Bill. Contei tudo e ele ficou rindo.

- Sério, eu devo ter sido o capeta de saia na outra vida, porque estou pagando to-dos os meus pecados nesta com vocês dois... Tô com dó da Di por ter de te aguentar quando está com a pá virada! - Retruquei e ele ficou rindo.

- Como se ela fosse a santa da história... - Ele respondeu e parei no meio do cami-nho.

- Mais santa que você... Ah, ela é. - Devolvi.

Só paramos com a “discussão” quando o Bill entrou no quarto. Eu queria ter saído com o Tom, mas não consegui.

- Eu escutei a sua conversa com o Tom. - Ele falou enquanto vestia uma roupa. Por sorte, estava no banheiro, então não precisei ficar olhando para ele e os músculos se contraindo e relaxando à cada movimento que ele fazia.

- E o que você ouviu, exatamente?

- Tudo. Quer dizer, a partir do momento que vocês chegaram na cozinha. Falaram alguma coisa antes?

- É incrível como você consegue ser intrometido...

- E é incrível como você consegue ser rabugenta!

- O problema não é a sua mania de intromissão e nem minha rabugice. Mas que você não tinha nada que me beijar...

- Como se você não tivesse correspondido e muito bem! - Ele retrucou. De repente, saiu do banheiro e disse, não escondendo a irritação: - Você não foi obrigada a nada. A hora que você não quis mais, eu parei. Para de ficar me apontando como único culpado dessa história toda quando você também não é tão inocente assim.

Olhei para ele, que respirou fundo antes de voltar para o banheiro.

- Sabe o que eu não entendo? Como você pode ser tão teimosa. - Disse. - Eu ouvi quando o Tom te perguntou se o Alex tinha te traído e a resposta é óbvia.

Saiu do banheiro de novo, já completamente vestido, e me olhava fixamente.

- Agora eu te pergunto: Por quê?

- Por quê? Durante todos esses anos em que eu conheço o Alex, ele não foi só um cara com quem eu ia para a cama. Ele foi e é muito mais do que isso. É meu namorado por um motivo. Perdoei a traição dele por um motivo. E esse motivo é que ele é importante para mim. Sempre que precisei, o Alex estava ao meu lado para me apoiar quando era preciso, do mesmo jeito que, quando eu precisava, ele “puxava a minha orelha”. É justamente por ele ser muito mais do que um cara bonito, educado e gentil que quis dar essa chance para ele. Por mais que todo mundo teime em dizer o contrário, eu realmente amo o Alex.

- Mais do que me amou?

Me lembrei de todos os sinais que davam a indicação antes de contar, talvez, a maior mentira da minha vida:

- Sim.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 7º capítulo - Interativa











When I look in your eyes it's all gone

Eu sei que amor não deveria ser tão difícil assim
E as vezes ficamos no escuro
Mas você ilumina todo lugar que eu vou
E eu sei que um coração não deveria bater tão forte
E de vez em quando nós nadamos com os tubarões
Mas você ilumina e me mantêm fora do frio

(Girls Aloud - Untouchable)



Dezembro chegou e o finalmente pôde tirar o gesso do braço e acho que nunca ficou tão aliviado. O e eu fomos com ele ao hospital e o médico havia avisado que não fizesse esforço e, de quebra, ainda deveria fazer um pouco de fisioterapia, só para prevenir. Quando entramos no meu carro, tive que provoca-lo:

- Como você foi muito bem comportado, se quiser eu te compro um sorvete.

Riu e disse:

- Olha que eu aceito a oferta e ainda abuso...

- É bom que aceite porque estou falando sério. - Avisei e ele ficou ali, com aquela cara de tacho. Acho que ele só acreditou que eu não estava de brincadeira quando parei o carro em frente à sorveteria...

No final daquela semana, a Di foi a primeira a se mudar para a casa nova. Com a recomen-dação do médico em mente, nós cuidamos para que, quando fomos ajudar a Nadine, ele não forçasse demais o braço.

- Veja lá, hein? - A Nadine falou, entregando um estilete para ele abrir as caixas que os carregadores traziam. Ele e a Sophia estavam sentados num canto da sala enquanto o resto de nós estava quase trombando de frente com o outro. No entanto, o mais estranho foi que o Alex cismou de ajudar na mudança. Tá, ele sempre era prestativo com as meninas, mas o que chamou a atenção de verdade foi o comportamento exemplar dele. Foi surpreendentemente educado com o .

- Vamos fazer uma coisa. - Falei, tomando o estilete da mão dele. Procurei por uma caneta daquelas esferográficas e dei para ele. - Dica: Espeta a ponta no meio, onde fica o espaço entre as abas da caixa. - E pisquei, indo buscar mais uma caixa pequena que a Di tinha me dado. Para facilitar, ela contratou um caminhão, não muito grande, para transportar os móveis maiores, como a geladeira, sofá, a cama, estante e por aí vai. As coisas menores, como as roupas, os eletrodomésticos como batedeira, TV, rádio e etc, ela pediu para a Lola e o Charlie levarem. Eu fiquei encarregada de levar metade das peças de decoração, como vasos, tapetes, quadros e os enfeites.

Assim que a Lola trouxe o rádio, resmunguei:

- Ainda bem! Não aguentava mais esse silêncio!

- Que silêncio, criatura? O que mais tem aqui é barulho! - A ruiva reclamou e retru-quei:

- Silêncio de música que eu quis dizer.

Assim que ligamos o rádio, começou a tocar uma música que era impossível não conhecermos e não cantarmos: You get what you give, do New Radicals. Logo, eu e as meninas entrávamos e saíamos de casa cantando a música. Não demorou e o Charlie nos acompanhou e até os carregadores riram.

Depois que terminamos de ajudar a Nadine, só nós ficamos ali e, por causa do cansaço, nos sentamos. No chão. E cada uma com uma taça de vinho na mão.

- Agora tem uma coisa. - A Nicola, já alta, falou. - O estava praticamente te comendo com o olhar.

- E daí? Não tirando pedaço... Tá ótimo. - Respondi.

- Uma pergunta, . - A Di começou a dizer. - Você sabe que a gente tem mais ou menos a mesma opinião, mas no seu caso específico... - Olhei para ela. - Acho que está óbvio que você e o , por mais que tentem, não vão conseguir ficar só na amizade. E aquele dia do jogo, a gente viu como você ficou quando o Alex começou com as provocações...

Suspirei e admiti:

- Eu estive pensando seriamente nisso. Pesando todos os prós e contras de cada um...

- E aí? - A Lola quis saber. - Quem tem mais coisas ao seu favor?

Dei um meio sorriso e elas já foram tirando conclusão precipitada.

- Só para constar? A gente sempre gostou mais do . - A ruiva comentou e eu avisei:

- Eu respondi alguma coisa? Não. Vocês que ficaram contando com o ovo ainda na... - Olhei para a Sophia, que dormia sobre o sofá. - Bom, ainda dentro da galinha. Eu ia falar que simplesmente não ia contar.

- Porque está óbvio quem ganha essa... Briga. - A Nadine disse.

- Pensou que, justamente por ser óbvio que pode não ser? - Perguntei e fiquei pensando na resposta. Me pareceu um pouco... complexa para alguém que estava sob o efeito do álcool.

- Já sei. - A Lola falou, se sentando sobre as pernas e ficando de frente para nós. - Quais os pontos em comum entre eles?

Eu tive que rir.

- Um a gente já sabe que é o fato de os dois fazerem bem seu tipo... Aquela cara de bad boy sedutor - Ela começou, com os olhos azuis brilhando tanto que me lembraram de duas safiras. - com barba por fazer...

- Topete... - A Nadine adicionou e eu ri ainda mais.

- Só interrompendo. O topete não tem nada a ver com a história.

- Sério? - A Lola perguntou e concordei. - Enfim. Prosseguindo. Os dois têm tatuagem em lugar estratégico... Têm um físico que olha...

Rimos e ela continuou enumerando as qualidades que os dois tinham. Logo, quiseram saber dos defeitos e fui honesta:

- Os dois conseguem ser extremamente cabeças-duras. Bobear, tanto quanto eu, principalmente o . A hora que ele teimava comigo, acho que faltava pouco para acontecer alguma coisa mais séria.

- E o que mais?- A Di perguntou.

Falei de tudo que conseguia lembrar e que os dois tinham em comum. No final, as meninas continuaram ao lado dele.

No final da semana seguinte, foi a festa de Natal lá do bar e eu estava insuportável, porque o Alex me obrigou a cancelar todo e qualquer plano que eu tinha feito para o Natal, dizendo que queria ficar comigo, mas tinha acontecido um imprevisto e ele não ia poder voltar para a casa até o ano novo. Claro que eu briguei e, no final das contas, estava uma pilha de nervos. E, para completar, ainda tinha que usar a fantasia idiota de elfo que o Stephen mandou. O problema não era a fantasia por si só; Eram os malditos sapatos, com ponta virada e um guizo. Então, a cada passo que qualquer uma das coyotes dava, ouvia-se o barulho do maldito sino.

- Merda! - Exclamei quando, por muito pouco mesmo, não deixei uma garrafa cair. Por sorte, eu estava virada de costas para o balcão e, pelo bar estar lotado, passei despercebida. Quer dizer, era isso o que achava até ver o parado ao meu lado. Chamou uma das outras coyotes e pediu que ela terminasse o drink para mim. Em seguida, me levou até a saleta onde as meninas e os lobinhos costumavam usar para guardar as roupas ou até mesmo fazer a pausa e, como estava vazia, ele só fechou a porta antes de me fazer sentar num banco de madeira que havia bem no meio do lugar. Suspirei e ele perguntou:

- O que foi?

- Eu estou para cometer um... Namoricídio. - Riu fraco e expliquei o que tinha acontecido. Então, ele falou:

- Está decidido. Você vem comigo para . A minha mãe estava insistindo para que eu fizesse o que fosse preciso para te levar junto e até mandou a passagem. Acho que você tinha que ir. Ainda mais que este ano vai juntar todo mundo.

- Todo mundo?

- É. Quer dizer, no dia 25, os pais do e do , além das namoradas e dos irmãos vão lá para a casa da minha avó.

- Então foi tudo minuciosamente planejado?

Sorriu maroto.

- Wow... - Falei, impressionada. - Eu realmente agradeço, mas...

- Ah sim. Minha mãe pediu para avisar que não aceita não e é capaz de te vir bus-car. Eu te aconselho a ir espontaneamente, sem qualquer pressão.

Ri e perguntei:

- Não vou incomodar?

- Claro que não! Se ela te chamou é porque tem motivo. Quer dizer, além de ela gostar de você e estar sentindo saudade...

Dei um sorriso fraco e admiti que era recíproco.

- Então... Ela realmente mandou a passagem?

Concordou.

- A gente vai dia 21. Não se preocupa porque já cuidei de tudo. Inclusive, um lugar de confiança para a Vivi ficar durante a viagem.

- Eu não sei se você sabe, mas a Nicola vai ficar aqui. Ela sempre olhou a Vivi para mim quando precisei.

- E em troca, você olha a Sophia. Me parece justo, mas foi indicação da própria Lola. É bom porque, se precisar, tem um veterinário de plantão.

Dei de ombros, concordando no final.

- Não fica assim. Você vai ver. Vai ser bom ficar esses dias longe daqui, sem ficar pensando em... Certas coisas.

Dei um meio sorriso e tivemos que voltar.

Não muito tempo depois, tive que me apresentar com as meninas e tínhamos brincado a respeito. Íamos cantar músicas típicas de Natal e logo a primeira era uma cover de Jingle Bell Rock. Inevitavelmente, nos lembramos do filme “Meninas malvadas”. O figurino era um pouco diferente, assim como as meninas que estavam se apresentando (Apesar de também ter uma ruiva), mas ainda sim...

As meninas e eu nos esforçávamos para manter a pose séria, mas, vez ou outra, acabávamos não resistindo e trocávamos um sorriso cúmplice. Como deu para perceber, nós preferíamos mais as apresentações “normais” (Sem ser as das festas, como esta de Natal e até a de Halloween - As fantasias costumavam incomodar e muito na hora de dançarmos) à essas... Festivas, Sem falar que era muito mais fácil dançar só com uma camiseta e jeans.

No final daquela noite, o ficou provocando a Nadine o tempo inteiro e, enquanto a Lola e eu ajudávamos o Stephen com as contas daquela noite, ouvimos um estalo e, quando olhamos, a Di estava dando uns tapas no . Olhei para a Lola, que ria. O Stephen também viu e disse:

- Nadine, bate mais leve aí que estamos fazendo conta.

Ela deu um último tapa, com mais força ainda e se sentou num dos bancos, de pernas e braços cruzados.

-... E começando a puxar o saco dela em 5... 4... 3... - Comecei a dizer e a Nicola riu fraco.

- Ai, saudade do tempo que você era casada com o . Pelo menos um deles não me dava esse problema. - O Stephen resmungou. Assim que senti um leve puxão e um beijo na bochecha, gritei por reflexo do susto e, quando olhei para trás, vi que era o próprio , que ria de mim. Bati no seu braço também e o Stephen suspirou:

- Falei cedo demais...

Ri e continuei ajudando, não dando tanta atenção assim ao . E isso pareceu irritá-lo um pouco. Mas mesmo assim, não mexeu comigo até que eu terminasse.

Então, dois dias antes de viajarmos, a Nadine ia para Derry, passar o Natal com a família dela. A Lola foi para o interior da Inglaterra também e, portanto, só sobramos os meninos e eu. Por serem bagunceiros, eu não me importei tanto assim em ficar alguns dias sem as duas.

Quando finalmente conseguimos vir embora, depois que a Nadine quase perdeu o voo por ficar se agarrando com o . Enquanto os dois davam um último beijo, comentei com o :

- Ruim com ela... Pior ainda sem a Nadine.

Ele riu e concordou.

- Você vai ver o que vai ser enquanto os dois estiverem separados...

Dei um meio sorriso e, vendo que estavam quase fechando o portão, dei um jeito de apressar a Nadine e ela finalmente foi.



No dia da nossa viagem, estávamos em Heathrow, esperando chamarem o voo. Aproveitando que o e o foram ao banheiro e o estava ouvindo música nos fones de ouvido, pude fingir que estava interessado no celular quando, na realidade, a espiava por cima da tela do aparelho. De repente, ela mexeu na bolsa e tirou o próprio celular. Como o estava sentado ao lado dela (E eu, de frente para os dois), ele perguntou alguma coisa e ela franziu o nariz, mexendo a cabeça negativamente. Justo quando o e o voltaram, avisaram que já podíamos embarcar e lá fomos nós. Enquanto esperávamos na fila, com as passagens em mãos, ouvi umas risadas baixas ali perto e, quando espiei por cima do ombro, vi duas adolescentes olhando para nós. A , que estava bem atrás de mim, ainda mexia na bolsa e resmungava alguma coisa. A espiando por cima do ombro, perguntei:

- O que te aconteceu para você ficar mais rabugenta que de costume?

- Não estou rabugenta. - Respondeu, seca.

- Está sim. Te conheço... - Falei e mostrei o bilhete de embarque para o funcionário da companhia. Me liberou e foi ver o da . Ao mesmo tempo, outro empregado via os bilhetes do e dos outros dois. Acabei andando mais à frente, ao lado da , e perguntei:

- Não vai me falar?

- Falar o quê se não tem nada a não ser você me pentelhando e me irritando cada vez mais?

- Tudo bem. - Respondi, erguendo as mãos em rendição. Me deu uma última olhada e, no final das contas, fomos embarcar.

Já dentro do avião, encontramos os nossos lugares (Sendo que o , o e o estavam sentados nas três poltronas do corredor central, na direção das nossas.) A se sentou à janela, eu ao seu lado e na poltrona da direção do corredor... Um cara de quarenta e poucos anos, parecendo o cara dos quadrinhos dos Simpsons. Igual até no tamanho. Sabia que aquilo não ia prestar e tive certeza, apesar de o voo não durar tanto tempo assim. Com quinze minutos de viagem, o cara começou a chamar a aeromoça e, quando ela veio atender, ele começou a pedir por comida. E a coitada teve que ser ajudada para conseguir trazer tudo.

Depois que se empanturrou, pegou no sono e a estava distraída, enquanto eu tentava me distrair com uma revista que tinha comprado no aeroporto mesmo. Mais quinze minutos, ele deitou no meu ombro. Discretamente, cutuquei a e, depois de ver o que tinha acontecido, disfar-çou uma risada. Sibilei:

- Você só está rindo porque ele não está deitado no seu ombro.

- Quer trocar de lugar? - Ofereceu e travei o maxilar. - Então não reclama.

O resto da viagem foi piorando cada vez mais. Não bastou ele começar a babar. Ainda teve... Problemas intestinais, se é que me entende. A quase chorava de rir, apesar de estar sofrendo também. Claro que os caras perceberam depois de um tempo e, assim que aterrissamos, tive de aguentar a zoação dos quatro.

- Ah, mas você é irresistível! - A me pro-vocou. - E hoje tivemos a prova de que consegue deixar até os homens babando...

Olhei feio para ela, que riu.

- O engraçado é que você nunca babou em cima do , não literalmente, não é? - O perguntou para ela, que negou.

- Por isso que foi só figurativamente. Se fosse literal, perdia todo o encanto. - A respondeu e o disse:

- Eu acho que não, viu? Aposto que o gostou do tiozinho babando em cima dele...

Dei um estalo impaciente com a língua e fomos pegar as malas. De cara, reconhecemos a rosa-choque da . Depois de pegarmos tudo que era nosso, fomos na direção do desembarque e logo, achamos nossas mães. Assim que fui dar um beijo e um abraço na minha, ela viu a .

- Finalmente! Como você está?

As duas se cumprimentaram e, logo que se soltaram, consegui apresentar a para as mães do e do .

Depois de algum tempo, quando chegamos em casa, minha mãe avisou:

- , você vai ficar no quarto do . Este ano vamos hospedar mais gente aqui em casa e, portanto, algumas pessoas vão ter de dividir os quartos.

- Tudo bem. - A ) respondeu e, em seguida, fomos para o andar de cima, arrumar nossas coisas. Enquanto eu desfazia a minha mala, ela fazia o mesmo até quando seu celular tocou. Pegou o aparelho e, depois de olhar rapidamente para o visor, soltou um resmungo e perguntei:

- O que foi?

Suspirando, finalmente admitiu:

- Alguém está dando chilique porque vim para cá. Acho ótimo que eu tinha que ficar sozinha em Londres em pleno Natal! Agora, acabei de receber uma mensagem dele, dizendo que a ia dar uma festa na casa dela e ia me chamar. Agora me diz qual é a graça de ficar no meio de um bando de gente chata e fútil, que só fica se achando melhor que os outros?

Dei um meio sorriso e a provoquei:

- Foi por isso então que você aceitou vir para cá?

Me olhou feio e respondeu:

- Foi por dois motivos. Um: Eu gosto da sua família. Desde o primeiro instante, todo mundo me tratou bem. Dois: Mesmo se ele estivesse em Londres e o convite para vir para cá estivesse de pé... Adivinha o que eu faria?

- Bom saber que todo mundo está em alta com você...

Sorriu e, de repente, ouvimos minha mãe batendo na porta, que estava aberta. Quis saber:

- Estão planejando alguma coisa para amanhã à noite?

- A princípio, nada. - Respondi. - Algum motivo?

- Estava pensando se vocês não animariam a ir patinar.

- Com quem? - Perguntei.

- Seus primos.

- Você se importa?- Olhei para a e ela negou com a cabeça. - Pode ser então.

- Vou falar com as suas tias então. , será que você pode me dar uma ajudinha?

- Claro. - Ela respondeu, se levantando da cama e saindo do quarto com a minha mãe. O entrou ali e se largou onde a ) estava. Perguntei:

- O que foi?

- Estou sentindo falta da Nadine. Muita.

- Quem diria, hein?

- É estranho... Quer dizer, a gente passou esses últimos anos perto um do outro e, de repente... Ela está na Irlanda e eu aqui.

- E você não aguenta mais ficar longe dela.

Negou.

- A Nadine não é tão... Normal quanto eu quanto pensava. Mesmo que a gente mais brigue que faça qualquer outra coisa, eu... Sei lá.

Entendi na mesma hora o que ela queria dizer.

- Você sabe que eu te apoio incondicionalmente nessa decisão, não é?

Assentiu. A entrou no quarto e disse:

- Eu realmente espero não ter atrapalhado alguma... Coisa.

- Não. - Falei.

- ... Você que conhece a Nadine o suficiente...

- Ai que medo. - Disse, vindo até a cama e se sentando ao lado dele.

- Eu estava pensando seriamente em pedir... - O começou a dizer, mas estava sem jeito.

- A Nadine em casamento? - Ela perguntou, não conseguindo esconder a animação. - Tem meu apoio incondicional. - Avisou, parecendo uma criança e nos fazendo rir um pouco.

- Me ajuda então? - O pediu. - Justamente por conhece-la bem, sabe o que ela gosta ou não...

- E eu acho que a gente quer que ela diga sim , não é?- A me perguntou e concordei. - Passando toda essa confusão de festa de final de ano, a gente já começa a botar a mão na massa.

Pela cara do , era óbvio que ele não estava esperando que ela fosse aceitar de cara. Não sei por quê, já que a sempre torcia para a felicidade das amigas...

Acabou que as minhas tias que viriam tiveram um problema com atraso de voo e, por isso, iriam chegar só na noite seguinte. Então, aproveitando a chance, o , a ) e eu ficamos vendo filme até tarde da noite. O estava esparramado num sofá de frente para o que eu dividia com a (Praticamente a obriguei a fazer isso, inclusive quase a imobilizando). Justo quando estávamos vendo um filme de terror, bem na parte mais sangrenta, percebi que ela tinha dormido. Toda enroscada em mim e com a cabeça e a mão sobre o meu peito. Olhei para o , que já estava nos observando. Uma coisa boa da ligação que tínhamos era isso: Não precisávamos falar nada que o outro já sabia o que estávamos pensando. Ele sorriu e me atrevi a fazer algo que sabia que ela não gostava, mas estava irresistível: Levei a mão até seus cabelos e comecei a acaricia-los de leve. Ela se mexeu, protestando um pouco e parei na mesma hora. Em seguida, a se aninhou ainda mais e acabei deixando a mão sobre a sua cintura, junto da outra. Continuei vendo o filme e não sei quando, exatamente, dormi. “Acordei” com a voz do e da minha mãe e senti que ela nos cobria. A ainda estava dormindo do mesmo jeito de antes e consegui entender só uma coisa que minha mãe disse:

- Não entendo por que ela simplesmente não fica com o ...

Depois disso, o sono me venceu de novo e quando finalmente acordei... Ouvi umas risadas baixas de criança. A ) se mexeu e sabia que ela também não estava mais dormindo. As risadas continuaram e abri um olho um pouco e vi meus primos mais novos, nos observando. Falei com a :

- Eu só queria entender o que é tão engraçado em ficar nos observando dormir...

- Também.

Fizeram aquele barulho característico de espanto e a ouvi dizer:

- É bom que vocês estejam preparados para tomar tombos hoje à noite.

Abri os olhos e vi os meus primos mais novos se entreolhando, todos confusos.

- Como assim? - O mais velho deles perguntou.

- Sério que vocês não sabem? Ih... Acho que ainda dá para manter o suspense. O que você acha, ? - Ela me perguntou e concordei. Claro que aquilo deixou meus primos curiosos, mas não contamos.

Assim, eles ficaram o dia inteiro nos enchendo para contarmos aonde íamos, mas tanto eu quanto a ) e o não dissemos um A que fosse. Conseguimos convencer o e o a irem com a gente.

Então, lá pelas sete da noite, saímos e, não demorou tanto assim para que meus primos descobriram onde estávamos indo.

Logo nos quinze minutos iniciais, devo ter caído ao menos cinco vezes por minuto. E a lá... Deslizando como se fizesse aquilo a vida inteira. Claro que ela não se atrevia a fazer rodopios, mas ainda sim...

Quando ela decidiu vir me ajudar, finalmente parei em pé por algum tempo. Mas tive que aguentar a zoação até dos meus primos.

Antes de irmos para a casa, fomos até uma lanchonete que ficava no meio do caminho e, enquanto a e eu íamos fazer os pedidos, o , o e o ficaram com a turma à mesa.

Depois que terminamos de comer e estávamos andando de volta para o meu carro, ouvi o perguntar para a :

- Por um acaso tem alguma chance de você fazer aquele doce que me falou a respeito lá em Londres?

- Qual doce? - Ela perguntou.

- Aquele do leite condensado...

- Ah sim... Ih, mas é a coisa mais besta...

- Mesmo assim. Se eu conseguir a lata de leite condensado, você faz?

Concordou.

Quando chegamos em casa, não perdi a oportunidade para perguntar:

- O que o quer tanto que você faça?

- Você vai ver... E comer.

Estranhei e até tentei fazer com que ela contasse, mas foi sem sucesso, claro.

Na noite de Natal, quando eu estava terminando de me arrumar, a estava ajudando a minha mãe a terminar de fazer a ceia e, como ela começou a se arrumar enquanto eu estava no banho e saiu do quarto ao mesmo tempo em que eu saía do banheiro, então não vi como ela estava.

Aos poucos, todo mundo foi chegando e, quando vi, aquela casa estava lotada. Meus primos menores corriam por todos os cantos, meus tios conversavam entre si (E o Gordon ali no meio), as mulheres pareciam estar todas enfiadas na cozinha... Imaginava que lá deveria estar como uma lata de sardinhas. Nem queria saber como elas faziam para sair do meio daquela confusão.

Quando tudo estava pronto e à mesa, cada um se sentou no lugar que minha mãe havia demarcado e óbvio que ela ia me deixar ao lado da . Como sempre... Vestido vermelho. E saltos altíssimos. Os cabelos estavam presos num rabo-de-cavalo lateral e ela estava linda, mesmo arrumada de maneira simples. Ria de alguma coisa que o falava e eu estava simplesmente hipnotizado. Só fui desviar a atenção dela quando uma tia me perguntou:

- Vocês não estão pensando em sair?

- Sair?

- É. Ir à alguma boate ou algo assim?

Olhei para o e a , que deram de ombros.

- , deixa eu te perguntar uma coisa. - Minha avó chamou sua atenção. - O seu namorado não briga por você trabalhar naquele bar em Londres?

- Encrenca, né? - Ela respondeu. - Mas é o meu trabalho. Por isso que ele tem que aceitar.

- E vocês já estão pensando em casamento?- Uma tia quis saber e a ficou meio sem jeito. Por isso, mudei o rumo da conversa, para o bar mesmo e contei do dia que fui leiloado:

-... E ela lá... Me obrigando a dançar. - Protestei e a ) ria.

- Eu queria ter visto isso... - Um dos meus primos, que tinha mais ou menos a nossa idade, disse.

- Eu filmei. - O falou. - Depois te mostro.

Claro que logo, todo mundo queria ver. Sibilei para a :

- Você me paga.

- Deixa comigo. - Respondeu, me dando uma piscada.

Depois da ceia, meus primos mais novos começaram a insistir para que pudessem abrir os presentes e, logo, o chão da sala estava coberto de papéis de presente rasgados. Aproveitando que todo mundo estava distraído, dei um jeito de atrair a para o meu quarto e ela avisou, se sentando na cama enquanto eu fechava a porta:

- Ok. Estou curiosa para saber o motivo de você ter me trazido aqui em cima.

- Não queria que ninguém mais visse.

- Visse o quê?

Fui até o closet e peguei a caixa preta de veludo, de tamanho médio e ela deveria estar imaginando que era uma caixa com anel dentro. Me sentei ao seu lado e entreguei para ela, dizendo:

- Feliz Natal, .

Estranhando, desfez o laço com fita vermelha e, assim que abriu e viu a pulseira que eu havia ganho naquele leilão para ela, não acreditou.

- É sério? - Perguntou e ri, concordando.

Me pegou de surpresa, pulando em cima de mim e me abraçando e agradecendo. Senti que beijou o meu rosto e falei:

- Tem outra coisa que eu quero te dar.

Franziu as sobrancelhas e entreguei outro presente. Era uma caixinha de música que eu havia encontrado num antiquário no dia anterior, quando saí com minha mãe. A deu a corda e, quando começou a ouvir a música, disse:

- Não! Você não fez isso!

Sorri e falei:

- Sabia que era a sua música preferida do Tokio Hotel e achei que seria um bom presente. Além de, claro, ser uma caixa de música antiga. A dona da loja me falou que era de 1880, mais ou menos. O que significa que...

- Era Vitoriana. , eu amei o presente. Muito obrigada mesmo.

Mantive meu sorriso e ela se levantou, indo até a mala. Ao ver que ela também tinha comprado alguma coisa para mim, ia protestar quando ela me entregou. Era uma caixa quadrada e a abri. Ao ver simplesmente três vinis originais do Bowie... Quase reagi como ela.

- Apesar de tudo... Não imaginava que ia vir para cá. Comprei ainda em Londres e planejava te dar assim que... Bom, ia dar um jeito de te entregar.

- Não podia ter sido um presente melhor...

Ouvimos umas batidas na porta e falei:

- Entra.

Logo, o apareceu e perguntou:

- O que vocês dois estão fazendo aqui?

- Fugindo um pouco da confusão. - Respondi. - E trocando presentes.

Ele viu os vinis e deu um sorriso tímido.

- A propósito... - A levantou e voltou para a mala, entregando o presente do . Os dois se abraçaram e percebi que ela falou algo só para ele, que concordou e, depois de soltá-la pediu que não demorássemos e saiu. Perguntei:

- O que você falou com ele?

- Ah... Nada demais. Vamos descer antes que mais alguém venha atrás de nós?

Eu ainda ia descobrir o que ela falou com o ...

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 7º capítulo


When I look in your eyes it's all gone

Eu sei que amor não deveria ser tão difícil assim
E as vezes ficamos no escuro
Mas você ilumina todo lugar que eu vou
E eu sei que um coração não deveria bater tão forte
E de vez em quando nós nadamos com os tubarões
Mas você ilumina e me mantêm fora do frio

(Girls Aloud - Untouchable)

Luiza

Dezembro chegou e o Bill finalmente pôde tirar o gesso do braço e acho que nunca ficou tão aliviado. O Tom e eu fomos com ele ao hospital e o médico havia avisado que não fizesse esforço e, de quebra, ainda deveria fazer um pouco de fisioterapia, só para prevenir. Quando entramos no meu carro, tive que provoca-lo:

- Como você foi muito bem comportado, se quiser eu te compro um sorvete.

Riu e disse:

- Olha que eu aceito a oferta e ainda abuso...

- É bom que aceite porque estou falando sério. - Avisei e ele ficou ali, com aquela cara de tacho. Acho que ele só acreditou que eu não estava de brincadeira quando parei o carro em frente à sorveteria...

No final daquela semana, a Di foi a primeira a se mudar para a casa nova. Com a recomen-dação do médico em mente, nós cuidamos para que, quando fomos ajudar a Nadine, ele não forçasse demais o braço.

- Veja lá, hein? - A Nadine falou, entregando um estilete para ele abrir as caixas que os carregadores traziam. Ele e a Sophia estavam sentados num canto da sala enquanto o resto de nós estava quase trombando de frente com o outro. No entanto, o mais estranho foi que o Alex cismou de ajudar na mudança. Tá, ele sempre era prestativo com as meninas, mas o que chamou a atenção de verdade foi o comportamento exemplar dele. Foi surpreendentemente educado com o Bill.

- Vamos fazer uma coisa. - Falei, tomando o estilete da mão dele. Procurei por uma caneta daquelas esferográficas e dei para ele. - Dica: Espeta a ponta no meio, onde fica o espaço entre as abas da caixa. - E pisquei, indo buscar mais uma caixa pequena que a Di tinha me dado. Para facilitar, ela contratou um caminhão, não muito grande, para transportar os móveis maiores, como a geladeira, sofá, a cama, estante e por aí vai. As coisas menores, como as roupas, os eletrodomésticos como batedeira, TV, rádio e etc, ela pediu para a Lola e o Charlie levarem. Eu fiquei encarregada de levar metade das peças de decoração, como vasos, tapetes, quadros e os enfeites.

Assim que a Lola trouxe o rádio, resmunguei:

- Ainda bem! Não aguentava mais esse silêncio!

- Que silêncio, criatura? O que mais tem aqui é barulho! - A ruiva reclamou e retru-quei:

- Silêncio de música que eu quis dizer.

Assim que ligamos o rádio, começou a tocar uma música que era impossível não conhecermos e não cantarmos: You get what you give, do New Radicals. Logo, eu e as meninas entrávamos e saíamos de casa cantando a música. Não demorou e o Charlie nos acompanhou e até os carregadores riram.

Depois que terminamos de ajudar a Nadine, só nós ficamos ali e, por causa do cansaço, nos sentamos. No chão. E cada uma com uma taça de vinho na mão.

- Agora tem uma coisa. - A Nicola, já alta, falou. - O Bill estava praticamente te co-mendo com o olhar.

- E daí? Não tirando pedaço... Tá ótimo. - Respondi.

- Uma pergunta, Izzy. - A Di começou a dizer. - Você sabe que a gente tem mais ou menos a mesma opinião, mas no seu caso específico... - Olhei para ela. - Acho que está óbvio que você e o Bill, por mais que tentem, não vão conseguir ficar só na amizade. E aquele dia do jogo, a gente viu como você ficou quando o Alex começou com as provocações...

Suspirei e admiti:

- Eu estive pensando seriamente nisso. Pesando todos os prós e contras de cada um...

- E aí? - A Lola quis saber. - Quem tem mais coisas ao seu favor?

Dei um meio sorriso e elas já foram tirando conclusão precipitada.

- Só para constar? A gente sempre gostou mais do Bill. - A ruiva comentou e eu avisei:

- Eu respondi alguma coisa? Não. Vocês que ficaram contando com o ovo ainda na... - Olhei para a Sophia, que dormia sobre o sofá. - Bom, ainda dentro da galinha. Eu ia falar que simplesmente não ia contar.

- Porque está óbvio quem ganha essa... Briga. - A Nadine disse.

- Pensou que, justamente por ser óbvio que pode não ser? - Perguntei e fiquei pensando na resposta. Me pareceu um pouco... complexa para alguém que estava sob o efeito do álcool.

- Já sei. - A Lola falou, se sentando sobre as pernas e ficando de frente para nós. - Quais os pontos em comum entre eles?

Eu tive que rir.

- Um a gente já sabe que é o fato de os dois fazerem bem seu tipo... Aquela cara de bad boy sedutor - Ela começou, com os olhos azuis brilhando tanto que me lembraram de duas safiras. - com barba por fazer...

- Topete... - A Nadine adicionou e eu ri ainda mais.

- Só interrompendo. O topete não tem nada a ver com a história.

- Sério? - A Lola perguntou e concordei. - Enfim. Prosseguindo. Os dois têm tatuagem em lugar estratégico... Têm um físico que olha...

Rimos e ela continuou enumerando as qualidades que os dois tinham. Logo, quiseram saber dos defeitos e fui honesta:

- Os dois conseguem ser extremamente cabeças-duras. Bobear, tanto quanto eu, principalmente o Bill. A hora que ele teimava comigo, acho que faltava pouco para acontecer alguma coisa mais séria.

- E o que mais?- A Di perguntou.

Falei de tudo que conseguia lembrar e que os dois tinham em comum. No final, as meninas continuaram ao lado dele.

No final da semana seguinte, foi a festa de Natal lá do bar e eu estava insuportável, porque o Alex me obrigou a cancelar todo e qualquer plano que eu tinha feito para o Natal, dizendo que queria ficar comigo, mas tinha acontecido um imprevisto e ele não ia poder voltar para a casa até o ano novo. Claro que eu briguei e, no final das contas, estava uma pilha de nervos. E, para completar, ainda tinha que usar a fantasia idiota de elfo que o Stephen mandou. O problema não era a fantasia por si só; Eram os malditos sapatos, com ponta virada e um guizo. Então, a cada passo que qualquer uma das coyotes dava, ouvia-se o barulho do maldito sino.

- Merda! - Exclamei quando, por muito pouco mesmo, não deixei uma garrafa cair. Por sorte, eu estava virada de costas para o balcão e, pelo bar estar lotado, passei despercebida. Quer dizer, era isso o que achava até ver o Bill parado ao meu lado. Chamou uma das outras coyotes e pediu que ela terminasse o drink para mim. Em seguida, me levou até a saleta onde as meninas e os lobinhos costumavam usar para guardar as roupas ou até mesmo fazer a pausa e, como estava vazia, ele só fechou a porta antes de me fazer sentar num banco de madeira que havia bem no meio do lugar. Suspirei e ele perguntou:

- O que foi?

- Eu estou para cometer um... Namoricídio. - Riu fraco e expliquei o que tinha acontecido. Então, ele falou:

- Está decidido. Você vem comigo para Hamburgo. A minha mãe estava insistindo para que eu fizesse o que fosse preciso para te levar junto e até mandou a passagem. Acho que você tinha que ir. Ainda mais que este ano vai juntar todo mundo.

- Todo mundo?

- É. Quer dizer, no dia 25, os pais do Georg e do Gustav, além das namoradas e dos irmãos vão lá para a casa da minha avó.

- Então foi tudo minuciosamente planejado?

Sorriu maroto.

- Wow... - Falei, impressionada. - Eu realmente agradeço, mas...

- Ah sim. Minha mãe pediu para avisar que não aceita não e é capaz de te vir bus-car. Eu te aconselho a ir espontaneamente, sem qualquer pressão.

Ri e perguntei:

- Não vou incomodar?

- Claro que não! Se ela te chamou é porque tem motivo. Quer dizer, além de ela gostar de você e estar sentindo saudade...

Dei um sorriso fraco e admiti que era recíproco.

- Então... Ela realmente mandou a passagem?

Concordou.

- A gente vai dia 21. Não se preocupa porque já cuidei de tudo. Inclusive, um lugar de confiança para a Vivi ficar durante a viagem.

- Eu não sei se você sabe, mas a Nicola vai ficar aqui. Ela sempre olhou a Vivi para mim quando precisei.

- E em troca, você olha a Sophia. Me parece justo, mas foi indicação da própria Lola. É bom porque, se precisar, tem um veterinário de plantão.

Dei de ombros, concordando no final.

- Não fica assim. Você vai ver. Vai ser bom ficar esses dias longe daqui, sem ficar pensando em... Certas coisas.

Dei um meio sorriso e tivemos que voltar.

Não muito tempo depois, tive que me apresentar com as meninas e tínhamos brincado a respeito. Íamos cantar músicas típicas de Natal e logo a primeira era uma cover de Jingle Bell Rock. Inevitavelmente, nos lembramos do filme “Meninas malvadas”. O figurino era um pouco diferente, assim como as meninas que estavam se apresentando (Apesar de também ter uma ruiva), mas ainda sim...

As meninas e eu nos esforçávamos para manter a pose séria, mas, vez ou outra, acabávamos não resistindo e trocávamos um sorriso cúmplice. Como deu para perceber, nós preferíamos mais as apresentações “normais” (Sem ser as das festas, como esta de Natal e até a de Halloween - As fantasias costumavam incomodar e muito na hora de dançarmos) à essas... Festivas, Sem falar que era muito mais fácil dançar só com uma camiseta e jeans.

No final daquela noite, o Tom ficou provocando a Nadine o tempo inteiro e, enquanto a Lola e eu ajudávamos o Stephen com as contas daquela noite, ouvimos um estalo e, quando olhamos, a Di estava dando uns tapas no Tom. Olhei para a Lola, que ria. O Stephen também viu e disse:

- Nadine, bate mais leve aí que estamos fazendo conta.

Ela deu um último tapa, com mais força ainda e se sentou num dos bancos, de pernas e braços cruzados.

-... E Tom começando a puxar o saco dela em 5... 4... 3... - Comecei a dizer e a Nicola riu fraco.

- Ai, saudade do tempo que você era casada com o Bill. Pelo menos um deles não me dava esse problema. - O Stephen resmungou. Assim que senti um leve puxão e um beijo na bochecha, gritei por reflexo do susto e, quando olhei para trás, vi que era o próprio Bill, que ria de mim. Bati no seu braço também e o Stephen suspirou:

- Falei cedo demais...

Ri e continuei ajudando, não dando tanta atenção assim ao Bill. E isso pareceu irritá-lo um pouco. Mas mesmo assim, não mexeu comigo até que eu terminasse.

Então, dois dias antes de viajarmos, a Nadine ia para Derry, passar o Natal com a família dela. A Lola foi para o interior da Inglaterra também e, portanto, só sobramos os meninos e eu. Por serem bagunceiros, eu não me importei tanto assim em ficar alguns dias sem as duas.

Quando finalmente conseguimos vir embora, depois que a Nadine quase perdeu o voo por ficar se agarrando com o Tom. Enquanto os dois davam um último beijo, comentei com o Bill:

- Ruim com ela... Pior ainda sem a Nadine.

Ele riu e concordou.

- Você vai ver o que vai ser enquanto os dois estiverem separados...

Dei um meio sorriso e, vendo que estavam quase fechando o portão, dei um jeito de apressar a Nadine e ela finalmente foi.

Bill

No dia da nossa viagem, estávamos em Heathrow, esperando chamarem o voo. Aproveitando que o Georg e o Gustav foram ao banheiro e o Tom estava ouvindo música nos fones de ouvido, pude fingir que estava interessado no celular quando, na realidade, a espiava por cima da tela do aparelho. De repente, ela mexeu na bolsa e tirou o próprio celular. Como o Tom estava sentado ao lado dela (E eu, de frente para os dois), ele perguntou alguma coisa e ela franziu o nariz, mexendo a cabeça negativamente. Justo quando o Georg e o Gustav voltaram, avisaram que já podíamos embarcar e lá fomos nós. Enquanto esperávamos na fila, com as passagens em mãos, ouvi umas risadas baixas ali perto e, quando espiei por cima do ombro, vi duas adolescentes olhando para nós. A Luiza, que estava bem atrás de mim, ainda mexia na bolsa e resmungava alguma coisa. A espiando por cima do ombro, perguntei:

- O que te aconteceu para você ficar mais rabugenta que de costume?

- Não estou rabugenta. - Respondeu, seca.

- Está sim. Te conheço... - Falei e mostrei o bilhete de embarque para o funcionário da companhia. Me liberou e foi ver o da Luiza. Ao mesmo tempo, outro empregado via os bilhetes do Tom e dos outros dois. Acabei andando mais à frente, ao lado da Luiza, e per-guntei:

- Não vai me falar?

- Falar o quê se não tem nada a não ser você me pentelhando e me irritando cada vez mais?

- Tudo bem. - Respondi, erguendo as mãos em rendição. Me deu uma última olhada e, no final das contas, fomos embarcar.

Já dentro do avião, encontramos os nossos lugares (Sendo que o Tom, o Georg e o Gustav estavam sentados nas três poltronas do corredor central, na direção das nossas.) A Luiza se sentou à janela, eu ao seu lado e na poltrona da direção do corredor... Um cara de quarenta e poucos anos, parecendo o cara dos quadrinhos dos Simpsons. Igual até no tamanho. Sabia que aquilo não ia prestar e tive certeza, apesar de o voo não durar tanto tempo assim. Com quinze minutos de viagem, o cara começou a chamar a aeromoça e, quando ela veio atender, ele começou a pedir por comida. E a coitada teve que ser ajudada para conseguir trazer tudo.

Depois que se empanturrou, pegou no sono e a Luiza estava distraída, enquanto eu tentava me distrair com uma revista que tinha comprado no aeroporto mesmo. Mais quinze minutos, ele deitou no meu ombro. Discretamente, cutuquei a Luiza e, depois de ver o que tinha acontecido, disfarçou uma risada. Sibilei:

- Você só está rindo porque ele não está deitado no seu ombro.

- Quer trocar de lugar? - Ofereceu e travei o maxilar. - Então não reclama.

O resto da viagem foi piorando cada vez mais. Não bastou ele começar a babar. Ainda teve... Problemas intestinais, se é que me entende. A Luiza quase chorava de rir, apesar de estar sofrendo também. Claro que o meu irmão e os meus amigos perceberam depois de um tempo e, assim que aterrissamos, tive de aguentar a zoação dos quatro.

- Ah, mas você é irresistível! - A Luiza me provocou. - E hoje tivemos a prova de que consegue deixar até os homens babando...

Olhei feio para ela, que riu.

- O engraçado é que você nunca babou em cima do Bill, não literalmente, não é? - O Tom perguntou para ela, que negou.

- Por isso que foi só figurativamente. Se fosse literal, perdia todo o encanto. - A Luiza respondeu e o Georg disse:

- Eu acho que não, viu? Aposto que o Bill gostou do tiozinho babando em cima dele...

Dei um estalo impaciente com a língua e fomos pegar as malas. De cara, reconhecemos a rosa-choque da Luiza. Depois de pegarmos tudo que era nosso, fomos na direção do desembarque e logo, achamos nossas mães. Assim que fui dar um beijo e um abraço na minha, ela viu a Luiza.

- Finalmente! Como você está?

As duas se cumprimentaram e, logo que se soltaram, consegui apresentar a Luiza para as mães do Gustav e do Georg.

Depois de algum tempo, quando chegamos em casa, minha mãe avisou:

- Luiza, você vai ficar no quarto do Bill. Este ano vamos hospedar mais gente aqui em casa e, portanto, algumas pessoas vão ter de dividir os quartos.

- Tudo bem. - A Iza respondeu e, em seguida, fomos para o andar de cima, arrumar nossas coisas. Enquanto eu desfazia a minha mala, ela fazia o mesmo até quando seu celular tocou. Pegou o aparelho e, depois de olhar rapidamente para o visor, soltou um resmungo e perguntei:

- O que foi?

Suspirando, finalmente admitiu:

- Alguém está dando chilique porque vim para cá. Acho ótimo que eu tinha que ficar sozinha em Londres em pleno Natal! Agora, acabei de receber uma mensagem dele, dizendo que a Lee ia dar uma festa na casa dela e ia me chamar. Agora me diz qual é a graça de ficar no meio de um bando de gente chata e fútil, que só fica se achando melhor que os outros?

Dei um meio sorriso e a provoquei:

- Foi por isso então que você aceitou vir para cá?

Me olhou feio e respondeu:

- Foi por dois motivos. Um: Eu gosto da sua família. Desde o primeiro instante, todo mundo me tratou bem. Dois: Mesmo se ele estivesse em Londres e o convite para vir para cá estivesse de pé... Adivinha o que eu faria?

- Bom saber que todo mundo está em alta com você...

Sorriu e, de repente, ouvimos minha mãe batendo na porta, que estava aberta. Quis saber:

- Estão planejando alguma coisa para amanhã à noite?

- A princípio, nada. - Respondi. - Algum motivo?

- Estava pensando se vocês não animariam a ir patinar.

- Com quem? - Perguntei.

- Seus primos.

- Você se importa?- Olhei para a Luiza e ela negou com a cabeça. - Pode ser então.

- Vou falar com as suas tias então. Luiza, será que você pode me dar uma ajudinha?

- Claro. - Ela respondeu, se levantando da cama e saindo do quarto com a minha mãe. O Tom entrou ali e se largou onde a Iza estava. Perguntei:

- O que foi?

- Estou sentindo falta da Nadine. Muita.

- Quem diria, hein?

- É estranho... Quer dizer, a gente passou esses últimos anos perto um do outro e, de repente... Ela está na Irlanda e eu aqui.

- E você não aguenta mais ficar longe dela.

Negou.

- A Nadine não é tão... Normal quanto eu quanto pensava. Mesmo que a gente mais brigue que faça qualquer outra coisa, eu... Sei lá.

Entendi na mesma hora o que ela queria dizer.

- Você sabe que eu te apoio incondicionalmente nessa decisão, não é?

Assentiu. A Luiza entrou no quarto e disse:

- Eu realmente espero não ter atrapalhado alguma... Coisa.

- Não. - Falei.

- Luiza... Você que conhece a Nadine o suficiente...

- Ai que medo. - Disse, vindo até a cama e se sentando ao lado dele.

- Eu estava pensando seriamente em pedir... - O Tom começou a dizer, mas estava sem jeito.

- A Nadine em casamento? - Ela perguntou, não conseguindo esconder a animação. - Tem meu apoio incondicional. - Avisou, parecendo uma criança e nos fazendo rir um pouco.

- Me ajuda então? - O Tom pediu. - Justamente por conhece-la bem, sabe o que ela gosta ou não...

- E eu acho que a gente quer que ela diga sim , não é?- A Luiza me perguntou e concordei. - Passando toda essa confusão de festa de final de ano, a gente já começa a botar a mão na massa.

Pela cara do Tom, era óbvio que ele não estava esperando que ela fosse aceitar de cara. Não sei por quê, já que a Luiza sempre torcia para a felicidade das amigas...

Acabou que as minhas tias que viriam tiveram um problema com atraso de voo e, por isso, iriam chegar só na noite seguinte. Então, aproveitando a chance, o Tom, a Iza e eu ficamos vendo filme até tarde da noite. O Tom estava esparramado num sofá de frente para o que eu dividia com a Luiza (Praticamente a obriguei a fazer isso, inclusive quase a imobilizando). Justo quando estávamos vendo um filme de terror, bem na parte mais sangrenta, percebi que ela tinha dormido. Toda enroscada em mim e com a cabeça e a mão sobre o meu peito. Olhei para o Tom, que já estava nos observando. Uma coisa boa da ligação que tínhamos era isso: Não precisávamos falar nada que o outro já sabia o que estávamos pensando. Ele sorriu e me atrevi a fazer algo que sabia que ela não gostava, mas estava irresistível: Levei a mão até seus cabelos e comecei a acaricia-los de leve. Ela se mexeu, protestando um pouco e parei na mesma hora. Em seguida, a Luiza se aninhou ainda mais e acabei deixando a mão sobre a sua cintura, junto da outra. Continuei vendo o filme e não sei quando, exatamente, dormi. “Acordei” com a voz do Tom e da minha mãe e senti que ela nos cobria. A Luiza ainda estava dormindo do mesmo jeito de antes e consegui entender só uma coisa que minha mãe disse:

- Não entendo por que ela simplesmente não fica com o Bill...

Depois disso, o sono me venceu de novo e quando finalmente acordei... Ouvi umas risadas baixas de criança. A Iza se mexeu e sabia que ela também não estava mais dormindo. As risadas continuaram e abri um olho um pouco e vi meus primos mais novos, nos observando. Falei com a Luiza:

- Eu só queria entender o que é tão engraçado em ficar nos observando dormir...

- Também.

Fizeram aquele barulho característico de espanto e a ouvi dizer:

- É bom que vocês estejam preparados para tomar tombos hoje à noite.

Abri os olhos e vi os meus primos mais novos se entreolhando, todos confusos.

- Como assim? - O mais velho deles perguntou.

- Sério que vocês não sabem? Ih... Acho que ainda dá para manter o suspense. O que você acha, Bill? - Ela me perguntou e concordei. Claro que aquilo deixou meus primos curiosos, mas não contamos.

Assim, eles ficaram o dia inteiro nos enchendo para contarmos aonde íamos, mas tanto eu quanto a Iza e o Tom não dissemos um A que fosse. Conseguimos convencer o Georg e o Gustav a irem com a gente.

Então, lá pelas sete da noite, saímos e, não demorou tanto assim para que meus primos descobriram onde estávamos indo.

Logo nos quinze minutos iniciais, devo ter caído ao menos cinco vezes por minuto. E a Luiza lá... Deslizando como se fizesse aquilo a vida inteira. Claro que ela não se atrevia a fazer rodopios, mas ainda sim...

Quando ela decidiu vir me ajudar, finalmente parei em pé por algum tempo. Mas tive que aguentar a zoação até dos meus primos.

Antes de irmos para a casa, fomos até uma lanchonete que ficava no meio do caminho e, enquanto a Luiza e eu íamos fazer os pedidos, o Tom, o Georg e o Gustav ficaram com a turma à mesa.

Depois que terminamos de comer e estávamos andando de volta para o meu carro, ouvi o Georg perguntar para a Luiza:

- Por um acaso tem alguma chance de você fazer aquele doce que me falou a respeito lá em Londres?

- Qual doce? - Ela perguntou.

- Aquele do leite condensado...

- Ah sim... Ih, mas é a coisa mais besta...

- Mesmo assim. Se eu conseguir a lata de leite condensado, você faz?

Concordou.

Quando chegamos em casa, não perdi a oportunidade para perguntar:

- O que o Georg quer tanto que você faça?

- Você vai ver... E comer.

Estranhei e até tentei fazer com que ela contasse, mas foi sem sucesso, claro.

Na noite de Natal, quando eu estava terminando de me arrumar, a Luiza estava ajudando a minha mãe a terminar de fazer a ceia e, como ela começou a se arrumar enquanto eu estava no banho e saiu do quarto ao mesmo tempo em que eu saía do banheiro, então não vi como ela estava.

Aos poucos, todo mundo foi chegando e, quando vi, aquela casa estava lotada. Meus primos menores corriam por todos os cantos, meus tios conversavam entre si (E o Gordon ali no meio), as mulheres pareciam estar todas enfiadas na cozinha... Imaginava que lá deveria estar como uma lata de sardinhas. Nem queria saber como elas faziam para sair do meio daquela confusão.

Quando tudo estava pronto e à mesa, cada um se sentou no lugar que minha mãe havia demarcado e óbvio que ela ia me deixar ao lado da Luiza. Como sempre... Vestido vermelho. E saltos altíssimos. Os cabelos estavam presos num rabo-de-cavalo lateral e ela estava linda, mesmo arrumada de maneira simples. Ria de alguma coisa que o Tom falava e eu estava simplesmente hipnotizado. Só fui desviar a atenção dela quando uma tia me perguntou:

- Vocês não estão pensando em sair?

- Sair?

- É. Ir à alguma boate ou algo assim?

Olhei para o Tom e a Luiza, que deram de ombros.

- Luiza, deixa eu te perguntar uma coisa. - Minha avó chamou sua atenção. - O seu namorado não briga por você trabalhar naquele bar em Londres?

- Encrenca, né? - Ela respondeu. - Mas é o meu trabalho. Por isso que ele tem que aceitar.

- E vocês já estão pensando em casamento?- Uma tia quis saber e a Luiza ficou meio sem jeito. Por isso, mudei o rumo da conversa, para o bar mesmo e contei do dia que fui leiloado:

-... E ela lá... Me obrigando a dançar. - Protestei e a Iza ria.

- Eu queria ter visto isso... - Um dos meus primos, que tinha mais ou menos a nossa idade, disse.

- Eu filmei. - O Tom falou. - Depois te mostro.

Claro que logo, todo mundo queria ver. Sibilei para a Luiza:

- Você me paga.

- Deixa comigo. - Respondeu, me dando uma piscada.

Depois da ceia, meus primos mais novos começaram a insistir para que pudessem abrir os presentes e, logo, o chão da sala estava coberto de papéis de presente rasgados. Aproveitando que todo mundo estava distraído, dei um jeito de atrair a Luiza para o meu quarto e ela avisou, se sentando na cama enquanto eu fechava a porta:

- Ok. Estou curiosa para saber o motivo de você ter me trazido aqui em cima.

- Não queria que ninguém mais visse.

- Visse o quê?

Fui até o closet e peguei a caixa preta de veludo, de tamanho médio e ela deveria estar imaginando que era uma caixa com anel dentro. Me sentei ao seu lado e entreguei para ela, dizendo:

- Feliz Natal, Luiza.

Estranhando, desfez o laço com fita vermelha e, assim que abriu e viu a pulseira que eu havia ganho naquele leilão para ela, não acreditou.

- É sério? - Perguntou e ri, concordando.

Me pegou de surpresa, pulando em cima de mim e me abraçando e agradecendo. Senti que beijou o meu rosto e falei:

- Tem outra coisa que eu quero te dar.

Franziu as sobrancelhas e entreguei outro presente. Era uma caixinha de música que eu havia encontrado num antiquário no dia anterior, quando saí com minha mãe. A Luiza deu a corda e, quando começou a ouvir a música, disse:

- Não! Você não fez isso!

Sorri e falei:

- Sabia que era a sua música preferida do Tokio Hotel e achei que seria um bom presente. Além de, claro, ser uma caixa de música antiga. A dona da loja me falou que era de 1880, mais ou menos. O que significa que...

- Era Vitoriana. Bill, eu amei o presente. Muito obrigada mesmo.

Mantive meu sorriso e ela se levantou, indo até a mala. Ao ver que ela também tinha comprado alguma coisa para mim, ia protestar quando ela me entregou. Era uma caixa quadrada e a abri. Ao ver simplesmente três vinis originais do Bowie... Quase reagi como ela.

- Apesar de tudo... Não imaginava que ia vir para cá. Comprei ainda em Londres e planejava te dar assim que... Bom, ia dar um jeito de te entregar.

- Não podia ter sido um presente melhor...

Ouvimos umas batidas na porta e falei:

- Entra.

Logo, o Tom apareceu e perguntou:

- O que vocês dois estão fazendo aqui?

- Fugindo um pouco da confusão. - Respondi. - E trocando presentes.

Ele viu os vinis e deu um sorriso tímido.

- A propósito... - A Luiza levantou e voltou para a mala, entregando o presente do Tom. Os dois se abraçaram e percebi que ela falou algo só para ele, que concordou e, depois de soltá-la pediu que não demorássemos e saiu. Perguntei:

- O que você falou com ele?

- Ah... Nada demais. Vamos descer antes que mais alguém venha atrás de nós?

Eu ainda ia descobrir o que ela falou com o Tom...