quarta-feira, 6 de abril de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 14º capítulo


Come and take a walk on the wild side

É por engano ou planejado?
Me sinto tão sozinha em uma sexta à noite
Você pode fazer eu me sentir em casa
Se eu disser que você é meu?
É como te disse, querido

(Lana Del Rey - Born to die)

Luiza

Conforme o combinado, no domingo fiz a mudança. E, para minha surpresa, veio todo mundo me ajudar. Até a Sophia. Assim que o Alex viu o Bill, deu para sentir a tensão entre os dois, mas, por sorte, a Lola logo veio pedir a ajuda do segundo e as coisas se desanuviaram um pouco. A Claire comentou, quando todas nós estávamos terminando de desembalar as coisas da cozinha:

- Era só eu quem estava prevendo uma tragédia daquelas no encontro do Bill e do Alex?

- Não. - Dissemos em coro.

- Parecia que eu estava sentindo... - A Lola comentou.

Naquele instante, o Bill entrou na cozinha, trazendo uma caixa e parecia estar fazendo um esforço tremendo de modo que tinha dobrado o braço um pouco e, por isso e até por causa da força, ressaltava os seus bíceps. Olhei para as meninas, que tentavam segurar o riso. O Bill perguntou:

- Onde eu coloco?

- Pode colocar aqui. - Indiquei a cadeira que estava do meu lado. Ele pôs a caixa ali e, sem dizer nada, saiu. Fiz sinal para as meninas não fazerem qualquer barulho e fui ver se ele estava longe o suficiente. Peguei a mesma caixa que ele segurava e levantei. Tinha certeza que era extremamente leve e, assim que confirmei, falei:

- Quando a pessoa quer bancar o pavão... É difícil.

Elas riram na mesma hora e a Lola perguntou:

- Quer dizer então que todo aquele esforço era fingimento?

Concordei.

- Ele estava querendo era ficar se exibindo. - Respondi, abrindo a caixa e descobrindo que ali tinham as coisas como alguns utensílios tipo ralador, tampas de garrafas, formas de silicone e etc.

O Alex entrou e fazendo exatamente a mesma coisa. Quase se desequilibrou e, achando que aquela caixa era igualmente leve, só tirei a que o Bill tinha posto sobre a cadeira e falei com o Alex para coloca-la ali. Ele deu uma olhada na cadeira e acabou colocando a caixa em cima da bancada.

- Acho que a metade das louças está aí. - Ele comentou e abri a tampa. Realmente estava muito pesada e, para tentar consolá-lo, dei um beijo rápido nele.

No final da tarde, o Alex teve que ir até a casa da Lee e o único que quis ficar ali me ajudando foi o Bill. Quando ele estava me ajudando a organizar os livros numa estante na sala de estar, perguntei:

- E aí? Já sabe quando vamos finalmente ser vizinhos?

- Semana que vem, sem ser na próxima. Já marquei com o pessoal da mudança.

- A hora que quiser que eu vá até o prédio e te ajude a levar as coisas...

- Eu te aviso, pode deixar. - Respondeu. Abriu uma das caixas e encontrou as minhas fotos ali dentro. Eram desde a infância até as mais recentes, tiradas no bar há poucos dias. Pegou uma e disse:

- Essa foi a primeira das suas fotos que eu vi.

Olhei e resmunguei:

- Ai meu Deus.

A foto não era tão sexy quanto algumas que eu tinha feito para o Stephen usar no site do bar (Que acabaram nem entrando na minha galeria, no final das contas). Aquela em especial era sombreada e tinha mais tons escuros, apesar de ser colorida. Eu estava com os cabelos mais lisos do que de costume graças à uma escova e usava um blazer preto, mais ajustado na cintura. Por baixo... Nada. Lembro de ficar um pouco reticente, mas, graças à muitas fitas dupla-face que eu coloquei para segurar a peça de roupa no lugar e não mostrar mais do que deveria, me senti mais segura. Usava um sautoir, que era aquele colar comprido, típico da década de 20, feito de ouro branco e com brilhantes na corrente e, no final, uma pedra de topázio em forma de gota. O Alex, vendo que eu tinha gostado do colar... Convenceu o leiloeiro que tinha emprestado o bendito, a vendê-lo. O resultado era que o sautoir estava guardado na minha caixa de joias.

- Lembro que vi a foto no dia que a gente se casou. - O Bill disse. Olhei para ele, surpresa.

- Sério?

Começou a ficar sem jeito e perguntei:

- Ok. O que mais você aprontou?

- Eu... Olhei o site do bar durante a pesquisa sobre Doctor Who. O Tom lembrava da Nadine e da Nicola e lembrava do nome e... Foi fácil descobrir o seu perfil. Tinha essa foto lá e por isso que foi a primeira.

Olhei para ele e falei:

- É a sua preferida?

- Não. A que eu mais gosto já tenho.

Franzi as sobrancelhas e ele logo deu um jeito de mudar de assunto. Ficou ali me ajudando até altas horas e, por causa do horário, consegui convencê-lo a dormir ali.

No dia do meu aniversário, convenci o Stephen a me dar carta branca e, logo que o bar atingiu sua capacidade máxima, esperamos só a música acabar e refizemos a apresentação inspirada no desfile da Victoria’s secret, mas com as asas e as roupas um pouco diferentes. Justamente por estar planejando essa apresentação há algum tempo, então tivemos tempo suficiente para mandar fazer as asas. A da Nicola era a mais legal de todas, por ter luzes coloridas de neon. Pareciam asas de libélula, mas desenhadas pela Sophia (Que, aliás, eram. A Lola simplesmente pediu para a filha fazer o desenho e pronto.). As da Di eram mais parecidas com as de borboleta, acinzentadas e com várias borboletas claras presas. As da Claire eram arredondadas e em tons de azul e roxo bem clarinho mesmo, com alguns reflexos verdes. A segunda mais legal era a da Seren: Bolhas. As minhas eram comuns, tipo as da Di, só que em lilás. No entanto, a maior surpresa foi quando vimos a Seren caminhar perfeitamente e com uma segurança assombrosa sobre um par de saltos maiores que os que usávamos.

- Como pode?- Perguntei, chocada.

- Minha mãe me obrigou a fazer um curso de modelo quando eu tinha uns dezoito anos. - Ela respondeu. - Só que eu era rebelde demais. E sempre achei que saltos eram desconfortáveis. Sem falar que sou desastrada, então...

Mas, mesmo assim, estávamos em choque com tudo.

Depois de algum tempo, já estávamos em posição enquanto o vídeo da introdução era exibido. Tínhamos feito como da primeira vez, com uma espécie de backstage do desfile da Victoria’s secret. Logo, a música começou a mudar e, conforme havíamos ensaiado, a Claire foi a primeira a desfilar.

- Stephen pirando em cinco... Quatro... Três... - A Di provocou e ri. Vimos a Claire chegando à beirada da passarela e mandando um beijinho bem na direção da janela do escritório do chefe. Seguramos o riso enquanto ela voltava e se posicionava. A Seren foi a seguinte e só não estava silencioso ali porque tinha a música. De improviso, ela pôs as mãos na cintura, piscou e sorriu. A Nicola, ao chegar ao final da passarela, ela mexeu no cabelo e deu um sorriso tímido. A Di foi a próxima e, quando foi a vez dela, deu uma mordida no lábio inferior e piscou. E eu fui a última. Sentindo os meus pés pesarem uma tonelada, respirei fundo enquanto andava. Ao chegar no final da passarela, vi que o Alex estava ali. Mas meu olhar foi atraído para o bar e vi o Bill, embasbacado. Dei um meio sorriso e pisquei para ele. Em seguida, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: Levantei os braços e dei um gritinho, como se estivesse num show de rock. Em seguida, fui até o meu lugar, à esquerda da Di, que começou a cantar a música. Era a mesma da outra vez, mas fez tanto sucesso quanto.

Por causa do peso das asas, assim que a música acabou, corremos para os bastidores e os assistentes do artista que tinha feito as benditas cujas nos ajudaram a tirá-las. Já de volta ao palco, começamos a dançar e, como sempre, a Di foi a primeira a cantar. Aproveitei essa chance para olhar para o pessoal ali. Não que não fizesse isso normalmente, mas justamente por poder prestar atenção melhor que eu aproveitei a chance.

Quando os dançarinos vieram, eu pude ver o Alex ficando sério, mas pelo menos não tinha feito nada. Quer dizer, até o rapaz que dançava comigo pegar na minha perna. Sabia que, quando ele tivesse a chance, ia me fazer ouvir suas reclamações.

Tudo correu muito bem, obrigada, até mais ou menos o intervalo entre a quarta e a quinta música. Ouvi um burburinho e as meninas até tentaram me chamar, falando que íamos atrasar, mas, quando vi, o Alex tinha dado um jeito de subir ao palco e eu fui até ele e perguntei:

- O... Que você está fazendo?

- Eu vou ser rápido. - Falou. - Me empresta, por favor. - Pegou o microfone das mi-nhas mãos e disse: - Hã... Boa noite.

Obviamente, atraiu a atenção de todo mundo e isso serviu de incentivo para ele continuar:

- Há quase sete anos eu entrei numa lojinha esotérica em Fitzrovia atrás de um presente para uma amiga. Voltei nessa loja todo santo dia até conseguir convencer a vendedora a sair comigo. Tivemos alguns percalços no caminho - Eu sabia que ele estava olhando para o Bill. - Mas mesmo assim, tenho certeza do que eu quero.

De repente, ele pôs o microfone no bolso traseiro do jeans e se ajoelhou na minha frente. Em algum momento, ele conseguiu pegar um anel de ouro branco e brilhantes.

- Ai meu Deus! - Falei, entendendo o que estava acontecendo. - Alex, levanta.

- Luiza... Você aceita se casar comigo?

A minha vontade foi a de falar um palavrão.

- Levanta. Por favor. - Pedi. Ele obedeceu e o levei até o camarim. Fechei a porta e avisei: - A minha vontade é a de descer o braço em você.

- O que eu fiz?

- Proposta de casamento na frente de todo mundo. De gente que nem nos conhece, de gente que nos conhece e...

- É por causa do Bill?

- Quê? Claro que não! O Bill está enrolado com a Seren.

- Mas ainda te cerca que nem uma mosca cerca um sonho de padaria!

Suspirei e respondi:

- Eu estou brava justamente porque era um momento nosso. Não acho que era nem a hora e lugar.

Respirou fundo e disse:

- Sua reação por si só já dá a entender é a sua resposta.

- Mas ô raiva que eu tenho dessa mania de todo mundo tirar conclusão precipitada!

Franziu as sobrancelhas.

- Eu aceito. - Respondi e ele me surpreendeu, me abraçando e me tirando do chão. Fui tão pega de surpresa que até dei um gritinho. Me beijou do jeito mais apaixonado imaginável e só fomos interrompidos pelas meninas, que tinham que trocar de roupa.

Depois do show, quando estava sozinha no camarim, sob a desculpa de que estava trocando de roupa. Mas na realidade, estava em crise. Estava começando a cair a ficha do que tinha acontecido e comecei a sentir um medo daqueles. Tomei um susto quando ouvi umas batidas na porta.

- Eu já vou. - Respondi. As batidas vieram de novo e, impaciente, fui abrir a bendita da porta.

- Está tudo bem? - O Bill perguntou, não conseguindo esconder a preocupação. Tentei segurar o choro, mas não consegui. Imediatamente, senti que me abraçou daquela maneira que me envolveu completamente. Física e emocionalmente.

Quando me acalmei um pouco, ele perguntou:

- O que você falou?

- Eu aceitei. - Respondi.

- E se arrependeu?

Não. Era do que eu tentava me convencer.

- Não importa o que aconteça, eu vou estar aqui, ok? - Perguntou, me fazendo olhar para ele. Concordei e agradeci. De repente, deu um sorriso misterioso e falou: - Eu tenho uma surpresa para você.

- Que surpresa?

Sem dizer nada, abriu a porta e fez um sinal para alguém que estava esperando no corredor. Assim que a vi, não resisti e fui abraçar a Simone.

- Podia ter me avisado que estava vindo! - Reclamei e ela riu, dizendo em seguida:

- E estragar a surpresa? De jeito nenhum!

O Bill teve que voltar ao trabalho e aproveitei o tempo que tinha para conversar com ela, mesmo que fosse rapidamente. Ela, claro, quis saber sobre o noivado e eu não pude deixar de notar que parecia estar um pouco com raiva.

- Tem uma loira sentada perto de nós que vibrou quando o Alex fez o pedido. Tem que ver a pose dela. Diria que ela é bem aquele tipo que faz questão de luxo, vive com nariz em pé e é fútil.

- Ela tem os olhos azuis?

Concordou.

- Cabelo na altura dos ombros?

Repetiu a resposta.

- É a mãe do Alex. E ela não é tão madame assim.

- Tem certeza? Eu acho que a roupa que ela está usando hoje dá bem quase dez mil euros cada peça.

Ri e falei, já pronta:

- Obrigada por ter vindo.

- Eu estava com saudades.

A abracei e, não muito tempo depois, a apresentação com as meninas continuou. Descobri que, durante aquele tempo, o DJ tinha dado conta de animar o pessoal.

Na noite seguinte, saímos. Mas só as meninas. Conseguimos, inclusive, convencer a Seren a nos deixar arrumá-la. Talvez por ser a primeira vez em muito tempo que saíamos sem os meninos, caprichamos na produção.

Acabamos indo ao mesmo bar do aniversário da Lola e na mesa ao lado, tinha um grupo de cinco amigos que não paravam de olhar para nós. Achamos ótima a massagem nos egos.

Quando as meninas foram ao banheiro e a Seren ficou ali na mesa comigo, quis saber:

- Por que você não quis continuar com o Bill?

Parei para pensar na resposta. Por fim, dei de ombros.

- Medo, talvez.

- Se as coisas dessem errado?

- Ao contrário. E se acontecesse alguma coisa que fizesse a gente brigar para sem-pre?

- Posso te ser sincera? - Perguntou e concordei. - Eu acho que você e o Alex combinam. Mas o problema é que são como a Lucy e o Desi.

Olhei para ela, surpresa.

- Ok. Eu confesso. Amo “I love Lucy”.

Sorri e respondi que também gostava.

- Voltando ao assunto... Tem sempre um “mas”. - Observei e ela concordou.

- A questão é que com o Bill é diferente. Vocês são como Jack e Rose, sem toda a parte do Titanic. Percebi que, com o Bill, você não tem medo de se arriscar. Com o Alex é diferente. Você é mais... Contida.

- E por que você está me falando tudo isso?

- Porque eu não quero ser um empecilho. Não quero ficar entre ninguém.

- Seren, presta atenção. Sou só amiga do Bill. Espero de verdade que ele seja feliz. Como vocês dois estão se dando bem, torço para que fiquem juntos. Eu não posso e nem quero fazer outra coisa porque estou noiva do Alex agora.

- Mas por quanto tempo? - Ela perguntou. Sabia que não tinha falado por mal; Era o mesmo tom que a Lola costumava usar. Logo, ela, a Di e a Claire voltaram e tivemos de mudar de assunto.

Depois do bar, fomos para uma boate. Enquanto eu dançava com a Nadine, olhei para um ponto qualquer e vi o Bill. Comecei a andar na sua direção, mas um cara me interceptou no meio do caminho. Quando finalmente consegui me livrar dele, já era tarde demais e o Bill já tinha sumido. Fui beber alguma coisa e, quando estava de volta à pista, começou a tocar uma das minhas músicas preferidas. Não resisti e dancei como se fosse a única pessoa ali. Quando menos esperei, senti alguém se aproximar. Consegui reconhecer quem era e começou a se inclinar na minha direção, deixando a boca praticamente colada à minha orelha e falando:

- O que o seu noivo disse quando soube que viriam para cá?

Me virei de frente para ele e respondi:

- E quem disse que ele sabe?

O Bill deu um sorriso malicioso e continuou dançando ali comigo. Perguntei, depois de um tempinho:

- Viu a Seren?

Negou.

- Não achei que você fosse chama-la.

- Ih... Agora é tarde demais. Ela é parte do grupo.

Sorriu e quis saber:

- Você realmente não falou com o Alex aonde ia?

Neguei.

- Ele não vai brigar com você?

- Por que você está tão preocupado com a reação dele?

- Porque eu tenho medo do que ele pode fazer com você.

Parei de dançar.

- Ele não teria coragem. E ele sabe que, o dia que tentar fazer isso, vou embora sem nem pensar duas vezes ou sequer olhar para trás. - Respondi, assumindo uma postura séria. - Isso não se aplica só ao Alex.

Depois de algum tempo, quando paramos um pouco para tomar alguma coisa, perguntei:

- É mais de curiosidade do que qualquer outra coisa. - Me olhou, não escondendo o interesse. - Já saiu com a Seren?

Negou com a cabeça.

- Tem quase um mês que você a conhece e até hoje nada?

- Não surgiu oportunidade.

- Quer oportunidade melhor que hoje? Ainda mais que ela está só recusando convite para dançar a noite inteira?

Suspirou e entendi o motivo. Não precisava nem ele ter me olhado.

- Se não estivesse tudo bem, não ia te incentivar. Anda, vai lá, tira ela para dançar, para quebrar o gelo.

Hesitante, ele foi falar com ela. Em poucos segundos, os dois já estavam dançando. A Lola tinha que vir me provocar:

- Não está nem com uma pontinha de ciúmes?

Neguei.

- Não acho que seria justo com ele. - Respondi. - Ainda mais que...

- Já sei. “Estou noiva do Alex.”

Assenti.

- É, mas vai mesmo valer a pena no final, casar com um cara que você enxerga como um ótimo amigo, mas ama mesmo outra pessoa?

- Se eu realmente enxergasse o Alex como amigo, por que ia aceitar o pedido dele?

- Vou te dizer o porquê. Por puro orgulho. Eu te conheço, Luiza.

Já ia começar uma discussão quando a Di e a Claire apareceram e nos arrastaram para a pista de dança. As duas tomaram o cuidado de nos deixar bem longe do Bill e da Seren.

Começou a tocar várias músicas que a gente gostava e dançamos todas, atraindo a atenção de quase todo mundo ali. Sempre imaginei que as pessoas quase quebravam o pescoço de tanto olhar para a gente justamente porque não conseguíamos evitar de dançar como se estivéssemos no bar. E principalmente, porque a gente sempre dançava como se não tivesse mais ninguém ao nosso redor. Chamávamos a atenção justamente por causa da confiança que era quase... Palpável.

Quando eu estava distraída, um cara chegou por trás e colou o corpo no meu. Começou a dizer certas... Coisas não tão comportadas e acabei perdendo a paciência.

- Na boa. Eu não estou a fim, eu tenho noivo e você está conseguindo me atrapalhar.

- Eu não sou ciumento... - Insistiu e consegui afastá-lo. As meninas perceberam e, logo, me ajudaram a colocar o folgado para correr.

Depois de algum tempo, fomos ao banheiro e, como só nós estávamos ali, então pudemos conversar um pouco:

- E aí? Vão para Reading este ano?- A Claire quis saber e justamente por não ter uma data definida para o casamento, dei de ombros.

- Seria legal se fosse uma espécie de despedida de solteira sua. - A Lola falou, batendo o quadril no meu.

- Ia... - Respondi. - Quem sabe?

As três me olharam, surpresas e acho que o choque foi maior ainda quando elas perceberam que eu estava falando sério.

- Sim, porque, por mais que futuramente possa acontecer que o Alex viaje na época e dê para a gente ir, ainda sim... - Comentei.

- Ainda sim, tinha que ser você. - A Di provocou e apertei sua cintura de leve.

- Eu estava pensando no que a Seren disse. - A Claire falou. - Daquela história toda de modelo e tal. O que será que houve para ela largar tudo?

Ninguém arriscou um palpite. Só eu:

- Vendo como as modelos quase se matam... Acho que foi toda uma mistura de fatores: A mãe dela deve ter enchido a paciência dela, que se rebelou. E ela tem jeito de quem gosta de comida. Acho que a ideia de ficar sem comer não deve ter sido lá tão atraente.

- Será? - A Lola ficou pensando e mais que depressa, falei:

- Deve. Mas isso é especulação da vida alheia e é um trem danado de feio.

As meninas riram do jeito que eu falei.

Depois que saímos do banheiro, a Claire e a Lola foram tomar mais um drink cada uma enquanto a Di e eu fomos dançar. Estava indo tudo muito bem, obrigada, até que eu me virei numa direção qualquer e tive uma surpresa: O Bill e a Seren estavam se beijando. Comecei a me sentir estranha e a Di deu logo um jeito de me tirar dali. Quando estávamos do lado de fora, eu respirei fundo, tentando me acalmar, mas não estava funcionando.

- Vamos fazer uma coisa. Hoje você dorme lá em casa.

- E o Tom?

- Ele não vai se importar.

Mesmo hesitante, concordei.

Passamos o resto da noite e por saber que eu podia confiar mais na Nadine do que na Nicola, contei para ela tudo aquilo que estava sentindo.

- Mas você está arrependida de ter incentivado os dois a ficarem?

- Não. - Respondi. - O Bill tem todo o direito de ser feliz e a Seren me parece ser a candidata perfeita.

- Mais perfeita que você... Impossível.

- Nadine, eu não vou terminar tudo com o Alex assim, de uma hora para a outra por causa de um capricho. Sim, porque é isso o que vai ser: Um capricho. Demorei todos esses anos para finalmente aceitar o pedido de namoro dele e, quando aceito... O Bill volta.

- E mexe com você.

- Não foi à toa que aconteceu tudo.

Me olhou, não conseguindo esconder a curiosidade e perguntou:

- Me responde sinceramente uma coisa?

Concordei, já sabendo o que ela ia querer saber.

- Acho que o meu remorso é justamente por não ter um pingo de arrependimento que seja. - Admiti.

- Já parou para pensar que o arrependimento de quando você perceber que está fazendo a coisa errada pode ser maior e pior ainda? - Perguntou. Era isso o que eu mais gostava da Nadine: Quando precisava brincar... Ela era uma das primeiras a se prontificar a fazer todo mundo ao seu redor morrer de rir das suas palhaçadas. Mas quando um conselho era necessário...

- Segundo você... Qual seria a coisa errada? Me casar com o Alex? - Questionei, sem emoção.

- Não. - Respondeu e ficou em silêncio por um instante. - A coisa errada pode ser entregar o homem que você ama de bandeja para a Seren.

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