quarta-feira, 27 de abril de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 17º capítulo - Interativa









But my heart is saying it's not the end

E não posso deixar de ouvir meu coração sentir sua falta
E o seu toque desde que você se foi
Eu tento bloquear, mas isso vai girando e girando
Você está preso na minha cabeça como uma canção.

(Nadine Coyle - Lullaby)



[Flashback - Três anos antes]

Lá estava ela. Dançando na minha frente, obviamente sabendo que eu estava a olhando, mas fingia que nem sabia. Desde o instante em que entrei no banheiro e a vi, sabia que era diferente. Quis gritar e dava para ver isso; Qualquer outra garota ia gritar. Mas o tempo inteiro ela me tratou como se eu fosse um cara qualquer.

Assim que finalmente voltou para a mesa à que eu estava sentado, tomou um gole do seu drink, tomei coragem, aproveitando que estava com a coragem o suficiente:

- Vem comigo.

Mesmo estranhando, deixou a taça vazia sobre a mesa e, depois de pegar a bolsa, me seguiu até uma espécie de antessala e, depois que tranquei a porta, ela me perguntou:

- Por que você trancou a porta?

- Porque eu não quero ser interrompido.

Ela parou onde estava.

- Se tentar me obrigar a fazer qualquer coisa que eu não quero... Pode saber que sou capaz de te derrubar. E sem descer do salto!

Olhei para ela e até achei graça ao imaginá-la tentando me bater.

- Não te forçaria a nada. Só... Quero te propor uma coisa, aproveitando que estamos em Las Vegas.

Me olhava, desconfiada.

- Que coisa?

- Casa comigo? Na pior das hipóteses, a gente se separa amanhã e cada um segue com a própria vida como se nada tivesse acontecido...

Cruzou os braços na altura do estômago e disse:

- E a aliança? À uma hora dessas, duvido que tenha uma loja aberta...

Tirei um dos meus anéis e ela riu.

- Depois te dou uma aliança de verdade. Eu te prometo.

- Mesmo que seja por vinte e quatro horas... Eu aceito me casar com você. - Respondeu, parando na minha frente e esticando a mão. Pus meu anel no seu dedo anelar esquerdo e claro que não ia perder a oportunidade de beijá-la de novo...

[/Flashback]

Tive essa sensação de déjà-vu porque no sábado, durante o trabalho, a parecia decidida a provocar tudo e todos. Até mesmo as mulheres. O pior de tudo não era só o fato de ela estar usando um espartilho, parecendo ser feito de couro, preto. E muito menos, usar uma calça justa. (Tão justa que, aliás, estava difícil de manter o olhar longe de... Bom, da bunda dela.) E nem era o batom vermelho. Era a soma disso tudo, mais um par de saltos enormes mais a atitude e a dança nada comportada que ela cismou de fazer naquela noite. Por um instante, fiquei grato de o não estar ali naquela noite, senão com certeza ia ter confusão...

Quase quebrei um copo ao desviar o olhar para ela num segundo em que estava rebolando de um jeito que quase me fez perder o juízo.

Yeah, the way her body moving like a hurricane
(Sim, o jeito que o corpo dela se move como um furacão)
Thought I knew what sexy was,
(Achei que eu sabia o que sexy era)
But uhuh that just changed
(Mas isso acabou de mudar)
She's a popstar, rockstar
(Ela é uma estrela pop, uma estrela do rock)
Fighter, lover
(Lutadora, amante)

Fato comprovado: Se o estivesse aqui, de duas uma: ou ele enfartava ou ele matava a . Ela ainda estava rebolando que nem a Shakira. E mexendo os quadris exatamente como a cantora, dando uns “trancos” que parecia que ia quebrar a qualquer momento. Naquela noite, especificamente, estava difícil me concentrar.

She knows exactly what she's doing,
(Ela sabe exatamente o que está fazendo)
I think she's a pro
(Eu acho que ela é uma profissional)
When she walk to the room, she makes sure that you know
(Quando ela chega no lugar, tem a certeza de que você sabe)
She's a thriller, killer
(Ela é um suspense, matadora)
Dancefloor filler
(Enche a pista de dança)

... E lá ia ela “quebrar” os quadris de novo...

Oh no, don't give that girl a lighter
(Ah, não, não dê um isqueiro para essa garota)
She don't give a what
(Ela não dá a mínima)
Yeah, she likes to play with fire and she burns it up
(Sim, ela gosta de brincar com o fogo e incendia)
She's a thriller, killer
(Ela é um suspense, matadora)
Dancefloor filler
(Enche a pista de dança)

Ah, Taio... Se você soubesse o quanto essa música é perfeita para definir o que está acontecendo... Não era possível que a não tivesse consciência do que estava acontecendo com aqueles caras que estavam ali no Coyote...

Passei a ignorá-la, fingindo que não tinha nada demais acontecendo e me concentrei em preparar os drinks.

Não muito tempo depois, quando ela finalmente desceu do balcão, claro que tinha que vir até onde eu estava. Quer dizer, era isso o que eu achava até que passou direto por mim e foi andando na direção da sala onde tinham os escaninhos para cada um guardar as suas coisas. Se demorou cinco minutos ali foi muito. E, quando voltou, já não usava mais o cinto. Desta vez, parou ao meu lado e começou a atender aos clientes. Num determinado instante, achei que eu ia tomar uma garrafada acidental.

Cerca de duas horas depois, ela me parecia ainda mais animada e, na primeira oportunidade que tive, a provoquei:

- O que você tomou?

- Por quê? - Perguntou enquanto fazia um drink. Percebi que pôs duas bebidas vermelhas dentro do copo.

- Está mais elétrica.

Sorriu e pôs, pasme, pimenta no drink.

- Isso é uma coisa para eu te ensinar a fazer lá em casa. - Avisou. - Segredo de Estado.

Assenti sorrindo enquanto ela colocava mais coisa ali. Inclusive um líquido de uma garrafa de Coca-cola toda decorada. Me perguntei qual era esse segredo de Estado...

Depois do expediente, quando eu estava saindo do bar, depois de ver a indo embora, já estava começando a ficar desanimado de ir para a casa quando vi uma morena com pose de modelo vindo na minha direção. Sorri malicioso e, como ela já tinha me dado mole...

- Então? Minha casa ou sua?

- Sua. Acabei de me mudar para Londres e as coisas ainda não estão arrumadas.

Concordou e fui com ela até seu carro.

Claro que, apesar de ela ser linda e beirar a perfeição na cama... Ainda sim, parecia que estava faltando alguma coisa. Sei lá. A garota tinha pernas longas demais, era muito magra, escandalosa demais... Inevitavelmente, meu pensamento foi para outro lugar, imaginando se ela fazia a mesma coisa que eu naquele instante. Foi impossível não perder o controle da raiva que senti e, por muito pouco mesmo, não acabou sobrando para a garota que estava comigo, seja lá qual fosse seu nome. Quer dizer, eu sabia, só que naquela hora não me importei tanto assim em fazer um esforço para lembrar. Só sei que no final, já de saco cheio, esperei até que ela estivesse satisfeita e pegasse no sono para sair da sua cama. Fui para a sala do seu apartamento, encarando o céu cada vez mais claro Londres. Senti uma vontade absurda de acender um cigarro e, voltando rapidamente ao quarto, procurei pelo maço e, assim que voltei à sala, não resisti. Sorrindo com a lembrança das implicâncias da , dei a primeira tragada.

Algum tempo depois, a garota ainda estava dormindo e tomei o máximo de cuidado para me vestir sem fazer barulho. Assim que saí da sua casa, consegui um táxi e algum tempo depois, já estava em casa, no meu quarto e me atirando na minha cama.

Acordei bem tempo depois com o meu celular tocando. Peguei o aparelho e vi uma foto da aparecendo na tela; A foto tinha sido tirada quando ela não estava prestando atenção, apesar de estar olhando diretamente para a câmera. Acho que ela tinha pensado que eu estava só mexendo no celular. Foi numa das nossas idas à Chinatown e, ao fundo, as luzes coloridas estavam fora de foco enquanto a estava com um sorriso torto, se segurando para não rir de certo comentário que eu fiz. Gostava de ficar olhando aquela foto justamente por ser natural.

- Te acordei, não é? - Ela perguntou, quando eu finalmente atendi.

- É. Mas não tem problema. O que foi?

- Estou com a Di aqui na Starbucks que a gente sempre vai e pensamos em ir olhar os bufês e experimentar docinhos e salgados. O que me diz?

- Como você é magra? - Perguntei e ela riu.

- Boa pergunta. E aí? Anima ou não a fazer esse sacrifício de experimentar essas guloseimas todas?

Respirei fundo e avisei que ia me arrumar e, em no máximo quinze minutos estaria com elas.

Tomei um banho rápido e peguei a primeira roupa que encontrei no armário. Assim que estava pronto, saí.

Logo que cheguei à Starbucks, não precisei de muito tempo para conseguir encontrar as duas. De repente, a Nicola surgiu sabe-se lá de onde e sentou ao lado da Nadine. Aproveitei a fila para fazer o pedido para observar o trio. E me lembrei da primeira vez em que vi as três mais relaxadas, na noite seguinte à confusão. Logo de cara, dava para ver que eram como irmãs. E a Nadine e a eram como o e eu: Bastava um único olhar para se entenderem. No restaurante do hotel, havia poucas pessoas além de nós quatro, mas, de certo modo, eu era o único que estava hipnotizado por aquelas três. Mais ainda pela . A Nicola era mais discreta, tímida e contida nos gestos e até mesmo no jeito de falar. A Nadine, por outro lado, era expansiva, ria e falava alto e sua energia parecia emanar no ar. E a , à primeira vista, era como a ruiva. Mas, logo, se tornava como a outra. Depois que descobri que a era a mais nova, pude reparar melhor que as outras duas eram realmente como irmãs mais velhas para ela. Sempre se preocupavam uma com a outra, se defendiam até mesmo quando não era possível...

- Senhor? - A atendente perguntou, me trazendo à realidade. Pisquei algumas vezes e ela quis saber: - O que vai querer?

Parei para pensar e respondi:

- Mocha de chocolate branco e... Um rolo de canela.

- Nome? - Ela perguntou, já com a caneta pronta para anotar meu nome. Parei para pensar um pouco e respondi:

- Richard Burton.

A menina levantou a sobrancelha, mas acabou escrevendo. Esperei pelo pedido no balcão e continuei de olho nas meninas, que agora riam de alguma coisa. A estava tão vermelha quanto um pimentão e parecia tentar se explicar e falhava miseravelmente. Logo que me entregaram o pedido, vi que ela estava pegando o celular e tocando na tela. Em seguida, levou o aparelho ao ouvido e meu celular começou a tocar.

- Oi. - Respondi, em um tom fingido de tédio.

- Onde você se enfiou, criatura? Estamos te esperando aqui!

- Ô criatura... - Devolvi. - Olha para a sua esquerda.

Ela obedeceu e me viu.

- Vem para cá neste exato instante. Isso é uma ordem.

- Mandona.

Ergueu a sobrancelha e, depois de guardar o celular no bolso da jaqueta, peguei o prato e o copo e fui até a mesa. Cumprimentei cada uma delas, deixando a por último e perguntei:

- Posso perguntar o motivo da mudança de planos? - Indiquei a Nicola com o queixo.

- O convite já estava feito, mas eu não sabia se podia ir. - A ruiva explicou. - Aí, como o Charlie conseguiu uma folga e ficar de olho na Sophia... Aproveitei que as meninas estavam te esperando e vim correndo. Algum problema?

- E por que teria? - Perguntei. Ela deu de ombros e, assim, a Nadine voltou ao assunto que elas estavam falando e que a queria morrer:

- A gente estava numa profunda reflexão sobre um assunto e a gente quer sua opinião de macho, .


- Que opinião? - Senti alguma coisa passar rapidamente pela minha perna.

- Não adianta me chutar, . - A Di se defendeu. - Qual marca de lingerie você acha mais sexy? Victoria’s secret ou Agent Provocateur?

- Depende. Qual a ocasião? - Perguntei mais para provocar a , embora já soubesse a resposta. Ela virou o rosto na direção da janela.

- Despedida de solteira. - A Nadine respondeu e falei:

- Eu já vi algumas muitas lingeries do Agent Provocateur - A se encolheu do meu lado e segurei a vontade de rir. - e eu pessoalmente gostei mais.

- Eu te falei, ... - A Nadine a provocou e foi irresistível não olhar para o lado.

- Coyle, Roberts e agora, ... Vocês três têm uma sorte de a gente estar em público e eu não poder fazer nada... - Ela resmungou e nós três rimos.

- Eles vendem chicotes lá, não é? - A Nicola perguntou para a amiga ao seu lado e a abaixou o gorro, se escondendo embaixo dele. Ri e, aproveitando a distração das duas, eu falei:

- Se você deixar o gorro assim, é pior e vai chamar mais a atenção. - Falei, em um volume de voz que só ela conseguia ouvir. Suspirou e se endireitou, arrumando o gorro. Me inclinei na sua direção e confessei: - Sempre gostei de te ver corada.

Suas bochechas ficaram quase vermelhas e ela tentava não demonstrar que estava ainda mais envergonhada. Tive vontade de mordê-la.

- Eu já estava com vergonha. Você tinha que fazer um comentário para piorar a minha situação ainda mais, não é? - Retrucou, mas deu para ver que não estava realmente brava.

- O que eu posso fazer se adoro te provocar? - Perguntei, malicioso e sem conseguir me controlar. Ela estreitou os olhos, mas não como quando estava com raiva; Sempre fazia aquilo quando estava altamente tentada. Sabia daquilo graças às vezes em que eu estava mal-intencionado e a desafiava para conseguir o que queria.

Naquele instante, a estreitada de olhos queria dizer uma coisa: Eu estava descaradamente dando em cima dela, que não se importava nem um pouco com aquilo e até estava entrando no meu jogo.

- Eu sei. - Ela respondeu, dando um sorriso torto. Imitei o seu gesto em resposta e aquele momento só nosso foi quebrado graças ao meu celular. Reconheci o número sendo como de uma das garotas que haviam jogado charme para mim no bar. E, como ela, assim como a grande maioria delas, tinha sido péssima de cama.

- Podia ser uma emergência.

- Ah... Não era. Por isso que eu não atendi.

- Então... A gente vai ficar por aqui mesmo ou vamos engordar um pouco? - A Lola quis saber, provavelmente percebendo que a e eu não estávamos mais envoltos no nosso casulo.

- Eu voto por engordar. - A prontamente falou. A Nadine apoiou e a Nicola foi a única que ficou meio hesitante, mas acabou concor-dando.

Então, cerca de uma hora depois, estávamos no bufê, experimentando várias coisas, cada uma mais, como a própria falou, nariz em pé que a outra.

- Sério, isso é frescura! - Ela reclamou quando a representante do bufê se afastou, levando consigo uma bandeja lotada de canapés com caviar. - E é nojento. Nunca comi e nem tenho vontade.

- Sério? - Perguntei. - Achei que você tivesse trocado os pratos de macarrão por outros de scargot e outras dessas comidas mais... Requintadas.

- Olha bem para minha a cara e me diz sinceramente se você acha que eu era bem capaz de trocar macarrão por um caramujo? - Ela perguntou e rimos. - Sério, eu sou exigente com comida, mas não a esse ponto! E outra: O dia que eu comer caviar, vou sentir como se estivesse mastigando embriões de peixe.

A Nicola, que tinha experimentado um dos canapés, disfarçou ao cuspir o pedaço num guardanapo e reclamou:

- Incrível como você consegue ser nojenta, .

A riu e disse:

- Não faço de propósito, acredite.

Continuamos ali até que, de repente, ouvimos a voz um pouco anasalada de uma mulher:

- !

Nós quatro olhamos para a mesma direção e vimos uma mulher, mais ou menos da mesma idade que a mãe do , com mias pose de dondoca rica que deu sorte na vida ao se casar com um empresário podre de rico que bancava as compras no shopping e as várias aplicações de botox, além de outras cirurgias plásticas.

- Eileen. - A respondeu, dando um sorriso amarelo. A mulher deu uma olhada na direção das meninas, que cumprimentaram a outra com aquela educação forçada. Assim que terminou de bater o rosto no da , a dondoca finalmente me viu ali. E me olhou de cima a baixo. E franziu o nariz. E quem disse que eu me importei com aquilo?

- Eu achei que você estaria aqui com o ... - A dondoca falou, olhando fixamente para mim, me censurando.

- Ele está trabalhando. E quer companhia melhor que duas madrinhas e um padrinho?

A mulher pareceu chocada. Toma, dondoca!

- Aliás... Você ainda não conhece o . - A falou. A dondoca me olhou mais fixamente e até mesmo estreitando os olhos e começou a dizer:

- Não é aquele que...

- É, eu sou aquele que se casou com a em Las Vegas. - Respondi, perdendo a paciência. A mulher ficou onde estava, tentando não reagir. Bom, com aquele monte de botox na cara, era difícil de saber se a careta que ela tentava fazer era a de choque por eu estar falando com ela ou por qualquer outro motivo fútil. O que eu sei é que ela não gostou de mim à primeira vista e foi recíproco.

Antes de ir embora, dali a poucos minutos, ofereceu:

- Escuta, eu soube de um brunch no clube. Apareçam lá. Tenho certeza que será... Interessante. - Me olhou com certo desprezo.

Não muito depois, ela se afastou. Esperei que as meninas fossem ao banheiro para falar com a :

- Você se importa se eu... Aceitar esse convite?

- Até faço questão da sua presença. E não se preocupe porque eles podem ter esse... Todo esse nariz em pé, mas nada bate minha língua afiada.

- Não vai te causar problemas?

Deu de ombros.

- Problemas eles que vão ter se falarem isso aqui de você. Ou das meninas. E não estou nem aí se conseguir a antipatia deles. Prefiro ser expulsa desses programas inúteis e ter de comer McDonald’s do que ser obrigada a aturar papos fúteis.

Fato.

- Falando nisso... Já que você vai se casar com o e já dá para prever como a sua vida vai ser...

Ela resmungou um “hum”, sorrindo sem mostrar os dentes e apoiando a cabeça na mão fechada em punho.

- Vai ter de ir à um evento chato atrás de outro, bancar a esposa perfeita e submissa, eternamente insatisfeita com o sexo, que cá entre nós, vai ficar chato com o passar do tempo, e vai acabar toda esticada feito aquela dondoca ali. Mas tudo bem. Vai viver com luxo, então vai dar para viver mais... Relativamente tranquila.

Arqueou a sobrancelha e disse:

- Meu futuro me parece realmente animador...

- Ah! E já ia me esquecendo. O não me parece ser muito do tipo que quer ter mais que um filho, de preferência um menino, já que vai ter de comandar as empresas e tal.

Ela estava com a testa enrugada e eu me segurei para não rir.

- E o seu? Como você imagina?

- Não penso nisso. - Menti. - Sou diferente de você, lembra? Não sou muito de pensar no futuro, só no aqui e agora.

- Sei... - Respondeu, disfarçando. Depois que as meninas voltaram, a quis saber quais dos doces e salgados que cada um tinha gostado mais e fez uma relação dos favoritos.

- A gente podia olhar em mais dois bufês, não? - A sugeriu, quando estávamos chegando ao carro, algum tempo depois.

- Tô prevendo tudo. A gente vai ficar num aperta e relaxa vestido... - A Nicola res-mungou, se sentando no banco de trás com a Nadine; Antes mesmo que eu pudesse abrir a porta, as duas já estavam lá.

Na manhã seguinte, eu estava saindo do banho quando ouvi o meu telefone tocar. Peguei o telefone sem olhar quem era e atendi:

- Fala.

- ? É o . Escuta... Tem algum plano para o almoço hoje?

Na realidade... Eu tinha. E era com a sua noiva. Estava falando com a de começarmos a olhar o vestido para ela.

- Por quê?

- Eu preciso conversar com você e pensei que, talvez, a hora do almoço fosse perfeita...

Por que eu tinha certeza de que estava ferrado?

- É... Pode ser. Também preciso conversar com você, principalmente a respeito daquelas fotos de paparazzi.

Respirou fundo e sabia que estava irritado. Apesar de termos começado a nos tolerar e até diria que o meu relacionamento com ele estava evoluindo para uma amizade... Ainda sim, ele era um adversário. Muito forte, principalmente porque, apesar da briga, eles não tinham cancelado o casamento e ainda estavam juntos. Era inegável que eram perfeitos um para o outro.

- Pode me encontrar no restaurante do Claridge’s à uma? - Perguntou e con-cordei. Se despediu de mim formalmente.

No horário combinado, cheguei ao restaurante do hotel, o mâitre me olhou de cima a baixo e perguntou:

- Posso ajudar... Senhor?

- Pode. está me esperando...

Não acreditou muito. Me pediu:

- Só um momento, por favor.

E entrou no restaurante. Depois de cinco minutos, voltou e disse:

- Queira me acompanhar, por gentileza.

Segurei a língua para não fazer qualquer comentário e o segui até a sala reservada em que o estava. Mexia no celular, distraído e, quando notou que eu estava me aproximou, pôs o aparelho sobre a mesa, mas com a tela virada para baixo. Nos cumprimentamos com um aperto de mão e, depois que nos sentamos, ele olhou o cardápio e disse:

- Eu vou querer esse salmão defumado, fatiado e estrelado de entrada, como prato principal, o risoto trufado de lagosta da Cornualha e depois eu me decido se vou querer a sobremesa. Ah! Para acompanhar, pode ser o Puligny-Montrachet.

O mâitre anotou o pedido e, mesmo a contragosto, me olhou. Avisei:

- Pode trazer essas cenouras com requeijão de cabra. E também esse assado de aipo. E se importa em dividir o vinho?- Perguntei para o , que negou com a cabeça. O mâitre saiu da sala e, para manter o clima leve, o conversou sobre assuntos mais amenos até que as entradas fossem trazidas. Continuou com a conversa até que os pratos principais fossem trazidos e aí sim, ele deu o bote:

- Como já deve imaginar, eu quis almoçar com você por causa da .

- Posso... Esclarecer uma coisa antes?

Concordou e garanti:

- Não tentei fazer nenhum avanço nesse tempo todo. Eu sei que ela está com você. Mesmo não aceitando, eu respeito a escolha que ela fez.

- Não sei por que não faria, uma vez que eu respeitei quando era você quem estava com ela...

O observei atentamente.

- Mas eu não te chamei aqui para te deixar se explicar sobre o relacionamento que você teve com ela. Foi por outro motivo, ainda relacionado à . Eu sei que ela te chamou para ser padrinho e não tinha como proibir, já que descobri depois que você aceitou o convite. E é justamente para não conseguir uma nova briga com ela que eu vou tolerar sua presença só até o casamento. Depois disso, é melhor que você volte para Los Angeles e acabe com toda essa palhaçada de trabalhar no Coyote.

Espera. Eu realmente estava ouvindo aquilo?

- Quer que eu me afaste da , assim, sem mais, nem menos? - Perguntei, só para ter certeza.

- Já fez isso com ela há dois anos... Qual é a diferença de fazer agora?

A minha vontade era a de dar um soco na cara do cretino.

- Se você realmente gosta dela, duvido que vá querer atrapalhar a sua felicidade, não? - Perguntou, sorrindo falsamente simpático.

- E quem garante mesmo que ela vai ser feliz com você? Quer dizer, você já quase fez com que ela perdesse o emprego mais de uma vez... Por mais que eu tivesse ciúmes quando estava casado com ela, nunca fiz algo parecido.

Travou o maxilar e disse:

- O que eu quero que você entenda é que eu posso fazer com que um juiz emita uma daquelas liminares que te impede de chegar perto dela. Não me obrigue a chegar numa medida tão extrema.

O xinguei mentalmente dos piores nomes imagináveis.

- Isso tudo é porque se sente ameaçado por mim?

- E por que eu me sentiria? - Perguntou, sorrindo. - Afinal de contas, a vai se casar comigo por livre e espontânea vontade.

- Não sei se você sabe, mas não a obriguei a fazer nada. Se ela se casou comigo, foi porque ela quis. Do mesmo jeito que ela podia muito bem ter procurado outro juiz para tentar o divórcio. Mas ela simplesmente decidiu não contestar a sentença. Você pode conhecê-la há mais tempo que eu, mas o que conheço da é mais que o suficiente para saber que não é uma mulher sem personalidade que vai abaixar a cabeça para seus mandos e des-mandos, ainda mais quando é contra a vontade dela. Não espere que eu vá fazer o mesmo frente às suas ameaças. Só vou me afastar da se ela mesma vier espontaneamente me pedir para fazê-lo. E vou saber se tiver alguma interferência sua. - Avisei.

- Como quiser. - Limitou-se a dizer. - Aproveite esse tempo que ainda te resta até o casamento.

- Ah, pode ter certeza que vou. - Ameacei e ele claramente imaginou que eu ia tentar agarrar a na primeira oportunidade que tivesse.

Depois de pagar minha parte da conta, estava dentro do táxi de volta para a casa quando liguei para todo mundo, exceto a própria . Assim que cheguei à casa da Nadine, contei tudo do almoço e as reações foram as mais diversas, mas todas eram de raiva.

- E então? Ainda vai simplesmente entregar a de bandeja para o ? - O quis saber.

- Claro que não! - Respondi, irritado.

- E o que vai querer fazer? - A Di perguntou.

- O óbvio, não é? Tudo que precisar fazer para impedir esse casamento... Eu vou fazer. - Respondi, decidido.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 17º capítulo


But my heart is saying it's not the end

E não posso deixar de ouvir meu coração sentir sua falta
E o seu toque desde que você se foi
Eu tento bloquear, mas isso vai girando e girando
Você está preso na minha cabeça como uma canção.

(Nadine Coyle - Lullaby)

Bill

[Flashback - Três anos antes]

Lá estava ela. Dançando na minha frente, obviamente sabendo que eu estava a olhando, mas fingia que nem sabia. Desde o instante em que entrei no banheiro e a vi, sabia que era diferente. Quis gritar e dava para ver isso; Qualquer outra garota ia gritar. Mas o tempo inteiro ela me tratou como se eu fosse um cara qualquer.

Assim que finalmente voltou para a mesa à que eu estava sentado, tomou um gole do seu drink, tomei coragem, aproveitando que estava com a coragem o suficiente:

- Vem comigo.

Mesmo estranhando, deixou a taça vazia sobre a mesa e, depois de pegar a bolsa, me seguiu até uma espécie de antessala e, depois que tranquei a porta, ela me perguntou:

- Por que você trancou a porta?

- Porque eu não quero ser interrompido.

Ela parou onde estava.

- Se tentar me obrigar a fazer qualquer coisa que eu não quero... Pode saber que sou capaz de te derrubar. E sem descer do salto!

Olhei para ela e até achei graça ao imaginá-la tentando me bater.

- Não te forçaria a nada. Só... Quero te propor uma coisa, aproveitando que estamos em Las Vegas.

Me olhava, desconfiada.

- Que coisa?

- Casa comigo? Na pior das hipóteses, a gente se separa amanhã e cada um segue com a própria vida como se nada tivesse acontecido...

Cruzou os braços na altura do estômago e disse:

- E a aliança? À uma hora dessas, duvido que tenha uma loja aberta...

Tirei um dos meus anéis e ela riu.

- Depois te dou uma aliança de verdade. Eu te prometo.

- Mesmo que seja por vinte e quatro horas... Eu aceito me casar com você. - Respondeu, parando na minha frente e esticando a mão. Pus meu anel no seu dedo anelar esquerdo e claro que não ia perder a oportunidade de beijá-la de novo...

[/Flashback]

Tive essa sensação de déjà-vu porque no sábado, durante o trabalho, a Luiza parecia decidida a provocar tudo e todos. Até mesmo as mulheres. O pior de tudo não era só o fato de ela estar usando um espartilho, parecendo ser feito de couro, preto. E muito menos, usar uma calça justa. (Tão justa que, aliás, estava difícil de manter o olhar longe de... Bom, da bunda dela.) E nem era o batom vermelho. Era a soma disso tudo, mais um par de saltos enormes mais a atitude e a dança nada comportada que ela cismou de fazer naquela noite. Por um instante, fiquei grato de o Alex não estar ali naquela noite, senão com certeza ia ter confusão...

Quase quebrei um copo ao desviar o olhar para ela num segundo em que estava rebolando de um jeito que quase me fez perder o juízo.

Yeah, the way her body moving like a hurricane
(Sim, o jeito que o corpo dela se move como um furacão)
Thought I knew what sexy was,
(Achei que eu sabia o que sexy era)
But uhuh that just changed
(Mas isso acabou de mudar)
She's a popstar, rockstar
(Ela é uma estrela pop, uma estrela do rock)
Fighter, lover
(Lutadora, amante)

Fato comprovado: Se o Alex estivesse aqui, de duas uma: ou ele enfartava ou ele matava a Luiza. Ela ainda estava rebolando que nem a Shakira. E mexendo os quadris exatamente como a cantora, dando uns “trancos” que parecia que ia quebrar a qualquer momento. Naquela noite, especificamente, estava difícil me concentrar.

She knows exactly what she's doing,
(Ela sabe exatamente o que está fazendo)
I think she's a pro
(Eu acho que ela é uma profissional)
When she walk to the room, she makes sure that you know
(Quando ela chega no lugar, tem a certeza de que você sabe)
She's a thriller, killer
(Ela é um suspense, matadora)
Dancefloor filler
(Enche a pista de dança)

... E lá ia ela “quebrar” os quadris de novo...

Oh no, don't give that girl a lighter
(Ah, não, não dê um isqueiro para essa garota)
She don't give a what
(Ela não dá a mínima)
Yeah, she likes to play with fire and she burns it up
(Sim, ela gosta de brincar com o fogo e incendia)
She's a thriller, killer
(Ela é um suspense, matadora)
Dancefloor filler
(Enche a pista de dança)

Ah, Taio... Se você soubesse o quanto essa música é perfeita para definir o que está acontecendo... Não era possível que a Luiza não tivesse consciência do que estava acontecendo com aqueles caras que estavam ali no Coyote...

Passei a ignorá-la, fingindo que não tinha nada demais acontecendo e me concentrei em preparar os drinks.

Não muito tempo depois, quando ela finalmente desceu do balcão, claro que tinha que vir até onde eu estava. Quer dizer, era isso o que eu achava até que passou direto por mim e foi andando na direção da sala onde tinham os escaninhos para cada um guardar as suas coisas. Se demorou cinco minutos ali foi muito. E, quando voltou, já não usava mais o cinto. Desta vez, parou ao meu lado e começou a atender aos clientes. Num determinado instante, achei que eu ia tomar uma garrafada acidental.

Cerca de duas horas depois, ela me parecia ainda mais animada e, na primeira oportunidade que tive, a provoquei:

- O que você tomou?

- Por quê? - Perguntou enquanto fazia um drink. Percebi que pôs duas bebidas vermelhas dentro do copo.

- Está mais elétrica.

Sorriu e pôs, pasme, pimenta no drink.

- Isso é uma coisa para eu te ensinar a fazer lá em casa. - Avisou. - Segredo de Estado.

Assenti sorrindo enquanto ela colocava mais coisa ali. Inclusive um líquido de uma garrafa de Coca-cola toda decorada. Me perguntei qual era esse segredo de Estado...

Depois do expediente, quando eu estava saindo do bar, depois de ver a Luiza indo em-bora, já estava começando a ficar desanimado de ir para a casa quando vi uma morena com pose de modelo vindo na minha direção. Sorri malicioso e, como ela já tinha me dado mole...

- Então? Minha casa ou sua?

- Sua. Acabei de me mudar para Londres e as coisas ainda não estão arrumadas.

Concordou e fui com ela até seu carro.

Claro que, apesar de ela ser linda e beirar a perfeição na cama... Ainda sim, parecia que estava faltando alguma coisa. Sei lá. A garota tinha pernas longas demais, era muito magra, escandalosa demais... Inevitavelmente, meu pensamento foi para outro lugar, imaginando se ela fazia a mesma coisa que eu naquele instante. Foi impossível não perder o controle da raiva que senti e, por muito pouco mesmo, não acabou sobrando para a garota que estava comigo, seja lá qual fosse seu nome. Quer dizer, eu sabia, só que naquela hora não me importei tanto assim em fazer um esforço para lembrar. Só sei que no final, já de saco cheio, esperei até que ela estivesse satisfeita e pegasse no sono para sair da sua cama. Fui para a sala do seu apartamento, encarando o céu cada vez mais claro Londres. Senti uma vontade absurda de acender um cigarro e, voltando rapidamente ao quarto, procurei pelo maço e, assim que voltei à sala, não resisti. Sorrindo com a lembrança das implicâncias da Luiza, dei a primeira tragada.

Algum tempo depois, a garota ainda estava dormindo e tomei o máximo de cuidado para me vestir sem fazer barulho. Assim que saí da sua casa, consegui um táxi e algum tempo depois, já estava em casa, no meu quarto e me atirando na minha cama.

Acordei bem tempo depois com o meu celular tocando. Peguei o aparelho e vi uma foto da Luiza aparecendo na tela; A foto tinha sido tirada quando ela não estava prestando atenção, apesar de estar olhando diretamente para a câmera. Acho que ela tinha pensado que eu estava só mexendo no celular. Foi numa das nossas idas à Chinatown e, ao fundo, as luzes coloridas estavam fora de foco enquanto a Luiza estava com um sorriso torto, se segurando para não rir de certo comentário que eu fiz. Gostava de ficar olhando aquela foto justamente por ser natural.

- Te acordei, não é? - Ela perguntou, quando eu finalmente atendi.

- É. Mas não tem problema. O que foi?

- Estou com a Di aqui na Starbucks que a gente sempre vai e pensamos em ir olhar os bufês e experimentar docinhos e salgados. O que me diz?

- Como você é magra? - Perguntei e ela riu.

- Boa pergunta. E aí? Anima ou não a fazer esse sacrifício de experimentar essas guloseimas todas?

Respirei fundo e avisei que ia me arrumar e, em no máximo quinze minutos estaria com elas.

Tomei um banho rápido e peguei a primeira roupa que encontrei no armário. Assim que estava pronto, saí.

Logo que cheguei à Starbucks, não precisei de muito tempo para conseguir encontrar as duas. De repente, a Nicola surgiu sabe-se lá de onde e sentou ao lado da Nadine. Aproveitei a fila para fazer o pedido para observar o trio. E me lembrei da primeira vez em que vi as três mais relaxadas, na noite seguinte à confusão. Logo de cara, dava para ver que eram como irmãs. E a Nadine e a Luiza eram como o Tom e eu: Bastava um único olhar para se entenderem. No restaurante do hotel, havia poucas pessoas além de nós quatro, mas, de certo modo, eu era o único que estava hipnotizado por aquelas três. Mais ainda pela Luiza. A Nicola era mais discreta, tímida e contida nos gestos e até mesmo no jeito de falar. A Nadine, por outro lado, era expansiva, ria e falava alto e sua energia parecia emanar no ar. E a Luiza, à primeira vista, era como a ruiva. Mas, logo, se tornava como a outra. Depois que descobri que a Luiza era a mais nova, pude reparar melhor que as outras duas eram realmente como irmãs mais velhas para ela. Sempre se preocupavam uma com a outra, se defendiam até mesmo quando não era possível...

- Senhor? - A atendente perguntou, me trazendo à realidade. Pisquei algumas vezes e ela quis saber: - O que vai querer?

Parei para pensar e respondi:

- Mocha de chocolate branco e... Um rolo de canela.

- Nome? - Ela perguntou, já com a caneta pronta para anotar meu nome. Parei para pensar um pouco e respondi:

- Richard Burton.

A menina levantou a sobrancelha, mas acabou escrevendo. Esperei pelo pedido no balcão e continuei de olho nas meninas, que agora riam de alguma coisa. A Luiza estava tão vermelha quanto um pimentão e parecia tentar se explicar e falhava miseravelmente. Logo que me entregaram o pedido, vi que ela estava pegando o celular e tocando na tela. Em seguida, levou o aparelho ao ouvido e meu celular começou a tocar.

- Oi. - Respondi, em um tom fingido de tédio.

- Onde você se enfiou, criatura? Estamos te esperando aqui!

- Ô criatura... - Devolvi. - Olha para a sua esquerda.

Ela obedeceu e me viu.

- Vem para cá neste exato instante. Isso é uma ordem.

- Mandona.

Ergueu a sobrancelha e, depois de guardar o celular no bolso da jaqueta, peguei o prato e o copo e fui até a mesa. Cumprimentei cada uma delas, deixando a Luiza por último e perguntei:

- Posso perguntar o motivo da mudança de planos? - Indiquei a Nicola com o queixo.

- O convite já estava feito, mas eu não sabia se podia ir. - A ruiva explicou. - Aí, como o Charlie conseguiu uma folga e ficar de olho na Sophia... Aproveitei que as meninas estavam te esperando e vim correndo. Algum problema?

- E por que teria? - Perguntei. Ela deu de ombros e, assim, a Nadine voltou ao assunto que elas estavam falando e que a Luiza queria morrer:

- A gente estava numa profunda reflexão sobre um assunto e a gente quer sua opinião de macho, Bill. - A minha pseudo-cunhada falou.

- Que opinião? - Senti alguma coisa passar rapidamente pela minha perna.

- Não adianta me chutar, Luiza. - A Nadine se defendeu. - Qual marca de lingerie você acha mais sexy? Victoria’s secret ou Agent Provocateur?

- Depende. Qual a ocasião? - Perguntei mais para provocar a Luiza, embora já sou-besse a resposta. Ela virou o rosto na direção da janela.

- Despedida de solteira. - A Di respondeu e falei:

- Eu já vi algumas muitas lingeries do Agent Provocateur - A Luiza se encolheu do meu lado e segurei a vontade de rir. - e eu pessoalmente gostei mais.

- Eu te falei, Luiza... - A Nadine a provocou e foi irresistível não olhar para o lado.

- Coyle, Roberts e agora, Kaulitz... Vocês três têm uma sorte de a gente estar em público e eu não poder fazer nada... - Ela resmungou e nós três rimos.

- Eles vendem chicotes lá, não é? - A Nicola perguntou para a amiga ao seu lado e a Luiza abaixou o gorro, se escondendo embaixo dele. Ri e, aproveitando a distração das duas, eu falei:

- Se você deixar o gorro assim, é pior e vai chamar mais a atenção. - Falei, em um volume de voz que só ela conseguia ouvir. Suspirou e se endireitou, arrumando o gorro. Me inclinei na sua direção e confessei: - Sempre gostei de te ver corada.

Suas bochechas ficaram quase vermelhas e ela tentava não demonstrar que estava ainda mais envergonhada. Tive vontade de mordê-la.

- Eu já estava com vergonha. Você tinha que fazer um comentário para piorar a minha situação ainda mais, não é? - Retrucou, mas deu para ver que não estava realmente brava.

- O que eu posso fazer se adoro te provocar? - Perguntei, malicioso e sem conseguir me controlar. Ela estreitou os olhos, mas não como quando estava com raiva; Sempre fazia aquilo quando estava altamente tentada. Sabia daquilo graças às vezes em que eu estava mal-intencionado e a desafiava para conseguir o que queria.

Naquele instante, a estreitada de olhos queria dizer uma coisa: Eu estava descaradamente dando em cima dela, que não se importava nem um pouco com aquilo e até estava entrando no meu jogo.

- Eu sei. - Ela respondeu, dando um sorriso torto. Imitei o seu gesto em resposta e aquele momento só nosso foi quebrado graças ao meu celular. Reconheci o número sendo como de uma das garotas que haviam jogado charme para mim no bar. E, como ela, assim como a grande maioria delas, tinha sido péssima de cama.

- Podia ser uma emergência.

- Ah... Não era. Por isso que eu não atendi.

- Então... A gente vai ficar por aqui mesmo ou vamos engordar um pouco? - A Lola quis saber, provavelmente percebendo que a Luiza e eu não estávamos mais envoltos no nosso casulo.

- Eu voto por engordar. - A Luiza prontamente falou. A Nadine apoiou e a Nicola foi a única que ficou meio hesitante, mas acabou concordando.

Então, cerca de uma hora depois, estávamos no bufê, experimentando várias coisas, cada uma mais, como a própria Luiza falou, nariz em pé que a outra.

- Sério, isso é frescura! - Ela reclamou quando a representante do bufê se afastou, levando consigo uma bandeja lotada de canapés com caviar. - E é nojento. Nunca comi e nem tenho vontade.

- Sério? - Perguntei. - Achei que você tivesse trocado os pratos de macarrão por outros de scargot e outras dessas comidas mais... Requintadas.

- Olha bem para minha a cara e me diz sinceramente se você acha que eu era bem capaz de trocar macarrão por um caramujo? - Ela perguntou e rimos. - Sério, eu sou exigente com comida, mas não a esse ponto! E outra: O dia que eu comer caviar, vou sentir como se estivesse mastigando embriões de peixe.

A Nicola, que tinha experimentado um dos canapés, disfarçou ao cuspir o pedaço num guardanapo e reclamou:

- Incrível como você consegue ser nojenta, Iza.

A Luiza riu e disse:

- Não faço de propósito, acredite.

Continuamos ali até que, de repente, ouvimos a voz um pouco anasalada de uma mulher:

- Luiza!

Nós quatro olhamos para a mesma direção e vimos uma mulher, mais ou menos da mesma idade que a mãe do Alex, com mias pose de dondoca rica que deu sorte na vida ao se casar com um empresário podre de rico que bancava as compras no shopping e as várias aplicações de botox, além de outras cirurgias plásticas.

- Eileen. - A Luiza respondeu, dando um sorriso amarelo. A mulher deu uma olhada na direção das meninas, que cumprimentaram a outra com aquela educação forçada. Assim que terminou de bater o rosto no da Luiza, a dondoca finalmente me viu ali. E me olhou de cima a baixo. E franziu o nariz. E quem disse que eu me importei com aquilo?

- Eu achei que você estaria aqui com o Alex... - A dondoca falou, olhando fixamente para mim, me censurando.

- Ele está trabalhando. E quer companhia melhor que duas madrinhas e um padrinho?

A mulher pareceu chocada. Toma, dondoca!

- Aliás... Você ainda não conhece o Bill. - A Luiza falou. A dondoca me olhou mais fixamente e até mesmo estreitando os olhos e começou a dizer:

- Não é aquele que...

- É, eu sou aquele que se casou com a Luiza em Las Vegas. - Respondi, perdendo a paciência. A mulher ficou onde estava, tentando não reagir. Bom, com aquele monte de botox na cara, era difícil de saber se a careta que ela tentava fazer era a de choque por eu estar falando com ela ou por qualquer outro motivo fútil. O que eu sei é que ela não gostou de mim à primeira vista e foi recíproco.

Antes de ir embora, dali a poucos minutos, ofereceu:

- Escuta, eu soube de um brunch no clube. Apareçam lá. Tenho certeza que será... Interessante. - Me olhou com certo desprezo.

Não muito depois, ela se afastou. Esperei que as meninas fossem ao banheiro para falar com a Luiza:

- Você se importa se eu... Aceitar esse convite?

- Até faço questão da sua presença. E não se preocupe porque eles podem ter esse... Todo esse nariz em pé, mas nada bate minha língua afiada.

- Não vai te causar problemas?

Deu de ombros.

- Problemas eles que vão ter se falarem isso aqui de você. Ou das meninas. E não estou nem aí se conseguir a antipatia deles. Prefiro ser expulsa desses programas inúteis e ter de comer McDonald’s do que ser obrigada a aturar papos fúteis.

Fato.

- Falando nisso... Já que você vai se casar com o Alex e já dá para prever como a sua vida vai ser...

Ela resmungou um “hum”, sorrindo sem mostrar os dentes e apoiando a cabeça na mão fechada em punho.

- Vai ter de ir à um evento chato atrás de outro, bancar a esposa perfeita e submissa, eternamente insatisfeita com o sexo, que cá entre nós, vai ficar chato com o passar do tempo, e vai acabar toda esticada feito aquela dondoca ali. Mas tudo bem. Vai viver com luxo, então vai dar para viver mais... Relativamente tranquila.

Arqueou a sobrancelha e disse:

- Meu futuro me parece realmente animador...

- Ah! E já ia me esquecendo. O Alex não me parece ser muito do tipo que quer ter mais que um filho, de preferência um menino, já que vai ter de comandar as empresas e tal.

Ela estava com a testa enrugada e eu me segurei para não rir.

- E o seu? Como você imagina?

- Não penso nisso. - Menti. - Sou diferente de você, lembra? Não sou muito de pensar no futuro, só no aqui e agora.

- Sei... - Respondeu, disfarçando. Depois que as meninas voltaram, a Luiza quis saber quais dos doces e salgados que cada um tinha gostado mais e fez uma relação dos favoritos.

- A gente podia olhar em mais dois bufês, não? - A Luiza sugeriu, quando estávamos chegando ao carro, algum tempo depois.

- Tô prevendo tudo. A gente vai ficar num aperta e relaxa vestido... - A Nicola res-mungou, se sentando no banco de trás com a Nadine; Antes mesmo que eu pudesse abrir a porta, as duas já estavam lá.

Na manhã seguinte, eu estava saindo do banho quando ouvi o meu telefone tocar. Peguei o telefone sem olhar quem era e atendi:

- Fala.

- Bill? É o Alex. Escuta... Tem algum plano para o almoço hoje?

Na realidade... Eu tinha. E era com a sua noiva. Estava falando com a Luiza de começarmos a olhar o vestido para ela.

- Por quê?

- Eu preciso conversar com você e pensei que, talvez, a hora do almoço fosse perfeita...

Por que eu tinha certeza de que estava ferrado?

- É... Pode ser. Também preciso conversar com você, principalmente a respeito daquelas fotos de paparazzi.

Respirou fundo e sabia que estava irritado. Apesar de termos começado a nos tolerar e até diria que o meu relacionamento com ele estava evoluindo para uma amizade... Ainda sim, ele era um adversário. Muito forte, principalmente porque, apesar da briga, eles não tinham cancelado o casamento e ainda estavam juntos. Era inegável que eram perfeitos um para o outro.

- Pode me encontrar no restaurante do Claridge’s à uma? - Perguntou e con-cordei. Se despediu de mim formalmente.

No horário combinado, cheguei ao restaurante do hotel, o mâitre me olhou de cima a baixo e perguntou:

- Posso ajudar... Senhor?

- Pode. Alex Ireland está me esperando...

Não acreditou muito. Me pediu:

- Só um momento, por favor.

E entrou no restaurante. Depois de cinco minutos, voltou e disse:

- Queira me acompanhar, por gentileza.

Segurei a língua para não fazer qualquer comentário e o segui até a sala reservada em que o Alex estava. Mexia no celular, distraído e, quando notou que eu estava me aproximou, pôs o aparelho sobre a mesa, mas com a tela virada para baixo. Nos cumprimentamos com um aperto de mão e, depois que nos sentamos, ele olhou o cardápio e disse:

- Eu vou querer esse salmão defumado, fatiado e estrelado de entrada, como prato principal, o risoto trufado de lagosta da Cornualha e depois eu me decido se vou querer a sobremesa. Ah! Para acompanhar, pode ser o Puligny-Montrachet.

O mâitre anotou o pedido e, mesmo a contragosto, me olhou. Avisei:

- Pode trazer essas cenouras com requeijão de cabra. E também esse assado de aipo. E se importa em dividir o vinho?- Perguntei para o Alex, que negou com a cabeça. O mâitre saiu da sala e, para manter o clima leve, o Alex conversou sobre assuntos mais amenos até que as entradas fossem trazidas. Continuou com a conversa até que os pratos principais fossem trazidos e aí sim, ele deu o bote:

- Como já deve imaginar, eu quis almoçar com você por causa da Luiza.

- Posso... Esclarecer uma coisa antes?

Concordou e garanti:

- Não tentei fazer nenhum avanço nesse tempo todo. Eu sei que ela está com você. Mesmo não aceitando, eu respeito a escolha que ela fez.

- Não sei por que não faria, uma vez que eu respeitei quando era você quem estava com ela...

O observei atentamente.

- Mas eu não te chamei aqui para te deixar se explicar sobre o relacionamento que você teve com ela. Foi por outro motivo, ainda relacionado à Luiza. Eu sei que ela te chamou para ser padrinho e não tinha como proibir, já que descobri depois que você aceitou o convite. E é justamente para não conseguir uma nova briga com ela que eu vou tolerar sua presença só até o casamento. Depois disso, é melhor que você volte para Los Angeles e acabe com toda essa palhaçada de trabalhar no Coyote.

Espera. Eu realmente estava ouvindo aquilo?

- Quer que eu me afaste da Luiza, assim, sem mais, nem menos? - Perguntei, só para ter certeza.

- Já fez isso com ela há dois anos... Qual é a diferença de fazer agora?

A minha vontade era a de dar um soco na cara do cretino.

- Se você realmente gosta dela, duvido que vá querer atrapalhar a sua felicidade, não? - Perguntou, sorrindo falsamente simpático.

- E quem garante mesmo que ela vai ser feliz com você? Quer dizer, você já quase fez com que ela perdesse o emprego mais de uma vez... Por mais que eu tivesse ciúmes quando estava casado com ela, nunca fiz algo parecido.

Travou o maxilar e disse:

- O que eu quero que você entenda é que eu posso fazer com que um juiz emita uma daquelas liminares que te impede de chegar perto dela. Não me obrigue a chegar numa medida tão extrema.

O xinguei mentalmente dos piores nomes imagináveis.

- Isso tudo é porque se sente ameaçado por mim?

- E por que eu me sentiria? - Perguntou, sorrindo. - Afinal de contas, a Luiza vai se casar comigo por livre e espontânea vontade.

- Não sei se você sabe, mas não a obriguei a fazer nada. Se ela se casou comigo, foi porque ela quis. Do mesmo jeito que ela podia muito bem ter procurado outro juiz para tentar o divórcio. Mas ela simplesmente decidiu não contestar a sentença. Você pode conhecê-la há mais tempo que eu, mas o que conheço da Luiza é mais que o suficiente para saber que não é uma mulher sem personalidade que vai abaixar a cabeça para seus mandos e desmandos, ainda mais quando é contra a vontade dela. Não espere que eu vá fazer o mesmo frente às suas ameaças. Só vou me afastar da Luiza se ela mesma vier espontaneamente me pedir para fazê-lo. E vou saber se tiver alguma interferência sua. - Avisei.

- Como quiser. - Limitou-se a dizer. - Aproveite esse tempo que ainda te resta até o casamento.

- Ah, pode ter certeza que vou. - Ameacei e ele claramente imaginou que eu ia tentar agarrar a Luiza na primeira oportunidade que tivesse.

Depois de pagar minha parte da conta, estava dentro do táxi de volta para a casa quando liguei para todo mundo, exceto a própria Luiza. Assim que cheguei à casa da Nadine, contei tudo do almoço e as reações foram as mais diversas, mas todas eram de raiva.

- E então? Ainda vai simplesmente entregar a Luiza de bandeja para o Alex? - O Tom quis saber.

- Claro que não! - Respondi, irritado.

- E o que vai querer fazer? - A Di perguntou.

- O óbvio, não é? Tudo que precisar fazer para impedir esse casamento... Eu vou fazer. - Respondi, decidido.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 16º capítulo - Interativa











Cause we're about to throw down and you'll know just what to do

Balance suas mãos no ar
Como se não ligasse
Passe pelas pessoas
Assim que elas começarem a olhar e encarar

(Little Mix - Word up)



Fevereiro voou e, quando dei por mim, já estávamos em Março e o era meu vizinho de novo há pelo menos quinze dias. Como sempre, tínhamos ajudado com tudo e até a Simone veio. A Sophia, de longe, foi quem mais se divertiu com a bagunça.

Durante todo aquele tempo, o e eu nos aproximamos mais e simplesmente tinha começado a ignorar quando aparecia algum paparazzo tirando fotos nossas. Mas tinha a satisfação de frustrá-los, porque sempre fazíamos coisas normais, tipo ir ao supermercado e até mesmo ir à Chinatown e comer em pé numa banca que sempre gostei e que, de quebra, tinha pratos vegetarianos. Um dos fotógrafos até veio reclamar que éramos monótonos demais. Na ocasião, respondi:

- A única coisa mais excitante que fazemos é o trabalho no bar. E mesmo assim, o só serve as bebidas.

Deu até dó. Mas era a mais completa verdade. O , claro, sabia do que estava acontecendo e até notei uma pontada de ciúmes quando nos falávamos. Ele, de novo, estava viajando e eu sentia uma falta enorme dele. Quer dizer, até o aparecer.

Sabia que ele estava, graças à muita insistência da minha parte, tentando sair com a Se-ren; Não conseguia entender toda essa resistência dele. Cheguei ao ponto de pedir para a Di tentar descobrir o que era toda essa birra que ele tinha.

Numa tarde de domingo, quando o finalmente estava em casa e estávamos mofando no sofá, ele começou, pensativo:

- Enquanto eu estava em Melbourne, fiquei pensando sobre uma coisa.

Olhei para ele.

- Eu não queria um daqueles noivados longos demais, que a gente nunca resolve quando vai casar e, pior: O pessoal começa a morrer, como naquele filme.

- ! - Chamei sua atenção e batendo na sua coxa. Ele riu e, assumindo uma postura séria, continuou:

- Tá, mas o que eu queria dizer era que eu posso não ser tão paciente assim.

- Eu já te aviso de antemão que não quero um casamento suntuoso. Quero uma coisa bem menor, convidar as famílias e os amigos mais próximos.

- Eu sinceramente não te entendo. Se posso pagar por uma festa daquelas...

- Aí que está. É melhor não gastar uma fortuna numa coisa tão... Quer dizer, eu acho que festa de casamento é legal, mas, prefiro fazer uma coisa mais discreta. Mesmo porque, se for um festão, vai atrair atenção indesejada da imprensa. E um casamento não é uma coisa banal. Não quero que seja estragado por um bando de repórteres e fotógrafos.

Me observou em silêncio e em seguida, me beijou. Quando nos separamos, ele perguntou:

- O que eu queria dizer era que quero marcar logo a data. Não precisa se preocupar com tempo e nem dinheiro. Se for preciso, eu pago tudo.

Suspirei e ele continuou insistindo. Perdi a paciência um pouco, mas não chegamos à uma discussão de fato.

No dia seguinte, em plena segunda-feira, eu estava na Starbucks mais perto de casa, esperando uma certa pessoa chegar e lia um livro enquanto tomava um café e, vez ou outra, dava umas mordiscadas no meu muffin de mirtilo. Estava tão entretida que nem notei que ele tinha chegado e ainda estava sentado na minha frente, também tomando o café. Tomei um susto daqueles e ele riu. Perguntou:

- Que livro é esse?

Mostrei a capa e ele ergueu a sobrancelha.

- Leitura leve para essa hora da manhã... - O comentou. - E por que eu não estou nem um pouco surpreso que você esteja lendo um livro sobre o Jack?

- Porque você sabe que eu adoro essas histórias escabrosas aparentemente insolúveis. Nem é sobre os crimes por si só, ainda mais que... Bom, a última morte, da Mary Jane Kelly foi a pior de todas, mas é justamente pelo fato de até hoje ninguém ter a menor ideia de quem era. Eu acho que pegaram o cara, mas como era alguém ligado à coroa e, se essa ligação perigosíssima viesse a público... Acho que um dos poucos impérios mais poderosos do mundo ia ruir em cinco segundos.

- E te conhecendo, você não acha que essa pessoa com ligação perigosíssima à coroa, não era alguém muito óbvio. Tipo o príncipe.

- Eu acho que, se fosse ele, a rainha teria dado uma sova daquelas nele. - Respondi e rimos. - Era a rainha Vitória, mas ainda sim, era mãe e tinha todo o direito de dar uns bons tapas no príncipe. À parte toda a história do crime.

- Imagina?- Ele começou a imitar a rainha dando uma bronca no príncipe e ri.

- Ela é uma das figuras Históricas que eu queria ter conhecido. Para alguém que dizia odiar engravidar, mas teve... Quase dez filhos, senão me engano...

- Isso tudo? Imagina se ela gostasse!

Rimos e continuamos a comer e conversar. Depois que pagamos pelos cafés e as comidas, quis dar uma volta pelo Regent’s Park. Quando nos sentamos num dos bancos perto do anfiteatro, comentei:

- Eu tenho uma coisa para te dizer.

- Você está grávida? - Perguntou, se virando tão rápido que até me assustei que não ficou tonto.

- Quê? Não! Só o que me faltava!

- Impossível não é. Ainda mais que a gente sabe muito bem que camisinha pode estourar.

Dei um estalo com a língua e falei:

- Te garanto que eu não estou grávida. Mas é algo relacionado ao casamento de uma maneira ou outra.

- Ok. E o que é?

- Marquei a data com o .

- E para quando vai ser?

- Agosto.

- Já? - Assenti. - Mas tem um dia decidido?

- A gente tinha falado no dia 21. Ele queria agora em Junho ou Julho.

Me avaliou em silêncio.

- E você está tão animada assim? - Finalmente perguntou depois de um tempinho.

- Honestamente? Não. - Respondi, rindo. - Provavelmente porque eu sei do trabalho que vou ter com toda a organização, as provas do vestido... Só de pensar nisso tudo dá uma preguiça...

- Bom, você tem a minha ajuda. Com certeza, a das meninas também.

- É. Até a Claire se dispôs... Aliás... Eu estou achando que ela é a próxima noiva.

- Eu aposto com você que é a Nadine.

- Vinte libras?

- Eu aposto trinta.

- Fechado. - Falei, estendendo a mão.

- Começa a separar as minhas vinte libras.

Levantei a sobrancelha e ele riu.

Algum tempo depois, quando estávamos andando perto de casa, contei um pouco das ideias que tive e ele ouvia tudo atentamente.

No final da tarde, quando ele estava me ajudando a organizar algumas coisas, me pergun-tou:

- Te conhecendo bem, eu sei que quando você fica quieta desse jeito, é porque está pensando em alguma coisa. Dá até para ouvir as, como você diz, engrenagens do seu cérebro funcionando. O que é?

Respirei fundo e o olhei:

- Posso te fazer um pedido? É meio... Difícil e eu entendo se você não quiser.

- O que foi?

- Antes de mais nada, eu quero deixar uma coisa bem clara. Se estou te fazendo um convite desses, é porque quero que seja você.

- Fala logo, .

- Aceita ser meu padrinho de casamento? Eu sei que é um pedido absurdo, mas...

- Tudo bem. - Olhei para ele, não conseguindo acreditar no que ouvia. - Eu aceito.

- Mesmo?

Concordou e pulei em cima dele. Só que eu, como sempre, tinha que fazer besteira. Por acidente, acabei encostando em... Certa parte do corpo dele, se é que me entende. Nunca quis tanto que um buraco se abrisse debaixo de mim como naquele instante.

- Desculpa. - Pedi, provavelmente tão corada quanto o par vermelho de Louboutins que tinha comprado na sexta-feira.

- Está tudo bem, confie em mim. - Falou, tentando me tranquilizar. - , é sério. Está tudo bem.

Ergui o olhar para ele e perguntou:

- O que foi?

- Nada. - Respondi, não conseguindo evitar um sorriso que começava a aparecer nos meus lábios.

- Fala. Senão eu vou te obrigar.

- Posso saber como?

- Cócegas.

Logo, dei um jeito de desconversar:

- Eu não deveria ter me empolgado tanto.

- Deveria. É uma coisa que você quer...

Dando um sorriso tímido, perguntei:

- Vai ter paciência para aguentar tudo o que envolve um casamento? Provas de roupa, das comidas que vão ser servidas no casamento, me ajudar a escolher um lugar legal para a cerimônia...?

- Tem certeza que não quer que o faça isso?

- Ele não vai poder, por causa do trabalho e o , sem paciência, é um porre pior que eu. - Ri e ele me acompanhou.

- Será que ele não vai achar ruim?

- Azar o dele se achar. Não mandei deixar tudo sob meus cuidados... Além do mais, se for pedir ajuda integral das meninas, elas vão dar sugestões que ele pode não gostar. Por isso também que acho que vai ser bom ter um... Olhar masculino para me ajudar. Senão sei que ele vai chiar porque a decoração vai ser rosa demais.

- Bom, dá para você economizar no noivinho. Só colocar um Ken em cima do bolo e pronto.

Tive que rir e admiti:

- Pior é que eu tenho um que parece com ele.

- Aí!

Bati de leve no seu ombro e falei:

- Não vou usar um Ken e uma Barbie em cima do bolo. Só o que faltava!

- Vai fazer o que então? Aqueles noivinhos tradicionais ou aqueles personalizados, com cada um fazendo uma coisa típica?

Dei de ombros.

- Se fizer os personalizados, não é tão difícil de fazer a sua.

Olhei para ele, franzindo as sobrancelhas.

- A Vivi do lado, com você segurando uma tigela e batendo uma massa no colo enquanto canta e mexe no computador. Ah! Ia ter uma pilha de livros de História do lado. OU de mitologia, de várias partes do mundo. Um ia ser só de mitologia hindu.

Dei um meio sorriso e já imaginei o do : Maleta de couro preta numa das mãos, computador na outra e um copo da Starbucks apoiado perto do teclado. Promissor... Agora se fosse fazer um do ... Para começo de conversa, não ia ser discreto. Ia estar com um microfone nas mãos, fazendo alguma pose típica dele e rodeado de cachorros.

- Estou imaginando aqui é o tamanho da lista. - Disfarcei. - Muita coisa para fazer em tão pouco tempo.

- E por que você marcou para daqui a cinco meses?

- Porque tenho dedo podre para homem insistente! - Reclamei e ele disfarçou um sorriso. - Agora falando sério. O ficou me torrando a paciência ontem e por muito pouco mesmo quem dorme no sofá sou eu.

Me arrependi de ter dito aquilo assim que vi o olhar do . Francamente, não sei como ele não fez nenhum comentário a respeito. Melhor assim.

No sábado, quando estávamos no bar, estava tocando uma música que, mesmo eu não sendo tão fã assim da banda, não consegui ficar parada. As meninas, lógico, começaram a brincar e, quando dei por mim, estávamos em cima do balcão improvisando uma dança e nos divertindo horrores. De onde estava, pude ver a Seren morrendo de rir das nossas palhaçadas e eu estava só com uma pontinha de raiva de ela não ter animado a se juntar à nós.

Quando já estava quase amanhecendo e, como a Di tinha brigado com o , então foi para a casa comigo. Do mesmo jeito que fazíamos logo que inventamos de morar todas juntas, estávamos as duas deitadas sobre edredons estendidos no chão da sala, observando as sombras que as luzes faziam no teto.

- O maior arrependimento que eu tenho não é de ter ido para a cama com ele nesse dia. - Falei, quando ela sugeriu aquilo.

- E qual é? - Quis saber.

- Capaz de eu te contar, Coyle! - Resmunguei, cutucando sua cintura.

- Chata! - Retrucou. - Mas eu aposto que é igual ao meu.

Olhei para ela, que falou:

- Não ter dado uma chance para o antes.

- E por que você não se resolveu com ele hoje mesmo? À uma hora dessas, vocês dois podiam muito bem estar dormindo de conchinha.

- É justamente esse o problema. O tempo inteiro a gente fica um olhando para a cara do outro. Aí acaba que a gente briga por qualquer coisa. Outro dia mesmo foi por causa de queijo.

- Vocês brigaram por conta de queijo? Ah, não! Pelo amor! Vou ter uma conversa séria com vocês dois quando menos esperarem. Tudo bem que queijo é uma coisa de extrema importância para mim, mas pera lá.

Riu e, subitamente assumindo uma postura séria, me garantiu:

- Olha, eu quero que você saiba que para o que precisar na organização do casamento... Pode contar comigo. Com a Lola um pouco menos por causa da Sophia, mas ainda sim...

Agradeci e, como era de se esperar, acabamos dormindo.

Quando acordamos, já era depois de três da tarde, mas mesmo assim, fomos à Starbucks tomar um café e comer alguma coisa. Foi quando a Nadine soltou a bomba:

- Eu descobri o motivo de o estar fugindo da Seren.

- Ah é? E qual foi?

- Ele ficou... Insatisfeito com a falta de habilidade dela, se é que me entende.

Franzi as sobrancelhas.

- Eu sabia que ele tinha ido rápido demais com ela, mas não sabia que era tanto!

- Pois é. Eu acabei ouvindo o comentário por acidente. Vai tentar falar com ela?

- Não. Os dois que se entendam e ela que aprenda a fazer as coisas direito! Eu não tenho mais nada que a ver com o .

Me olhou inquisitiva e falei:

- Mas se eu pegar a Seren lendo aquelas porcarias de revistas tipo Cosmo, juro que faço pior que o Jigsaw com a bendita!

Ela riu e disse:

- Sabe o que eu li outro dia? Estava na sala de espera do dentista, tinha uma e não resisti.

Me contou e fiquei surpresa. E ela, rindo da minha cara.

- Se eu fizesse uma coisa dessas no , juro que ele me internava num manicômio! Sério, imagina a bagunça com o sorvete depois?

Ela quase chorava de tanto que ria.

- Pior é o seguinte: Como não vai ter luz nenhuma, vai que a criatura abençoada enfia sorvete no nariz do namorado? Credo! - Comentei e a Di engasgou. A ajudei imediatamente, ignorando um olhar atravessado que um casal de meia idade lançava na nossa direção.

Quando ela finalmente se acalmou, decidimos passar o dia inteiro juntas, sem fazer alguma coisa específica. Fomos até uma rua lotada de lojas variadas e, quando passamos em frente a um estúdio de tatuagem, a Di comentou:

- Sabia que eu não tenho coragem?

- Piercing ou tatuagem?

- Piercing você sabe que eu já tive. Mas só de imaginar aquela agulhinha fazendo aquele barulho e doendo horrores...

- Depende do lugar, né, Di? Não vai fazer no pé, por exemplo, que eu sei que dói para caramba.

- Tá, mas mesmo assim. Eu não tenho coragem.

- E se fosse para tatuar alguma coisa tipo... O nome ou até mesmo a impressão plantar de um futuro bebezinho seu?

- Ah, não sei. Pode ser que até lá eu mude de ideia. Mas por enquanto...

Ri enquanto recomeçávamos a andar.

Bem mais tarde, quando chegamos na nossa rua, ela foi para a casa, prometendo que iria conversar com o e tentar se resolver com ele. E eu, como vi as luzes da casa do lado acesas... Mandei uma mensagem e quase imediatamente, abriu a porta. Sorri e perguntou:

- Sabia que eu estava adivinhando que você ia vir para cá?

- Por quê?

- Fui ao mercado hoje de tarde e encontrei uma coisa que eu acho que você vai gostar...

- O quê?

Sorriu, misterioso. Parei no meio do caminho.

- Eu não vou mover um único milímetro até você me contar.

- Não se mexe que eu não te dou o que comprei.

Grunhi e pude ouvir sua risada enquanto eu andava até ele.

Depois de fazer todo um clima besta de mistério, me fez entrar na cozinha e sentar à bancada.

- Fecha os olhos, por favor. - Pediu e obedeci. Esperei enquanto ele mexia em várias coisas e, de repente, me pediu para estender a mão. De novo, fiz o que me pediu e senti que pôs algo ali. - Pode comer.

Mesmo estranhando, tateei para ver o que era e reconheci a forma de ampulheta. E o cheiro. Sem demora, enfiei o biscoito de polvilho na boca e falei, depois de comer:

- Quanto tempo tem que eu não como isso, meu Deus...

- Lembrei de você comentar outro dia e a hora que vi, simplesmente não pude deixar de comprar. Experimentei um e... Como você gosta disso?

Ri e respondi:

- Do mesmo jeito que você gosta de cerveja. Isso aqui é uma das coisas tradicionais do estado em que eu nasci. A propósito... Obrigada.

- Disponha. Mas sem abuso, tá?

Fiz língua para ele, que retrucou de imediato:

- Olha que eu te digo o que fazer com essa língua, ...

Ri e continuei comendo o biscoito de polvilho.

- Eu sei que você saiu com a Nadine... - Ele comentou.

- Pois é. Acho que essa foi a primeira vez desde que nos conhecemos que saímos só nós duas. Sempre foi com a Lola também...

- Vocês não são trigêmeas siamesas, caso tenha se esquecido.

Dei uma olhada feia para ele, que ameaçou tomar os biscoitos, mas fui mais rápida.

- É justamente isso o que eu estava pensando. A gente sempre andou juntas e agora que a Lola casou e tem uma filha é... Estranho.

- Com ciúmes do Charlie e da Sophia?

- Claro que não! Nem posso pensar em querer ficar no mesmo... Patamar que eles.

- Mas...?

Respirei fundo.

- Logo que você e o se mudaram para Los Angeles. Não foi estranho ficar sem o e o por perto? É um sentimento... Parecido. Me acostumei a ser nós três praticamente o tempo inteiro e agora que somos só a Di e eu... É estranho. Falta alguma coisa. E o pior é justamente saber que é a Nicola quem está faltando. Não é ciúmes. É estranheza natural.

- Ainda mais para você, filha única e sempre foi de poucos amigos...

- Quase nenhum, mas enfim... - Respondi, pensativa. - Mas por que você começou a falar da minha saída com a Di?

- Ela vai ser madrinha?

- Com certeza. Ainda não convidei, mas foi por falta de oportunidade. Ela fica dependurada no pescoço do o tempo inteiro... Daí, como é que vou conseguir?

- Eu acho que ela fica pendurada é em outra parte do corpo dele...

Suspirei e ele riu.

- Por que eu ainda fico surpresa com esses seus comentários? - Perguntei e ele gargalhou.

- Porque você é uma falsa puritana. É por isso.

Olhei para ele.

- Eu sou falsa puritana?

- É. Fica sempre se fingindo de surpresa quando o assunto é sexo. Aí, entre quatro paredes... Aliás... Nem precisa ser no quarto. No bar mesmo.

- Como assim?

- Desde a primeira vez que eu fui no bar que escuto alguns... Comentários que aposto que o ia reagir da pior maneira.

- Que comentários? E você não é de ficar de rodeios, então vai direto ao ponto.

- Uma vez, um cara falou que, se ele tivesse chance... - Hesitou. Franzi as sobrancelhas e perguntei:

- O que ele faria?

- As palavras exatas que ele usou foram bem vulgares. Mas... Basicamente, ele falou que ia te deixar descadeirada se tivesse a chance.

- Até imagino a figura.

- Parecido com o . Não só fisicamente, mas parecia ser do mesmo... Nível dele.

Ergui uma sobrancelha, surpresa.

- Wow... - Respondi. - Se bem que eu já devia estar acostumada, já que até hoje não topei com nenhum europeu que não fosse tarado. - Olhei significativamente para ele.

- Eu sou um santo!

- Ô! Santo do pau oco! - Retruquei e ele tomou o pacote de biscoitos. - , corre. Não vai ser salto alto que vai me impedir.

Ele nem se moveu, me desafiando. Me levantei do banco e comecei a andar na direção dele. Quando estava muito perto mesmo, foi que ele finalmente começou a correr. No meio do caminho, porém, eu tive uma ideia e fingi que torci o pé e desabei no chão com tudo. Claro que ele caiu (Ainda mais que eu consegui chorar) e veio correndo para me acudir. Esperei até estar perto o suficiente para tomar o pacote de biscoitos, levantar e sair correndo.

- Você me paga, ! - O ouvi reclamando enquanto corria atrás de mim. Quando entrei em um dos quartos, depois que consegui despistá-lo, fiquei de ouvido colado na porta, esperando por ele e, depois que finalmente vi o andando para longe do quarto em que estava, tirei as botas para não fazer barulho e, não resistindo, acendi a luz. Não tinha me dado conta de que tinha vindo para o quarto dele. Notei que, sobre a cama, tinha um caderno aberto e, dando uma olhada rápida na porta, comecei a andar. Assim que me sentei sobre o colchão macio, não resisti e olhei o que ele estava fazendo. Tinha uma letra de música ali, cheia de anotações e rabiscos. E nem precisei pensar muito para perceber quem era a musa inspiradora dele. Recoloquei o caderno no lugar e me levantei da cama. Só para dar de cara com o me observando.

- Como sempre... Curiosa. - Comentou, se aproximando.

- Você me conhece... - Respondi. - Desculpa. Não resisti.

Negou com a cabeça e se sentou ao meu lado, pegando o caderno. Sem me olhar, quis saber:

- O que você achou?

Sem dizer uma única palavra, beijei sua bochecha e falei:

- Eu amei.

- Sério? Eu achei que estava uma porcaria.

Suspirei e retruquei:

- Esse é o problema dos perfeccionistas. Eternamente insatisfeitos com o próprio trabalho, não importa o quão bom esteja. Acredita em mim pelo menos desta vez. Eu realmente acho que deveria ser trabalhada.

Ainda não me olhava de volta. Pôs o caderno de lado e me surpreendeu com um abraço daqueles. Escondeu o rosto na curva do meu pescoço e sua respiração, mesmo que não fosse proposital, acabou me arrepiando. Sem que eu pudesse me controlar, comecei a arranhar de leve a sua nuca e ele começou a subir a minha blusa, mas só o suficiente para poder acariciar diretamente a minha cintura. Depois de alguns minutos, quando estava começando a ficar realmente difícil de resistir, o soltei, mas ele me manteve firme por mais algum tempinho.

- Dorme aqui hoje. - Me pediu, assim que me soltou. O jeito que me observava, expondo totalmente tudo o que sentia, era irresistível.

- Sob uma condição. - Concordou em silêncio. - Que você se comporte. E não roube mais os biscoitos de polvilho.

Sorriu daquele jeito mais... Fofo e tive vontade de pular em cima dele. Mas me controlei. Para o bem da minha própria sanidade e do meu noivado. Está decidido: Toda vez que o me tentar, vou focar os pensamentos no e quero ver se não vai dar certo...

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 16º capítulo


16. Cause we're about to throw down and you'll know just what to do

Balance suas mãos no ar
Como se não ligasse
Passe pelas pessoas
Assim que elas começarem a olhar e encarar

(Little Mix - Word up)

Luiza

Fevereiro voou e, quando dei por mim, já estávamos em Março e o Bill era meu vizinho de novo há pelo menos quinze dias. Como sempre, tínhamos ajudado com tudo e até a Simone veio. A Sophia, de longe, foi quem mais se divertiu com a bagunça.

Durante todo aquele tempo, o Bill e eu nos aproximamos mais e simplesmente tinha começado a ignorar quando aparecia algum paparazzo tirando fotos nossas. Mas tinha a satisfação de frustrá-los, porque sempre fazíamos coisas normais, tipo ir ao supermercado e até mesmo ir à Chinatown e comer em pé numa banca que sempre gostei e que, de quebra, tinha pratos vegetarianos. Um dos fotógrafos até veio reclamar que éramos monótonos demais. Na ocasião, respondi:

- A única coisa mais excitante que fazemos é o trabalho no bar. E mesmo assim, o Bill só serve as bebidas.

Deu até dó. Mas era a mais completa verdade. O Alex, claro, sabia do que estava acontecendo e até notei uma pontada de ciúmes quando nos falávamos. Ele, de novo, estava viajando e eu sentia uma falta enorme dele. Quer dizer, até o Bill aparecer.

Sabia que ele estava, graças à muita insistência da minha parte, tentando sair com a Seren; Não conseguia entender toda essa resistência dele. Cheguei ao ponto de pedir para a Di tentar descobrir o que era toda essa birra que ele tinha.

Numa tarde de domingo, quando o Alex finalmente estava em casa e estávamos mofando no sofá, ele começou, pensativo:

- Enquanto eu estava em Melbourne, fiquei pensando sobre uma coisa.

Olhei para ele.

- Eu não queria um daqueles noivados longos demais, que a gente nunca resolve quando vai casar e, pior: O pessoal começa a morrer, como naquele filme.

- Alexander! - Chamei sua atenção e batendo na sua coxa. Ele riu e, assumindo uma postura séria, continuou:

- Tá, mas o que eu queria dizer era que eu posso não ser tão paciente assim.

- Eu já te aviso de antemão que não quero um casamento suntuoso. Quero uma coisa bem menor, convidar as famílias e os amigos mais próximos.

- Eu sinceramente não te entendo. Se posso pagar por uma festa daquelas...

- Aí que está. É melhor não gastar uma fortuna numa coisa tão... Quer dizer, eu acho que festa de casamento é legal, mas, prefiro fazer uma coisa mais discreta. Mesmo porque, se for um festão, vai atrair atenção indesejada da imprensa. E um casamento não é uma coisa banal. Não quero que seja estragado por um bando de repórteres e fotógrafos que atrapalhem.

Me observou em silêncio e em seguida, me beijou. Quando nos separamos, ele perguntou:

- O que eu queria dizer era que quero marcar logo a data. Não precisa se preocupar com tempo e nem dinheiro. Se for preciso, eu pago tudo.

Suspirei e ele continuou insistindo. Perdi a paciência um pouco, mas não chegamos à uma discussão de fato.

No dia seguinte, em plena segunda-feira, eu estava na Starbucks mais perto de casa, esperando uma certa pessoa chegar e lia um livro enquanto tomava um café e, vez ou outra, dava umas mordiscadas no meu muffin de mirtilo. Estava tão entretida que nem notei que ele tinha chegado e ainda estava sentado na minha frente, também tomando o café. Tomei um susto daqueles e ele riu. Perguntou:

- Que livro é esse?

Mostrei a capa e ele ergueu a sobrancelha.

- Leitura leve para essa hora da manhã... - O Bill comentou. - E por que eu não estou nem um pouco surpreso que você esteja lendo um livro sobre o Jack?

- Porque você sabe que eu adoro essas histórias escabrosas aparentemente insolúveis. Nem é sobre os crimes por si só, ainda mais que... Bom, a última morte, da Mary Jane Kelly foi a pior de todas, mas é justamente pelo fato de até hoje ninguém tem a menor ideia de quem era. Eu acho que pegaram o cara, mas como era alguém ligado à coroa e, se essa ligação perigosíssima viesse a público... Acho que um dos poucos impérios mais poderosos do mundo ia ruir em cinco segundos.

- E te conhecendo, você não acha que essa pessoa com ligação perigosíssima à coroa, não era alguém muito óbvio. Tipo o príncipe.

- Eu acho que, se fosse ele, a rainha teria dado uma sova daquelas nele. - Respondi e rimos. - Era a rainha Vitória, mas ainda sim, era mãe e tinha todo o direito de dar uns bons tapas no príncipe. À parte toda a história do crime.

- Imagina?- Ele começou a imitar a rainha dando uma bronca no príncipe e ri.

- Ela é uma das figuras Históricas que eu queria ter conhecido. Para alguém que dizia odiar engravidar, mas teve... Quase dez filhos, senão me engano...

- Isso tudo? Imagina se ela gostasse!

Rimos e continuamos a comer e conversar. Depois que pagamos pelos cafés e as comidas, quis dar uma volta pelo Regent’s Park. Quando nos sentamos num dos bancos perto do anfiteatro, comentei:

- Eu tenho uma coisa para te dizer.

- Você está grávida? - Perguntou, se virando tão rápido que até me assustei que não ficou tonto.

- Quê? Não! Só o que me faltava!

- Impossível não é. Ainda mais que a gente sabe muito bem que camisinha pode estourar.

Dei um estalo com a língua e falei:

- Te garanto que eu não estou grávida. Mas é algo relacionado ao casamento de uma maneira ou outra.

- Ok. E o que é?

- Marquei a data com o Alex.

- E para quando vai ser?

- Agosto.

- Já? - Assenti. - Mas tem um dia decidido?

- A gente tinha falado no dia 21. Ele queria agora em Junho ou Julho.

Me avaliou em silêncio.

- E você está tão animada assim? - Finalmente perguntou depois de um tempinho.

- Honestamente? Não. - Respondi, rindo. - Provavelmente porque eu sei do trabalho que vou ter com toda a organização, as provas do vestido... Só de pensar nisso tudo dá uma preguiça...

- Bom, você tem a minha ajuda. Com certeza, a das meninas também.

- É. Até a Claire se dispôs... Aliás... Eu estou achando que ela é a próxima noiva.

- Eu aposto com você que é a Nadine.

- Vinte libras?

- Eu aposto trinta.

- Fechado. - Falei, estendendo a mão.

- Começa a separar as minhas vinte libras.

Levantei a sobrancelha e ele riu.

Algum tempo depois, quando estávamos andando perto de casa, contei um pouco das ideias que tive e ele ouvia tudo atentamente.

No final da tarde, quando ele estava me ajudando a organizar algumas coisas, me perguntou:

- Te conhecendo bem, eu sei que quando você fica quieta desse jeito, é porque está pensando em alguma coisa. Dá até para ouvir as, como você diz, engrenagens do seu cérebro funcionando. O que é?

Respirei fundo e o olhei:

- Posso te fazer um pedido? É meio... Difícil e eu entendo se você não quiser.

- O que foi?

- Antes de mais nada, eu quero deixar uma coisa bem clara. Se estou te fazendo um convite desses, é porque quero que seja você.

- Fala logo, Luiza.

- Aceita ser meu padrinho de casamento? Eu sei que é um pedido absurdo, mas...

- Tudo bem. - Olhei para ele, não conseguindo acreditar no que ouvia. - Eu aceito.

- Mesmo?

Concordou e pulei em cima dele. Só que eu, como sempre, tinha que fazer besteira. Por acidente, acabei encostando em... Certa parte do corpo dele, se é que me entende. Nunca quis tanto que um buraco se abrisse debaixo de mim como naquele instante.

- Desculpa. - Pedi, provavelmente tão corada quanto o par vermelho de Louboutins que tinha comprado na sexta-feira.

- Está tudo bem, confie em mim. - Falou, tentando me tranquilizar. - Izzy, é sério. Está tudo bem.

Ergui o olhar para ele e perguntou:

- O que foi?

- Nada. - Respondi, não conseguindo evitar um sorriso que começava a aparecer nos meus lábios.

- Fala. Senão eu vou te obrigar.

- Posso saber como?

- Cócegas.

Logo, dei um jeito de desconversar:

- Eu não deveria ter me empolgado tanto.

- Deveria. É uma coisa que você quer...

Dando um sorriso tímido, perguntei:

- Vai ter paciência para aguentar tudo o que envolve um casamento? Provas de roupa, das comidas que vão ser servidas no casamento, me ajudar a escolher um lugar legal para a cerimônia...?

- Tem certeza que não quer que o Alex faça isso?

- Ele não vai poder, por causa do trabalho e o Alex, sem paciência, é um porre pior que eu. - Ri e ele me acompanhou.

- Será que ele não vai achar ruim?

- Azar o dele se achar. Não mandei deixar tudo sob meus cuidados... Além do mais, se for pedir ajuda integral das meninas, elas vão dar sugestões que ele pode não gostar. Por isso também que acho que vai ser bom ter um... Olhar masculino para me ajudar. Senão sei que ele vai chiar porque a decoração vai ser rosa demais.

- Bom, dá para você economizar no noivinho. Só colocar um Ken em cima do bolo e pronto.

Tive que rir e admiti:

- Pior é que eu tenho um que parece com ele.

- Aí!

Bati de leve no seu ombro e falei:

- Não vou usar um Ken e uma Barbie em cima do bolo. Só o que faltava!

- Vai fazer o que então? Aqueles noivinhos tradicionais ou aqueles personalizados, com cada um fazendo uma coisa típica?

Dei de ombros.

- Se fizer os personalizados, não é tão difícil de fazer a sua.

Olhei para ele, franzindo as sobrancelhas.

- A Vivi do lado, com você segurando uma tigela e batendo uma massa no colo enquanto canta e mexe no computador. Ah! Ia ter uma pilha de livros de História do lado. OU de mitologia, de várias partes do mundo. Um ia ser só de mitologia hindu.

Dei um meio sorriso e já imaginei o do Alex: Maleta de couro preta numa das mãos, computador na outra e um copo da Starbucks apoiado perto do teclado. Promissor... Agora se fosse fazer um do Bill... Para começo de conversa, não ia ser discreto. Ia estar com um microfone nas mãos, fazendo alguma pose típica dele e rodeado de cachorros.

- Estou imaginando aqui é o tamanho da lista. - Disfarcei. - Muita coisa para fazer em tão pouco tempo.

- E por que você marcou para daqui a cinco meses?

- Porque tenho dedo podre para homem insistente! - Reclamei e ele disfarçou um sorriso. - Agora falando sério. O Alex ficou me torrando a paciência ontem e por muito pouco mesmo quem dorme no sofá sou eu.

Me arrependi de ter dito aquilo assim que vi o olhar do Bill. Francamente, não sei como ele não fez nenhum comentário a respeito. Melhor assim.

No sábado, quando estávamos no bar, estava tocando uma música que, mesmo eu não sendo tão fã assim da banda, não consegui ficar parada. As meninas, lógico, começaram a brincar e, quando dei por mim, estávamos em cima do balcão improvisando uma dança e nos divertindo horrores. De onde estava, pude ver a Seren morrendo de rir das nossas palhaçadas e eu estava só com uma pontinha de raiva de ela não ter animado a se juntar à nós.

Quando já estava quase amanhecendo e, como a Di tinha brigado com o Tom, então foi para a casa comigo. Do mesmo jeito que fazíamos logo que inventamos de morar todas juntas, estávamos as duas deitadas sobre edredons estendidos no chão da sala, observando as sombras que as luzes faziam no teto.

- O maior arrependimento que eu tenho não é de ter ido para a cama com ele nesse dia. - Falei, quando ela sugeriu aquilo.

- E qual é? - Quis saber.

- Capaz de eu te contar, Coyle! - Resmunguei, cutucando sua cintura.

- Chata! - Retrucou. - Mas eu aposto que é igual ao meu.

Olhei para ela, que falou:

- Não ter dado uma chance para o Tom antes.

- E por que você não se resolveu com ele hoje mesmo? À uma hora dessas, vocês dois podiam muito bem estar dormindo de conchinha.

- É justamente esse o problema. O tempo inteiro a gente fica um olhando para a cara do outro. Aí acaba que a gente briga por qualquer coisa. Outro dia mesmo foi por causa de queijo.

- Vocês brigaram por conta de queijo? Ah, não! Pelo amor! Vou ter uma conversa séria com vocês dois quando menos esperarem. Tudo bem que queijo é uma coisa de extrema importância para mim, mas pera lá.

Riu e, subitamente assumindo uma postura séria, me garantiu:

- Olha, eu quero que você saiba que para o que precisar na organização do casamento... Pode contar comigo. Com a Lola um pouco menos por causa da Sophia, mas ainda sim...

Agradeci e, como era de se esperar, acabamos dormindo.

Quando acordamos, já era depois de três da tarde, mas mesmo assim, fomos à Starbucks tomar um café e comer alguma coisa. Foi quando a Nadine soltou a bomba:

- Eu descobri o motivo de o Bill estar fugindo da Seren.

- Ah é? E qual foi?

- Ele ficou... Insatisfeito com a falta de habilidade dela, se é que me entende.

Franzi as sobrancelhas.

- Eu sabia que ele tinha ido rápido demais com ela, mas não sabia que era tanto!

- Pois é. Eu acabei ouvindo o comentário por acidente. Vai tentar falar com ela?

- Não. Os dois que se entendam e ela que aprenda a fazer as coisas direito! Eu não tenho mais nada que a ver com o Bill.

Me olhou inquisitiva e falei:

- Mas se eu pegar a Seren lendo aquelas porcarias de revistas tipo Cosmo, juro que faço pior que o Jigsaw com a bendita!

Ela riu e disse:

- Sabe o que eu li outro dia? Estava na sala de espera do dentista, tinha uma e não resisti.

Me contou e fiquei surpresa. E ela, rindo da minha cara.

- Se eu fizesse uma coisa dessas no Alex, juro que ele me internava num manicômio! Sério, imagina a bagunça com o sorvete depois?

Ela quase chorava de tanto que ria.

- Pior é o seguinte: Como não vai ter luz nenhuma, vai que a criatura abençoada enfia sorvete no nariz do namorado? Credo! - Comentei e a Di engasgou. A ajudei imediatamente, ignorando um olhar atravessado que um casal de meia idade lançava na nossa direção.

Quando ela finalmente se acalmou, decidimos passar o dia inteiro juntas, sem fazer alguma coisa específica. Fomos até uma rua lotada de lojas variadas e, quando passamos em frente a um estúdio de tatuagem, a Di comentou:

- Sabia que eu não tenho coragem?

- Piercing ou tatuagem?

- Piercing você sabe que eu já tive. Mas só de imaginar aquela agulhinha fazendo aquele barulho e doendo horrores...

- Depende do lugar, né, Di? Não vai fazer no pé, por exemplo, que eu sei que dói para caramba.

- Tá, mas mesmo assim. Eu não tenho coragem.

- E se fosse para tatuar alguma coisa tipo... O nome ou até mesmo a impressão plantar de um futuro bebezinho seu?

- Ah, não sei. Pode ser que até lá eu mude de ideia. Mas por enquanto...

Ri enquanto recomeçávamos a andar.

Bem mais tarde, quando chegamos na nossa rua, ela foi para a casa, prometendo que iria conversar com o Tom e tentar se resolver com ele. E eu, como vi as luzes da casa do lado acesas... Mandei uma mensagem e quase imediatamente, abriu a porta. Sorri e perguntou:

- Sabia que eu estava adivinhando que você ia vir para cá?

- Por quê?

- Fui ao mercado hoje de tarde e encontrei uma coisa que eu acho que você vai gostar...

- O quê?

Sorriu, misterioso. Parei no meio do caminho.

- Eu não vou mover um único milímetro até você me contar.

- Não se mexe que eu não te dou o que comprei.

Grunhi e pude ouvir sua risada enquanto eu andava até ele.

Depois de fazer todo um clima besta de mistério, me fez entrar na cozinha e sentar à bancada.

- Fecha os olhos, por favor. - Pediu e obedeci. Esperei enquanto ele mexia em várias coisas e, de repente, me pediu para estender a mão. De novo, fiz o que me pediu e senti que pôs algo ali. - Pode comer.

Mesmo estranhando, tateei para ver o que era e reconheci a forma de ampulheta. E o cheiro. Sem demora, enfiei o biscoito de polvilho na boca e falei, depois de comer:

- Quanto tempo tem que eu não como isso, meu Deus...

- Lembrei de você comentar outro dia e a hora que vi, simplesmente não pude deixar de comprar. Experimentei um e... Como você gosta disso?

Ri e respondi:

- Do mesmo jeito que você gosta de cerveja. Isso aqui é uma das coisas tradicionais do estado em que eu nasci. A propósito... Obrigada.

- Disponha. Mas sem abuso, tá?

Fiz língua para ele, que retrucou de imediato:

- Olha que eu te digo o que fazer com essa língua, Luiza...

Ri e continuei comendo o biscoito de polvilho.

- Eu sei que você saiu com a Nadine... - Ele comentou.

- Pois é. Acho que essa foi a primeira vez desde que nos conhecemos que saímos só nós duas. Sempre foi com a Lola também...

- Vocês não são trigêmeas siamesas, caso tenha se esquecido.

Dei uma olhada feia para ele, que ameaçou tomar os biscoitos, mas fui mais rápida.

- É justamente isso o que eu estava pensando. A gente sempre andou juntas e agora que a Lola casou e tem uma filha é... Estranho.

- Com ciúmes do Charlie e da Sophia?

- Claro que não! Nem posso pensar em querer ficar no mesmo... Patamar que eles.

- Mas...?

Respirei fundo.

- Logo que você e o Tom se mudaram para Los Angeles. Não foi estranho ficar sem o Georg e o Gustav por perto? É um sentimento... Parecido. Me acostumei a ser nós três praticamente o tempo inteiro e agora que somos só a Di e eu... É estranho. Falta alguma coisa. E o pior é justamente saber que é a Nicola quem está faltando. Não é ciúmes. É estranheza natural.

- Ainda mais para você, filha única e sempre foi de poucos amigos...

- Quase nenhum, mas enfim... - Respondi, pensativa. - Mas por que você começou a falar da minha saída com a Di?

- Ela vai ser madrinha?

- Com certeza. Ainda não convidei, mas foi por falta de oportunidade. Ela fica dependurada no pescoço do Tom o tempo inteiro... Daí, como é que vou conseguir?

- Eu acho que ela fica pendurada é em outra parte do corpo dele...

Suspirei e ele riu.

- Por que eu ainda fico surpresa com esses seus comentários? - Perguntei e ele gargalhou.

- Porque você é uma falsa puritana. É por isso.

Olhei para ele.

- Eu sou falsa puritana?

- É. Fica sempre se fingindo de surpresa quando o assunto é sexo. Aí, entre quatro paredes... Aliás... Nem precisa ser no quarto. No bar mesmo.

- Como assim?

- Desde a primeira vez que eu fui no bar que escuto alguns... Comentários que aposto que o Alex ia reagir da pior maneira.

- Que comentários? E você não é de ficar de rodeios, então vai direto ao ponto.

- Uma vez, um cara falou que, se ele tivesse chance... - Hesitou. Franzi as sobrancelhas e perguntei:
- O que ele faria?

- As palavras exatas que ele usou foram bem vulgares. Mas... Basicamente, ele falou que ia te deixar descadeirada se tivesse a chance.

- Até imagino a figura.

- Parecido com o Alex. Não só fisicamente, mas parecia ser do mesmo... Nível dele.

Ergui uma sobrancelha, surpresa.

- Wow... - Respondi. - Se bem que eu já devia estar acostumada, já que até hoje não topei com nenhum europeu que não fosse tarado. - Olhei significativamente para ele.

- Eu sou um santo!

- Ô! Santo do pau oco! - Retruquei e ele tomou o pacote de biscoitos. - Kaulitz, corre. Não vai ser salto alto que vai me impedir.

Ele nem se moveu, me desafiando. Me levantei do banco e comecei a andar na direção dele. Quando estava muito perto mesmo, foi que ele finalmente começou a correr. No meio do caminho, porém, eu tive uma ideia e fingi que torci o pé e desabei no chão com tudo. Claro que ele caiu (Ainda mais que eu consegui chorar) e veio correndo para me acudir. Esperei até estar perto o suficiente para tomar o pacote de biscoitos, levantar e sair correndo.

- Você me paga, Luiza! - O ouvi reclamando enquanto corria atrás de mim. Quando entrei em um dos quartos, depois que consegui despistá-lo, fiquei de ouvido colado na porta, esperando por ele e, depois que finalmente vi o Bill andando para longe do quarto em que estava, tirei as botas para não fazer barulho e, não resistindo, acendi a luz. Não tinha me dado conta de que tinha vindo para o quarto dele. Notei que, sobre a cama, tinha um caderno aberto e, dando uma olhada rápida na porta, comecei a andar. Assim que me sentei sobre o colchão macio, não resisti e olhei o que ele estava fazendo. Tinha uma letra de música ali, cheia de anotações e rabiscos. E nem precisei pensar muito para perceber quem era a musa inspiradora dele. Recoloquei o caderno no lugar e me levantei da cama. Só para dar de cara com o Bill me observando.

- Como sempre... Curiosa. - Comentou, se aproximando.

- Você me conhece... - Respondi. - Desculpa. Não resisti.

Negou com a cabeça e se sentou ao meu lado, pegando o caderno. Sem me olhar, quis saber:

- O que você achou?

Sem dizer uma única palavra, beijei sua bochecha e falei:

- Eu amei.

- Sério? Eu achei que estava uma porcaria.

Suspirei e retruquei:

- Esse é o problema dos perfeccionistas. Eternamente insatisfeitos com o próprio trabalho, não importa o quão bom esteja. Acredita em mim pelo menos desta vez. Eu realmente acho que deveria ser trabalhada.

Ainda não me olhava de volta. Pôs o caderno de lado e me surpreendeu com um abraço daqueles. Escondeu o rosto na curva do meu pescoço e sua respiração, mesmo que não fosse proposital, acabou me arrepiando. Sem que eu pudesse me controlar, comecei a arranhar de leve a sua nuca e ele começou a subir a minha blusa, mas só o suficiente para poder acariciar diretamente a minha cintura. Depois de alguns minutos, quando estava começando a ficar realmente difícil de resistir, o soltei, mas ele me manteve firme por mais algum tempinho.

- Dorme aqui hoje. - Me pediu, assim que me soltou. O jeito que me observava, expondo totalmente tudo o que sentia, era irresistível.

- Sob uma condição. - Concordou em silêncio. - Que você se comporte. E não roube mais os biscoitos de polvilho.

Sorriu daquele jeito mais... Fofo e tive vontade de pular em cima dele. Mas me controlei. Para o bem da minha própria sanidade e do meu noivado. Está decidido: Toda vez que o Bill me tentar, vou focar os pensamentos no Alex e quero ver se não vai dar certo...