quarta-feira, 28 de outubro de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 32º capítulo


Oh, but that one night was more than just right

Não larguei você
Porque eu estava acabado
Oh, eu estava impressionado
E, sinceramente, muito assustado
Porque realmente me apaixonei por você


(Train - Drive by)

Luiza

Depois do expediente, estávamos ajudando a fechar o bar, como sempre fazíamos, e, nesse meio tempo, conversava com as meninas. Quando terminamos tudo e fomos pegar as nossas coisas, a Lydia entrou ali e, fazendo questão de ser ouvida, comentou:

          -... E é estranho, não nego. Agora de uma coisa você pode ter certeza: Se arrependimento matasse, eu estaria morta.

A garota com quem ela conversava (E com quem não havíamos simpatizado nem um pouco) sorriu maldosa e disse:

          - Deveria mesmo era ter aproveitado quando teve chance e transado com ele quando teve chance. Eu estava o observando e tem jeito de ser ótimo de cama...

Olhei para as meninas e sibilei, fazendo expressão simpática:

          - Me segurem que eu vou dar nas caras dessas duas...

          - Quer ajuda? - A Di perguntou. - Quero descontar a raiva do assanhamento do Tom...

Justo nessa hora, ouvi a Lydia comentar:

          -... Ah, mas tem homem casado que não está nem aí. Quer dizer, se eles traem as esposas, é porque não estão satisfeitos com o que tem em casa.

Vi a Nicola se levantando e agarrei a manga do seu casaco. Neguei com a cabeça.

          - E eu não sei porquê... Mas acho não acho que o Bill vá demorar tanto assim para procurar o que não tem em casa...

Respirei fundo e tentei me manter calma o máximo que pude. Peguei a bolsa e fiz sinal para que as meninas me seguissem. Ao passar pela Lydia, no entanto, não me contive e falei:

          - Pode saber que você seria a última pessoa quem ele procuraria. Ou ainda não caiu a ficha de que o Bill tem horror de você?

Sorriu torto e disse:

          - Se ele tem tanto horror assim de mim... Então por que não parou de me olhar na noite da virada do ano e nem hoje à noite?

 Me virei para as meninas e perguntei:

          - Vocês viram isso?

As duas negaram.

          - Ah... Um aviso: Fica longe dele. No que depender de mim... Se você se acha ruim... É por que não viu do que sou capaz.

          - Estou com tanto medo... - Disse, estreitando os olhos. - Ainda mais de uma mosquinha morta que nem você.

Arqueei a sobrancelha e ela continuou:

          - Agora de curiosidade... O Bill aceitou ficar com você mesmo sabendo a vagabunda que é?

Só senti meu sangue fervendo e, quando vi, dei um tapa daqueles na cara dela. Pude ver a marca dos meus dedos no seu rosto ficando cada vez mais forte e, em seguida, veio para cima de mim. Claro que me derrubou, mas consegui ficar por cima. Não sabia direito o que estava fazendo. Só sei que toda a raiva que eu sentia dela, não só por ter acabado com a banda, mas por tudo que fez com o Bill, estava sendo direcionada para as minhas mãos. Não sabia se batia, dava socos, arranhava... No fim, acabei fazendo um pouco de tudo. Num único instante em que ela me pegou de guarda baixa, se aproveitou para dar um soco na minha boca e logo senti o gosto metálico do sangue. Ignorei totalmente esse pequeno detalhe e continuei batendo nela e até mesmo xingando. Não sei como, mas justo na melhor parte, senti alguém me puxando e tentando à duras penas me afastar dela. Não estava tendo um trabalho fácil, já que eu estava esperneando e inquieta. Sem falar que xingava com todos os palavrões e xingamentos que me vinham à cabeça. Vi um dos seguranças do bar tirarem a Lydia dali e, só quando ela saiu que me soltaram.

          - Filha da puta cretina! - Resmunguei. Senti que me puxaram de novo e eu percebi que tremia. Respirava fundo e tentava à todo custo me acalmar. Só que não conseguia.

          - O que aconteceu aqui, porra? - Ouvi a voz do Bill, tão bravo quanto eu estava.

          - Não mexe comigo por agora senão não respondo por mim! - Gritei e me debati, tentando soltar meus braços. Ele suspirou e disse:

          - Pode deixar que, se eu precisar, eu chamo.

Não sei quanto tempo depois, estávamos sozinhos ali. Eu já tinha me acalmado e ele me fez sentar sobre a pia. Não sei como, mas tinha conseguido um algodão e um potinho que eu sabia que era álcool.

          - O que houve? - Perguntou, enquanto despejava um pouco do álcool sobre o algodão.

          - Ela ficou me provocando, me chamou de vagabunda, ficou falando um monte de merdas, tipo que não sabia como você aceitou ficar comigo... Perdi as estribeiras e, quando vi, dei um tapa nela. E ela reagiu, vindo para cima de mim. Não consegui me controlar e tudo que estava sufocado... Saiu. Eu sei que não deveria ter dado atenção, mas não tenho sangue de barata e você sabe disso.

Concordou.

          - Juro que, quando cheguei, achei que você ia acabar... Sei lá, matando a Lydia. Só via que você batia muito nela.

          - Eu me descontrolei.

Assentiu e, de repente, encostou o algodão no meu lábio. Gemi e ele riu fraco.

          - Fiquei com medo por você. Quando a Nicola apareceu, avisando que você e a Lydia estavam brigando, já tinha imaginado o pior.

Dei um estalo com a língua e falei:

          - Até parece que você não me conhece... Lembra que eu sei me defender?

Concordou.

Um tempo depois (E de um longo sermão do Stephen), fui liberada. Enquanto andávamos pela rua, de volta para a casa, a Lola comentava da briga, toda animada. Até dava pulinhos.

Uns dias se passaram e, quando estávamos na terceira semana de janeiro, eu e as meninas tivemos uma ideia e, para surpreender o Stephen, fizemos uma pequena... Estripulia quando ele não estava no bar. Uma vez que estava tudo feito, nem esperamos até chegar em casa; Havíamos levado um computador com editor de vídeo e, assim que estava tudo pronto, já colocamos na internet, dando um jeito de viralizar.

Na noite seguinte, só para variar, o Bill tinha ido com a gente. O Alex também e eu estava vendo a hora em que um ia caçar confusão com o outro. Não havia nem sinal da Lydia e da sua “Rabicha”. Havíamos dado o apelido venenoso por causa do personagem do Harry Potter, seguidor do Voldemort.

Estava indo tudo muito bem, obrigada, até que o Stephen me chamou ao seu escritório. Estranhando, fui até lá e, assim que entrei e vi sua postura séria, tive medo. E piorou quando ele me pediu, em tom pouco amistoso, que fechasse a porta. Me sentei na cadeira de frente para a sua mesa e ele disse, sério:

           - Te chamei aqui porque quero conversar a respeito de uma coisa com você.

Engoli em seco.

          - Não tem como negar que você é uma das Coyotes mais queridas. E, desde que você foi para Los Angeles, muita gente tem reclamado da sua falta.

Assenti.

          - Você sabe que não estou em Los Angeles por vontade própria.

Ergueu o olhar.

          - Será mesmo? Eu vi o jeito que você e o Bill ficam quando estão perto um do outro. Vi o jeito que se olham. O jeito que ele ficou quando a Nicola falou que você estava brigando com a Lydia.

          - Bom, Stephen... Você tem que concordar que, morar por quase um ano sob o mesmo teto com alguém por quem você sente uma atração muito forte como a que eu sinto pelo Bill, ia acabar evoluindo.

          - Eu sei. E sei que as chances de você não voltar mais para Londres são grandes, não é?

Neguei.

          - Sejamos realistas: Quais são as chances de eu ficar com o Bill depois que o prazo do juiz acabar? No início, realmente era por obrigação. Mas, apesar de ele me conhecer melhor agora... Quem te garante que ele vai me aceitar do jeito que eu sou? E vice-versa? Você me conhece, sabe que eu posso não aguentar... Tudo que vem com ele. Uma coisa é o Alex. Outra bem diferente é o Bill.

          - E por que acha que com o Bill é diferente?

          - Talvez porque ele é um rockstar com fãs pelo mundo inteiro com os hormônios borbulhando e uma possessividade quase psicótica, enquanto o Alex, embora tenha admiradoras e tal, é mais... Bom, tem uma vida mais estável.

Me olhou, sorrindo misteriosamente.

          - Justamente por, como você disse, te conhecer tão bem, que eu sei que você prefere a montanha-russa que é a vida do Bill à calmaria da vida do Alex.

Hesitei.

          - Queria te dizer que, não importa o que aconteça, você é e sempre vai ser uma coyote. As portas do bar sempre estarão abertas para quando quiser voltar. Seja como cliente ou como garçonete.

Sorri e perguntei:

          - Posso te dar um abraço?

Rindo, concordou e, mesmo com a mesa entre nós, me abraçou.

Quando saí do seu escritório, vi que o Bill estava encostado numa pilastra ali em frente e perguntou:

          - Aconteceu algo com que eu deva me preocupar?

          - Tipo?

          - Ele ter te despedido por causa da confusão com a Lydia?

Neguei.

          - Muito pelo contrário. Me garantiu que não vou deixar nunca de ser uma coyote.

Assentiu lentamente.

          - Agora, vamos voltar cada um para seu posto senão aí sim, estou na rua.

          - Só uma última coisa.

Olhei para ele, sem entender. Passou os braços em torno da minha cintura e me puxou para mais perto, roubando um beijo daqueles mais apaixonados possíveis. De repente, ouvimos alguém pigarreando e, quando nos separamos, olhamos para a mesma direção e o Stephen disse para o Bill:

          - Nada de ficar agarrando as minhas funcionárias durante o horário de expediente, Kaulitz. Depois, pode até ser.

O jeito, então, foi cada um ir para seu canto.

Quando chegamos em casa, um tempo depois, só estávamos nós dois. Georg e Gustav sumiram, como sempre, Tom e Nadine foram vistos pela última vez assim que o Stephen fechou o bar e a Lola tinha ido dormir na casa do Charlie.

          - Vou ao banheiro. E você... - O Bill falou, me abraçando por trás. - Vai se preparando.

          - Me preparando para...? - Me fiz de desentendida.

          - Estamos só nós dois aqui e é claro que vou querer aproveitar.

          - Safado. - Falei, alcançando sua bunda e dando um tapa. Riu e disse:

          - Sabia que você acabou de me dar uma ideia?

Consegui me soltar dele e avisei:

          - Não... Nem vem que não tem!

Sorriu lascivo e corri para o quarto, ouvindo sua gargalhada.

Depois que troquei de roupa, deitei na cama e acabei pegando no sono. Uma das últimas coisas que tive consciência de acontecer era ele me abraçando por trás e me puxando para mais perto.

Na sexta-feira, o bar, como sempre, estava lotado. Não parávamos um instante e, de repente, um cara, com a maior pinta de jogador de futebol americano, começou a dar em cima de mim. Num dado momento, disse:

          - Estou pensando aqui... Você podia muito bem ser a namorada de um nickelback.

 Olhei para ele e falei:

          - Até gosto da banda e tal, mas...

Riu e disse:

          - Sou jogador de futebol americano. Nickelback é um dos jogadores de defesa.

          - Ah sim... Bom, eu gosto do que vocês chamam de soccer. Mas gosto muito mais ainda do meu marido, que não é jogador.

          - E ele é o quê? - Perguntou, com um leve tom de desdém.

          - Ele é simplesmente o homem que eu amo, que faz algo que ele gosta e não é um brutamontes como você.

          - Ele existe?

Ergui a mão e exibi a aliança.

          - Quem me garante que você não está usando a aliança justamente para dispensar os caras?

Arqueei a sobrancelha e perguntei:

          - E quem te garante que, caso eu fosse solteira e desimpedida, ia dar mole para você? Ainda não deu para perceber que você não faz o meu tipo?

          - E qual é o seu tipo, hein, boneca?

          - Em primeiro lugar... Não me chama de boneca ou qualquer outro nome que não seja o meu. Em segundo: Dispenso fisiculturistas com montanha de músculos e com o cérebro e... Outras coisas do tamanho de uma ervilha. Prefiro cérebro e educação ao que você tem. - Respondi, já perdendo a paciência. As meninas já estavam se preparando para começar a botar essa criatura para correr.

          - A gatinha morde... - Disse e suspirei. Sei lá como, quando me virei para pegar uma garrafa, tomei um susto ao quase me chocar com o Bill.

          - Algum problema? - Ele perguntou e eu, ainda atordoada, só consegui negar com a cabeça e ouvi o jogador perguntar, no mesmo tom de deboche:

          - Esse aí que é seu marido?

Me virei e respondi:

          - Não que isso seja do seu interesse... Mas é. E agora, se você não parar de me perturbar, eu vou ser obrigada a chamar os seguranças.

Ele deu um meio sorriso e, pegando a garrafa de cerveja, se afastou. Me virando de frente para o Bill, perguntei:

          - Te falaram que só quem trabalha no bar pode ficar aqui?

Dando um sorriso torto, se aproximou do balcão e, vendo que um dos clientes tentava fazer um pedido, o Bill apontou e o rapaz disse:

          - Quero seis cervejas.

O Bill concordou e foi logo pegar os copos. Em seguida, foi andando até a máquina e encheu um por um. Depois, entregou ao cliente, que agradeceu e perguntei, parando ao lado do meu marido:

          - Por um acaso você está querendo roubar meu posto, é isso?

          - Três margaritas red. - Uma menina pediu. Enquanto o Bill fazia, respondeu:

          - E se eu quiser?

          - Se quiser... Vai ter de dançar em cima do balcão. E ai de você se rebolar, entendido? - Apertei sua cintura enquanto ria. Entreguei a garrafa com Campari e orientei sobre quanto tinha que servir. A Lola foi passar ao nosso lado e, como sempre, quis bater o quadril contra o meu. Só que ela não viu e quem foi atingido foi o Bill. Olhou para trás e não consegui segurar o riso ao ver a Lola quase da mesma cor dos cabelos. Saiu correndo e rimos.

          - É impressão minha ou ela fica tímida quando está perto de mim? - Ele quis saber e dei de ombros.

          - Difícil saber perto de quem ela não fica tímida. - Respondi.

          - Izzy! Curaçau! - Ouvi a Nadine pedir e deslizei a garrafa sobre o tampo do balcão mais baixo.

          - Nunca quebrou uma garrafa fazendo isso? - O Bill perguntou e respondi:

          - O tempo inteiro. O Stephen já acostumou e por isso tem a reserva. Você.- Apontei para uma mulher de quarenta e poucos anos que tinha conseguido alcançar o balcão.

          - Como é esse... Coyote?

          - Bebida especial da casa. Leva Cherry Cola, uma dose de vodca e um ingrediente especial e tão secreto que a gente teve que assinar um contrato, prometendo que não ia contar. Pessoalmente, acho que é um dos melhores daqui.

Mesmo hesitante, concordou e pediu quatro. Quando estava quase terminando, o Bill viu o que era o ingrediente especial e sorriu. Fiz sinal de silêncio e ele concordou, já servindo mais cerveja para um grupo de amigos.

No final do expediente, quando estávamos terminando de fechar o bar, o Stephen apareceu e sabíamos o que aquilo significava. A Di, que terminou de limpar o chão, foi até ele e recebeu seu pagamento. A Lola foi a segunda e eu a última. Só que, o surpreendente foi quando o Stephen chamou o Bill, que estava me ajudando a organizar as bebidas.

Quando paramos de frente para o meu chefe, este falou:

          - Considerando que você se saiu muito bem hoje...

Entregou um bolinho de dinheiro para o Bill, que tentou recusar, mas depois de muita insistência, acabou me entregando para guardar na bolsa.

          - A propósito... Se quiser... Podemos fazer um teste com você. - O Stephen disse ao Bill.

          - Quem sabe?

Concordou e, depois de cada uma pegar as suas coisas, viemos embora. A Lola estava mais quieta que de costume e claro que aquilo não passou despercebido. Acabou que a Di e eu decidimos falar com a ruiva outra hora.

Na manhã seguinte, quando chegamos do almoço, a primeira coisa que eu percebi quando entrei no meu quarto eram as malas do Bill abertas e já quase feitas por completo.

          - Ei... O que houve?- Perguntei, me aproximando dele. - Eu sei que o bar é uma loucura, mas... O Stephen te fez a proposta sem compromisso.

Riu fraco enquanto guardava mais uma das camisetas.

          - Vou ter de voltar à Los Angeles. Houve um curto-circuito no estúdio e acabou pegando fogo numa das salas. Se quiser ficar aqui e depois a gente vê como faz quanto ao seu aniversário...

          - “Se quiser ficar aqui”? Kaulitz, olha bem para mim e vê lá se eu vou conseguir ficar aqui em Londres, do outro lado do oceano, sabendo que você pode precisar de mim? Até parece!

Me olhou  de um jeito estranho e perguntei:

          - Conseguiu achar a passagem?

Negou.

          - Jato particular.

          - Posso ir junto?

Depois que colocou uma calça na mala, se endireitou e veio andando até onde eu estava. Sem dizer uma única palavra, se inclinou na minha direção e me beijou. Era diferente, bem mais intenso do que de costume. Quando interrompeu o beijo, mas sem me soltar, perguntei:

          - Devo encarar isso como um sim?

Sorriu e roubou um selinho.

          - Eu não ia conseguir ficar sem você lá em Los Angeles. - Disse. Ainda bem que ele estava me segurando, senão juro que desabava.

Tão logo terminei de fazer a mala, o mais rápido e eficiente que consegui, descobri que as meninas estavam indo também, assim como o Georg e o Gustav. Avisei ao Stephen sobre o que tinha acontecido e, antes de sair, cada uma ficou encarregada de verificar se estava tudo em ordem: A Di foi ver se as janelas estavam bem fechadas e trancou as portas. A Lola foi desligar todos os aparelhos elétricos. E eu, fui até a vizinha, pedir para que recebesse toda e qualquer encomenda que poderia chegar. Uma vez que a Di trancou a porta do apartamento, tivemos que fazer duas viagens de elevador, sendo que, na primeira, a Lola foi com o Georg e o Gustav e metade das malas. E em seguida, já podiam ir ao aeroporto.

Quase quinze horas depois, chegamos à Los Angeles e, mesmo com o cansaço, o Bill foi direto para o estúdio. Enquanto eu ia para a casa, assim como o resto do povo. Assim que cheguei e a Rosa me viu, sendo ajudada pelos meninos, perguntou:

          - E o Bill?

          - Foi para o estúdio. - O Tom respondeu.

          - Comeram alguma coisa? - Ela perguntou e a resposta foi um bando de dar de ombros.

          - Só vim ajudar a Izzy. Vou lá no estúdio, ver se consigo ajudar o Bill com alguma coisa. - O Tom avisou e, logo, ele arranjou mais três companhias.

          - Tem certeza de que quer ir? - Ele me perguntou.

          - E por que não teria? Tom, não é uma besteira qualquer!

          - Eu estava perguntando porque a gente acabou de chegar de quase um dia inteiro de viagem.

          - Estou cansada, mas se fiquei de pé até agora... O que eu posso fazer é ir atrás de um café ou até mesmo energético para aguentar um pouco mais.

Não falou nada e destravou as portas do carro. Assim que me sentei no banco do carona, a primeira coisa que eu fiz foi colocar o cinto. Em seguida, mandei uma mensagem para a Claire, querendo saber como estava a situação. O Bill me contara que foi ela quem avisou. Sabia que ela tinha voltado há dois dias e imaginei que o primeiro era para descansar.

Assim que chegamos, o Bill realmente não me esperava ver ali.

          - E então? Perdeu muita coisa? - Perguntei, aproveitando que tinha ficado sozinha com ele.

          - Por sorte, só umas caixas vazias, alguns CDs com demos que estão salvas no meu computador, além de umas duas cadeiras que estavam estragadas. Graças ao vigia do estacionamento do outro lado da rua, os bombeiros chegaram a tempo.

          - Tem alguma coisa em que posso te ajudar?

Passou o braço em torno da minha cintura, me puxando para mais perto e respondeu:

          - Tem. Preciso que você fique do meu lado.

          - Eu já não estou?

Me olhando, respondeu:

          - Eu quis dizer pelo resto da vida.

Respirei fundo e falei:
         
          - Vamos ver.

          - Queria tentar entender por que você nunca aceita logo quando te peço para ficar comigo.

          - Porque não é tão simples assim quanto você pensa, Bill. Tem muita coisa envolvida.

          - Como o quê, por exemplo? O Alex?

Suspirei e avisei:

          - Em casa a gente fala sobre isso. Agora não é o lugar e nem a hora para isso.

Não muito tempo depois, um perito apareceu e explicou o que tinha acontecido. Avisou que o estúdio ia precisar passar por uma avaliação e, entre uma coisa e outra, acabou demorando demais. Tanto que, quando ele foi embora, já era quase noite.

Quando estávamos no meio do caminho de volta para a casa, o Bill estava sério até demais. Dava para ver que estava preocupado e, numa tentativa de ajuda-lo a desanuviar um pouco, aproveitei que estava parado no sinal e peguei sua mão. Entrelaçou os dedos nos meus e, percebendo que era a minha mão direita, mexeu um pouco e expôs o meu pulso. Começou a beijar a minha pele e ele percebeu que aquilo estava começando a surtir efeito em mim.

          - Pena que a viagem foi longa, senão a gente podia... - Falou, me olhando fixamente. - Enfim.

          - Já que você está cansado... - Respondi, conseguindo soltar meu pulso. - assim como eu, o melhor que a gente faz é cada um dormir na própria cama, para garantir que não vai ter mais... Exaustão.

Me olhou e perguntou:

          - Dorme comigo, Izzy? Estou sentindo falta do seu corpo.

Não resisti e passei a mão pelo seu cabelo.

          - Liebe, daqui a pouco a gente não vai nem aguentar ficar de pé. Se tentarmos alguma coisa, é capaz de não dar certo. Melhor a gente descansar bem antes.

          - Quando falei para você dormir... Não era para a gente tentar fazer sexo. Era só... Dormir.

          - Só dormir, hein? - Avisei e ele sorriu. 

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 32º capítulo - Interativa











32. Oh, but that one night was more than just right

Não larguei você
Porque eu estava acabado
Oh, eu estava impressionado
E, sinceramente, muito assustado
Porque realmente me apaixonei por você

(Train - Drive by)



Depois do expediente, estávamos ajudando a fechar o bar, como sempre fazíamos, e, nesse meio tempo, conversava com as meninas. Quando terminamos tudo e fomos pegar as nossas coisas, a entrou ali e, fazendo questão de ser ouvida, comentou:

-... E é estranho, não nego. Agora de uma coisa você pode ter certeza: Se arrependimento matasse, eu estaria morta.

A garota com quem ela conversava (E com quem não havíamos simpatizado nem um pouco) sorriu maldosa e disse:

- Deveria mesmo era ter aproveitado quando teve chance e transado com ele quando teve chance. Eu estava o observando e tem jeito de ser ótimo de cama...

Olhei para as meninas e sibilei, fazendo expressão simpática:

- Me segurem que eu vou dar nas caras dessas duas...

- Quer ajuda? - A Di perguntou. - Quero descontar a raiva do assanhamento do ...

Justo nessa hora, ouvi a comentar:

-... Ah, mas tem homem casado que não está nem aí. Quer dizer, se eles traem as esposas, é porque não estão satisfeitos com o que tem em casa.

Vi a Nicola se levantando e agarrei a manga do seu casaco. Neguei com a cabeça.

- E eu não sei porquê... Mas acho não acho que o vá demorar tanto assim para procurar o que não tem em casa...

Respirei fundo e tentei me manter calma o máximo que pude. Peguei a bolsa e fiz sinal para que as meninas me seguissem. Ao passar pela , no entanto, não me contive e falei:

- Pode saber que você seria a última pessoa quem ele procuraria. Ou ainda não caiu a ficha de que o tem horror de você?

Sorriu torto e disse:

- Se ele tem tanto horror assim de mim... Então por que não parou de me olhar na noite da virada do ano e nem hoje à noite?

Me virei para as meninas e perguntei:

- Vocês viram isso?

As duas negaram.

- Ah... Um aviso: Fica longe dele. No que depender de mim... Se você se acha ruim... É por que não viu do que sou capaz.

- Estou com tanto medo... - Disse, estreitando os olhos. - Ainda mais de uma mosquinha morta que nem você.

Arqueei a sobrancelha e ela continuou:

- Agora de curiosidade... O aceitou ficar com você mesmo sabendo a vagabunda que é?

Só senti meu sangue fervendo e, quando vi, dei um tapa daqueles na cara dela. Pude ver a marca dos meus dedos no seu rosto ficando cada vez mais forte e, em seguida, veio para cima de mim. Claro que me derrubou, mas consegui ficar por cima. Não sabia direito o que estava fazendo. Só sei que toda a raiva que eu sentia dela, não só por ter acabado com a banda, mas por tudo que fez com o , estava sendo direcionada para as minhas mãos. Não sabia se batia, dava socos, arranhava... No fim, acabei fazendo um pouco de tudo. Num único instante em que ela me pegou de guarda baixa, se aproveitou para dar um soco na minha boca e logo senti o gosto metálico do sangue. Ignorei totalmente esse pequeno detalhe e continuei batendo nela e até mesmo xingando. Não sei como, mas justo na melhor parte, senti alguém me puxando e tentando à duras penas me afastar dela. Não estava tendo um trabalho fácil, já que eu estava esperneando e inquieta. Sem falar que xingava com todos os palavrões e xingamentos que me vinham à cabeça. Vi um dos seguranças do bar tirarem a dali e, só quando ela saiu que me soltaram.

- Filha da puta cretina! - Resmunguei. Senti que me puxaram de novo e eu percebi que tremia. Respirava fundo e tentava à todo custo me acalmar. Só que não conseguia.

- O que aconteceu aqui, porra? - Ouvi a voz do , tão bravo quanto eu estava.

- Não mexe comigo por agora senão não respondo por mim! - Gritei e me debati, tentando soltar meus braços. Ele suspirou e disse:

- Pode deixar que, se eu precisar, eu chamo.

Não sei quanto tempo depois, estávamos sozinhos ali. Eu já tinha me acalmado e ele me fez sentar sobre a pia. Não sei como, mas tinha conseguido um algodão e um potinho que eu sabia que era álcool.

- O que houve? - Perguntou, enquanto despejava um pouco do álcool sobre o algodão.

- Ela ficou me provocando, me chamou de vagabunda, ficou falando um monte de merdas, tipo que não sabia como você aceitou ficar comigo... Perdi as estribeiras e, quando vi, dei um tapa nela. E ela reagiu, vindo para cima de mim. Não consegui me controlar e tudo que estava sufocado... Saiu. Eu sei que não deveria ter dado atenção, mas não tenho sangue de barata e você sabe disso.

Concordou.

- Juro que, quando cheguei, achei que você ia acabar... Sei lá, matando a . Só via que você batia muito nela.

- Eu me descontrolei.

Assentiu e, de repente, encostou o algodão no meu lábio. Gemi e ele riu fraco.

- Fiquei com medo por você. Quando a Nicola apareceu, avisando que você e a estavam brigando, já tinha imaginado o pior.

Dei um estalo com a língua e falei:

- Até parece que você não me conhece... Lembra que eu sei me defender?

Concordou.

Um tempo depois (E de um longo sermão do Stephen), fui liberada. Enquanto andávamos pela rua, de volta para a casa, a Lola comentava da briga, toda animada. Até dava pulinhos.

Uns dias se passaram e, quando estávamos na terceira semana de janeiro, eu e as meninas tivemos uma ideia e, para surpreender o Stephen, fizemos uma pequena... Estripulia quando ele não estava no bar. Uma vez que estava tudo feito, nem esperamos até chegar em casa; Havíamos levado um computador com editor de vídeo e, assim que estava tudo pronto, já colocamos na internet, dando um jeito de viralizar.

Na noite seguinte, só para variar, o tinha ido com a gente. O também e eu estava vendo a hora em que um ia caçar confusão com o outro. Não havia nem sinal da e da sua “Rabicha”. Havíamos dado o apelido venenoso por causa do personagem do Harry Potter, seguidor do Voldemort.

Estava indo tudo muito bem, obrigada, até que o Stephen me chamou ao seu escritório. Estranhando, fui até lá e, assim que entrei e vi sua postura séria, tive medo. E piorou quando ele me pediu, em tom pouco amistoso, que fechasse a porta. Me sentei na cadeira de frente para a sua mesa e ele disse, sério:

- Te chamei aqui porque quero conversar a respeito de uma coisa com você.

Engoli em seco.

- Não tem como negar que você é uma das Coyotes
mais queridas. E, desde que você foi para Los Angeles, muita gente tem reclamado da sua falta.

Assenti.

- Você sabe que não estou em Los Angeles por vontade própria.

Ergueu o olhar.

- Será mesmo? Eu vi o jeito que você e o ficam quando estão perto um do outro. Vi o jeito que se olham. O jeito que ele ficou quando a Nicola falou que você estava brigando com a .

- Bom, Stephen... Você tem que concordar que, morar por quase um ano sob o mesmo teto com alguém por quem você sente uma atração muito forte como a que eu sinto pelo , ia acabar evoluindo.

- Eu sei. E sei que as chances de você não voltar mais para Londres são grandes, não é?

Neguei.

- Sejamos realistas: Quais são as chances de eu ficar com o depois que o prazo do juiz acabar? No início, realmente era por obrigação. Mas, apesar de ele me conhecer melhor agora... Quem te garante que ele vai me aceitar do jeito que eu sou? E vice-versa? Você me conhece, sabe que eu posso não aguentar... Tudo que vem com ele. Uma coisa é o . Outra bem diferente é o .

- E por que acha que com o é diferente?

- Talvez porque ele é um
rockstar

com fãs pelo mundo inteiro com os hormônios borbulhando e uma possessividade quase psicótica, enquanto o , embora tenha admiradoras e tal, é mais... Bom, tem uma vida mais estável.

Me olhou, sorrindo misteriosamente.

- Justamente por, como você disse, te conhecer tão bem, que eu sei que você prefere a montanha-russa que é a vida do à calmaria da vida do .

Hesitei.

- Queria te dizer que, não importa o que aconteça, você é e sempre vai ser uma coyote
. As portas do bar sempre estarão abertas para quando quiser voltar. Seja como cliente ou como garçonete.

Sorri e perguntei:

- Posso te dar um abraço?

Rindo, concordou e, mesmo com a mesa entre nós, me abraçou.

Quando saí do seu escritório, vi que o estava encostado numa pilastra ali em frente e perguntou:

- Aconteceu algo com que eu deva me preocupar?

- Tipo?

- Ele ter te despedido por causa da confusão com a ?

Neguei.

- Muito pelo contrário. Me garantiu que não vou deixar nunca de ser uma
coyote
.

Assentiu lentamente.

- Agora, vamos voltar cada um para seu posto senão aí sim, estou na rua.

- Só uma última coisa.

Olhei para ele, sem entender. Passou os braços em torno da minha cintura e me puxou para mais perto, roubando um beijo daqueles mais apaixonados possíveis. De repente, ouvimos alguém pigarreando e, quando nos separamos, olhamos para a mesma direção e o Stephen disse para o :

- Nada de ficar agarrando as minhas funcionárias durante o horário de expediente, . Depois, pode até ser.

O jeito, então, foi cada um ir para seu canto.

Quando chegamos em casa, um tempo depois, só estávamos nós dois. e ) sumiram, como sempre, e Nadine foram vistos pela última vez assim que o Stephen fechou o bar e a Lola tinha ido dormir na casa do Charlie.

- Vou ao banheiro. E você... - O falou, me abraçando por trás. - Vai se preparando.

- Me preparando para...? - Me fiz de desentendida.

- Estamos só nós dois aqui e é claro que vou querer aproveitar.

- Safado. - Falei, alcançando sua bunda e dando um tapa. Riu e disse:

- Sabia que você acabou de me dar uma ideia?

Consegui me soltar dele e avisei:

- Não... Nem vem que não tem!

Sorriu lascivo e corri para o quarto, ouvindo sua gargalhada.

Depois que troquei de roupa, deitei na cama e acabei pegando no sono. Uma das últimas coisas que tive consciência de acontecer era ele me abraçando por trás e me puxando para mais perto.

Na sexta-feira, o bar, como sempre, estava lotado. Não parávamos um instante e, de repente, um cara, com a maior pinta de jogador de futebol americano, começou a dar em cima de mim. Num dado momento, disse:

- Estou pensando aqui... Você podia muito bem ser a namorada de um nickelback.

Olhei para ele e falei:

- Até gosto da banda e tal, mas...

Riu e disse:

- Sou jogador de futebol americano. Nickelback é um dos jogadores de defesa.

- Ah sim... Bom, eu gosto do que vocês chamam de soccer. Mas gosto muito mais ainda do meu marido, que não é jogador.

- E ele é o quê? - Perguntou, com um leve tom de desdém.

- Ele é simplesmente o homem que eu amo, que faz algo que ele gosta e não é um brutamontes como você.

- Ele existe?

Ergui a mão e exibi a aliança.

- Quem me garante que você não está usando a aliança justamente para dispensar os caras?

Arqueei a sobrancelha e perguntei:

- E quem te garante que, caso eu fosse solteira e desimpedida, ia dar mole para você? Ainda não deu para perceber que você não faz o meu tipo?

- E qual é o seu tipo, hein, boneca?

- Em primeiro lugar... Não me chama de boneca ou qualquer outro nome que não seja o meu. Em segundo: Dispenso fisiculturistas com montanha de músculos e com o cérebro e... Outras coisas do tamanho de uma ervilha. Prefiro cérebro e educação ao que você tem. - Respondi, já perdendo a paciência. As meninas já estavam se preparando para começar a botar essa criatura para correr.

- A gatinha morde... - Disse e suspirei. Sei lá como, quando me virei para pegar uma garrafa, tomei um susto ao quase me chocar com o .

- Algum problema? - Ele perguntou e eu, ainda atordoada, só consegui negar com a cabeça e ouvi o jogador perguntar, no mesmo tom de deboche:

- Esse aí que é seu marido?

Me virei e respondi:

- Não que isso seja do seu interesse... Mas é. E agora, se você não parar de me perturbar, eu vou ser obrigada a chamar os seguranças.

Ele deu um meio sorriso e, pegando a garrafa de cerveja, se afastou. Me virando de frente para o , perguntei:

- Te falaram que só quem trabalha no bar pode ficar aqui?

Dando um sorriso torto, se aproximou do balcão e, vendo que um dos clientes tentava fazer um pedido, o apontou e o rapaz disse:

- Quero seis cervejas.

O concordou e foi logo pegar os copos. Em seguida, foi andando até a máquina e encheu um por um. Depois, entregou ao cliente, que agradeceu e perguntei, parando ao lado do meu marido:

- Por um acaso você está querendo roubar meu posto, é isso?

- Três margaritas red. - Uma menina pediu. Enquanto o fazia, respondeu:

- E se eu quiser?

- Se quiser... Vai ter de dançar em cima do balcão. E ai de você se rebolar, entendido? - Apertei sua cintura enquanto ria. Entreguei a garrafa com Campari e orientei sobre quanto tinha que servir. A Lola foi passar ao nosso lado e, como sempre, quis bater o quadril contra o meu. Só que ela não viu e quem foi atingido foi o . Olhou para trás e não consegui segurar o riso ao ver a Lola quase da mesma cor dos cabelos. Saiu correndo e rimos.

- É impressão minha ou ela fica tímida quando está perto de mim? - Ele quis saber e dei de ombros.

- Difícil saber perto de quem ela não fica tímida. - Respondi.

- ! Curaçau! - Ouvi a Nadine pedir e deslizei a garrafa sobre o tampo do balcão mais baixo.

- Nunca quebrou uma garrafa fazendo isso? - O perguntou e respondi:

- O tempo inteiro. O Stephen já acostumou e por isso tem a reserva. Você.- Apontei para uma mulher de quarenta e poucos anos que tinha conseguido alcançar o balcão.

- Como é esse... Coyote?

- Bebida especial da casa. Leva Cherry Cola, uma dose de vodca e um ingrediente especial e tão secreto que a gente teve que assinar um contrato, prometendo que não ia contar. Pessoalmente, acho que é um dos melhores daqui.

Mesmo hesitante, concordou e pediu quatro. Quando estava quase terminando, o viu o que era o ingrediente especial e sorriu. Fiz sinal de silêncio e ele concordou, já servindo mais cerveja para um grupo de amigos.

No final do expediente, quando estávamos terminando de fechar o bar, o Stephen apareceu e sabíamos o que aquilo significava. A Di, que terminou de limpar o chão, foi até ele e recebeu seu pagamento. A Lola foi a segunda e eu a última. Só que, o surpreendente foi quando o Stephen chamou o , que estava me ajudando a organizar as bebidas.

Quando paramos de frente para o meu chefe, este falou:

- Considerando que você se saiu muito bem hoje...

Entregou um bolinho de dinheiro para o , que tentou recusar, mas depois de muita insistência, acabou me entregando para guardar na bolsa.

- A propósito... Se quiser... Podemos fazer um teste com você. - O Stephen disse ao .

- Quem sabe?

Concordou e, depois de cada uma pegar as suas coisas, viemos embora. A Lola estava mais quieta que de costume e claro que aquilo não passou despercebido. Acabou que a Di e eu decidimos falar com a ruiva outra hora.

Na manhã seguinte, quando chegamos do almoço, a primeira coisa que eu percebi quando entrei no meu quarto eram as malas do abertas e já quase feitas por completo.

- Ei... O que houve?- Perguntei, me aproximando dele. - Eu sei que o bar é uma loucura, mas... O Stephen te fez a proposta sem compromisso.

Riu fraco enquanto guardava mais uma das camisetas.

- Vou ter de voltar à Los Angeles. Houve um curto-circuito no estúdio e acabou pegando fogo numa das salas. Se quiser ficar aqui e depois a gente vê como faz quanto ao seu aniversário...

- “Se quiser ficar aqui”? , olha bem para mim e vê lá se eu vou conseguir ficar aqui em Londres, do outro lado do oceano, sabendo que você pode precisar de mim? Até parece!

Me olhou de um jeito estranho e perguntei:

- Conseguiu achar a passagem?

Negou.

- Jato particular.

- Posso ir junto?

Depois que colocou uma calça na mala, se endireitou e veio andando até onde eu estava. Sem dizer uma única palavra, se inclinou na minha direção e me beijou. Era diferente, bem mais intenso do que de costume. Quando interrompeu o beijo, mas sem me soltar, perguntei:

- Devo encarar isso como um sim?

Sorriu e roubou um selinho.

- Eu não ia conseguir ficar sem você lá em Los Angeles. - Disse. Ainda bem que ele estava me segurando, senão juro que desabava.

Tão logo terminei de fazer a mala, o mais rápido e eficiente que consegui, descobri que as meninas estavam indo também, assim como o e o ). Avisei ao Stephen sobre o que tinha acontecido e, antes de sair, cada uma ficou encarregada de verificar se estava tudo em ordem: A Di foi ver se as janelas estavam bem fechadas e trancou as portas. A Lola foi desligar todos os aparelhos elétricos. E eu, fui até a vizinha, pedir para que recebesse toda e qualquer encomenda que poderia chegar. Uma vez que a Di trancou a porta do apartamento, tivemos que fazer duas viagens de elevador, sendo que, na primeira, a Lola foi com o e o ) e metade das malas. E em seguida, já podiam ir ao aeroporto.

Quase quinze horas depois, chegamos à Los Angeles e, mesmo com o cansaço, o foi direto para o estúdio. Enquanto eu ia para a casa, assim como o resto do povo. Assim que cheguei e a Rosa me viu, sendo ajudada pelos meninos, perguntou:

- E o ?

- Foi para o estúdio. - O respondeu.

- Comeram alguma coisa? - Ela perguntou e a resposta foi um bando de dar de ombros.

- Só vim ajudar a . Vou lá no estúdio, ver se consigo ajudar o com alguma coisa. - O avisou e, logo, ele arranjou mais três companhias.

- Tem certeza de que quer ir? - Ele me perguntou.

- E por que não teria? , não é uma besteira qualquer!

- Eu estava perguntando porque a gente acabou de chegar de quase um dia inteiro de viagem.

- Estou cansada, mas se fiquei de pé até agora... O que eu posso fazer é ir atrás de um café ou até mesmo energético para aguentar um pouco mais.

Não falou nada e destravou as portas do carro. Assim que me sentei no banco do carona, a primeira coisa que eu fiz foi colocar o cinto. Em seguida, mandei uma mensagem para a Claire, querendo saber como estava a situação; O me contara que foi ela quem avisou. Sabia que ela tinha voltado há dois dias e imaginei que o primeiro era para descansar.


- E então? Perdeu muita coisa? - Perguntei, aproveitando que tinha ficado sozinha com ele.

- Por sorte, só umas caixas vazias, alguns CDs com demos que estão salvas no meu computador, além de umas duas cadeiras que estavam estragadas. Graças ao vigia do estacionamento do outro lado da rua, os bombeiros chegaram a tempo.

- Tem alguma coisa em que posso te ajudar?

Passou o braço em torno da minha cintura, me puxando para mais perto e respondeu:

- Tem. Preciso que você fique do meu lado.

- Eu já não estou?

Me olhando, respondeu:

- Eu quis dizer pelo resto da vida.

Respirei fundo e falei:

- Vamos ver.

- Queria tentar entender por que você nunca aceita logo quando te peço para ficar comigo.

- Porque não é tão simples assim quanto você pensa, . Tem muita coisa envolvida.

- Como o quê, por exemplo? O ?

Suspirei e avisei:

- Em casa a gente fala sobre isso. Agora não é o lugar e nem a hora para isso.

Não muito tempo depois, um perito apareceu e explicou o que tinha acontecido. Avisou que o estúdio ia precisar passar por uma avaliação e, entre uma coisa e outra, acabou demorando demais. Tanto que, quando ele foi embora, já era quase noite.

Quando estávamos no meio do caminho de volta para a casa, o estava sério até demais. Dava para ver que estava preocupado e, numa tentativa de ajuda-lo a desanuviar um pouco, aproveitei que estava parado no sinal e peguei sua mão. Entrelaçou os dedos nos meus e, percebendo que era a minha mão esquerda, mexeu um pouco e expôs o meu pulso. Começou a beijar a minha pele e ele percebeu que aquilo estava começando a surtir efeito em mim.

- Pena que a viagem foi longa, senão a gente podia... - Falou, me olhando fixamente. - Enfim.

- Já que você está cansado... - Respondi, conseguindo soltar meu pulso. - assim como eu, o melhor que a gente faz é cada um dormir na própria cama, para garantir que não vai ter mais... Exaustão.

Me olhou e perguntou:

- Dorme comigo, ? Estou sentindo falta do seu corpo.

Não resisti e passei a mão pelo seu cabelo.

- Daqui a pouco a gente não vai nem aguentar ficar de pé. Se tentarmos alguma coisa, é capaz de não dar certo. Melhor a gente descansar bem antes.

- Quando falei para você dormir... Não era para a gente tentar fazer sexo. Era só... Dormir.

- Só dormir, hein? - Avisei e ele sorriu.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 31º capítulo - Interativa












Where do you end, where do I begin?

Nunca quis voar
Nunca quis partir
Nunca quis dizer o que você significa pra mim
Nunca quis correr
Assustado em acreditar que
Você é a melhor coisa em mim

(Savage garden - The best thing)



- Coisa feia, Nadine... - A Lola repreendeu, mas só para sacanear. - Quebrar a cama e ainda por cima no primeiro dia do ano...

- Ai, vocês duas! Sosseguem! - A Di reclamou e não segurei o riso.

- Quem tem que sossegar é você, Coyle... Foi com tanta sede ao pote... Aí no que deu... - A provoquei e a Lola já tinha perdido o controle também. Estávamos as três na cozinha enquanto o Charlie e o tentavam dar um jeito na cama. O estava lá com eles e, portanto, não podiam nos ouvir.

A Di respirou fundo e, de repente, ouvimos o interfone. A Lola foi atender.

- Como você conseguiu quebrar a cama, Nadine? - Perguntei para ela, que me olhou e respondeu:

- Eu estava transando com o , satisfeita?

Nesse instante, a Lola abriu a porta e o e o ouviram tudo. Como a Nadine estava de costas para a entrada, não viu os dois chegando e, assim que me olhou, se virou rapidamente para trás e apoiou a cabeça nas mãos. Ri e o disse:

- A gente imaginou que você realmente estivesse dormindo com o , mas não precisava da confirmação explícita.

O olhar que a Nadine deu para ele foi um dos piores imagináveis.

- Eles estão aí? - O me perguntou e falei:

- Estão. Deixa que vou chamar.

Fui andando até a porta do quarto da Di e, vendo que o estrago já tinha sido arrumado, avisei ao e ao :

- e estão aí. E tem alguém que precisa terminar o pudim!

- Já estamos indo. - O falou. O Charlie pôs o colchão de volta na cama e se sentou, vendo se ia aguentar. Como não aconteceu nada inesperado, se levantou e o avisou antes de sair do quarto, seguido de perto pelo :

- Vê se não quebra a cama de novo.

A resposta do foi um tapa na cabeça do . Logo, a Lola arrastou o Charlie para o quarto dela e a Di foi tomar banho. Já os meninos... Bom, todo mundo ficou na cozinha enquanto eu orientava o :

- Tem que fazer a calda.

- E como faz?

- Açúcar e água. - Respondi. Passei a quantidade que teria de usar e, enquanto o pudim ficava em banho-Maria, o fazia a calda.

- Eu realmente estou vendo o cozinhando? - O perguntou, incrédulo.

- Que foi, ? - Provoquei. - Quer que eu te ensine algumas coisas também?

E não é que ele aceitou?

Não pareceram se incomodar comigo ali quando começaram a falar sobre as músicas.

Assim que a Nadine reapareceu, fiz sinal para ela, que veio até onde eu estava e perguntou, em inglês:

- O que está acontecendo?

- Tá siad ag caint faoi an amhráin atá á scríobh. - Agus d'fhéadfaí tú rud suimiúil aimsiú?

Dei de ombros.

- Desde quando você fala... - O começou a dizer e perguntei:

- De onde a Nadine é mesmo, ? - Enfatizei que a pergunta era para ele. Deu de ombros e a própria respondeu:

- Irlanda do norte.

- Ok... Vou tentar me lembrar da próxima. Mas desde quando a fala irlandês?

Sorri misteriosa e falei:

- Ah, ... Quase um ano de convivência e até hoje não sabe que sou um livro aberto? - Dei uns estalos com a língua, balançando a cabeça em negação. - Que vergonha...

- Ah tá, e você realmente fala muito... - Ele retrucou.

- Fala. - A Di se intrometeu. - Você que não presta atenção.

Ele olhou para a Di. Quase imediatamente, o a chamou e, vendo que os dois já estavam indo na direção do quarto, não teve um de nós ali que não provocasse os dois:

- Ó... Se quebrar a cama de novo, vocês dois vão dormir no chão! - O avisou e o mandou o dedo do meio, sem nem se virar.

- Melhor é o arrumar a cama sozinho! - Falei e a Nadine me olhou feio. Ri e continuamos ali na cozinha.

Ao anoitecer, estávamos todos vendo um filme na TV, cada um de um jeito: e ficaram nas poltronas, que haviam sido postas lado a lado e perto de um dos sofás. No outro, o Charlie estava esparramado. A Lola, assim como os gêmeos, Nadine e eu, estava sentada no chão, sobre um colchonete.

O pior de tudo era que víamos um filme de terror. Numa cena que, logo depois que o assassino agia, o Charlie aproveitou que estava um silêncio tumular para perguntar:

- Ô ... Você ainda faz aqueles almoços de domingo?

A Lola começou a rir e assenti.

- Por quê?

- Eu estava pensando... E se a gente fizesse o almoço desse domingo lá em casa? - Propôs e concordei.

O final do filme, só para constar, era o pior imaginável...



Na quinta-feira à noite, antes de dormir, aproveitei para perguntar à :

- De curiosidade... Você e as meninas vão para o bar enquanto estivermos aqui?

Assentiu.

- Apesar de tudo, ainda temos nossos empregos.

- “Apesar de tudo”? - A provoquei, fingindo estar sério e suspirou.

- , vai tomar banho e larga mão de ser chato!

Ri e disse:

- Apesar de estar óbvio... Eu quis dizer: “Apesar de ter me casado em Las Vegas, me mudado para Los Angeles e as meninas terem me seguido e estarmos lá há quase um ano...”

Não resisti e mordi sua bochecha.

- Canibal! - Protestou e ri. - Mas por que você está perguntando?

- Se estiver tudo bem para você... Queria ir ao bar quando você estivesse trabalhando. No dia da virada do ano, você se apresentou e tal, mas não vi nenhum malabarismo com garrafa.

Me olhou estranhando.

- Tem certeza absoluta que quer ir? , o assédio em cima de mim é enorme.

- Eu sei. E sei também que você só tem olhos para mim...

- Ai, ! Baixa a bola que você não está com esse cartaz todo, viu?

Ergui a sobrancelha e ela riu.

- Eu deixo você ir comigo com uma condição.

- Qual?

- Que você se comporte. Sem ataques de ciúmes e tal. Se eu te ver de cara fechada... Dou um jeito de te botar para fora na mesma hora. Pode ser meu marido ou o que for, mas, o bar é o meu local de trabalho e não quero arriscar a perder o emprego por causa de ataque besta de ciuminho, entendido?

Concordei.

- Ah, e outra coisa. Se eu te ver dando mole para qualquer ser do sexo oposto... Ah, mas coitado de você, . Vou fazer muito pior que te deixar na abstinência por três meses!

- E do mesmo sexo? - A provoquei.

- Não vou nem me dar ao trabalho de responder.

Ri e ela logo mandou, como sempre:

- E vamos dormir que é o melhor que a gente faz.

Concordei, mas porque estava realmente com sono.

Na sexta-feira seguinte, por volta de nove horas, as meninas começaram a se arrumar. Não nego que foi engraçado ficar só observando a agitação das três, que iam uma no quarto da outra, pedir alguma coisa emprestada:

- , posso pegar aquela sua blusa emprestada? - A Nadine perguntou, só pondo a cabeça para dentro do quarto. Olhei para o , que só achava graça naquilo tudo.

- Que blusa? - Ouvi a perguntar.

- A de matar zumbis.

Logo deu para concluir que a entregou a tal camiseta e a Nadine logo correu para o quarto. A primeira das três a ficar pronta foi a minha mulher. Quando apareceu na sala, só não usava maquiagem. Perguntei:

- Vai assim, até sem batom?

Concordou.

- Costumo fazer a maquiagem no bar, justamente para ganhar tempo.

Quase imediatamente, a Nadine apareceu e já maquiada. Já a Nicola...

Quase meia hora depois e ela ainda não estava pronta.

- Nicola, corre aqui que o Príncipe Harry baixou as calças! - A Nadine disse e a riu.

- Até parece que a bunda branca do príncipe ia ser um atrativo para ela... - Retrucou.

- Ah é? Então o que seria? - A Nadine quis saber.

A simplesmente se levantou e foi até a porta do quarto da ruiva. Bateu calmamente e disse:

- Roberts, você tem quinze minutos para terminar de se arrumar e o tempo de chegar ao bar. Já estamos saindo e se você não aparecer lá hoje na hora, juro que vai descobrir como é o fundo do Tâmisa.

Em seguida, entrou no próprio quarto, indo no da Nadine em seguida e trouxe duas bolsas. Entregou uma para a Nadine e fez sinal para que fôssemos atrás dela. Já havíamos saído e estávamos no hall quando a parou por um instante.

- Só eu que estranhei que ela não reclamou, como sempre? - Perguntou para a Nadine e as duas logo voltaram ao apartamento. Bateram na porta de novo e a única resposta foi:

- Vão na frente que eu alcanço vocês.

- Lola, está tudo bem? - A insistiu e a ruiva garantiu que sim. As duas se entreolharam e fui até lá. Perguntei para elas:

- Algum problema?

- É isso que a gente está tentando descobrir. - A Nadine respondeu. De repente, a porta se abriu e a Nicola disse:

- Não sei o porquê de toda essa preocupação. Eu estou bem. Só não estou conseguindo arrumar o cabelo. Podem ir que eu alcanço vocês.

Percebi o olhar das duas para a Nicola e acabamos saindo sem ela.

Assim que chegamos ao pub, o Stephen logo quis saber onde a “terceira mosqueteira” estava e as meninas avisaram que, por causa do cabelo, a Nicola viria depois.

- Muito bem... Bom, vocês sabem o que fazer, não? - Ele perguntou.

- Stephen? - a chamou, assim que ele se virou e começava a se afastar. - Posso fazer o teste de um drink?

Concordou. Em seguida, ela me guiou até um canto que, descobri depois, ser um corredor que dava no camarim. Se sentou de frente para um espelho enorme que havia ali, além de uma espécie de cômoda, e pegou a bolsa de maquiagens. Perguntei, enquanto a observava:

- Que drink é esse que você quer testar?

- Estava pensando nele ontem. Me faz um favor?

Concordei.

- Liga esse aparelho de som que tá atrás de você? Só liga e aperta o botão de play.

Fiz o que pediu e logo começou a tocar um riff de guitarra. Quase imediatamente, veio o acompanhamento de outra guitarra, baixo e bateria. Olhei para a , que sorria enquanto passava a sombra nos olhos.

- Que banda é essa? - Perguntei e ela manteve o sorriso, só que mais misterioso.

- Escuta.

Um cara de voz rouca e mais aguda começou a cantar.

- Ac/Dc? - Perguntei e ela concordou. De repente, a Nadine entrou ali e, ao ouvir a música, perguntou para a :

- O que me diz?

- Nah... Acho que a gente deveria experimentar com outra música. Fala com o Tony que já levo para ele.

A Nadine concordou e, de repente, se sentou ao lado da e perguntou:

- Só eu que não acreditei na Lola?

- Pela lógica... Não está nada tão fora do comum. Mas, como a gente conhece muito bem a Lola... - A disse.

- Do que vocês estão desconfiando? - Perguntei. De repente, as duas me olharam de um jeito estranho. - Quê?

- Apesar de ela confiar na gente... - A começou a dizer, me olhando. De repente, se virou para a Nadine. - Talvez ela se sinta melhor em falar com alguém com quem ela não tenha tanta intimidade assim...

- Concordo. - A Nadine falou. - , faria um enorme favor para a gente?

- Conversar com a Nicola? Claro.

- Só que aí que vem a parte complicada. Sabendo que ela pode não aceitar se souber que te pedimos isso, você seria tipo um... Espião. A Lola é como a gente, que não consegue se abrir tão fácil. E a gente quer ajuda-la, caso precise. - A contou. - Ainda mais se for uma coisa séria.

- Não passou pelas cabeças de vocês que, se derem tempo ao tempo, a Nicola pode contar o que está acontecendo de livre e espontânea vontade? - Perguntei e as duas concordaram com a cabeça, sem dizer nada.

- Então. Você ia ser o espião caso isso não acontecesse. - A explicou. De repente, ouvi meu celular e, quando peguei o aparelho, vi uma mensagem do , querendo saber o endereço do pub. A , depois que expliquei, pediu o aparelho e respondeu à mensagem. Em seguida, continuou fazendo a maquiagem. Logo, o apareceu e ficou ali com a gente. As meninas olharam o relógio perto da porta e a Nadine falou, se levantando da cadeira:

- Vou ver se a Lola chegou.

- Vou com você. - O falou. Assim que fiquei sozinho com a , aproveitei para pegar na sua mão e perguntei:

- Está com medo?

- Não. Ansiosa. Do mesmo jeito que você provavelmente fica antes de um show. Só isso.

- Eu estava falando da Nicola.

Ergueu as sobrancelhas e ri.

- Então. Meu medo, na realidade, é de que ela esteja com algum problema sério e não conte para nós por não querer nos preocupar.

- Se fosse você... Contaria?

Assentiu.

- Se fosse uma doença ou algo parecido, o que requer o máximo de apoio...

De repente, ouvimos a porta se abrindo e, quando olhamos, era a Nicola. Com o cabelo preso num rabo-de-cavalo, aparentemente rabugenta. Começou a fazer a própria maquiagem em silêncio e a se atreveu a perguntar:

- Devo perguntar agora o que aconteceu para esse seu mau humor ou espero passar?

A ruiva suspirou e disse:

- Estou com desejo de comer frango frito. E não consegui achar.

A riu e garantiu:

- Depois a gente caça um lugar, ok?

A Nicola pareceu se animar um pouco e, aproveitando a deixa, fui guiado pela minha mulher para longe dali. Mais precisamente até o bar. Fez com que eu me sentasse num dos bancos altos enquanto ela foi fazer alguma coisa. Só via que pegava várias garrafas e, curiosamente, não fez nenhum malabarismo. Por fim, empurrou uma taça na minha direção.

- O que é isso?- Perguntei, olhando o drink, que tinha várias camadas coloridas e parecia um arco-íris.

- Experimente e me dê sua opinião sincera, por favor.

Peguei o copo e tomei um gole. Era realmente gostoso. Dava para sentir que tinham frutas ali no meio.

- Este amarelo - Ela indicou. - é Cointreau. O azul, curaçau blue. Verde é licor de menta. Vermelho é licor de cereja. E o roxo... Bom, é ingrediente secreto exclusivo daqui do bar.

De repente, ficou tensa e perguntei:

- O que foi?

Justamente quando ia responder, descobri: Era o , que havia acabado de chegar ali.

- Soube da última? Arsenal venceu o Manchester no final do campeonato.

- Me faz o obséquio de botar essa sua traseira murcha aqui. Quero falar sério com você. E você também. - Me olhou. Assim que ele se sentou no banco ao meu lado, a foi categórica: - Se eu descobrir que houve um quebra-pau entre vocês... Primeiro que você - Falava com ele. - Vai ser obrigado a usar essa sua camisa horrenda do Arsenal para limpar o chão da minha casa. E sem as mãos. E você - Me olhou. - Dorme na sala. E os dois vão ser tocados do bar exatamente como o Stephen costuma expulsar bêbados brigões e tarados. E estou falando sério com os dois. Não quero confusão hoje por causa de rixa besta aqui dentro. Se eu perder o emprego por crisezinha de ciúme... Ah, mas podem ter certeza que não olho na cara de cada um por um bom tempo. E antes que eu me esqueça... Vai ter um adicional de os dois terem uma noite de rei.

- Você não se atreveria. - o disse.

- Já fiz uma vez... Não me custaria nada ter um... Revival. - E se afastou, indo na direção da Nicola.

- Bandeira branca por hoje?- Ele perguntou e falei:

- Só por causa da .

Assentiu, sorrindo.

- Do que ela estava falando sobre ter noite de rei?- Perguntei.

- Quando a tinha doze anos, deu quase cinquenta gotas de laxante para um colega de escola que era detestado pela turma inteira. Não sei você, mas eu não estou nem um pouco a fim de sofrer o mesmo que esse infeliz.

Passei o dedo distraidamente pela base do copo e não consegui me controlar:

- Então você sabe tudo sobre ela?

- O suficiente para não querer perder a amizade dela. Já que eu sei que, por mais que ela queira, não vai conseguir me ver como algo a mais que o melhor amigo dela...

- Por que não?

- Ela sempre gostou de você. Desde o primeiro instante em que nos conhecemos, era difícil não ouvir a falando seu nome. E isso nem é o pior de tudo.

- Não?

Negou.

- O pior de tudo é ver que ela gosta mesmo de você. Por isso... Se, de alguma maneira, você magoar a ... Ferro sua vida de um jeito pior ainda que a fez.

- É uma ameaça?

- Não. - Respondeu, balançando a cabeça. - É um aviso. Eu sei muito bem o que andou aprontando e tem sorte de ela ter passado por cima disso. Mas se, ao final desse maldito prazo, ela voltar para Londres do pior estado possível...

- Acha mesmo que eu tenho medo de um filhinho de papai metido à empresário que só faz rondar a minha mulher?- Perguntei, finalmente me virando de frente para ele.

- É bom ter. - Disse, tentando me fuzilar com o olhar.

- Ok. Já deu. - Ouvimos a . - Eu avisei.

- A gente não estava fazendo nada demais. - Respondi.

- Ah tá. E eu sou ruiva natural que nem a Nicola e a Nadine tem os olhos azuis! - Retrucou, irônica. - Anda, cada um tomando seu rumo. E não pensem que não vou ficar de olho nos dois.

O saiu andando enquanto eu continuei onde estava. Sentia o olhar da e falei:

- Não adianta você ficar parada aí, com cara amarrada.

A olhei e estava com sobrancelha arqueada.

- Já dei meu aviso. Se eu te ver brigando com o ...

Algum tempo depois, o bar começou a encher e, para não atrapalhar, fui para a mesma área que fiquei na virada do ano. O foi para lá também e, depois de um tempo, o e o chegaram. De onde estávamos, era possível ver todo o bar e não havia nem sinal do . Melhor assim.

Quando o bar ficou lotado, deu para ver como realmente era. Quando olhava para o balcão onde as meninas estavam, só via as garrafas girando no ar, as três as pegando com maestria e servindo os clientes. A havia me dito que o Stephen costumava fazer o que era chamado de “Rodízio de playlist”. Ele pedia a todas as meninas que trabalhavam no bar para fazerem listas e fazia um sorteio no domingo à noite. Sete playlists eram selecionadas para tocarem durante cada noite da semana. Naquela noite, até tinha um palpite de quem era, mas não tinha certeza.

Estava observando as meninas e conversando com o e nossos amigos quando vi uma figura conhecida, loira, com porte de modelo e rosto de boneca vindo na nossa direção. Assim que estava perto o bastante, falei:

- Achei que você estivesse em Los Angeles!

- Tive um imprevisto e precisei ficar por aqui. - A Claire respondeu. De repente, acendeu uma luz neon, em formato de drink, atrás do balcão e, quase imediatamente, começou a tocar “Love in an elevator” do Aerosmith. As meninas terminaram de servir os clientes e, logo em seguida, subiram no balcão que havia ali perto. Até então, não dava para ver que estavam segurando microfones e a Nicola cantou primeiro:

Yeah!
Workin' like a dog for the boss man (whoa)

(Trabalhando feito um cão para o chefe)
Workin' for the company (whoa-yeah)
(Trabalhando para a companhia)
Bettin' on the dice I'm tossin' (whoa)
(Apostando nos dados que estou jogando)
I'm gonna have a fantasy (whoa-yeah)
(Eu vou ter uma fantasia)

Where am I gonna look?
(Para onde vou olhar?)
They tell me that love is blind
(Eles me disseram que o amor é cego)
I really need a guy* like an open book
(Eu realmente preciso de um cara aberto como um livro)
To read between the lines
(Para ler nas entrelinhas)

O refrão foi cantado pelas três:

Love in an elevator
(Amor em um elevador)
Livin' it up when I'm going down
(Aproveitando enquanto eu vou descendo)
Love in an elevator
(Amor em um elevador)
Lovin' it up 'til I hit the ground
(Amando até chegar no térreo)

Em seguida, só a Nadine cantou:

Jackie's in the elevator (whoa)
(Jackie está no elevador)
Lingerie second floor (whoa yeah)
(Lingerie, segundo andar)
She said can I see you later? (whoa)
(Ela disse “Posso te ver depois?”)
And love you just a little more (whoa yeah)
(E eu amo você um pouco mais)

E para completar... Foi a , que cantou e olhava diretamente para onde eu estava:

I kinda hope we get stuck
(Eu espero que fiquemos presos)
Nobody gets out alive
(Ninguém vai sair vivo)
She said I'll show you how to fax in the mailroom honey
(Ela disse “Eu vou te mostrar como se passa um fax na sala de correio, querido”)
And have you home by five
(E você tem que estar em casa às cinco)

Apesar de tudo, no final das contas, nem era tão ruim quanto eu havia imaginado... Quer dizer, a única coisa que não gostei muito foi a rebolando para um monte de marmanjos.

Um tempo depois, quando menos esperei, vi a subindo no mesmo balcão e ela e a cantaram de novo a “Walk this way”. Mas desta vez, eram só as duas. Acho que todo mundo que era próximo da estava começando a se preparar para quando as duas começassem a se atracar. Só que, para minha surpresa, se comportaram até muito bem. E por isso mesmo que encarei aquilo como um péssimo sinal.

- Pior é que vai ter um bocado de gente filmando e colocando na internet, caso tenha alguma briga... - O disse. Quando me virei para olhá-lo, vi o ali perto e fez um sinal para que eu fosse até ele. Meio a contragosto, fui e ele avisou:

- Pode se preparar para a hora em que uma vai pular no pescoço da outra. A pode até manter a pose, mas acho que nós dois sabemos que a não é exatamente do tipo que vai se importar em rolar no chão, se for preciso.

- E o que me sugere que eu faça? - Perguntei.

- Por enquanto... Acho melhor a gente ir para perto do balcão. Vai ser mais fácil se estivermos ali do lado.

Só avisei ao , e onde estávamos indo e eles quiseram nos ajudar. Então, assim que conseguimos, ficamos de olho, para a hora em que a confusão poderia começar, só que não aconteceu nada. Mesmo assim, não deixamos de ficar de olho nas duas.

Um tempo depois, ficamos perto do bar e, quando olhei para o , estava brincando com o piercing e olhando fixamente numa direção, com uma expressão bem específica. Sabia que tinha alguma mulher que havia chamado sua atenção e tomou um gole do drink e, por cima da borda do copo, continuou olhando para a garota. Era bonita, alta e magra; Os cabelos eram curtos e escuros. Quando ele finalmente se decidiu e foi falar com ela, nem bem deu um passo e se encolheu. Pôs a mão na nuca e perguntei:

- O que aconteceu?

Olhou para trás e, quando fiz o mesmo, vi que a Nadine servia um drink a um cliente. Nada anormal. O foi falar com ela, que negou, estranhando. Quando ele se afastou, pude ver que ela sorria. Assim que seu olhar encontrou o meu, gelou e neguei com a cabeça em silêncio. Entendeu o recado e moveu os lábios, formando um agradecimento.

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* O original é com garota.

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 31º capítulo


Where do you end, where do I begin?

Nunca quis voar
Nunca quis partir
Nunca quis dizer o que você significa pra mim
Nunca quis correr
Assustado em acreditar que
Você é a melhor coisa em mim


(Savage garden - The best thing)

Luiza

          - Coisa feia, Nadine... - A Lola repreendeu, mas só para sacanear. - Quebrar a cama e ainda por cima no primeiro dia do ano...

          - Ai, vocês duas! Sosseguem! - A Di reclamou e não segurei o riso.

          - Quem tem que sossegar é você, Coyle... Foi com tanta sede ao pote... Aí no que deu... - A provoquei e a Lola já tinha perdido o controle também. Estávamos as três na cozinha enquanto o Charlie e o Bill tentavam dar um jeito na cama. O Tom estava lá com eles e, portanto, não podiam nos ouvir.

          A Di respirou fundo e, de repente, ouvimos o interfone. A Lola foi atender.

          - Como você conseguiu quebrar a cama, Nadine? - Perguntei para ela, que me olhou e respondeu:

          - Eu estava transando com o Tom, satisfeita?

Nesse instante, a Lola abriu a porta e o Georg e o Gustav ouviram tudo. Como a Nadine estava de costas para a entrada, não viu os dois chegando e, assim que me olhou, se virou rapidamente para trás e apoiou a cabeça nas mãos. Ri e o Georg disse:

          - A gente imaginou que você realmente estivesse dormindo com o Tom, mas não precisava da confirmação explícita.

O olhar que a Nadine deu para ele foi um dos piores imagináveis.

          - Eles estão aí? - O Gustav me perguntou e falei:

          - Estão. Deixa que vou chamar.

Fui andando até a porta do quarto da Di e, vendo que o estrago já tinha sido arrumado, avisei ao Bill e ao Tom:

          - Georg e Gustav estão aí. E tem alguém que precisa terminar o pudim!

          - Já estamos indo. - O Bill falou. O Charlie pôs o colchão de volta na cama e se sentou, vendo se ia aguentar. Como não aconteceu nada inesperado, se levantou e o Bill avisou antes de sair do quarto, seguido de perto pelo Tom:

          - Vê se não quebra a cama de novo.

A resposta do Tom foi um tapa na cabeça do Bill. Logo, a Lola arrastou o Charlie para o quarto dela e a Di foi tomar banho. Já os meninos... Bom, todo mundo ficou na cozinha enquanto eu orientava o Bill:

          - Tem que fazer a calda.

          - E como faz?

          - Açúcar e água. - Respondi. Passei a quantidade que teria de usar e, enquanto o pudim ficava em banho-maria, o Bill fazia a calda.

          - Eu realmente estou vendo o Bill cozinhando? - O Georg perguntou, incrédulo.

          - Que foi, Hagen? - Provoquei. - Quer que eu te ensine algumas coisas também?

 E não é que ele aceitou?

Não pareceram se incomodar comigo ali quando começaram a falar sobre as músicas. Ainda falaram em alemão, como se eu não entendesse...

Assim que a Nadine reapareceu, fiz sinal para ela, que veio até onde eu estava e perguntou, em inglês:

          - O que está acontecendo?

          - Tá siad ag caint faoi an Bill amhráin atá á scríobh. - Respondi. Automaticamente, os quatro me olharam.

          - Agus d'fhéadfaí tú rud suimiúil aimsiú?

Dei de ombros.

          - Desde quando você fala... - O Bill começou a dizer e perguntei:

          - De onde a Nadine é mesmo, Bill? - Enfatizei que a pergunta era para ele. Deu de ombros e a própria respondeu:

          - Irlanda do norte.

          - Ok... Vou tentar me lembrar da próxima. Mas desde quando a Luiza fala irlandês?

Sorri misteriosa e falei:

          - Ah, Bill... Quase um ano de convivência e até hoje não sabe que sou um livro aberto? - Dei uns estalos com a língua, balançando a cabeça em negação. - Que vergonha...

          - Ah tá, e você realmente fala muito... - Ele retrucou.

          - Fala. - A Di se intrometeu. - Você que não presta atenção.

Ele olhou para a Di. Quase imediatamente, o Tom a chamou e, vendo que os dois já estavam indo na direção do quarto, não teve um de nós ali que não provocasse os dois:

          - Ó... Se quebrar a cama de novo, vocês dois vão dormir no chão! - O Bill avisou e o Tom mandou o dedo do meio, sem nem se virar.

          - Melhor é o Tom arrumar a cama sozinho! - Falei e a Nadine me olhou feio. Ri e continuamos ali na cozinha.

Ao anoitecer, estávamos todos vendo um filme na TV, cada um de um jeito: Georg e Gustav ficaram nas poltronas, que haviam sido postas lado a lado e perto de um dos sofás. No outro, o Charlie estava esparramado. A Lola, assim como os gêmeos, Nadine e eu, estava sentada no chão, sobre um colchonete.

O pior de tudo era que víamos um filme de terror. Numa cena que, logo depois que o assassino agia, o Charlie aproveitou que estava um silêncio tumular para perguntar:

          - Ô Luiza... Você ainda faz aqueles almoços de domingo?

A Lola começou a rir e assenti.

          - Por quê?

          - Eu estava pensando... E se a gente fizesse o almoço desse domingo lá em casa? - Propôs e concordei.

O final do filme, só para constar, era o pior imaginável...

Bill

Na quinta-feira à noite, antes de dormir, aproveitei para perguntar à Luiza:

          - De curiosidade... Você e as meninas vão para o bar enquanto estivermos aqui?

 Assentiu.

          - Apesar de tudo, ainda temos nossos empregos.

          - “Apesar de tudo”? - A provoquei, fingindo estar sério e suspirou.

          - Kaulitz, vai tomar banho e larga mão de ser chato!

Ri e disse:

          - Apesar de estar óbvio... Eu quis dizer: “Apesar de ter me casado em Las Vegas, me mudado para Los Angeles e as meninas terem me seguido e estarmos lá há quase um ano...”

Não resisti e mordi sua bochecha.

          - Canibal! - Protestou e ri. - Mas por que você está perguntando?

          - Se estiver tudo bem para você... Queria ir ao bar quando você estivesse trabalhando. No dia da virada do ano, você se apresentou e tal, mas não vi nenhum malabarismo com garrafa.

Me olhou estranhando.

          - Tem certeza absoluta que quer ir? Bill, o assédio em cima de mim é enorme.

          - Eu sei. E sei também que você só tem olhos para mim...

          - Ai, Kaulitz! Baixa a bola que você não está com esse cartaz todo, viu?

Ergui a sobrancelha e ela riu.

          - Eu deixo você ir comigo com uma condição.

          - Qual?

          - Que você se comporte.  Sem ataques de ciúmes e tal. Se eu te ver de cara fechada... Dou um jeito de te botar para fora na mesma hora. Pode ser meu marido ou o que for, mas, o bar é o meu local de trabalho e não quero arriscar a perder o emprego por causa de ataque besta de ciuminho, entendido?

Concordei.

          - Ah, e outra coisa. Se eu te ver dando mole para qualquer ser do sexo oposto... Ah, mas coitado de você, Kaulitz. Vou fazer muito pior que te deixar na abstinência por três meses!

          - E do mesmo sexo? - A provoquei.

          - Não vou nem me dar ao trabalho de responder.

Ri e ela logo mandou, como sempre:

          - E vamos dormir que é o melhor que a gente faz.

Concordei, mas porque estava realmente com sono.

Na sexta-feira seguinte, por volta de nove horas, as meninas começaram a se arrumar. Não nego que foi engraçado ficar só observando a agitação das três, que iam uma no quarto da outra, pedir alguma coisa emprestada:

          - Izzy, posso pegar aquela sua blusa emprestada? - A Nadine perguntou, só pondo a cabeça para dentro do quarto. Olhei para o Tom, que só achava graça naquilo tudo.

          - Que blusa? - Ouvi a Luiza perguntar.

          - A de matar zumbis.

Logo deu para concluir que a Luiza entregou a tal camiseta e a Nadine logo correu para o quarto. A primeira das três a ficar pronta foi a minha mulher. Quando apareceu na sala, só não usava maquiagem. Perguntei:

          - Vai assim, até sem batom?

Concordou.

          - Costumo fazer a maquiagem no bar, justamente para ganhar tempo.

Quase imediatamente, a Nadine apareceu e já maquiada. Já a Nicola...

Quase meia hora depois e ela ainda não estava pronta.

          - Nicola, corre aqui que o Príncipe Harry baixou as calças! - A Nadine disse e a Luiza riu.

          - Até parece que a bunda branca do príncipe ia ser um atrativo para ela... - Retrucou.

          - Ah é? Então o que seria? - A Nadine quis saber.

A Luiza simplesmente se levantou e foi até a porta do quarto da ruiva. Bateu calmamente e disse:

          - Roberts, você tem quinze minutos para terminar de se arrumar e o tempo de chegar ao bar. Já estamos saindo e se você não aparecer lá hoje na hora, juro que vai descobrir como é o fundo do Tâmisa.

Em seguida, entrou no próprio quarto, indo no da Nadine em seguida e trouxe duas bolsas. Entregou uma para a Nadine e fez sinal para que fôssemos atrás dela. Já havíamos saído e estávamos no hall quando a Luiza parou por um instante.

          - Só eu que estranhei que ela não reclamou, como sempre? - Perguntou para a Nadine e as duas logo voltaram ao apartamento. Bateram na porta de novo e a única resposta foi:

          - Vão na frente que eu alcanço vocês.

          - Lola, está tudo bem? - A Luiza insistiu e a ruiva garantiu que sim. As duas se entreolharam e fui até lá. Perguntei para elas:

          - Algum problema?

          - É isso que a gente está tentando descobrir. - A Nadine respondeu. De repente, a porta se abriu e a Nicola disse:

          - Não sei o porquê de toda essa preocupação. Eu estou bem. Só não estou conseguindo arrumar o cabelo. Podem ir que eu alcanço vocês.

Percebi o olhar das duas para a Nicola e acabamos saindo sem ela.

Assim que chegamos ao pub, o Stephen logo quis saber onde a “terceira mosqueteira” estava e as meninas avisaram que, por causa do cabelo, a Nicola viria depois.

          - Muito bem... Bom, vocês sabem o que fazer, não? - Ele perguntou.

          - Stephen? - a Luiza chamou, assim que ele se virou e começava a se afastar. - Posso fazer o teste de um drink?

Concordou. Em seguida, ela me guiou até um canto que, descobri depois, ser um corredor que dava no camarim. Se sentou de frente para um espelho enorme que havia ali, além de uma espécie de cômoda, e pegou a bolsa de maquiagens. Perguntei, enquanto a observava:

          - Que drink é esse que você quer testar?

          - Estava pensando nele ontem. Me faz um favor?

Concordei.

          - Liga esse aparelho de som que tá atrás de você? Só liga e aperta o botão de play.

Fiz o que pediu e logo começou a tocar um riff de guitarra. Quase imediatamente, veio o acompanhamento de outra guitarra, baixo e bateria. Olhei para a Luiza, que sorria enquanto passava a sombra nos olhos.

          - Que banda é essa? - Perguntei e ela manteve o sorriso, só que mais misterioso.

          - Escuta.

Um cara de voz rouca e mais aguda começou a cantar.

          - Ac/Dc? - Perguntei e ela concordou. De repente, a Nadine entrou ali e, ao ouvir a música, perguntou para a Luiza:

          - O que me diz?

          - Nah... Acho que a gente deveria experimentar com outra música. Fala com o Tony que já levo para ele.

A Nadine concordou e, de repente, se sentou ao lado da Luiza e perguntou:

          - Só eu que não acreditei na Lola?

          - Pela lógica... Não está nada tão fora do comum. Mas, como a gente conhece muito bem a Lola... - A Luiza disse.

          - Do que vocês estão desconfiando? - Perguntei. De repente, as duas me olharam de um jeito estranho. - Quê?

          - Apesar de ela confiar na gente... - A Luiza começou a dizer, me olhando. De repente, se virou para a Nadine. - Talvez ela se sinta melhor em falar com alguém com quem ela não tenha tanta intimidade assim...

          - Concordo. - A Nadine falou. - Bill, faria um enorme favor para a gente?

          - Conversar com a Nicola? Claro.

          - Só que aí que vem a parte complicada. Sabendo que ela pode não aceitar se souber que te pedimos isso, você seria tipo um... Espião. A Lola é como a gente, que não consegue se abrir tão fácil. E a gente quer ajuda-la, caso precise. - A Luiza contou. - Ainda mais se for uma coisa séria.

          - Não passou pelas cabeças de vocês que, se derem tempo ao tempo, a Nicola pode contar o que está acontecendo de livre e espontânea vontade? - Perguntei e as duas concordaram com a cabeça, sem dizer nada.

          - Então. Você ia ser o espião caso isso não acontecesse. - A Luiza explicou. De repente, ouvi meu celular e, quando peguei o aparelho, vi uma mensagem do Georg, querendo saber o endereço do pub. A Luiza, depois que expliquei, pediu o aparelho e respondeu à mensagem. Em seguida, continuou fazendo a maquiagem. Logo, o Tom apareceu e ficou ali com a gente. As meninas olharam o relógio perto da porta e a Nadine falou, se levantando da cadeira:

          - Vou ver se a Lola chegou.

          - Vou com você. - O Tom falou. Assim que fiquei sozinho com a Luiza, aproveitei para pegar na sua mão e perguntei:

          - Está com medo?

          - Não. Ansiosa. Do mesmo jeito que você provavelmente fica antes de um show. Só isso.

          - Eu estava falando da Nicola.

Ergueu as sobrancelhas e ri.

          - Então. Meu medo, na realidade, é de que ela esteja com algum problema sério e não conte para nós por não querer nos preocupar.

          - Se fosse você... Contaria?

Assentiu.

          - Se fosse uma doença ou algo parecido, o que requer o máximo de apoio...

De repente, ouvimos a porta se abrindo e, quando olhamos, era a Nicola. Com o cabelo preso num rabo-de-cavalo, aparentemente rabugenta. Começou a fazer a própria maquiagem em silêncio e a Luiza se atreveu a perguntar:
      
          - Devo perguntar agora o que aconteceu para esse seu mau humor ou espero passar?

A ruiva suspirou e disse:

          - Estou com desejo de comer frango frito. E não consegui achar.

A Luiza riu e garantiu:

          - Depois a gente caça um lugar, ok?

A Nicola pareceu se animar um pouco e, aproveitando a deixa, fui guiado pela minha mulher para longe dali. Mais precisamente até o bar. Fez com que eu me sentasse num dos bancos altos enquanto ela foi fazer alguma coisa. Só via que pegava várias garrafas e, curiosamente, não fez nenhum malabarismo. Por fim, empurrou uma taça na minha direção.

          - O que é isso?- Perguntei, olhando o drink, que tinha várias camadas coloridas e parecia um arco-íris.

          - Experimente e me dê sua opinião sincera, por favor.

Peguei o copo e tomei um gole. Era realmente gostoso. Dava para sentir que tinham frutas ali no meio.

          - Este amarelo - Ela indicou. - é Cointreau. O azul, curaçau blue. Verde é licor de menta. Vermelho é licor de cereja. E o roxo... Bom, é ingrediente secreto exclusivo daqui do bar.

De repente, ficou tensa e perguntei:

          - O que foi?

Justamente quando ia responder, descobri: Era o Alex, que havia acabado de chegar ali.

          - Soube da última? Arsenal venceu o Manchester no final do campeonato.

          - Me faz o obséquio de botar essa sua traseira murcha aqui. Quero falar sério com você. E você também. - Me olhou. Assim que ele se sentou no banco ao meu lado, a Luiza foi categórica: - Se eu descobrir que houve um quebra-pau entre vocês... Primeiro que você - Falava com ele. - Vai ser obrigado a usar essa sua camisa horrenda do Arsenal para limpar o chão da minha casa. E sem as mãos. E você - Me olhou. - Dorme na sala. E os dois vão ser tocados do bar exatamente como o Stephen costuma expulsar bêbados brigões e tarados. E estou falando sério com os dois. Não quero confusão hoje por causa de rixa besta aqui dentro. Se eu perder o emprego por crisezinha de ciúme... Ah, mas podem ter certeza que não olho na cara de cada um por um bom tempo. E antes que eu me esqueça... Vai ter um adicional de os dois terem uma noite de rei.

          - Você não se atreveria. - o Alex disse.

          - Já fiz uma vez... Não me custaria nada ter um... Revival. - E se afastou, indo na direção da Nicola.

          - Bandeira branca por hoje?- Ele perguntou e falei:

          - Só por causa da Luiza.

Assentiu, sorrindo.

          - Do que ela estava falando sobre ter noite de rei?- Perguntei.

          - Quando a Luiza tinha doze anos, deu quase cinquenta gotas de laxante para um colega de escola que era detestado pela turma inteira. Não sei você, mas eu não estou nem um pouco a fim de sofrer o mesmo que esse infeliz.

Passei o dedo distraidamente pela base do copo e não consegui me controlar:

           - Então você sabe tudo sobre ela?

          - O suficiente para não querer perder a amizade dela. Já que eu sei que, por mais que ela queira, não vai conseguir me ver como algo a mais que o melhor amigo dela...

          - Por que não?

          - Ela sempre gostou de você. Desde o primeiro instante em que nos conhecemos, era difícil não ouvir a Luiza falando seu nome. E isso nem é o pior de tudo.

          - Não?

Negou.

          - O pior de tudo é ver que ela gosta mesmo de você. Por isso... Se, de alguma maneira, você magoar a Luiza... Ferro sua vida de um jeito pior ainda que a Lydia fez.

          - É uma ameaça?

          - Não. - Respondeu, balançando a cabeça. - É um aviso. Eu sei muito bem o que andou aprontando e tem sorte de ela ter passado por cima disso. Mas se, ao final desse maldito prazo, ela voltar para Londres do pior estado possível...

          - Acha mesmo que eu tenho medo de um filhinho de papai metido à empresário que só faz rondar a minha mulher?- Perguntei, finalmente me virando de frente para ele.

          - É bom ter. - Disse, tentando me fuzilar com o olhar.  

          - Ok. Já deu. - Ouvimos a Luiza. - Eu avisei.

          - A gente não estava fazendo nada demais. - Respondi.

          - Ah tá. E eu sou ruiva natural que nem a Nicola e a Nadine tem os olhos azuis! - Retrucou, irônica. - Anda, cada um tomando seu rumo. E não pensem que não vou ficar de olho nos dois.

O Alex saiu andando enquanto eu continuei onde estava. Sentia o olhar da Luiza e falei:

          - Não adianta você ficar parada aí, com cara amarrada.

A olhei e estava com sobrancelha arqueada.

          - Já dei meu aviso. Se eu te ver brigando com o Alex...

Algum tempo depois, o bar começou a encher e, para não atrapalhar, fui para a mesma área que fiquei na virada do ano. O Tom foi para lá também e, depois de um tempo, o Georg e o Gustav chegaram. De onde estávamos, era possível ver todo o bar e não havia nem sinal do Alex. Melhor assim.

Quando o bar ficou lotado, deu para ver como realmente era. Quando olhava para o balcão onde as meninas estavam, só via as garrafas girando no ar, as três as pegando com maestria e servindo os clientes. A Luiza havia me dito que o Stephen costumava fazer o que era chamado de “Rodízio de playlist”. Ele pedia a todas as meninas que trabalhavam no bar para fazerem listas e fazia um sorteio no domingo à noite. Sete playlists eram selecionadas para tocarem durante cada noite da semana. Naquela noite, até tinha um palpite de quem era, mas não tinha certeza.

Estava observando as meninas e conversando com o Tom e nossos amigos quando vi uma figura conhecida, loira, com porte de modelo e rosto de boneca vindo na nossa direção. Assim que estava perto o bastante, falei:

          - Achei que você estivesse em Los Angeles!

          - Tive um imprevisto e precisei ficar por aqui. - A Claire respondeu. De repente, acendeu uma luz neon, em formato de drink, atrás do balcão e, quase imediatamente, começou a tocar “Love in an elevator” do Aerosmith. As meninas terminaram de servir os clientes e, logo em seguida, subiram no balcão que havia ali perto. Até então, não dava para ver que estavam segurando microfones e a Nicola cantou primeiro:

Yeah!
Workin' like a dog for the boss man (whoa)

(Trabalhando feito um cão para o chefe)
Workin' for the company (whoa-yeah)
(Trabalhando para a companhia)
Bettin' on the dice I'm tossin' (whoa)
(Apostando nos dados que estou jogando)
I'm gonna have a fantasy (whoa-yeah)
(Eu vou ter uma fantasia)
Where am I gonna look?
(Para onde vou olhar?)
They tell me that love is blind
(Eles me disseram que o amor é cego)
I really need a guy* like an open book
(Eu realmente preciso de um cara aberto como um livro)
To read between the lines
(Para ler nas entrelinhas)

O refrão foi cantado pelas três:

Love in an elevator
(Amor em um elevador)
Livin' it up when I'm going down
(Aproveitando enquanto eu vou descendo)
Love in an elevator
(Amor em um elevador)
Lovin' it up 'til I hit the ground
(Amando até chegar no térreo)

Em seguida, só a Nadine cantou:

Jackie's in the elevator (whoa)
(Jackie está no elevador)
Lingerie second floor (whoa yeah)
(Lingerie, segundo andar)
She said can I see you later? (whoa)
(Ela disse “Posso te ver depois?”)
And love you just a little more (whoa yeah)
(E eu amo você um pouco mais)

E para completar... Foi a Luiza, que cantou e olhava diretamente para onde eu estava:

I kinda hope we get stuck
(Eu espero que fiquemos presos)
Nobody gets out alive
(Ninguém vai sair vivo)
She said I'll show you how to fax in the mailroom honey
(Ela disse “Eu vou te mostrar como se passa um fax na sala de correio, querido”)
And have you home by five
(E você tem que estar em casa às cinco)

Apesar de tudo, no final das contas, nem era tão ruim quanto eu havia imaginado... Quer dizer, a única coisa que não gostei muito foi a Luiza rebolando para um monte de marmanjos.

Um tempo depois, quando menos esperei, vi a Lydia subindo no mesmo balcão e ela e a Luiza cantaram de novo a “Walk this way”. Mas desta vez, eram só as duas. Acho que todo mundo que era próximo da Luiza estava começando a se preparar para quando as duas começassem a se atracar. Só que, para minha surpresa, se comportaram até muito bem. E por isso mesmo que encarei aquilo como um péssimo sinal.

          - Pior é que vai ter um bocado de gente filmando e colocando na internet, caso tenha alguma briga... - O Georg disse. Quando me virei para olhá-lo, vi o Alex ali perto e fez um sinal para que eu fosse até ele. Meio a contragosto, fui e ele avisou:

          - Pode se preparar para a hora em que uma vai pular no pescoço da outra. A Lydia pode até manter a pose, mas acho que nós dois sabemos que a Luiza não é exatamente do tipo que vai se importar em rolar no chão, se for preciso.

          - E o que me sugere que eu faça? - Perguntei.

          - Por enquanto... Acho melhor a gente ir para perto do balcão. Vai ser mais fácil se estivermos ali do lado.

Só avisei ao Tom, Georg e Gustav onde estávamos indo e eles quiseram nos ajudar. Então, assim que conseguimos, ficamos de olho, para a hora em que a confusão poderia começar, só que não aconteceu nada. Mesmo assim, não deixamos de ficar de olho nas duas.

Um tempo depois, ficamos perto do bar e, quando olhei para o Tom, estava brincando com o piercing e olhando fixamente numa direção, com uma expressão bem específica. Sabia que tinha alguma mulher que havia chamado sua atenção e tomou um gole do drink e, por cima da borda do copo, continuou olhando para a garota. Era bonita, alta e magra; Os cabelos eram curtos e escuros. Quando ele finalmente se decidiu e foi falar com ela, nem bem deu um passo e se encolheu. Pôs a mão na nuca e perguntei, em alemão:

          - O que aconteceu?

Olhou para trás e, quando fiz o mesmo, vi que a Nadine servia um drink a um cliente. Nada anormal. Meu irmão foi falar com ela, que negou, estranhando. Quando ele se afastou, pude ver que ela sorria. Assim que seu olhar encontrou o meu, gelou e neguei com a cabeça em silêncio. Entendeu o recado e moveu os lábios, formando um agradecimento.


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* O original é com garota.