Eu tenho alma, você
pode verificar
No meu coração, na
minha cabeça
Eu tenho um espirito,
você pode sentir
Você achou que eu não
era real?
(Kylie Minogue - Aphrodite)
Luiza
-... E ele ainda me perguntou se eu era prostituta, aquele filho da... - Grunhi, me interrompendo. As meninas se esticaram, crentes que eu ia falar um palavrão, só que me freei, não dando o gostinho para elas, que fizeram bico. - E coitada da mãe dele, que não tem culpa do traste de filho que tem!
- Agora você sabe o que eu passo com aquela coisa do irmão dele! - A Di protestou e a olhei, assim como a Nicola.
- “O que eu passo”? - Perguntei, erguendo a sobrancelha e cruzando os braços. - Ah, Di... Nega que você não ama o sacrifício de correr dele, vai...
Torceu a boca, suspirando e a amiga da onça (Ignoremos o fato que, vez ou outra, a própria usava uma blusa com a estampa do bicho), voltou o foco para mim:
- E então? O que vamos fazer?
- Vocês voltam para Londres e, assim que esse bendito divórcio sair, pego o primeiro avião e volto para a mesma vida que tinha antes. Afinal de contas, o que acontece em Vegas, fica em Vegas, não é?
- Então... A Bertha diria algo tipo... “Acho que esse problema no sistema do juizado aconteceu por obra do destino. Eu vi nas cartas.” - A Lola falou, imitando o tom de voz da minha chefe e rimos.
- O que me desanima mais ainda é que, digamos que realmente não saia conforme o planejado. - Bati no tampo da mesinha de madeira ao meu lado, para isolar. - vai ser pior ainda do que é com o Alex no quesito privacidade zero.
As duas se entreolharam, fazendo cara de malícia.
- O que foi?
- Nada. Mas falando sério. - A Lola se adiantou. - E se você aceitasse a proposta dele e fosse para Los Angeles por uns dias?
- Está fora de questão.
- Iza, será que você não está sendo um pouco mesquinha? Quer dizer, o caminho mais fácil seria justamente abrir mão do dinheiro para ficar evitando confusão. - A Di arriscou e falei:
- Acontece que, ao contrário de mim, ele não precisa desse dinheiro. Já eu... Imaginem só: A gente podia muito bem investir esse dinheiro e... Sei lá. A Lola podia abrir o próprio ateliê e a gente, Di, podia abrir o pub, o que me diz? É tão ruim assim imaginar esse tipo de coisa?
- Não. Mas... Sei lá. - Ela respondeu, incerta.
- Olha, eu vou exigir o que é meu de direito. Entenda-se por metade desse dinheiro, já que era a minha moeda que ele pôs na máquina.
As duas suspiraram, provavelmente já percebendo que não ia adiantar muita coisa continuar naquela discussão comigo.
No entanto, um pouco antes do jantar, aproveitei que fiquei de molho na banheira para poder pensar em tudo aquilo. Assim que tomei uma decisão, fiz o que precisava e, em seguida, saí do quarto e parei em frente à porta e bati. Esperei por um tempinho e não houve resposta. Bati de novo e esperei mais uns minutos. Ia bater pela terceira vez quando a porta finalmente se abriu e não sei como não tive um treco ali mesmo. Quem atendeu foi o próprio Bill e usando nada mais além de uma toalha, que nem estava presa; Ele segurava uma das pontas.
- Sim?
- Eu... Queria conversar com você.
Deu de ombros, se afastando e me deixando entrar. Respirei fundo, mas tentando ser o menos ruidosa possível e fui até a sala de espera, notando que ele tinha ido até o quarto. Me sentei em um dos sofás e esperei. Assim que ele voltou, usando uma camiseta e jeans, se sentou de frente para mim e perguntou:
- Então?
- Já falei com meus chefes e eles concordaram que eu ficasse esses dias a mais em Los Angeles até que toda essa situação se resolva.
- Sério? - Ele perguntou surpreso. Tive a ligeira impressão que teve um pouco de animação demais da parte dele. Concordei e avisei:
- Tão logo saia o divórcio, volto para a casa.
Assentiu em silêncio.
- Eu sei que você provavelmente não vai querer, mas... Para não ficar gastando dinheiro com hotel, pode ficar na minha casa.
- Ah, não se preocupe. Eu dou um jeito e arrumo um lugar para ficar.
- Deixa de ser teimosa?
Ri e falei:
- Está no meu DNA, lindinho. Bom, eu já falei tudo que tinha para dizer. Vou ver se consigo remarcar a minha passagem para Los Angeles.
- Por que você não me dá seu telefone? Que dizer, como eu vou saber quando você vai para lá?
Consegui controlar o sorriso que teimava em aparecer por estar vendo alguém como ele desconsertado daquele jeito por pedir meu telefone. Olhei ao meu redor e encontrei um bloco de papel perto da mesa de canto ao lado do sofá. Levantei e anotei quase todos meus contatos. Não tirei a folha e avisei:
- Aí. Bom, eu vou indo que amanhã quero acordar cedo para resolver essa história das passagens.
Se levantou e foi comigo até a porta. Perguntou, antes de destrancá-la:
- O que você lembra de ontem? De verdade.
Suspirei e respondi:
- O mesmo tanto que você.
- Mas... Você não lembra nem se a gente...?
- E que diferença vai fazer?
- Nenhuma, mas eu queria só... Saber. Só isso.
Respirei fundo e falei:
- Já te disse. Não lembro de praticamente nada entre o momento em que você me beijou e quando acordei hoje de manhã.
Concordou em silêncio e saí dali. Assim que cheguei ao quarto, a Nicola perguntou:
- E aí?
- Já foi devidamente avisado.
- E...?
- “E...?” o quê, Nicola? Não tem mais nada além desse aviso.
Me olhou daquele jeito inquisitivo que eu odiava e suspirei, me largando em um dos sofás.
- Me disse para ficar na casa dele.
- E o que você falou?
- Que não, é claro!
Suspirou e continuou a fazer as malas. Sabia muito bem o que ela estava imaginando e nessas horas, não podia aguentar esse lado da Lola.
Na manhã seguinte, conforme o combinado, consegui trocar as passagens. Fizemos o check-out do hotel e a Nadine iria comigo para Los Angeles e a Lola voltaria para Londres. Nem me preocupei em descobrir à que horas o Bill iria para a casa; A única coisa que sabia era que Georg e Gustav voltariam para Hamburgo no mesmo dia que nós.
Enquanto estávamos no aeroporto, esperando o voo, minha amiga, sem eu perceber, pegou o meu mp3 da minha bolsa e começou a mexer, olhando cada música. Quando fomos fazer o check-in senti que ela pôs um dos fones de ouvido na minha orelha e me assustei.
- Ai, praga! Não faz isso de novo!
Ela riu e, ignorando o fato de que alguém podia ver, aproveitou que era uma música que sempre dançávamos de zueira e, em frente ao balcão da companhia, começou a fazer discretamente os passinhos e a cantar embolado, já que era uma música de uma banda sul-coreana. O atendente olhou para ela por cima dos óculos e falei:
- Pior que esse é o normal dela.
O cara não disse nada. Nem precisava. No seu lugar, faria igualzinho, sem tirar e nem pôr.
Quando estávamos indo para o portão de embarque, falei com ela:
- Cada uma que você me faz passar, Nadine...
Riu e, de repente, estacou antes mesmo de irmos pelo detector de metais.
- Ai, coisa! Que foi? - Perguntei, irritada por quase trombar nela, que me indicou duas figuras mais à nossa frente. - Não é possível! - Resmunguei.
- Ah, é possível sim. E pode ir se preparando porque aquele fofo do Murphy deve estar aprontando.
Suspirei e falei:
- Pena que não dá para ressuscitar uma pessoa... Senão, coitado do Murphy. Ia ter uma das piores mortes imagináveis.
Riu fraco e, depois que fomos para a sala de espera, fiz questão de arrastar minha amiga para o mais longe possível de onde eles estavam.
- E se ele vier falar com você?
- Vou ser educada.
Fez expressão descrente e resmunguei:
- Ah, Nadine, vai!
Riu e me sentei na poltrona do canto mais escondido. Por sorte ou não, na nossa frente sentou um casal que mais parecia uma dupla de montanhas. Ela, loira, de olhos azuis e porcinos com um belo par de bochechas rosadas e esticadas. Ele, de cabelos castanhos, meio careca, com os olhos com as mesmas características e um cavanhaque perfeitamente desenhado. Me deitei um pouco na cadeira, mais para me esconder e a Nadine riu. Ouvimos a chamada do voo e relutei um pouco em levantar dali. Pedi para ela:
- Algum sinal deles?
- Os primeiros da fila.
- Qual o tamanho?
- Cerca de trinta pessoas.
- Contando ou não com eles?
- Sem.
- Deixa eles saírem que a gente vai. - Respondi e ela concordou. Assim que se passaram alguns poucos minutos, lá fomos nós duas. Foi tudo perfeitamente bem até a hora em que encontramos os nossos assentos. Que eram na mesma direção que os deles. Fingi não vê-los e agradeci que, pelo menos, o avião era menor e as fileiras tinham duas poltronas de cada lado. Ou seja? A Di era minha... Companheira de viagem.
- Dos males o menor. - Ela disse e dei um sorriso fraco, sem mostrar os dentes.
- Pois é. - Respondi.
Até que a viagem foi relativamente tranquila. Quer dizer, até o desembarque. Estávamos esperando as bagagens passarem pela esteira quando percebi que duas pessoas altas pararam do meu lado. Fingi que nem vi e, quando a Di avançou para pegar a sua mala, ele aproveitou para dizer:
- Eu estava pensando... O convite para que você fique lá em casa ainda está de pé. E quero avisar que se estende à sua amiga.
- Eu realmente agradeço a gentileza, mas de novo, recuso. Não vamos nos demorar aqui em Los Angeles e, por isso, não tem problema se ficarmos hospedadas em um hotel, sinceramente.
- Você é teimosa, hein?
Ergui a sobrancelha, dando um sorrisinho torto e a Di me entregou a minha mala que havia pegado.
- Quando quiser ir ao juiz e pedir o divórcio... Só me ligar. Ah! E só faça isso quando for estritamente necessário.
Não respondeu nada. Saímos do terminal e passamos pelo saguão lotado do LAX. Assim que conseguimos um táxi, eu e a Di conversamos durante todo o caminho e o motorista nos ajudou com a bagagens depois que chegamos.
Naquela noite, enquanto minha amiga estava no banho, ouvi meu celular dar o aviso de mensagem e, depois que peguei o aparelho, vi que era uma SMS do Bill, avisando que já tinha conseguido marcar a audiência para a manhã seguinte. Menos mal. Quanto mais rápido essa situação toda fosse resolvida, melhor.
Então, às oito da manhã, chegamos à corte praticamente ao mesmo tempo e tivemos de esperar um pouquinho. E do mesmo jeito que a Di estava me acompanhando... O Tom também o fazia com o Bill.
Depois de uns minutos, fomos chamados e deixei minha amiga passar na minha frente ao entrarmos ali. O Bill explicava toda a situação e o juiz, um homem de cabelos grisalhos, de óculos meia lua e expressão cansada, ouvia à tudo atentamente. Por fim, quando terminou o monólogo daquele que eu relutava em chamar de “meu marido”, o juiz disse:
- Bem, me deixem dizer uma coisa. Sou casado há quase quarenta anos com a mesma mulher. E assim como vocês dois, fui para Las Vegas e me casei com ela no mesmo dia em que a conheci. E durante toda a viagem de volta, feita dentro de um ônibus, conversamos e percebi que não tinha feito a maior burrada da minha vida, como havia pensado. Claro que tem dias que simplesmente quero jogar tudo para o alto e sumir, mas ao me lembrar que ela me deu os meus três filhos... Respiro fundo e tento consertar o que está errado. Por isso, sentencio vocês a passarem um ano inteiro juntos, vivendo sob o mesmo teto e sendo acompanhados por um terapeuta de casais, que me enviará os relatórios das consultas. Se, depois desse ano, vocês dois ainda estiverem dispostos a pedirem o divórcio, então concedo e com a divisão estabelecida do dinheiro. Até lá, o valor que ambos ganharam em Las Vegas será congelado.
Mentalmente xinguei o juiz.
- Senhora, por um acaso você tem residência e trabalho fixos?
- Do outro lado do oceano, excelência. - Respondi.
- Neste caso, você ficará na residência do Sr. Kaulitz durante esse período.
Sabendo que eu não podia retrucar, apenas consenti com a cabeça e sem dizer nada.
Ele concordou também e não muito tempo depois, fomos liberados. Entretanto, assim que saímos da tribuna, o ouvi perguntar:
- Ei... Está indo aonde?
- Isso não é da sua conta. - Respondi, o mais rabugenta que consegui.
- Ah, é sim. Você é minha mulher agora. Vai comigo para a minha casa.
Fechei as mãos em punho e tentei manter a respiração controlada.
- Quero ver você me obrigar. - Desafiei. No instante seguinte, fui erguida do chão e posta sobre seus ombros feito um saco de batatas. Esperneei e estapeei cada mínimo pedaço do seu corpo que conseguia alcançar. - ME PÕE NO CHÃO, SUA COISA COMPRIDA!
- Que maturidade! - Resmungou, rindo e consegui bater na sua bunda. - Bate que eu apaixono, hein?
Grunhi, daquele jeito típico de filme de patricinha norte-americana e, vendo que estava atraindo olhares por onde passava por causa do escândalo (Além do fato óbvio, de estar sobre o ombro de um cidadão de quase dois metros de altura), fiquei quieta. A Di andava bem atrás e tentava me acalmar. Continuei sendo carregada daquele jeito até o estacionamento.
- Pode me colocar no chão, por favor? Não vou tentar fugir, ainda mais em cima desses saltos. - Falei, estranhamente calma e, para minha surpresa, fui atendida prontamente.
De lá, fomos até o hotel e, depois que terminei de trocar de roupa e guardar as minhas coisas, fui até a sala, onde o Bill perguntava à minha amiga:
- Nadine, tem como você dar um jeito de mandar as coisas da Luiza para cá? Não se preocupa, porque pago o transporte.
Ela concordou e, me olhando, perguntou:
- E a Vivi?
- Quem é Vivi? - Ele se intrometeu e por muito pouco não dei uma resposta malcriada.
- Boa pergunta.- Respondi especificamente para a Nadine e mordi o lábio.
- Vamos fazer o seguinte: Eu volto para cá e trago a Vivi. Não tem problema. - Ela falou e não resisti e a abracei apertado. Sem nos separarmos, disse, de modo que só eu escutei: - Ei... Vai com calma. Foca no dinheiro e lembra que um ano passa rápido.
- É. Tão rápido quanto vinte e quatro horas. - Resmunguei e ela riu.
- Lembra do nosso mantra, caso a situação fique periclitante.
Foi a minha vez de rir e quando ouvi o Bill pigarrear, suspirei e hesitei ao largar a minha amiga. Se despediu rapidamente dela e saímos dali. Durante todo o caminho até sua casa, não disse uma única palavra. Assim que chegamos, dei uma olhada no lugar. Quer dizer, casa para aquele imóvel era apelido. Era uma mansão mesmo e parecia um pequeno castelo. A fachada era em um tom de marrom muito claro e tinha alguns detalhes com tijolos expostos. A beirada das janelas redondas eram brancas e as portas, em arco, também tinham esse detalhe dessa cor. A porta de entrada era de madeira escura e tinha detalhes em ferro.
Depois de entrar na garagem, o Bill saiu do carro e, já prevendo o que aconteceria se eu não o imitasse, soltei o cinto e logo depois, saí, vendo-o abrir o porta-malas e pegar a minha mala. Abriu uma porta que imaginei que dava para o resto da casa. Entrou ali e pôs tudo do outro lado. Em seguida, veio andando até onde eu estava e me pegou nos braços. Perguntei:
- Vai ficar me carregando o tempo inteiro?
Juro que fiquei com muito medo de ele, acidental ou propositalmente, bater minha cabeça na porta, mas teve o maior cuidado. Me pôs no chão, como se eu fosse feita de porcelana e disse:
- Vou te mostrar a casa.
Ainda surpresa por aquela gentileza, o segui e, antes mesmo de sair daquela espécie de antessala em que estávamos, me provocou:
- Ah! Uma coisa. Já que você vai morar aqui por um ano e é minha mulher, querendo ou não, não precisa ficar me pedindo permissão para fazer certas coisas, como abrir a geladeira e pegar alguma coisa para comer, por exemplo. E como vocês lá do Brasil dizem... “Mi casa es su casa”.
Arqueei a sobrancelha e falei:
- Engraçado você falar isso, porque segundo consta... Quem descobriu o Brasil não foram os portugueses, mas os espanhóis, na realidade. Não me lembro direito do que aconteceu para terem mudado a nacionalidade dos colonizadores, sinceramente.
- Irritante. - Sibilou e fingi que nem ouvi. - Continuando... - Respondeu, seguindo em frente e não segurei o riso, aproveitando que tinha se virado de costas para abrir uma outra porta. - À esquerda, tem a adega e à direita, tem a escada que leva à cozinha.
- Uma adega em casa? - Perguntei, balançando a cabeça em negação.
- É. Imagino que você saiba que eu gosto de tomar vinho de vez em quando e por isso que quis construir uma tão logo me mudei para cá.
Segurei minha língua para não fazer qualquer comentário.
Subimos as escadas que davam para a cozinha, que era moderna, em tons de branco e preto. O chão era quadriculado, os móveis brancos, assim como as paredes (Exceto a que ficava de frente para uma ilha, que era coberta por pastilhas pretas). As cadeiras e tampos das bancadas eram da mesma cor das pastilhas. Numa parede, havia um armário com livros de receitas, algumas de lugares específicos do mundo, como a Itália, por exemplo. Não me surpreendi ao ver um só de massas. Saindo dali, me mostrou a sala de jantar, que também era em tons sóbrios; Havia uma longa mesa de jantar de madeira escura e circundada por cadeiras cobertas com estofado branco. As paredes eram escuras e tinham alguns detalhes de beirada de gesso branco. Na parede entre as passagens para a cozinha e o hall de entrada, tinha uma lareira. O resto da casa era sempre em tons de branco e outra cor escura. Ainda no primeiro andar, tinha seu escritório e me lembrei do filme de “A bela e a fera” da Disney, onde o “monstro” proíbe a heroína de ir à ala leste do castelo, uma vez que o Bill também avisou que não deveria entrar no seu escritório quando ele estivesse lá; Alegou que não gostava de ser interrompido. Sei...
No segundo andar, tinham os quartos e, no final do corredor à esquerda, era o dele. E não para a minha surpresa, prevalecia a combinação de cores, só que desta vez, tinha também, o prata, além do preto.
De volta ao andar debaixo da casa, me mostrou a piscina, que era enorme e parecia que a água caía do lado de fora. As espreguiçadeiras e um par de sofás que havia ali seguiam o mesmo padrão de cor. Perguntei, não conseguindo me controlar:
- Reparou que sua casa inteira é decorada em branco, preto e marrom? Não me surpreenderia se soubesse que, durante todo esse tempo, você tenha ficado em depressão. Pelo amor de Deus, essa casa precisa de umas coisas mais... Vivas!
- Me responde uma coisa? Você é designer de interiores?
- Não. Mas sou filha de uma. - Respondi e, de novo, ele ficou sem saber o que dizer. - E esse vai ser um ano muito interessante...
- Isso me lembra de uma coisa. Mesmo que eu tenha dito que você pode ficar à vontade, aqui tem as minhas regras.
Cruzei os braços na altura do estômago, empinando o nariz e ele começou:
- Vamos revezar com a louça. Duas vezes por semana, vem uma moça fazer a limpeza da casa. E, pelo pouco que vi de você, é mais um pedido que uma regra. Tenta deixar tudo organizado, por favor. Se você for à piscina, não é para deixar um rastro de água. O mesmo se aplica ao banho. Como você vai usar o meu banheiro, tenta não deixar aquele monte de cabelos no ralo. E nada de toalha molhada em cima da cama.
- Aceito suas regras desde que aceite as minhas.
Concordou.
- Nada de fumar perto de mim. Tenho rinite alérgica e prefiro não virar fumante passiva.
Ergueu as sobrancelhas e falei:
- É isso ou é melhor ir se acostumando às minhas reclamações.
Suspirou e acabou concordando.
- Mais alguma coisa?
- Nunca, sob nenhuma hipótese, me acorde, a menos que seja em duas situações distintas: Ou se o mundo está acabando ou se eu te pedir antes. E nem mexa nas minhas coisas sem a minha permissão.
- Por que não posso te acordar?
- Simplesmente porque detesto que me acordem.
- Mesmo se for gentilmente?
- Mesmo assim. E tenho algumas coisas para te pedir. Se eu quiser sair à noite, caso faça alguma amiga por aqui durante esse tempo, nada de ficar me controlando, ligando a cada cinco minutos, querendo saber com quem estou e o que estou fazendo. Tente, também, não ficar me interrogando a respeito da minha vida. Seja em Londres, seja no Brasil. Ah! Relacionamentos passados é assunto proibido entre nós, feito? Você não me pergunta sobre quem passou pela minha cama e eu não pergunto sobre a sua ex.
Não houve oposições.
Depois que ele saiu, fiquei sozinha naquela casa enorme, não sabendo o que diabo podia fazer. Estava deitada na cama, encarando o teto e pensando que aquele seria um longo ano, apesar do que a Di falou. Peguei o celular e digitei uma mensagem para ela, que não respondeu e acabei pondo o aparelho de lado. Voltei à mesma posição de antes e não demorei muito a pegar no sono.
Quando acordei, tinha a sensação de que era muito mais tarde, apesar de não ser nem oito horas da noite. Suspirei e decidi levantar da cama. Olhei o celular e nada. Mentalmente xinguei a Nadine e fui até a cozinha. Assim que abri a geladeira, vi que o que mais tinha ali eram garrafas e latas de cerveja.
- Tá de sacanagem comigo, Kaulitz! - Pensei em voz alta e continuei a procurar alguma coisa ali que pudesse comer, mas não tinha nada. Saí procurando pelo telefone de uma pizzaria ou até mesmo restaurante de comida chinesa. Não consegui achar nada e, xingando o Bill, subi até o segundo andar da casa, querendo pegar o meu celular. Mas no meio do caminho, fui impedida ante a visão de uma mulher loira, com a maior pinta de Barbie, entrando na casa. Assim que terminou de trancar a porta, veio andando na minha direção e quis saber:
- Você deve ser a Luiza, não é?
- E você é...?
- Claire. Sou secretária do Bill. Vim aqui te trazer uma cópia das chaves daqui.
Desci os poucos degraus e, quando parei na sua frente, me senti uma nanica. A mulher parada à minha frente era alta, mesmo usando sapatilha. Realmente podia se passar por uma Barbie, ainda mais com os olhos azuis arredondados que tinha.
- E ele ainda está no estúdio?
- Não. Precisou resolver algumas coisas e me pediu para te avisar.
- Sei... Escuta, você por um acaso teria ideia de qual pizzaria ele costuma ligar? Fui olhar a geladeira e tem mais cerveja que qualquer outra coisa.
Deu um sorriso e propôs:
- Então. Se quiser vir comigo... Estava indo comer alguma coisa.
Dei de ombros e avisei que iria pegar a bolsa.
Cerca de meia hora depois, estávamos num Burger King, perto de casa, e devorando um sanduíche cada uma. Sempre que dava, conversávamos e ela me contou algumas coisas:
- Depois que deu toda aquela confusão com a ex, ele ficou mais... Introspectivo ainda.
- E você chegou a conhecer a criatura?
- Então. Ela é filha da minha madrasta. Mas nós não temos muito contato. Já não nos falávamos antes de tudo acontecer...
- Tipo, você é irmã postiça dela? - Perguntei, chocada e ela concordou. - Wow... Por essa eu realmente não esperava.
Riu e disse:
- Então. Nunca vi o Bill com outra garota desde então. E só soube de você hoje de manhã. Já tem um monte de sites comentando.
- É. Eu sabia que beber em excesso não era bom e mesmo assim, não teve como evitar essa... Burrada.
Sorriu, mas sem mostrar os dentes.
- Acho que vai ver que está errada. Não foi exatamente uma burrada se casar com o Bill, apesar das circunstâncias. Ele pode ter ficado mais chato depois que tudo aconteceu, mas, acho que você vai conseguir dar um jeito nele.
- Duvido um pouco, já que somos o oposto do outro... E nem vem com a história de que os opostos se atraem porque não acredito.
Riu e disse:
- Então... Para sua sorte, passei os últimos três anos convivendo quase diariamente com ele. Querendo ou não, sei bastante coisa sobre o Bill e principalmente: Coisas úteis.
- Me dá um exemplo.
- Ele costuma sair às sextas-feiras e vai à um bar no centro. E ele pensa que eu não sei, mas descobri que nessas saídas, acaba indo para a cama com alguma garota que conhece por lá. Totalmente na abstinência ele nunca ficou.
- Seria essa garota do tipo que... É paga? - Perguntei e ela deu de ombros.
- Acho improvável, porém não impossível. Mas se quiser, te ajudo com ele. Mesmo que não queira se envolver, ainda sim, vai tornar a sua convivência mais fácil.
Suspirei e perguntei:
- E o que quer em troca?
- Fácil. Sigilo absoluto, já que é meu emprego que vai estar em jogo.
Estiquei a mão para ela, dizendo:
- Feito. E eu vou precisar de alguns favores esporádicos seus.
Concordou.
- E já sei qual vai ser o primeiro.
Me olhou, curiosa e falei, sorrindo:
- Vou te pagar para ser minha guia pelos shoppings, brechós e lojas daqui.
- Ah, não precisa. Adoro fazer compras e só o prazer de sair com uma garota para variar já está ótimo. Quer dizer, todo santo dia faço a rotina de ir do estúdio para a casa e vice-versa...
Antes de sair do seu carro, que era popular, falei:
- Ó... Na primeira folga que tiver, a gente combina e vai fazer as compras, feito?
Concordou e me despedi dela, que olhou para a casa, receosa. Achei que ela tivesse visto o Bill, mas logo descobri que era justamente o oposto: Ele ainda não havia chegado.
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Imagens e músicas do capítulo
A casa do Bill (Parte 01 - Parte 02)
-... E ele ainda me perguntou se eu era prostituta, aquele filho da... - Grunhi, me interrompendo. As meninas se esticaram, crentes que eu ia falar um palavrão, só que me freei, não dando o gostinho para elas, que fizeram bico. - E coitada da mãe dele, que não tem culpa do traste de filho que tem!
- Agora você sabe o que eu passo com aquela coisa do irmão dele! - A Di protestou e a olhei, assim como a Nicola.
- “O que eu passo”? - Perguntei, erguendo a sobrancelha e cruzando os braços. - Ah, Di... Nega que você não ama o sacrifício de correr dele, vai...
Torceu a boca, suspirando e a amiga da onça (Ignoremos o fato que, vez ou outra, a própria usava uma blusa com a estampa do bicho), voltou o foco para mim:
- E então? O que vamos fazer?
- Vocês voltam para Londres e, assim que esse bendito divórcio sair, pego o primeiro avião e volto para a mesma vida que tinha antes. Afinal de contas, o que acontece em Vegas, fica em Vegas, não é?
- Então... A Bertha diria algo tipo... “Acho que esse problema no sistema do juizado aconteceu por obra do destino. Eu vi nas cartas.” - A Lola falou, imitando o tom de voz da minha chefe e rimos.
- O que me desanima mais ainda é que, digamos que realmente não saia conforme o planejado. - Bati no tampo da mesinha de madeira ao meu lado, para isolar. - vai ser pior ainda do que é com o Alex no quesito privacidade zero.
As duas se entreolharam, fazendo cara de malícia.
- O que foi?
- Nada. Mas falando sério. - A Lola se adiantou. - E se você aceitasse a proposta dele e fosse para Los Angeles por uns dias?
- Está fora de questão.
- Iza, será que você não está sendo um pouco mesquinha? Quer dizer, o caminho mais fácil seria justamente abrir mão do dinheiro para ficar evitando confusão. - A Di arriscou e falei:
- Acontece que, ao contrário de mim, ele não precisa desse dinheiro. Já eu... Imaginem só: A gente podia muito bem investir esse dinheiro e... Sei lá. A Lola podia abrir o próprio ateliê e a gente, Di, podia abrir o pub, o que me diz? É tão ruim assim imaginar esse tipo de coisa?
- Não. Mas... Sei lá. - Ela respondeu, incerta.
- Olha, eu vou exigir o que é meu de direito. Entenda-se por metade desse dinheiro, já que era a minha moeda que ele pôs na máquina.
As duas suspiraram, provavelmente já percebendo que não ia adiantar muita coisa continuar naquela discussão comigo.
No entanto, um pouco antes do jantar, aproveitei que fiquei de molho na banheira para poder pensar em tudo aquilo. Assim que tomei uma decisão, fiz o que precisava e, em seguida, saí do quarto e parei em frente à porta e bati. Esperei por um tempinho e não houve resposta. Bati de novo e esperei mais uns minutos. Ia bater pela terceira vez quando a porta finalmente se abriu e não sei como não tive um treco ali mesmo. Quem atendeu foi o próprio Bill e usando nada mais além de uma toalha, que nem estava presa; Ele segurava uma das pontas.
- Sim?
- Eu... Queria conversar com você.
Deu de ombros, se afastando e me deixando entrar. Respirei fundo, mas tentando ser o menos ruidosa possível e fui até a sala de espera, notando que ele tinha ido até o quarto. Me sentei em um dos sofás e esperei. Assim que ele voltou, usando uma camiseta e jeans, se sentou de frente para mim e perguntou:
- Então?
- Já falei com meus chefes e eles concordaram que eu ficasse esses dias a mais em Los Angeles até que toda essa situação se resolva.
- Sério? - Ele perguntou surpreso. Tive a ligeira impressão que teve um pouco de animação demais da parte dele. Concordei e avisei:
- Tão logo saia o divórcio, volto para a casa.
Assentiu em silêncio.
- Eu sei que você provavelmente não vai querer, mas... Para não ficar gastando dinheiro com hotel, pode ficar na minha casa.
- Ah, não se preocupe. Eu dou um jeito e arrumo um lugar para ficar.
- Deixa de ser teimosa?
Ri e falei:
- Está no meu DNA, lindinho. Bom, eu já falei tudo que tinha para dizer. Vou ver se consigo remarcar a minha passagem para Los Angeles.
- Por que você não me dá seu telefone? Que dizer, como eu vou saber quando você vai para lá?
Consegui controlar o sorriso que teimava em aparecer por estar vendo alguém como ele desconsertado daquele jeito por pedir meu telefone. Olhei ao meu redor e encontrei um bloco de papel perto da mesa de canto ao lado do sofá. Levantei e anotei quase todos meus contatos. Não tirei a folha e avisei:
- Aí. Bom, eu vou indo que amanhã quero acordar cedo para resolver essa história das passagens.
Se levantou e foi comigo até a porta. Perguntou, antes de destrancá-la:
- O que você lembra de ontem? De verdade.
Suspirei e respondi:
- O mesmo tanto que você.
- Mas... Você não lembra nem se a gente...?
- E que diferença vai fazer?
- Nenhuma, mas eu queria só... Saber. Só isso.
Respirei fundo e falei:
- Já te disse. Não lembro de praticamente nada entre o momento em que você me beijou e quando acordei hoje de manhã.
Concordou em silêncio e saí dali. Assim que cheguei ao quarto, a Nicola perguntou:
- E aí?
- Já foi devidamente avisado.
- E...?
- “E...?” o quê, Nicola? Não tem mais nada além desse aviso.
Me olhou daquele jeito inquisitivo que eu odiava e suspirei, me largando em um dos sofás.
- Me disse para ficar na casa dele.
- E o que você falou?
- Que não, é claro!
Suspirou e continuou a fazer as malas. Sabia muito bem o que ela estava imaginando e nessas horas, não podia aguentar esse lado da Lola.
Na manhã seguinte, conforme o combinado, consegui trocar as passagens. Fizemos o check-out do hotel e a Nadine iria comigo para Los Angeles e a Lola voltaria para Londres. Nem me preocupei em descobrir à que horas o Bill iria para a casa; A única coisa que sabia era que Georg e Gustav voltariam para Hamburgo no mesmo dia que nós.
Enquanto estávamos no aeroporto, esperando o voo, minha amiga, sem eu perceber, pegou o meu mp3 da minha bolsa e começou a mexer, olhando cada música. Quando fomos fazer o check-in senti que ela pôs um dos fones de ouvido na minha orelha e me assustei.
- Ai, praga! Não faz isso de novo!
Ela riu e, ignorando o fato de que alguém podia ver, aproveitou que era uma música que sempre dançávamos de zueira e, em frente ao balcão da companhia, começou a fazer discretamente os passinhos e a cantar embolado, já que era uma música de uma banda sul-coreana. O atendente olhou para ela por cima dos óculos e falei:
- Pior que esse é o normal dela.
O cara não disse nada. Nem precisava. No seu lugar, faria igualzinho, sem tirar e nem pôr.
Quando estávamos indo para o portão de embarque, falei com ela:
- Cada uma que você me faz passar, Nadine...
Riu e, de repente, estacou antes mesmo de irmos pelo detector de metais.
- Ai, coisa! Que foi? - Perguntei, irritada por quase trombar nela, que me indicou duas figuras mais à nossa frente. - Não é possível! - Resmunguei.
- Ah, é possível sim. E pode ir se preparando porque aquele fofo do Murphy deve estar aprontando.
Suspirei e falei:
- Pena que não dá para ressuscitar uma pessoa... Senão, coitado do Murphy. Ia ter uma das piores mortes imagináveis.
Riu fraco e, depois que fomos para a sala de espera, fiz questão de arrastar minha amiga para o mais longe possível de onde eles estavam.
- E se ele vier falar com você?
- Vou ser educada.
Fez expressão descrente e resmunguei:
- Ah, Nadine, vai!
Riu e me sentei na poltrona do canto mais escondido. Por sorte ou não, na nossa frente sentou um casal que mais parecia uma dupla de montanhas. Ela, loira, de olhos azuis e porcinos com um belo par de bochechas rosadas e esticadas. Ele, de cabelos castanhos, meio careca, com os olhos com as mesmas características e um cavanhaque perfeitamente desenhado. Me deitei um pouco na cadeira, mais para me esconder e a Nadine riu. Ouvimos a chamada do voo e relutei um pouco em levantar dali. Pedi para ela:
- Algum sinal deles?
- Os primeiros da fila.
- Qual o tamanho?
- Cerca de trinta pessoas.
- Contando ou não com eles?
- Sem.
- Deixa eles saírem que a gente vai. - Respondi e ela concordou. Assim que se passaram alguns poucos minutos, lá fomos nós duas. Foi tudo perfeitamente bem até a hora em que encontramos os nossos assentos. Que eram na mesma direção que os deles. Fingi não vê-los e agradeci que, pelo menos, o avião era menor e as fileiras tinham duas poltronas de cada lado. Ou seja? A Di era minha... Companheira de viagem.
- Dos males o menor. - Ela disse e dei um sorriso fraco, sem mostrar os dentes.
- Pois é. - Respondi.
Até que a viagem foi relativamente tranquila. Quer dizer, até o desembarque. Estávamos esperando as bagagens passarem pela esteira quando percebi que duas pessoas altas pararam do meu lado. Fingi que nem vi e, quando a Di avançou para pegar a sua mala, ele aproveitou para dizer:
- Eu estava pensando... O convite para que você fique lá em casa ainda está de pé. E quero avisar que se estende à sua amiga.
- Eu realmente agradeço a gentileza, mas de novo, recuso. Não vamos nos demorar aqui em Los Angeles e, por isso, não tem problema se ficarmos hospedadas em um hotel, sinceramente.
- Você é teimosa, hein?
Ergui a sobrancelha, dando um sorrisinho torto e a Di me entregou a minha mala que havia pegado.
- Quando quiser ir ao juiz e pedir o divórcio... Só me ligar. Ah! E só faça isso quando for estritamente necessário.
Não respondeu nada. Saímos do terminal e passamos pelo saguão lotado do LAX. Assim que conseguimos um táxi, eu e a Di conversamos durante todo o caminho e o motorista nos ajudou com a bagagens depois que chegamos.
Naquela noite, enquanto minha amiga estava no banho, ouvi meu celular dar o aviso de mensagem e, depois que peguei o aparelho, vi que era uma SMS do Bill, avisando que já tinha conseguido marcar a audiência para a manhã seguinte. Menos mal. Quanto mais rápido essa situação toda fosse resolvida, melhor.
Então, às oito da manhã, chegamos à corte praticamente ao mesmo tempo e tivemos de esperar um pouquinho. E do mesmo jeito que a Di estava me acompanhando... O Tom também o fazia com o Bill.
Depois de uns minutos, fomos chamados e deixei minha amiga passar na minha frente ao entrarmos ali. O Bill explicava toda a situação e o juiz, um homem de cabelos grisalhos, de óculos meia lua e expressão cansada, ouvia à tudo atentamente. Por fim, quando terminou o monólogo daquele que eu relutava em chamar de “meu marido”, o juiz disse:
- Bem, me deixem dizer uma coisa. Sou casado há quase quarenta anos com a mesma mulher. E assim como vocês dois, fui para Las Vegas e me casei com ela no mesmo dia em que a conheci. E durante toda a viagem de volta, feita dentro de um ônibus, conversamos e percebi que não tinha feito a maior burrada da minha vida, como havia pensado. Claro que tem dias que simplesmente quero jogar tudo para o alto e sumir, mas ao me lembrar que ela me deu os meus três filhos... Respiro fundo e tento consertar o que está errado. Por isso, sentencio vocês a passarem um ano inteiro juntos, vivendo sob o mesmo teto e sendo acompanhados por um terapeuta de casais, que me enviará os relatórios das consultas. Se, depois desse ano, vocês dois ainda estiverem dispostos a pedirem o divórcio, então concedo e com a divisão estabelecida do dinheiro. Até lá, o valor que ambos ganharam em Las Vegas será congelado.
Mentalmente xinguei o juiz.
- Senhora, por um acaso você tem residência e trabalho fixos?
- Do outro lado do oceano, excelência. - Respondi.
- Neste caso, você ficará na residência do Sr. Kaulitz durante esse período.
Sabendo que eu não podia retrucar, apenas consenti com a cabeça e sem dizer nada.
Ele concordou também e não muito tempo depois, fomos liberados. Entretanto, assim que saímos da tribuna, o ouvi perguntar:
- Ei... Está indo aonde?
- Isso não é da sua conta. - Respondi, o mais rabugenta que consegui.
- Ah, é sim. Você é minha mulher agora. Vai comigo para a minha casa.
Fechei as mãos em punho e tentei manter a respiração controlada.
- Quero ver você me obrigar. - Desafiei. No instante seguinte, fui erguida do chão e posta sobre seus ombros feito um saco de batatas. Esperneei e estapeei cada mínimo pedaço do seu corpo que conseguia alcançar. - ME PÕE NO CHÃO, SUA COISA COMPRIDA!
- Que maturidade! - Resmungou, rindo e consegui bater na sua bunda. - Bate que eu apaixono, hein?
Grunhi, daquele jeito típico de filme de patricinha norte-americana e, vendo que estava atraindo olhares por onde passava por causa do escândalo (Além do fato óbvio, de estar sobre o ombro de um cidadão de quase dois metros de altura), fiquei quieta. A Di andava bem atrás e tentava me acalmar. Continuei sendo carregada daquele jeito até o estacionamento.
- Pode me colocar no chão, por favor? Não vou tentar fugir, ainda mais em cima desses saltos. - Falei, estranhamente calma e, para minha surpresa, fui atendida prontamente.
De lá, fomos até o hotel e, depois que terminei de trocar de roupa e guardar as minhas coisas, fui até a sala, onde o Bill perguntava à minha amiga:
- Nadine, tem como você dar um jeito de mandar as coisas da Luiza para cá? Não se preocupa, porque pago o transporte.
Ela concordou e, me olhando, perguntou:
- E a Vivi?
- Quem é Vivi? - Ele se intrometeu e por muito pouco não dei uma resposta malcriada.
- Boa pergunta.- Respondi especificamente para a Nadine e mordi o lábio.
- Vamos fazer o seguinte: Eu volto para cá e trago a Vivi. Não tem problema. - Ela falou e não resisti e a abracei apertado. Sem nos separarmos, disse, de modo que só eu escutei: - Ei... Vai com calma. Foca no dinheiro e lembra que um ano passa rápido.
- É. Tão rápido quanto vinte e quatro horas. - Resmunguei e ela riu.
- Lembra do nosso mantra, caso a situação fique periclitante.
Foi a minha vez de rir e quando ouvi o Bill pigarrear, suspirei e hesitei ao largar a minha amiga. Se despediu rapidamente dela e saímos dali. Durante todo o caminho até sua casa, não disse uma única palavra. Assim que chegamos, dei uma olhada no lugar. Quer dizer, casa para aquele imóvel era apelido. Era uma mansão mesmo e parecia um pequeno castelo. A fachada era em um tom de marrom muito claro e tinha alguns detalhes com tijolos expostos. A beirada das janelas redondas eram brancas e as portas, em arco, também tinham esse detalhe dessa cor. A porta de entrada era de madeira escura e tinha detalhes em ferro.
Depois de entrar na garagem, o Bill saiu do carro e, já prevendo o que aconteceria se eu não o imitasse, soltei o cinto e logo depois, saí, vendo-o abrir o porta-malas e pegar a minha mala. Abriu uma porta que imaginei que dava para o resto da casa. Entrou ali e pôs tudo do outro lado. Em seguida, veio andando até onde eu estava e me pegou nos braços. Perguntei:
- Vai ficar me carregando o tempo inteiro?
Juro que fiquei com muito medo de ele, acidental ou propositalmente, bater minha cabeça na porta, mas teve o maior cuidado. Me pôs no chão, como se eu fosse feita de porcelana e disse:
- Vou te mostrar a casa.
Ainda surpresa por aquela gentileza, o segui e, antes mesmo de sair daquela espécie de antessala em que estávamos, me provocou:
- Ah! Uma coisa. Já que você vai morar aqui por um ano e é minha mulher, querendo ou não, não precisa ficar me pedindo permissão para fazer certas coisas, como abrir a geladeira e pegar alguma coisa para comer, por exemplo. E como vocês lá do Brasil dizem... “Mi casa es su casa”.
Arqueei a sobrancelha e falei:
- Engraçado você falar isso, porque segundo consta... Quem descobriu o Brasil não foram os portugueses, mas os espanhóis, na realidade. Não me lembro direito do que aconteceu para terem mudado a nacionalidade dos colonizadores, sinceramente.
- Irritante. - Sibilou e fingi que nem ouvi. - Continuando... - Respondeu, seguindo em frente e não segurei o riso, aproveitando que tinha se virado de costas para abrir uma outra porta. - À esquerda, tem a adega e à direita, tem a escada que leva à cozinha.
- Uma adega em casa? - Perguntei, balançando a cabeça em negação.
- É. Imagino que você saiba que eu gosto de tomar vinho de vez em quando e por isso que quis construir uma tão logo me mudei para cá.
Segurei minha língua para não fazer qualquer comentário.
Subimos as escadas que davam para a cozinha, que era moderna, em tons de branco e preto. O chão era quadriculado, os móveis brancos, assim como as paredes (Exceto a que ficava de frente para uma ilha, que era coberta por pastilhas pretas). As cadeiras e tampos das bancadas eram da mesma cor das pastilhas. Numa parede, havia um armário com livros de receitas, algumas de lugares específicos do mundo, como a Itália, por exemplo. Não me surpreendi ao ver um só de massas. Saindo dali, me mostrou a sala de jantar, que também era em tons sóbrios; Havia uma longa mesa de jantar de madeira escura e circundada por cadeiras cobertas com estofado branco. As paredes eram escuras e tinham alguns detalhes de beirada de gesso branco. Na parede entre as passagens para a cozinha e o hall de entrada, tinha uma lareira. O resto da casa era sempre em tons de branco e outra cor escura. Ainda no primeiro andar, tinha seu escritório e me lembrei do filme de “A bela e a fera” da Disney, onde o “monstro” proíbe a heroína de ir à ala leste do castelo, uma vez que o Bill também avisou que não deveria entrar no seu escritório quando ele estivesse lá; Alegou que não gostava de ser interrompido. Sei...
No segundo andar, tinham os quartos e, no final do corredor à esquerda, era o dele. E não para a minha surpresa, prevalecia a combinação de cores, só que desta vez, tinha também, o prata, além do preto.
De volta ao andar debaixo da casa, me mostrou a piscina, que era enorme e parecia que a água caía do lado de fora. As espreguiçadeiras e um par de sofás que havia ali seguiam o mesmo padrão de cor. Perguntei, não conseguindo me controlar:
- Reparou que sua casa inteira é decorada em branco, preto e marrom? Não me surpreenderia se soubesse que, durante todo esse tempo, você tenha ficado em depressão. Pelo amor de Deus, essa casa precisa de umas coisas mais... Vivas!
- Me responde uma coisa? Você é designer de interiores?
- Não. Mas sou filha de uma. - Respondi e, de novo, ele ficou sem saber o que dizer. - E esse vai ser um ano muito interessante...
- Isso me lembra de uma coisa. Mesmo que eu tenha dito que você pode ficar à vontade, aqui tem as minhas regras.
Cruzei os braços na altura do estômago, empinando o nariz e ele começou:
- Vamos revezar com a louça. Duas vezes por semana, vem uma moça fazer a limpeza da casa. E, pelo pouco que vi de você, é mais um pedido que uma regra. Tenta deixar tudo organizado, por favor. Se você for à piscina, não é para deixar um rastro de água. O mesmo se aplica ao banho. Como você vai usar o meu banheiro, tenta não deixar aquele monte de cabelos no ralo. E nada de toalha molhada em cima da cama.
- Aceito suas regras desde que aceite as minhas.
Concordou.
- Nada de fumar perto de mim. Tenho rinite alérgica e prefiro não virar fumante passiva.
Ergueu as sobrancelhas e falei:
- É isso ou é melhor ir se acostumando às minhas reclamações.
Suspirou e acabou concordando.
- Mais alguma coisa?
- Nunca, sob nenhuma hipótese, me acorde, a menos que seja em duas situações distintas: Ou se o mundo está acabando ou se eu te pedir antes. E nem mexa nas minhas coisas sem a minha permissão.
- Por que não posso te acordar?
- Simplesmente porque detesto que me acordem.
- Mesmo se for gentilmente?
- Mesmo assim. E tenho algumas coisas para te pedir. Se eu quiser sair à noite, caso faça alguma amiga por aqui durante esse tempo, nada de ficar me controlando, ligando a cada cinco minutos, querendo saber com quem estou e o que estou fazendo. Tente, também, não ficar me interrogando a respeito da minha vida. Seja em Londres, seja no Brasil. Ah! Relacionamentos passados é assunto proibido entre nós, feito? Você não me pergunta sobre quem passou pela minha cama e eu não pergunto sobre a sua ex.
Não houve oposições.
Depois que ele saiu, fiquei sozinha naquela casa enorme, não sabendo o que diabo podia fazer. Estava deitada na cama, encarando o teto e pensando que aquele seria um longo ano, apesar do que a Di falou. Peguei o celular e digitei uma mensagem para ela, que não respondeu e acabei pondo o aparelho de lado. Voltei à mesma posição de antes e não demorei muito a pegar no sono.
Quando acordei, tinha a sensação de que era muito mais tarde, apesar de não ser nem oito horas da noite. Suspirei e decidi levantar da cama. Olhei o celular e nada. Mentalmente xinguei a Nadine e fui até a cozinha. Assim que abri a geladeira, vi que o que mais tinha ali eram garrafas e latas de cerveja.
- Tá de sacanagem comigo, Kaulitz! - Pensei em voz alta e continuei a procurar alguma coisa ali que pudesse comer, mas não tinha nada. Saí procurando pelo telefone de uma pizzaria ou até mesmo restaurante de comida chinesa. Não consegui achar nada e, xingando o Bill, subi até o segundo andar da casa, querendo pegar o meu celular. Mas no meio do caminho, fui impedida ante a visão de uma mulher loira, com a maior pinta de Barbie, entrando na casa. Assim que terminou de trancar a porta, veio andando na minha direção e quis saber:
- Você deve ser a Luiza, não é?
- E você é...?
- Claire. Sou secretária do Bill. Vim aqui te trazer uma cópia das chaves daqui.
Desci os poucos degraus e, quando parei na sua frente, me senti uma nanica. A mulher parada à minha frente era alta, mesmo usando sapatilha. Realmente podia se passar por uma Barbie, ainda mais com os olhos azuis arredondados que tinha.
- E ele ainda está no estúdio?
- Não. Precisou resolver algumas coisas e me pediu para te avisar.
- Sei... Escuta, você por um acaso teria ideia de qual pizzaria ele costuma ligar? Fui olhar a geladeira e tem mais cerveja que qualquer outra coisa.
Deu um sorriso e propôs:
- Então. Se quiser vir comigo... Estava indo comer alguma coisa.
Dei de ombros e avisei que iria pegar a bolsa.
Cerca de meia hora depois, estávamos num Burger King, perto de casa, e devorando um sanduíche cada uma. Sempre que dava, conversávamos e ela me contou algumas coisas:
- Depois que deu toda aquela confusão com a ex, ele ficou mais... Introspectivo ainda.
- E você chegou a conhecer a criatura?
- Então. Ela é filha da minha madrasta. Mas nós não temos muito contato. Já não nos falávamos antes de tudo acontecer...
- Tipo, você é irmã postiça dela? - Perguntei, chocada e ela concordou. - Wow... Por essa eu realmente não esperava.
Riu e disse:
- Então. Nunca vi o Bill com outra garota desde então. E só soube de você hoje de manhã. Já tem um monte de sites comentando.
- É. Eu sabia que beber em excesso não era bom e mesmo assim, não teve como evitar essa... Burrada.
Sorriu, mas sem mostrar os dentes.
- Acho que vai ver que está errada. Não foi exatamente uma burrada se casar com o Bill, apesar das circunstâncias. Ele pode ter ficado mais chato depois que tudo aconteceu, mas, acho que você vai conseguir dar um jeito nele.
- Duvido um pouco, já que somos o oposto do outro... E nem vem com a história de que os opostos se atraem porque não acredito.
Riu e disse:
- Então... Para sua sorte, passei os últimos três anos convivendo quase diariamente com ele. Querendo ou não, sei bastante coisa sobre o Bill e principalmente: Coisas úteis.
- Me dá um exemplo.
- Ele costuma sair às sextas-feiras e vai à um bar no centro. E ele pensa que eu não sei, mas descobri que nessas saídas, acaba indo para a cama com alguma garota que conhece por lá. Totalmente na abstinência ele nunca ficou.
- Seria essa garota do tipo que... É paga? - Perguntei e ela deu de ombros.
- Acho improvável, porém não impossível. Mas se quiser, te ajudo com ele. Mesmo que não queira se envolver, ainda sim, vai tornar a sua convivência mais fácil.
Suspirei e perguntei:
- E o que quer em troca?
- Fácil. Sigilo absoluto, já que é meu emprego que vai estar em jogo.
Estiquei a mão para ela, dizendo:
- Feito. E eu vou precisar de alguns favores esporádicos seus.
Concordou.
- E já sei qual vai ser o primeiro.
Me olhou, curiosa e falei, sorrindo:
- Vou te pagar para ser minha guia pelos shoppings, brechós e lojas daqui.
- Ah, não precisa. Adoro fazer compras e só o prazer de sair com uma garota para variar já está ótimo. Quer dizer, todo santo dia faço a rotina de ir do estúdio para a casa e vice-versa...
Antes de sair do seu carro, que era popular, falei:
- Ó... Na primeira folga que tiver, a gente combina e vai fazer as compras, feito?
Concordou e me despedi dela, que olhou para a casa, receosa. Achei que ela tivesse visto o Bill, mas logo descobri que era justamente o oposto: Ele ainda não havia chegado.
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Imagens e músicas do capítulo
A casa do Bill (Parte 01 - Parte 02)
Olá! Estou tão feliz que consegui ler o capítulo sem nenhum atraso :D
ResponderExcluirDevo admitir que estava ansiosa por esse capítulo. Tudo bem que eu já li o início dessa fic antes, mas acontece que esse é um capítulo especial, afinal é o primeiro dia morando sob o mesmo teto.
"- Vamos revezar com a louça. Duas vezes por semana, vem uma moça fazer a limpeza da casa. E, pelo pouco que vi de você, é mais um pedido que uma regra. Tenta deixar tudo organizado, por favor. Se você for à piscina, não é para deixar um rastro de água. O mesmo se aplica ao banho. Como você vai usar o meu banheiro, tenta não deixar aquele monte de cabelos no ralo. E nada de toalha molhada em cima da cama."
Então, o Bill não demonstrou nem um pouco seu lado virginiano agora.. HAHAHAHA
Estou curiosa agora pela reação do Alex ao saber que Luiza "bebeu muito e se casou com o primeiro que viu" HAUSHUASHUAHSUAHSUAHUSHUAHSU
A-M-E-I o capítulo, de verdade <3
Até o próximo, xoxo
Oie!
ExcluirMenina, e eu não acho que o típico virginiano é o Tom? A impressão que eu tenho (Ainda mais depois de uma certa foto) é a de que o Bill é como eu: Bagunceiro. (Apesar do que, imagino que eu seja mais...). E só para constar: Eu não deixo a toalha em cima da cama. E se deixo, é por que fui fazer outra coisa e esqueci. Nunca fui disso.
Já te adianto que o Alex foi pego de surpresa, afinal de contas... Ele estava esperando a resposta para o pedido de namoro, não uma notícia dessas... xD
Minha intuição diz que você vai eleger o 13º como seu preferido...
Obrigada pelo comentário :)
Beijinhos ;*
Nossa... eu me acabei de rir imaginando sua cara quando o juiz deu a sentença kkkkkkkkkkkkkk' 1 ano. Imagine o que acontecerá nesse 1 ano? kkkkkkkk
ResponderExcluirBill... nenhum pouco deixando seu signo transparecer ¬¬ Como virginianos são complexados com arrumação, é meu ascendente e eu não tenho nada dele '-'
Noto que a já fez uma nova amiga... que ainda quer ajudar, melhor ainda :3
Como diz no desenho Ollie "Onde está Ollie?" aqui é "Onde está Bill?" kkkkkkkkkkkkkk
Oie!
ExcluirIa ser tipo: Arregalando os olhos, seguido de sobrancelhas franzidas e cara de birra xD E só um comentário: Acho que eu sou mais chata que o Bill, para te ser sincera. Isso vai ficar aparente ao longo desse ano na fic e você vai ver. :X
Então. Acho que você deve ter outras características de virgem... Uma delas que vejo claramente é a dedicação aos amigos (Não. Não é exclusiva dos aquarianos...)
Acho que é no próximo capítulo que a Claire vai fazer uma revelação daquelas... calei-me :X
Meio milênio depois entendi a história do "Onde está o Bill" xD Meu sonho sempre foi ter um desses livros do Wally. Peguei emprestado um e vou te falar que até hoje quero T-T
Obrigada pelo comentário :)
Beijinhos ;*