terça-feira, 31 de dezembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 15º capítulo


Não te quero por um fim de semana.
Não te quero por um dia
Não preciso de amor dividido,
Não quero sentir dessa maneira
Vê, eu quero que você me queira (do jeito que te quero)
Do jeitinho que te quero (o jeito que te vejo)
E eu quero que você me veja Como ninguém antes

(the Corrs - Irresistible)

Bill


Quando voltamos de Nova Iorque, logo na quinta-feira, estava no estúdio com a Luiza, que estava concentrada no trabalho. Não conseguia desviar a minha atenção dela. Depois que a Claire foi almoçar, perguntei para a minha mulher, aproveitando uma pausa que havia feito:

          - Não vai sair?

Negou com a cabeça.

          - Qualquer coisa, daqui a pouco eu vou buscar alguma coisa para nós. Isto é, se você quiser.

Dei de ombros. Voltou a prestar atenção no trabalho e, de repente, seu celular começou a tocar. Pegou o aparelho, sem prestar atenção em quem era e atendeu. Ouviu algo e disse:

          - Ai, Ireland, vai se afogar no Tâmisa!

Olhei para ela, que deu um estalo com a língua.

          - Grande coisa... - Começou a fazer uma voz grossa, debochada: - Uh, O Arsenal acabou de ganhar do Manchester e eu sou o fodão.

Não teve como não rir dela, que percebeu.

          - O campeonato não acabou, só te digo isso.

Ele respondeu e ela se despediu, desligando em seguida.

          - Quando eu acho que você não poderia me surpreender mais...

Sorriu e disse:

          - Comecei a gostar de futebol depois que me mudei para Londres. O Alex me torrou tanto a paciência que eu comecei a torcer pelo Manchester United, só de birra.

          - E ele torce pelo Arsenal.

Assentiu.

          - E todo ano, sempre que o Manchester perde alguma partida... Acontece isso. Fico quieta e ele sempre me liga, contando vantagem. Teve uma vez que me ligou de Tóquio, no meio da madrugada de lá, só para falar - Fez a voz de novo: - “Oi! O Arsenal ganhou.”. Sorte que dá para fazer um trocadilho terrível com o nome do time. Ele fica puto. - Riu e, mesmo sentindo uma pontada de ciúmes, não teve como resistir.

          - Que trocadilho?

          - Aqui nos Estados Unidos é “Ass”. Na Inglaterra, apesar de ter a mesma sonoridade, é “Arse”. Assim. - Anotou num pedaço de papel. Entendi na mesma hora.

          - Ele é tão chato assim por causa do time?

Concordou.

          - Insuportável. Ainda mais quando cisma de ver o jogo num pub. Se sóbrio já é uma chatice monstruosa, imagine sob efeito de álcool?          

Ri fraco e comentei:

          - Em Nova Iorque, percebi uma coisa.

          - O que?

          - Seu olhar não brilhou quando você estava conversando com ele.

Me olhou, fazendo uma careta.

          - Até nisso você repara? Em olhares brilhantes?

          - Sejamos francos. - Falei. - Por mais que sempre fale nele, se esforçando para parecer apaixonada e tal... Poderia até ser crível. O problema foi quando vi você conversando com ele. Pareciam... Irmãos e não amantes.

          - Talvez porque, antes de sermos amantes, sejamos amigos?

          - É diferente. E já vi como é a amizade entre um casal. Ou você acha que minha mãe passou todos esses anos namorando o Gordon antes de se casarem só porque era apaixonada por ele? Quer dizer, claro que isso contribui muito. Mas não é tudo. E eu vi que você gosta do Alex, mas não o suficiente. Já ele...

Estreitou os olhos e perguntei, diretamente:

          - Quando ele te beija, faz suas pernas tremerem?

Arqueou a sobrancelha e respondeu, rindo de um jeito descrente:

          - Claro! Senão ia ter motivo para eu me envolver com ele?

Dei de ombros.

          - Talvez por teimosia...

          - Teimosia? Ah, Kaulitz, faça-me o favor! E para de ficar me analisando. Se quiser, vou em um psicólogo e pronto.

          -... E para variar, você foge do assunto.

Suspirou.

          - Tá. Quer mesmo saber? Sim, o Alex me atrai e muito, tanto que é somente um dos motivos pelos quais eu estou com ele. Me causa todas aquelas coisas, de pernas trêmulas, coração disparado e borboletas no estômago. Mas isso não é tudo. Ia aceitar o pedido de namoro justamente porque, acima de tudo, é companheiro. Me apoia quando tem que apoiar, briga comigo quando precisa... Nunca ficaria com alguém pela aparência e por tudo que me causa. Não é disso que eu preciso.

          - Se estivéssemos em outras circunstâncias... Eu teria alguma chance?

          - Se fosse merecedor...

          - Você também é dura na queda, hein?

Sorriu e disse:

          - Não. Eu sou exigente.

          - Nota-se.

De repente, se levantou e saiu da minha sala, assim, sem dizer mais nada. Quando voltou, pouco tempo depois, perguntei:

          - Ainda estou curioso a respeito de uma coisa.

          - Que coisa? - Perguntou, se sentando na cadeira ao meu lado.

          - E eu? O que te causo?

Fez uma cara pensativa, encarando a parede à sua frente.

          - Você tem o dom de me tirar do sério como ninguém jamais conseguiu. Nem mesmo minha mãe. E acredite: É muita coisa.

          - Só?

          - Você me deixa extremamente irritada. E tem vezes que tenho vontade de te jogar na piscina, para ser educada.

Ri e ela continuou:

          - Apesar de ter me surpreendido com a pista do Rockfeller em Nova Iorque.

          - Então você gostou?

          - Principalmente com seus tombos. - Respondeu, rindo.

          - Vai rindo... Ainda vou ter a minha revanche.

          - Mal posso esperar para ver quantas vezes você cai. Estava até pensando em fazer um bolão com as meninas...

A olhei, não acreditando naquilo e ela riu ainda mais.

          -... E você ainda cai que nem um pato, Kaulitz...

          - Ah, é assim? Deixa... Quando você menos esperar...

          - Estou tremendo de medo. - Estreitou os olhos, estremecendo um pouco.

          - É bom...

          - É... Como é bom a gente parar de conversa mole e terminar essa demo. - Disse, voltando ao seu lugar original.

Depois que chegamos em casa, já tarde da noite, assim que saímos do carro, ela ouviu um barulho estranho.

          - O que foi?- Perguntei, vendo que ela ia até o portão da garagem.

          - Abre, por favor.

Obedeci, mesmo sem entender e fui até onde ela estava. Tinha subido a rampa e estava mexendo no canteiro ao lado de uma mureta.

          - Vai me contar o que está fazendo? - Perguntei e ela começou a mexer na bolsa, conseguindo encontrar o celular. Mexeu em algumas coisas e acendeu a lanterna. Começou a vasculhar ali e, de repente, encontrou uma caixa, não muito grande. Pediu que eu segurasse o celular e, quando o fiz, pegou a caixa. A abriu e, dentro, haviam uns cinco filhotes de gato, cada um mais mirrado e “despenteado” que o outro.

          - Ai meu Deus! - Ela falou, recolocando um dos filhotes dentro da caixa.

          - Vamos fazer o seguinte: A gente leva a caixa para dentro e começa a cuidar. Daí, amanhã de manhã, levamos ao veterinário, para ele ver se está tudo certinho.

Concordou. Peguei a caixa enquanto ela corria para destrancar a porta. Assim que entramos, a Vivi apareceu e logo quis saber o que tinha acontecido. Ia colocar a caixa no chão quando a Luiza não deixou.

          - Vai por mim... Melhor deixar os gatinhos longe do alcance dela. A Vivi só é sociável à primeira vista com pessoas. Com bichos...

Olhei para a gata, que se esticava toda, apoiando as patas dianteiras sobre minha perna. A Luiza correu para pegar a caixa e, aproveitando, comecei a coçar atrás da orelha da Vivi.

Depois de alguns minutos, a minha mulher tinha pegado um cobertor e trazia uma tigela com leite. Acendi a lareira e perguntei, quando se sentou no chão, bem ao meu lado:

          - Precisa mesmo de tanto calor?

Me olhou, arqueando a sobrancelha e disse:

          - Tenho uma vasta experiência com gatos friorentos. Apesar do que... Esses aqui, diferentemente da Vivi, não vão fugir.

Nem bem falou e a gata se aproximou, curiosa para saber o que estávamos fazendo. Experimentei deixar que farejasse um dos filhotes e logo depois, perdeu o interesse.

          - Ai... Muito bom. - Ouvi a Luiza dizer e, quando olhei, ela colocava o gatinho no cobertor e perguntei:

          - O que foi?

          - Virei caixa de areia. Já venho. - Respondeu, saindo da sala. Depois que voltou, já de roupa trocada, ficou comigo, cuidando dos gatinhos até tarde.

Na manhã seguinte, conforme o combinado, levamos os gatinhos até a clínica veterinária e, como o médico ia precisar de tempo, tive que praticamente arrastar a Luiza até o carro, já que queria ter ficado lá. Assim que chegamos, a Claire avisou:

          - A secretária do terapeuta ligou agora há pouco, pedindo para transferir as sessões de semana que vem. Aconteceu um imprevisto e ele teve que viajar.

          - Bom, o juiz não pode reclamar. - A Luiza falou, depois que entramos no meu escritório. - Fomos juntos para Nova Iorque e não faltamos à nenhuma consulta... Sem falar que me transformei na sua assistente enquanto a Claire virou uma reles secretária...

Olhei para ela.

          - Esse desprezo pela Claire é ciúme?

          - Tenho motivo? Sim, porque se tiver que quebrar o pau com você, prefiro que seja justamente.

Sorri e falei:

          - Sua máxima de estar com uma única pessoa se estendeu à mim.

          - Bom mesmo. - Respondeu, mexendo em alguma coisa na bolsa. Logo em seguida, começamos a trabalhar.

Quando chegou a hora do almoço, a Claire saiu. Aproveitando uma pausa, me levantei e fui andar um pouco pela sala. A Luiza continuava concentrada em mexer no celular e, quando me sentei no sofá, perguntei:

          - Por que essa cara de brava?

Me olhou e fez língua.

          - Luiza... Olha que eu te digo o que fazer com essa língua...

          - Estou procurando um vestido mais em conta para o baile de máscaras, mas quem disse que eu encontro?

          - Se você deixar de ser teimosa pelo menos por essa vez...

Suspirou e disse:

          - A questão é que, se for outro vestido como o do Hervé Léger, você vai à falência assim. - Estalou os dedos.

          - Não sei se você sabe, mas eu sempre compro coisas do Alexander McQueen. E é mais ou menos nessa faixa de preço. Portanto, um vestido para você não é exatamente algo que vai me levar à falência. Se tiver algum que você gostou, me mostra, por favor.

Ergueu as sobrancelhas e se levantou, trazendo o celular. Se sentou ao meu lado e me entregou o celular. Era um vestido vermelho, com um decote que ia até quase o umbigo e transparente.

          - Esse aqui você não vai usar. - Avisei e ela caiu na gargalhada.

          - E você continua caindo que nem um pato. O que eu escolhi é esse aqui. - Mostrou e consegui imaginá-la usando. Assenti em silêncio e perguntou: - E aí? Nenhuma reclamação, nem nada?

          - Por que deveria?

          - Uai! Você é sempre tão implicante com as minhas roupas...

          - Querendo ou não, você é a minha mulher e eu não quero que outros caras fiquem te olhando. Só isso.

Me olhou, descrente, e falei:

          - OK. Admito. É um pouco de ciúmes também.

          - E isso é motivo suficiente para me obrigar a usar uma burca?

          - Já percebeu o quanto você é exagerada?

          - E você não é nem um pouco...

Suspirei e respondi:

          - Tá. Chega de discussão. É esse o vestido que você quer?

Concordou.

          - Tudo bem então. Vou providenciar para você.

          - E as máscaras? Como a gente vai fazer?

          - Tem uma loja aqui perto. Quando quiser ir olhar...

De novo, assentiu. Recomeçou a mexer no celular e disse:

          - Crikey!

Olhei para ela, sem entender que porra era aquela e imediatamente, começou a digitar algo. Em seguida, ligou para alguém e, tão logo foi atendida, disse:

          - Roberts, para com tudo aquilo que você está fazendo. Sexta que vem tem show do Fall Out Boy. Se eu tiver de ir sozinha, juro que mando as duas de volta para Londres dentro de uma daquelas caixas de quadros!

Não teve como não rir dela, que já tinha levantado do sofá e andava de um lado para o outro. Assim que passou perto de mim, consegui agarrar seu pulso e a puxei, fazendo com que caísse sentada no meu colo. Por causa da surpresa, acabou caindo de mau jeito e, não sei como, teve tempo de apoiar a mão no sofá, provavelmente para evitar de me machucar.

          - Não foi nada. Fui pega de surpresa aqui. - Houve uma pausa e disse; - Ô Roberts, vai ver se estou na esquina, vai? - Outra pausa. - É? Então estou segurando uma placa gigante escrita - Me olhou. - Foxtrot Oscar.
         
Consegui ouvir a risada da Nicola do outro lado da linha e a Luiza insistiu:

          - Então? Vamos no show ou vocês vão bancar as bundonas?

Ficou séria de repente, começando a mexer em um dos meus anéis e percebi uma coisa.

          - Tá. Vou mandar o link e depois a gente se fala. Beijo.

Assim que desligou, mexeu um pouco e, quando tive sua atenção integral, peguei a sua mão esquerda, mais precisamente o dedo anelar, e perguntei:

          - Por que começou a usar do nada?

          - Uai, mas você não faz questão de falar que sou sua mulher e tal? Sem falar que gostei de verdade da aliança. Discreta, de prata...

          - Se bem me lembro, acho que era de ouro branco. Exigência sua.

Ergueu a sobrancelha.

          - Achei que você estivesse bêbado demais para lembrar de alguns detalhes tão... Menores.

          - É, mas costumo reparar em certas coisas.

          - É verdade... Virginiano até o último fio de cabelo.

A olhei, sem entender aquilo e perguntei:

          - E quem te disse que você vai sozinha? Se quiser, não tem nenhum problema para mim.

          - Sério? - Quis saber e concordei. - Por mim tudo bem. Tenho certeza que pelas meninas também. O problema é você querer ir com a gente.

          - E por que não ia querer?

          - Simplesmente porque é aí que a gente se solta mais, ignorando todo e qualquer ser humano no mesmo ambiente, cantando as músicas a plenos pulmões, dançando feito um trio de loucas, entre outras coisas?

Sorri, imaginando a cena.

          - Sem problemas.

          - Tá bom... Você quem sabe. - Se mexeu, provavelmente desconfortável, e disse: - E está me dando agonia ficar no seu colo.

          - Por quê?

          - Não sou exatamente leve, caso não tenha notado ainda.

          - E...? Você não está me incomodando, de verdade.

Suspirou e falei:

          - O que está me incomodando é outra coisa.

          - O quê?

Sem qualquer aviso, roubei um beijo daqueles. Claro que, não demorou muito para que o fato de ela estar sentada de lado começasse a me irritar e logo dei um jeito de melhorar aquilo, fazendo com que ficasse sentada de frente para mim, com uma perna de cada lado do meu corpo. E tinha que admitir que, apesar de tudo, aquela saia que usava só me atiçava. Ainda mais que ela tinha um belo par de pernas...

Depois de alguns minutos, deixei sua boca para passar a beijar o pescoço. Não sabia explicar o motivo, mas, desde a primeira oportunidade que tive, me viciei no cheiro da sua pele. E verdade seja dita... Me parecia muito melhor que o da Lydia. E a prova de que estava inebriado foi justamente o meu descontrole; Quando vi, já estava inspirando fundo e sentindo-a estremecer um pouco.

          - Não faz isso, Kaulitz... - Disse, em tom de aviso e com a voz diferente. Era mais baixa e diria que até sensual.

          - E por que não?

          - Estamos no seu escritório, a Claire pode chegar a qualquer minuto...

          - A porta está trancada. E ela nunca entra sem bater.

          - Mesmo assim... Não é exatamente um lugar que me deixa à vontade para...

          - E por que não?

Hesitou, me afastando. Em seguida, me olhou com expressão séria.

          - Eu não quero agora. Não é só por ser aqui, mas porque não estou com vontade.

Suspirei e concordei. Ainda mantinha as mãos sobre a sua cintura e a observei em silêncio. Não resisti e comecei a acariciar seu rosto. Estava quente e notei que as suas bochechas estavam mais rosadas. Notei sua respiração começando a ficar acelerada e, não resistindo, enterrei os dedos nos seus cabelos e fiz com que se aproximasse de mim de novo. E roubei outro beijo, tão ou senão mais intenso que o primeiro. Depois de alguns minutos, já não dava mais para aguentar e a deitei no sofá, ficando por cima dela. Dei um jeito de enroscar as suas pernas em torno do meu quadril e a vontade dela só fazia aumentar a cada segundo que se passava. Deixei minha mão passear livremente pela sua coxa, a apertando quando não conseguia mais resistir e percebi que ela gemia, muito fraco. De novo, abandonei a sua boca para partir em direção ao pescoço e, assim que alcancei seu lóbulo, disse, em tom de aviso:

          - Kaulitz, não faz isso...

          - Me dá um bom motivo.

          - Não posso.

          - Porque você não tem. - Afirmei e ela respondeu:

          - Não. É porque eu sei que você é bem capaz de se aproveitar.

Sorri. Deixando a boca bem próxima ao seu ouvido, a provoquei:

          - E achou mesmo que eu ia perder a oportunidade?

Percebi que sorriu e foi demais para mim. Voltei a beijar a sua boca e com mais empolgação ainda, se é que aquilo era possível. Quando vi, ela já estava erguendo a minha camiseta e, no instante seguinte, a peça jazia no chão. Em algum canto que eu não tinha o menor interesse em descobrir.

          - Vem cá, não acha que está um pouco vestida demais?- Perguntei e ela me olhou, sem entender. Consegui tirar seu casaco e, assim que ia começar a tirar a sua blusa, ouvimos umas batidas na porta e, imediatamente, nos levantamos, nos arrumamos o mais rápido possível. Percebendo a minha situação, hesitei e a Luiza teve uma ideia.

          - Não sei se você sabe, mas do jeito que eu estou, um computador no colo não é uma coisa exatamente boa.

          - Ah, então quer que a Claire veja que você teve uma ereção nada discreta?

Abri a boca para responder, mas não tive o que responder. Tive uma ideia melhor e fui me sentar à minha escrivaninha. Em seguida, a Luiza, rindo, foi abrir a porta.

No final da tarde, não resisti e parei para observá-la por alguns minutos. Perguntei:

          - Por um acaso o J.J. não te ligou para falar daquela ideia do comercial?

          - Não. Até achei que talvez ele tivesse conversado com você, que é amigo dele...

De repente, seu celular deu o aviso de mensagem e pegou o aparelho. Leu e, em seguida, perguntou:

          - Hã... Posso te pedir uma coisa?

          - Claro.

          - As meninas podem ir lá para a casa hoje?

          - Algum problema?

          - Não. É que... - Hesitou.

          - O que foi? Pode confiar em mim, Luiza.

Respirou fundo e disse:

          - De tempos em tempos, a gente inventa de fazer uma... Um jogo, por assim dizer.

          - Que tipo de jogo?

Hesitou de novo.

          - Se você não me falar logo, vou começar a imaginar outro tipo de coisa. - Falei, sorrindo malicioso, só para provoca-la.

          - Seu pervertido! Elas são como irmãs para mim! - Falou, batendo no meu braço, me fazendo rir. - Tá. A gente faz isso por minha causa. Sempre tive dificuldade em falar abertamente quando tinha algum problema e a gente sempre faz isso quando uma de nós realmente precisa desabafar. Ou até mesmo confessar alguma coisa. Ainda mais que, de nós três... Bom, nenhuma de nós consegue falar sobre o que está sentindo quando estamos sóbrias.

          - E nunca deu problema?

Negou com a cabeça.

          - Só teve uma única amiga com quem eu realmente briguei e é a cuja amizade dura mais tempo também. Mais de dez anos e a gente até hoje se fala.

          - Ela sabe do casamento?

Assentiu.

          - Me xingou até porque enchi a cara e me casei em Las Vegas. E ela foi a única que soube com quem eu me casei.

          - Ah é?

De novo, concordou.

          - E você dá azar para ela.

          - Como assim? Ela é uma alien! Deveria dar sorte para ela!

          - Então... Ela não é uma alien. E não deu sorte. Principalmente porque você foi o motivo de uma das duas brigas.

          - Espera. Me conta essa história direito.

Explicou que, na época, as duas se desentenderam, a amiga falou uma coisa que a Luiza não gostou e assim, brigaram e ficaram um bom tempo sem se falar. Depois, se acertaram. E a Luiza brigou de novo com ela. E se passou mais um tempo. A minha mulher não aguentou e fez as pazes com a amiga e desde então... Custavam um pouco a se encontrar, mas ainda sim...

Quando chegamos em casa, não muito tempo depois, ela foi guardar as bebidas (uma garrafa de vodca e outra de vinho) enquanto eu, aproveitando a oportunidade, mandei uma mensagem para o meu irmão. Logo em seguida, perguntei para a minha mulher:

          - Posso me juntar à vocês?

          - Tem certeza? Depois do que você ouvir, vai mudar de opinião a respeito de nós três...

          - E quem disse que só vocês têm confissões assustadoras para fazer?

Estreitou os olhos e disse:

          - Vou tentar não fugir daqui depois que acabarmos.

Ri e falei:

          - Eu... Sei que deveria ter falado com você, mas... Chamei o Tom.

          - Olha... Por mim e pela Lola não tem problema. Agora a Di... Bom, ou ela pode se tornar um doce ou vai ser rude. Torçamos para que a primeira aconteça, sim?

Sorri, concordando. Em seguida, subiu e aproveitei para ir atrás dela, ver como a mudança do quarto havia ficado. Desde que voltamos, ela vivia enfiada ali e não me deixava ver absolutamente nada. Já tinha voltado a dormir lá e, para o meu azar, fechava as cortinas, de modo que era impossível ver qualquer mínimo pedaço.

Bati na porta e perguntei:

          - Até quando vai ficar mantendo a redecoração do quarto em segredo?

          - Só um instante! ­- Disse, provavelmente no closet. Não muito tempo depois, apareceu, usando um vestido de alças e com estampa xadrez cor de turquesa. Havia prendido os cabelos em um coque alto e, para completar, estava descalça.

          - Lembrando que tudo o que eu fiz é reversível. Depois que eu... Enfim. Se quiser, pode voltar ao que era.

Me deu espaço e, assim que estava ali dentro, olhei para o monte de coisas ao meu redor. A parede atrás da cabeceira estava pintada de vermelho, mas mais esmaecido. O edredom era branco e haviam almofadas com estampas listradas alternadas com as de bolinhas vermelhas. Sobre cada novo criado mudo, da mesma cor do edredom, havia um abajur de vidro transparente, combinando com a parede. A luminária do teto era um lustre, diferente e, ao mesmo tempo, moderno. Reparei que os móveis eram brancos e só os objetos de decoração que eram vermelhos, sendo que algumas coisas eram em diferentes tons. Estava bem diferente e tinha ficado realmente interessante, apesar de ser só vermelho e não ter outra cor.

          - E aí? - Perguntou e fui andando até a cama. Me sentei sobre o colchão e a provoquei:

          - Será que ela vai aguentar nós dois aqui?

Revirou os olhos e só disse:

          - Larga mão de ser tarado, Kaulitz!


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - Capítulo especial de Natal



Raise up the cups of Christmas cheer

E, de repente, nós rimos muito
E percebemos o que havia acontecido
A magia do Natal deu a esta história
Um final muito feliz

(Spice Girls - Christmas Wrapping)

Luiza

[Flashback - Um ano antes]

Ok. Pode falar que eu sou louca, mas sabe quando você começa a desconfiar que tudo tá dando errado, não por culpa daquele infeliz do Murphy, mas por pura obra do destino? Tipo, meus planos para aquele Natal eram ir para Roma, ficar com a família, comer todas aquelas coisas absurdamente engordativas e, para perder todos aqueles quilos que havia ganhado, ia levar os Pugs da Nicola para passear. Sem falar que ia queimar muitas calorias dançando no balcão, como sempre. E o principal detalhe: O Alex ia ficar em Londres e íamos nos ver quando eu voltasse. As meninas iam para as respectivas casas e beleza. Só que a Lee, mãe do Alex, teve a brilhante ideia de fugir do frio londrino e arrastou os filhos (O Alex tinha um meio irmão) para um lugar onde estava longe de ser frio: Sydney. Eu sabia que a Lee tinha uma irmã que morava lá e, por isso, para fugir do inverno... Foi ver os cangurus de perto. Resultado? Já estava na abstinência por uns dias. Ia ficar mais de mal humor que antes. Mal humor que foi piorado quando o meu voo para Roma foi cancelado por causa de uma nevasca daquelas. Ou seja? Ia ficar sozinha em Londres em pleno Natal...

... Isso até a Deborah e a Lillian, mães das meninas, terem a brilhante ideia de virem a Londres com toda a turma e almoçar na casa do Charlie, que era suficientemente espaçosa. O Stephen, no entanto, decidira que ia abrir o bar de um jeito ou de outro. Ainda mais que estava falando para quem quisesse ouvir que ia ser diferente...

Afora isso, eu estava sentindo que alguma coisa ia acontecer. Era a primeira vez na vida que aquele sentimento aparecia e era estranho, não tinha como negar. Estava cismada, como sempre, e as meninas perceberam isso. Não falaram um A enquanto nos arrumávamos para ir ao bar e elas sabiam que, quando eu quisesse, ia falar com as duas.

Quando estávamos prontas, olhamos uma para a outra e a Di perguntou:

          - Só eu que estou com um instinto assassino para com nosso chefe?

Rimos e falei:

          - Ok. Ideia: Sobretudo por cima das roupas e botas comuns. Essas de elfos a gente leva numa bolsa grande e troca quando chegar lá. Quem concorda... Fala Louboutin.

          - Louboutin! - As duas disseram ao mesmo tempo e eu fui buscar a bolsa enquanto elas providenciavam os casacos. Estávamos vestidas como ajudantes sexies de Papai Noel, com meias-calças listradas de branco e vermelho. A fantasia não era feia. O problema era andar pela rua vestida com ela. E a bota com a ponta curvada e guizo. A bota era demais. Era implorar para o povo rir da nossa cara.

De repente, ouvi a Di falando:

          - As orelhas! Alguém viu as orelhas?

Ergui o olhar e vi as orelhas pontudas sobre a minha mesa. Estava encarregada de tentar achar um jeito de fixa-las melhor e decidi levar para colarmos no bar. Pus na bolsa e, depois de avisar as meninas, a Lola me entregou o sobretudo e trocamos as botas. Assim que saímos, depois de certificar que não tínhamos nos esquecido de nada, fomos até a estação de metrô, tentando segurar o riso e a Di falou, quando estávamos descendo as escadas:

          - Imagina se alguém tenta roubar a gente? A frustração que vão ficar ao abrir a bolsa e encontrar três pares de sapatos de elfos?

Conseguimos nos manter sérias.

          Logo que chegamos ao bar, o Stephen não estava à vista e corremos para o nosso cantinho e trocamos as botas e colocamos as orelhas. Às dez, o bar abriu e já estávamos à postos. Fizemos alguns vários drinks e, quando estava perto das onze, nosso chefe nos mandou subir no balcão.

          - Vejam pelo lado positivo. - Falei, tentando animar as meninas enquanto checávamos os microfones. - Pelo menos a gente não está como a Caroline e as outras...

As duas olharam para um pequeno grupo de Coyotes que tinham sido obrigadas a se vestirem de renas. Assim, a fantasia não era feia. O problema eram os arcos com galhos de pelúcia e a pior parte: Os narizes tiveram de ser pintados de vermelho.

          - Vejam pelo lado positivo: Se a gente jogar o Stephen no Tâmisa... A gente perde a casa. - A Lola disse.

          - E desde quando isso é positivo? - Perguntei.

          - Ele fica vivo e a gente fica com a casa. - Respondeu sorrindo.

          - Okay... - Falei, assentindo. Quando já estava tudo pronto, ouvimos os primeiros acordes da música e cantei, dançando meio de lado e fazendo um passinho que consistia em bater cada pé uma vez:

Jingle bell, jingle bell
(Toca o sino, toca o sino)
Jingle bell rock
(Toca o embalo do sino)
Jingle bell swing
(O sino toca e balança)
And jingle bells ring
(E os sinos tocam)

Logo, a Di, que estava atrás de mim, cantou também:

Snowing and blowing
(Nevando e ventando)
Up bushels of fun
(um monte de diversão)

E nós três cantamos, mexendo os quadris de um lado para o outro e quase perdendo o controle sobre o riso:

Now the jingle hop has begun

(Agora a dança do sino começou)

Será que podia ficar pior?

Bill

Quando o Tom cismou em vir para Londres e tentar encontrar a garota do bar, não imaginávamos que ela ainda estaria lá e trabalhando em plena noite de Natal. E vestida de elfo. Ela e mais duas amigas quase não aguentavam e riam da própria apresentação. Estava realmente... Bonitinha justamente por isso. A garota que tinha cantado primeiro tinha chamado minha atenção. Não por ser tão branca quanto a ruiva. Mas... Havia algo de hipnotizante nela. Não sabia dizer o que era, exatamente. Mas ela conseguia ser... Cativante. Essa era a palavra.

Elas dançavam em perfeita sincronia, embora a música fosse uma daquelas clássicas de Natal e o arranjo não fosse monótono. Assim que acabou, outra começou, só que muito mais animada e o Tom disse:

          - Estou começando a sentir dó dessas meninas... Além de trabalhar em pleno Natal, ainda têm que ficar apresentando esse tipo de coisa.

De graça, elas se juntaram às colegas de trabalho que subiram ao balcão e ficaram lado a lado. De repente, começaram a dar tipo um chute no ar e só então, percebi que elas usavam botas com as pontas curvadas, como as dos elfos.

          - Espero que o chefe delas realmente esteja pagando muito bem para que façam isso. - O meu irmão falou e sorri fraco.

Depois da apresentação, elas sumiram por uns instantes e, entre uma coisa e outra, me distraí e não vi mais a garota. Estávamos em uma área reservada do bar e, portanto, apesar vermos todo mundo, o contrário não acontecia. Perto da meia-noite, quando eu precisei ir ao banheiro, um dos funcionários me avisou que eu teria de usar o outro, já que o que estava perto de onde estávamos tinha dado problema. Então, evitando ao máximo de ser reconhecido, fui na direção que tinha me sido indicada e, logo que fechei a porta... Acabou a luz. Não fosse o suficiente...

          - Ai, tá de sacanagem comigo! - Ouvi uma garota dizer.

Ela pareceu perceber que eu estava ali e perguntou:

          - Di? É você?

Pigarreei e a minha garganta doeu. Acho que essa viagem para Londres não foi uma boa ideia...

          - Na realidade... Eu estava precisando usar o banheiro, se você não se importar. Um cara me falou que o outro banheiro está quebrado...

          - Ah... Ok. - A ouvi dizer e, com o celular, consegui encontrar uma das cabines. Perguntei:

          - Desculpa, mas... Onde você está?

Houve um instante de silêncio e disse:

          - Terminando de me arrumar. Tem medo do escuro?

          - Não. Só... Não quero que... Aconteça algum acidente.

A ouvi fazer um barulho, como se estivesse rindo e ela saiu. Usei o banheiro e, logo que terminei de lavar as mãos, ouvi um barulho e perguntei:

          - Tem alguém aí?

          - Sou eu ainda! - A garota falou. - E eu realmente espero que você não sofra de claustrofobia, porque essa porcaria de porta acabou de bater e emperrar. Estou tentando avisar o Stephen.

          - Stephen? - Perguntei.

          - Dono do bar. - Ela respondeu. De repente, falou um palavrão.

          - O que houve?

          - A bateria do meu celular acabou.

          - Quer o meu emprestado?

          - Ah... Obrigada, mas já consegui mandar a mensagem. - Respondeu. Consegui encontra-la e não consegui controlar a curiosidade:

          - Você estava cantando em cima do balcão?

          - Estava. Com as botas e orelhas de elfo, meias listradas e tal.

          - Vocês usaram orelhas de elfo?

          - É. Ossos do ofício.

Ficou quieta por um instante e, quando tornou a falar, quis saber:

          - Veio sozinho?

          - Não. Meu irmão, minha mãe e meu padrasto estão com a gente. E você?

          - É... Não tive tanta sorte, já que a minha família está longe e não pôde vir...

          - Se... Quiser, pode se juntar à nós. - Ofereci e percebi que ela estava sorrindo.

          - Obrigada, mas... Este vai ser o primeiro Natal que consigo passar com as minhas amigas. Sempre cada uma vai para um lado...

          - Ah... Sem problemas. - Garanti. De repente, ouvimos um vozerio e ela grunhiu um pouco fraco.

          - Já é meia-noite.

          - Bom... Nesse caso... - Saí em busca dela, apesar de estarmos perto um do outro. De repente, toquei algo morno e macio e me dei conta que era a mão dela.

          - Espera. Fica quieto por um instante, por favor. - Pediu. Não me mexi e ela conseguiu me abraçar. Me surpreendi por ela ser mais alta do que eu imaginava. Quer dizer, era mais baixa que eu, mas... Enfim, deu para entender. De repente, começamos a ouvir uma música de Natal estranha e erguemos as cabeças para ver um daquele visco, aparentemente de plástico e com a bateria fraca. Ela suspirou e disse:

          - Eu vou matar minha amiga. Ela que pendurou essa porcaria aí em cima e...

          - Acho que a gente tem que seguir com a tradição... - Arrisquei. - Isto é... Você não tem namorado, tem?

Riu fraco e disse:

          - Não. E você? Tem namorada?

          - Não. E por mim...

          - Ok... Deixa só...

Percebi que se esticou um pouco e me inclinei na sua direção. Como ia conseguir achar a sua boca naquela escuridão toda... Era um mistério. Por sorte, a porta tinha um vidro. E alguém passou por ali segurando uma vela. Mesmo com a pouca iluminação, consegui ser rápido o bastante para não errar e a beijei. De cara, senti que sua boca era carnuda e, claro que não perdi a oportunidade para mordê-la de leve. Em resposta, ela entrelaçou os dedos no meu cabelo e os puxou de leve. Com a outra mão, arranhava a minha nuca e tinha certeza que, se demorasse mais um pouco, não ia conseguir me segurar. Era estranho. Nem ao menos sabia como ela era (Principalmente porque só me preocupei em ver onde ela estava) e me sentia completamente atraído por essa garota.

Quando nos separamos, ambos ofegantes, ouvimos uma movimentação em que pareciam ter se dado conta do nosso sumiço e perguntei:

          - Qual é o seu nome?

          - Izzy. - Respondeu. - E o seu?

Hesitei por um instante e respondi:

          - Will.

Sabia que ela estava sorrindo e, graças à confusão, pude “sumir” sem que ela percebesse. Era melhor que não soubesse quem eu era, senão não queria nem imaginar o que ia acontecer caso descobrisse...

[/Flashback]

Luiza


Estava me lembrando do último Natal, sentada à beirada da janela quando notei o Bill chegando perto de mim. Perguntou:

          - O que foi?

          - Estava... Lembrando de uma coisa que me aconteceu no ano passado.

          - O que era?

Respirei fundo.

          - Eu fiquei com um cara.

          - Não era o Alex?

Neguei. Franziu as sobrancelhas e disse:

          - E como ele se chamava? Você sabe?

          - Will.

Fez uma cara engraçada e perguntou:

          - Você não trabalhou no bar ano passado, em pleno dia de Natal, trabalhou?

Concordei.

          - O Stephen nos fez usar uma roupa de elfo que era até bonitinha, junto de umas próteses de orelhas e umas botas que as meninas nem sonham que eu guardei. Eram pretas, de salto e com pontinhas viradas para dentro.

          - Ok... - Assentiu lentamente.

          - O que foi?

          - Você por um acaso se lembra de alguma outra coisa desse tal de Will?

          - Era fumante, mais alto e tinha spiderbites. E a voz dele era parecida com a sua. Por quê?

Me olhou e na mesma hora a ficha não caiu. Despencou em queda livre.

          - Eu não acredito! - Exclamei, batendo no seu ombro enquanto ele ria.

          - Quem diria, hein?

          - Por que você não me falou nada?

          - Você nunca tocou no assunto... Até achei que não se lembrava... - Respondeu, sorrindo.

          - Meu Deus! Então o nosso primeiro beijo não foi em Las Vegas, mas em Londres... As meninas vão surtar se eu contar para elas.

          - Filma e depois me mostra.

Ri e concordei.

          - A propósito... - Falou, mexendo no bolso da jaqueta. Prendeu algo na janela e, assim que terminou, vi que era o mesmo visco que a Nicola tinha prendido acima da porta. - Me lembra de agradecer à Nicola por ter guardado.

Sorri e ele disse:

          - Acho que a gente tem que seguir com a tradição... Isto é... Você não tem namorado, tem?

          - Não. E você? Tem namorada?

          - Não. E por mim...

Sorri e claro que nos beijamos. 

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 14º capítulo


É difícil dizer em que estrada nós estamos viajando
às vezes ela nos leva a algumas cidades horríveis
mas de algum jeito, nós continuamos, ambos: nossas mãos e pés
no chão do carro e no volante

(Sixpence none the richer - Us)

Luiza

Ai minha cabeça. Maldita hora em que decidi parar de frescura e tomar aquele monte de drinks. Tentei me mexer, mas tinha alguma coisa pesada, grande e quente me segurando. Sem falar que, mesmo de olhos fechados, a claridade incomodava e muito. Fazendo um esforço tremendo, abri os olhos e gemi ao senti-los ardendo. Sem falar na maldita fotofobia. A coisa grande, pesada e quente se mexeu e me puxou para mais perto. Foi quando caiu a ficha. Era o Bill. Me obriguei a abrir os olhos de novo e a primeira coisa que vi foi o meu vestido jogado perto da janela. “Estou usando pelo menos a calcinha! Estou usando pelo menos a calcinha!” era meu mantra. O Bill se mexeu e, com isso, senti uma coisa e percebi que não estava usando nada. E nem ele. Grunhi e ele acordou, me dizendo com a voz mais sexy e rouca do universo:

          - Bom dia, rabugenta...

Consegui soltar um braço e levantei o lençol, gemendo ao constatar que realmente estava pelada.

          - O que foi? - Ele perguntou e o empurrei, para que finalmente me libertasse. Assim que o fez, me sentei, tomando o máximo de cuidado para não mostrar nada além dos braços e, no máximo, o colo e as costas. Pedi:

          - Por favor, me diz que a gente não fez o que acho que a gente fez.

Me olhou, com uma cara de confusão e disse:

          - Se você está achando que a gente fez sexo... Eu não sinto muito, mas... A gente fez.

Gemi, escondendo o rosto nas mãos e ele, só para me provocar, falou:

          - E cá entre nós... Você está entre as melhores.

Olhei para ele e falei:

          - E você é o pior!

Me levantei da cama, tomando o cuidado de me cobrir e ele continuou:

          - Não sei para quê ficar se cobrindo, se conheci cada mínimo pedaço do seu corpo... Até os mais escondidos...

Aproveitando que tinha uma poltrona com uma almofada ali ao lado, agarrei a bendita e atirei nele com o máximo de força que consegui. Fui até o banheiro e, depois de fazer xixi, me olhei no espelho. Meu cabelo estava num desgrenho que dava até vontade de chorar. Essa era a única coisa ruim, porque de resto...

Notei o roupão em um cabide ao lado do box e o vesti. Voltando ao quarto, o Bill continuava deitado, só que com o lençol quase mostrando o... Enfim. Peguei o celular e vi que era quase meio-dia. Resmunguei um palavrão em português e corri para me arrumar. Enquanto caçava uma roupa dentro da mala, ouvi o Bill perguntar:

          - Vai sair?

          - E desde quando isso é da sua conta? - Respondi, de péssimo humor.

          - Se toda vez que a gente transar, você ficar assim...

Estreitei os olhos, já com a camiseta e a calça na mão.

          - Essa foi a primeira e única vez que esse deslize acontece.

          - Se esqueceu da aposta?

Bufei.

          - A aposta ainda não está ganha, Kaulitz. E se bem me lembro... Foi sua ideia de suspendê-la.

          - Será mesmo? - Perguntou, se levantando e desviei o olhar dele quando ficou de pé. Corri para o banheiro e me arrumei o mais rápido que pude. Quando saí, ele entrou e rapidamente peguei o par de sandálias e a bolsa e saí. Ainda no lobby do hotel, pus os óculos escuros e saí andando, pensando em como ia conseguir um táxi. O porteiro do hotel me ajudou, dando um senhor assobio e um carro parou ali na frente. Agradeci a ajuda e disse ao motorista aonde queria ir.

          No meio do caminho, digitei uma mensagem rápida, avisando que ia me atrasar um pouco. Desde que me mudei para Londres, aprendi a chegar na hora e passei a detestar quando demorava, mesmo que cinco minutos a mais, até chegar.

Assim que o carro parou em frente ao restaurante italiano em Astoria, paguei a corrida e desci do carro. Entrando no restaurante, um dos garçons veio me oferecer uma mesa e falei:

          - Na realidade... Estou procurando uma pessoa.

Dei a descrição e me pediu para acompanha-lo. Me guiou até os fundos do lugar, que era tipo uma área privativa, e, logo que me viu ali, se levantou e veio me cumprimentar, com dois beijos no rosto.

          - Me desculpe. - Falei, depois que o garçom se afastou para pegar os cardápios.

          - A farra ontem foi boa pelo visto...  - Disse e queria me enfiar debaixo da mesa. O garçom voltou e cada um fez um pedido:

          - Não vou querer antepasto, então pode me trazer uma dessa salada de carpaccio de Bresaola. E água sem gás, com uma rodela de laranja e sem gelo, por favor.

          - Vou querer o mesmo que ela.

O garçom se afastou e tivemos a oportunidade de conversar.

          - Ei... Eu falei sobre ontem, mas foi brincando. - Disse, erguendo meu queixo.

          - Não é culpa sua. Eu... Tenho que te contar uma coisa.

          - Já está grávida?

          - Quê? Não! Quer dizer, até onde eu sei, não.

          - Então... Já dormiu com ele?

          - Era justamente isso que eu quero te dizer. Ontem foi a primeira e única vez.

Me olhou, analisando e diria que até estava especulando.

          - Mesmo se não tivesse se casado com ele, é livre para fazer o que quiser. - Respondeu e prendi a respiração. O garçom trouxe os pedidos e falei, depois que se afastou:

          - Aí que está. Você me conhece. Eu não queria que tivesse acontecido!

          - Tem certeza? - Perguntou e assenti.

          - Você sabe que se não quero, não faço.

Continuou me avaliando com o olhar e falei:

          - Eu ia aceitar.

          - Ia?

Assenti.

De repente, ergueu o olhar e fez uma cara estranha. Como eu estava sentada de costas para a entrada, não consegui entender de imediato o que havia acontecido.

          - Podia pelo menos ter me dito quem era. - Disse, antes de se levantar. Naquele instante, a ficha caiu e não me levantei. Nem olhei para trás, embora pudesse ouvir sua voz:

          - Ah, Luiza... Podia ter me dito que ia almoçar fora...

Finalmente ergui o olhar e o filho da mãe estava com um sorriso irritante no rosto.

          - Sou o marido dela. - Falou, esticando a mão.

          - Eu sou...

          - É, eu sei quem você é... Alex Ireland. E então? Posso me juntar à vocês?

          - Claro. - O Alex disse e tive vontade de dar um soco nele também. O Bill se sentou ao meu lado e ainda passou o braço sobre meus ombros. Comecei a cutucar um pedaço de anchova com a ponta do garfo e o Alex comentou:

          - Engraçado, porque sabia que a Luiza tinha se casado em Las Vegas, mas nunca ia imaginar que era com você...

          - Por quê? - O Bill perguntou.

          - Quais são as chances de isso acontecer com uma fã? - O Alex devolveu a pergunta e o chutei por debaixo da mesa. Senti o olhar do Bill em cima de mim e me concentrei em continuar a cutucar a anchova.

          - Você não falou que era minha fã... - Disse e finalmente desviei a atenção para ele.

          - Dei bandeira por todo esse tempo, sem falar na condição que te impus... E você não perguntou. Achei que fosse um pouco mais... Esperto. - Respondi, usando o mínimo de sarcasmo possível. O Alex só nos observava, com o sorrisinho canalha.

          - Teria me respondido ou ia fazer como nas outras vezes em que tentei descobrir mais coisas ao seu respeito? - Perguntou, usando o mesmo tom ácido que o meu.

          - Kaulitz, eu realmente estou me controlando para não enfiar esse garfo na sua coxa. Não abusa da sorte.

Manteve o sorriso torto e começou a conversar com o Alex. Dava para sentir o clima de tensão ali e eu estava me sentindo no meio do fogo cruzado. Sabia que o Bill estava morto de ciúmes do Alex e vice-versa, já que eles sutilmente se alfinetavam. Por fim, quando toda aquela tortura acabou, aproveitei a chance que tive, quando o Bill foi ao banheiro para pedir para o Alex:

          - Você sabe muito bem que a gente precisa realmente conversar. Sem interrupções.

          - É, mas depois de amanhã você vai estar em Los Angeles.

De repente, me ocorreu uma ideia.

          - As meninas.

Me olhou, sem entender e expliquei:

          - Elas estão aqui. Bom, aqui em Nova Iorque só a Lola. Mas elas são minhas vizinhas. Se você pudesse esticar sua estada aqui nos Estados Unidos por... Sei lá, nem uma semana, te seria eternamente grata.

          - Como sempre... A gênia do crime.

Sorri e disse:

          - Faz o seguinte: Se conseguir, liga para a Lola e pede para passar o recado. Senão, pode me mandar mensagem. Depois, tão logo eu consiga falar com você, caso possa ir para Los Angeles, te explico direitinho como a gente vai fazer para conversar.

          - Tudo bem. Iza, só... Me responde uma coisa. Ele está te tratando bem?

          - É um pouco implicante, mas isso aí já é característica natural dele. - Respondi. - Pode deixar que, qualquer coisa, tenho amigas que não são grandes, mas são duas. Dão conta do recado tranquilamente.

Riu e falou:

          - Se ele fizer qualquer coisa com você, me avisa que eu venho correndo te buscar, entendido?

Concordei e justamente nesse instante, o Bill voltou. Fez questão de manter o braço em torno da minha cintura e, quando consegui afastar, insistiu no contato físico. Na mesma hora, pensei nele como um gato, que fica se esfregando em tudo para demarcar território. Ficou óbvia a simpatia forçada que teve ao se despedir do Alex e nem pude me despedir direito, já que saiu me puxando pela cintura antes mesmo que eu demorasse um segundo a mais.

Quando chegamos à suíte, claro que houve briga e justo quando estava começando a perder o controle, bateram na porta. Era o gerente, avisando que alguns hóspedes estavam se queixando e, como eu ainda estava irritada, acabou sobrando para ele também:

           - Então o senhor me faça o obséquio de falar com esses hóspedes que é para experimentarem viver obrigada com uma criatura que nem esse... Aí, controlando absolutamente a vida inteira!

          - Aproveita e pergunta para os hóspedes se eles iam concordar que o marido ou esposa se encontrasse escondido de alguém com quem eles dormem com certa frequência!

A cara de surpresa do gerente foi hilária. Mas ele escapou por muito pouco mesmo de tomar uns tapas.

          - Dormia! - Me defendi.

          - É... Só porque ele estava a um oceano inteiro de distância. Senão, duvido que você não iria correndo para a cama dele!

Em poucas passadas, me aproximei do Bill e dei aquele tapa estalado no seu rosto, reunindo o máximo de coragem e força que consegui.

          - Nunca mais faça uma insinuação desse tipo. Se eu estou casada com você, não vou te trair.

Só então notei que a Nicola estava parada ali na porta, com expressão do mais absoluto choque, olhando do Bill para mim.

Assim que chegamos ao seu quarto, não consegui mais me segurar e a Lola tentou me acalmar.

          - Não estou te culpando em cem por cento. Mas te garanto que essa confusão toda seria evitada se tivesse dito a verdade para ele.

          - Quem te garante? Quer dizer, não duvido nada que ele teria me prendido no quarto de uma maneira ou de outra!

Suspirou e falei:

          - E essa crise de ciúmes dele foi o menor dos problemas.

          - Tem mais?

Assenti.

          - Estou até com medo de descobrir...

          - A gente transou noite passada. - Falei.

          - ALELUIA! - Disse, se levantando e me abraçando. - Ai, tenho que dar a notícia para a Nadine!

De repente me ocorreu uma coisa e ela, percebendo meu ar de preocupação, perguntou:

          - Me diz que eu estou pensando coisa errada...

          - Acho que você está pensando certo. - Falei. - Ai que raiva que eu fiquei bêbada ontem! Odeio quando isso acontece nessas circunstâncias.

Arqueou a sobrancelha e disse:

          - Bom, sempre tem a pílula do dia seguinte.

Me lembrei de uma coisa e saí do quarto, sendo seguida pela ruiva. Entrei no quarto, ignorando totalmente se o Bill estava lá ou não e fui até a minha bolsa. A pus sobre a cama e olhei o compartimento secreto. Assim que tirei todos os pacotes de camisinha, a Lola arregalou os olhos e falou:

          - Acho que nunca vi tanta camisinha junta num só lugar na minha vida inteira.

Ri e falei:

          - Tem mais na mala.

          - Wow! Você estava realmente planejando transar com o Bill, é isso?

          - Claro que não! E as da mala estão aí por causa daquela viagem que fiz com o Alex, antes de ter a ideia de irmos para Las Vegas.

          - Suas explicações não estão ajudando, Luiza. - Falou, rindo e tive que acompanha-la.

          - Quer uma que vai ajudar e muito? - Assentiu. - Estou cercada de homens gostosos. Tenho mais é que ser prevenida até que chegue a hora certa, não é?

Riu e contei os pacotes. Não contive o sorriso ao ver que tinha um faltando. O que só podia significar uma coisa. Me abaixei, olhando debaixo da cama e realmente tinha o plástico da embalagem ali de baixo. Fui até o banheiro e era o único lugar que não tinha nenhuma evidência, digamos assim.

          - E aí?

Assenti, sorrindo.

          - Mas como camisinha pode estourar... Vamos comigo atrás de uma farmácia?

          - Vou só pegar a bolsa. - Disse, se levantando e saindo do quarto. Estava terminando de guardar as camisinhas na mala quando senti que estava sendo observada. Sem olhar para trás, falei:

          - Apesar de tudo que você me disse, vou dormir aqui. Reconheço que errei em não ter te dito que ia encontrar o Alex. Fiz isso justamente porque sabia que ia ter toda essa confusão.

O ouvi suspirar e, quando me levantei e fiquei de frente para ele, disse:

          - Me desculpa. Não deveria ter te dito tudo aquilo e muito menos ter me comportado daquela maneira.

          - Realmente. Olha, apesar de tudo que eu possa ter dado a entender, sou fiel à você. Do mesmo jeito que, ainda que não fosse nem um namoro oficial, nunca traí o Alex. E nem outro cara com quem me relacionei. Pode não parecer, mas não sou nada do que imagina. A prova disso é que a coisa mais... Radical que fiz na vida até agora foi ter ido à Las Vegas. Antes disso, tinha sido dançar em cima de um balcão de bar, com um bando de caras me chamando de gostosa. Foi estranho. - Riu fraco e falei: - Eu te entendo perfeitamente. Sei que não sou a pessoa mais fácil de se lidar, mas... É o meu jeito. O que pode aceitar é o fato de que não vou mudar para agradar ninguém. Nem mesmo você. Do mesmo jeito que vou ter de me acostumar à sua personalidade. Principalmente os traços que eu mais odeio.

Me olhou de um jeito que fez meu coração ficar miudinho. Mas não podia vacilar. Peguei a bolsa e, antes de sair, falei:

          - A propósito... Eu menti hoje de manhã.

Me olhou, sem entender.

          - Você foi o melhor. Pelo menos até onde eu lembro...

E saí antes que aquilo ficasse mais constrangedor ainda.

Quando estava andando com a Nicola pela Times Square, conversávamos e ela perguntou, depois que passamos na farmácia (E já aproveitei para tomar a pílula) e fomos à Starbucks:

          - Então... Como foi ontem à noite?

          - Não me lembro, honestamente. Pena, porque foi a única vez. - Falei, firme e ela fez uma expressão de descrença que não deu para me controlar: Bati em seu braço e ela, mesmo reclamando, não desfez a cara. - Estou falando sério.

          - E você quer mesmo que eu acredite em você, com aquele monte de camisinhas dentro da mala? Justamente em você, Luiza, que só não é pior que a Nadine e só pega um cara gostoso atrás do outro?

          - Oi! Um desses caras gostosos é meu marido. Posso não estar apaixonada por ele, mas...

          - Eu te conheço tempo o bastante para saber que você não vai para a cama com um carinha lindo e muito menos porque conquistou a confiança dele. O que eu vi ontem... Iza, não era nem de perto parecido com o que você sente pelo Alex. Era muito mais... Forte.

          - Ah é, espertinha? E como você sabe que era muito mais forte?

          - Porque, apesar de tudo, você olha para o Alex do mesmo jeito que olha para um modelo de cueca da Calvin Klein. Fica babando, gosta muito dele e tal, até tem química, mas com o Bill... Por mais puta que esteja com ele, seu olhar brilha. Quando a Di chegou em Londres e me contou da sentença do juiz, pode ficar brava comigo, mas fiquei feliz por ele ter decidido te deixar morando com o Bill. Sempre soube que você não gostava dele só como fã, por mais teimosa que seja. E sabe disso. Eu sinceramente acho que deveria desistir de ir morar em Roma sozinha. Se teimar, leva ele junto. Ou senão... Fica com ele. Afinal de contas, essa é uma oportunidade única e se você deixar ele fugir assim... - Estalou os dedos. - Juro que vai ter meu ódio eterno.

Arqueei a sobrancelha e disse:

          - E eu sei que a Di vai me apoiar.

          - Nem um pouco de pressão. - Falei e ela, rindo, respondeu:

          - É proposital justamente porque eu sei que é uma coisa que você odeia...

          - Sabe muito bem que eu posso fazer o oposto de birra, só porque você está me pressionando desse jeito, não é?

          - Bom, você é quem sabe... Se quiser se arriscar a perder duas amigas numa só tacada... - Disse e falei:

          - Você é inacreditável, Roberts!

Sorriu de um jeito inocente e doce.

Voltamos para o hotel, quase no começo da noite e, assim que entrei no quarto, estava tudo escuro e silencioso. No entanto, sabia que o Bill estava ali. Fui andando até o quarto em estado de alerta e, vendo que a sua jaqueta estava jogada sobre a cama. Fui andando até lá e pus a mão sobre o forro, sentindo que estava quente. De repente, ouvi o barulho do chuveiro e resisti à tentação de ir lá. Em vez disso, troquei de roupa e liguei a TV depois de deitar na cama, com os pés na direção da cabeceira. Estava passando uma reprise de Friends e era um dos episódios mais engraçados. Não consegui me controlar e ri de várias coisas que aconteceram. De repente, notei um movimento perto de mim e, quando vi, o Bill tinha saído do banheiro. Como sempre, não se intimidou em trocar de roupa na minha frente e me esforcei para prestar atenção ao comentário infeliz que o Joey fazia. Depois de colocar só uma boxer preta, o Bill se deitou ao meu lado, e perguntou:

          - Tem muito tempo que você chegou?

Neguei.

          - O suficiente para trocar de roupa e descobrir essa reprise. - Falei, me sentando de frente para ele, na posição de índio.

          - Está com fome?

          - Descobri que aqui perto tem Starbucks.

          - Está lembrada que amanhã a gente volta para Los Angeles, não é?

          - Já?

          - Acabamos ficando um dia a mais...

          - E sua mãe vai voltar para a Alemanha com o Gordon?

          - Sim. Mas mês que vem eles vão para LA por causa do meu aniversário.

          - Já sabe o que vai fazer?

          - Alguma ideia?

          - Para te falar a verdade... Tenho. E vou precisar da sua ajuda.

Me olhou, estranhando e garanti:

          - Não se preocupe, porque você e o Tom vão gostar. E muito.

          - Estou com medo. - Disse, rindo fraco e dei um estalo com a língua.

          - O fato de eu não gostar do meu próprio aniversário te diz alguma coisa?

          - Sim. Que estou certo em ter medo.

Bati no seu ombro de leve e riu.

          - Pergunta para a Lola e a Di. É a melhor coisa que você tem a fazer.

Assentiu e, de repente, propôs:

          - Tive uma ideia. Vai se arrumar que vamos sair.

          - E aonde vamos?

          - Do mesmo jeito que vou confiar em você para o meu aniversário... Vai ter de confiar em mim.

          - Tá... E me visto como?

          - Jeans e camiseta está bom.

Concordei, indo até a mala e já escolhendo a roupa.

Pouco tempo depois, estávamos andando lado a lado e, em menos de dez minutos depois, quando chegamos, falei:

          - Está de sacanagem comigo!

          - Já tentou alguma vez?

          - Tem sorte de estarmos em público e eu não poder dar chilique. - Riu e falei: - E me vangloriando um pouco... Na primeira vez em que patinei no gelo, consegui ficar quase uma hora inteira sem cair. Em compensação, faltando uns... Cinquenta segundos para terminar o tempo, acabei tomando um tombo. Foi efeito dominó.

          - Convencida. Quero ver se vai conseguir ficar esse tempo todo em cima dos patins...

          - Beleza. Vamos fazer uma aposta então. Se eu conseguir ficar uma hora inteira sem tomar um único tombo... Você vai me pagar um café da Starbucks.

          - E se você cair?

          - Então, eu te pago o café e - Enfatizei o “e” - um bolinho e mais alguma outra coisa para comer.

          - Me parece justo.

Só quando estava terminando de calçar os patins é que notei uma coisa.

          - Você realmente fechou a pista só para nós dois?

Deu um sorriso daqueles mais fofos e falei:

          - Era o mínimo que eu tinha que fazer para me redimir.

Arqueei a sobrancelha.

          - Imagino o máximo...

Riu e logo, pudemos ir. E ele, logo de cara, já tomou um tombo. Desde que conheci as meninas, costumávamos ir às pistas de patinação no gelo quase todos os dias e, por isso, já tinha um pouco de prática e confiança. Foi por isso mesmo que decidi me arriscar a dar uma pirueta. E a cara dele ao ver isso foi hilária. Me aproximando dele, falei:

          - Estou pensando seriamente em incluir um bolinho no meu prêmio da aposta...

          - Convencida!

Ri e comecei a deslizar, cada vez mais me afastando dele.

Quase meia hora depois, me lembrei dos casos que minha avó me contava. Por ser oito anos mais nova que a minha tia-avó, minha bisavó acabava mandando as duas irem juntas para patinarem no gelo. Minha tia, de braços dados com as amigas, naquela coisa mais graciosa de todas. E minha avó, coitada, só tomando tombo atrás de tombo*. E naquele instante específico, o Bill fazia exatamente como minha avó.

Quando saímos de lá, falei:

          - De prêmio de consolação, te compro o bolinho do mesmo jeito.

          - Obrigada, mas não acho que vai adiantar muita coisa. Quer dizer, vou ter de dormir de bruços por um bom tempo depois de hoje.

Acabei rindo dele, que me provocou:

          - Ah, Belotti... Melhor você correr.

          - E você vai muito conseguir correr atrás de mim, com a bunda doendo...

Deu um sorriso malicioso e, quando vi, estávamos os dois correndo feito duas crianças, quase às nove da noite. Detalhe: Eu estava de salto. Atravessamos a rua até chegarmos à Starbucks e, depois que cada um fez o pedido e nos sentamos à uma das mesas, cada um estava comendo em silêncio até que ele, do nada, roubou um muffin de mirtilo que havia pegado para mim e deu uma generosa mordida. Arqueei a sobrancelha e perguntei:

          - Ah, então é assim?

Sorriu e, depois de engolir, respondeu:

          - Não reclama que eu podia ter te mordido.

          - Experimenta...

          - Já experimentei ontem à noite. E tenho que te dizer que você é deliciosa.

Eu mereço...

           - Seu canibal.

Riu e, depois que terminamos de comer, acabamos indo ao Central Park, que estava perto. Quando nos sentamos em um banco, perguntou:

          - No que está pensando?

          - De segunda à quinta-feira, costumava ir ao Hyde Park perto da hora de fechar e ficava andando por quase todo o lugar.

          - Você realmente gosta de correr riscos...

Sorri e falei:

          - Eu ia com a Bertha, minha chefa. Pode não parecer muita coisa, mas era melhor do que andar totalmente sozinha.

Passou o braço sobre o meu ombro e me fez deitar a cabeça sobre seu ombro.

          - Por que você quer ir para Roma? - Perguntou, depois de um tempo em silêncio.

          - Dê-se por satisfeito em saber que eu quero ir para lá. - Respondi e apertou minha cintura. Na mesma hora, senti uma cócega e ele percebeu.

          - Quer dizer então que você é sensível... Bom saber.

          - Não ouse! - Avisei e ele riu.

Depois que voltamos para o hotel, fomos arrumar as malas e, enquanto fazíamos isso, claro que houve algumas provocações e, quando fomos dormir, não resisti. Esperei até que estivesse deitado para me virar de frente para ele e, sem qualquer aviso, o beijei.


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* Fato 100% verdadeiro.


What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 13º capítulo


Tão nebuloso, mas está tudo bem, você me leva para o lado negro
perigoso, mas eu tenho medo, oh
Meus olhos são azuis, mas eu estou vendo vermelho
E eu simplesmente não consigo me livrar você da minha cabeça

(Little Mix - Love Drunk)

Bill


Acabou tendo uma mudança de planos e uma semana depois, estávamos indo para Nova Iorque. Já havíamos embarcado e, por causa do tamanho do avião, tivemos de nos sentar em duplas. Então, a Luiza se sentou na poltrona ao meu lado. Atrás de nós, estavam Georg e Gustav. E na poltrona ao lado, Tom e Nicola, sendo que ela estava à janela. Faltando poucos minutos para a decolagem, a ruiva chamou a minha mulher e, assim que a Luiza a olhou, disse:

          - Não podemos esquecer dos Crocs para a Nadine.

          - Chegando em Nova Iorque, a gente manda uma mensagem para ela, enchendo o saco.

A ruiva concordou e, logo, a Luiza teve de se endireitar, já que as aeromoças haviam começado com as instruções. Uma vez que ouvimos o aviso de que as portas seriam fechadas, pediram que desligássemos os celulares e logo, todo mundo o fez. Só então, vi o celular da Nicola: Parecia com o das japonesas, com a capa toda enfeitada e comentei com a Luiza:

          - Pelo visto a discrição da Nicola não fica só nas unhas...

Ela me olhou e indiquei a amiga, que guardava o celular na bolsa. A minha mulher sorriu e disse:

          - De nós três, a única que tem o celular mais discreto sou eu.

Me mostrou o aparelho e parecia uma pintura de Van Gogh. Olhei bem e, antes de devolver, falei:

          - Por que não estou surpreso?

Sorriu e disse:

          - Tenho uma outra com a Union Jack. Acredite se quiser, as duas são mais discretas que as das meninas, que são todas nesse estilo, com pedraria e afins.

          - Duvido. - A provoquei e deu um estalo com a língua.

A viagem até a escala em Phoenix foi tranquila. Cada um aproveitou como quis o tempo de pouco mais de meia hora para troca de aviões: O Georg e o Gustav foram comer alguma coisa, meu irmão foi ao banheiro e fiquei com as meninas, andando um pouco pelo saguão.

De volta ao avião, o esquema de duplas se manteve. Depois de um tempo, tanto a Luiza quanto a Nicola começaram a ficar entediadas. A ruiva, para a sorte do meu irmão, dormiu. Já a minha mulher... Tirou um livro da bolsa e ficou lendo. Toda vez que eu tentava falar com ela, recebia uma olhada feia.

Quando finalmente chegamos em Nova Iorque, a Nicola ainda dormia e percebemos que o Georg também. Claro que eu e meu irmão, bem como o Gustav não resistimos e começamos a encher o saco dele, que demorou para acordar.

Depois do desembarque, as duas andavam mais à frente e, enquanto íamos até a esteira para pegar as malas, o Tom ligava o celular. Fiz o mesmo e, quando parei ao lado da Luiza, mandei uma mensagem para a minha mãe, avisando que chegamos.

          - Por que vocês sempre têm que ter tudo chamativo? - O meu irmão perguntou, ajudando a Nicola com a mala rosa-choque. É. E a Luiza não era tão diferente assim, com a mala vermelha.

          - A mala tem que ser diferente para não dar confusão e correr o risco de alguém pegar. - A ruiva disse. - E já avisaram à mãe de vocês que chegamos?

          - Já. Ela está esperando com o nosso padrasto. - O Tom respondeu.

          - Como assim ela está esperando? Que horas os dois chegaram? - A Luiza me perguntou e tive que contar:

          - Chegaram há uma hora, mais ou menos.

          - E vocês fizeram a coitada esperar esse tempo todo? - Ela indagou e assenti. - Inacreditável.

          - Ela e o Gordon esperaram mais tempo na conexão em Londres. - O Tom falou. - Depois de toda a viagem da Alemanha para cá, uma hora é fichinha.

Ela arqueou a sobrancelha e perguntou:

          - E onde eles estão?

          - Starbucks. Tem uma neste terminal. - Falei. Mesmo contrariada, foi comigo e o Tom. Já a Nicola, o Georg e o Gustav foram atrás de um táxi. Ou táxis, no caso. Fomos andando até a Starbucks e minha mãe e o Gordon não estavam lá. Peguei o celular, estranhando e liguei para ela. Depois de três toques, a ouvi:

          - Oi, meu filho.

          - Vocês saíram da Starbucks?

          - Onde vocês estão?

          - Aqui na frente.

          - Tudo bem. Esperem a gente aí. Estamos indo.

Depois de me despedir dela, desliguei e o Tom perguntou:

          - E aí?

Dei de ombros e vi que a Luiza estava olhando o menu e me aproximei dela. Perguntei:

          - Quer alguma coisa?

Negou com a cabeça.

          - E a sua mãe?

          - Estão vindo. Pediram para a gente esperar aqui.

Assentiu.

Depois de alguns minutos, eles apareceram. Depois de me cumprimentar e ao Tom, perguntei para minha mãe:

          - Onde vocês foram?

          - Banheiro. Demoramos porque era perto do portão 42.

Assenti e seu olhar parou em cima da Luiza.

          - Mãe... Gordon... Essa é a Luiza. Esses são minha mãe e o meu padrasto. - Apresentei e ela os cumprimentou, de forma tímida.

          - E o Georg e o Gustav? - Meu padrasto quis saber.

          - Foram tentar arrumar um táxi para todo mundo. - Meu irmão respondeu. Logo em seguida, fomos ao encontro deles e, quando estávamos tentando encontra-los, a Luiza apertou minha mão de leve e apontou para uma direção específica. Olhei e consegui enxergar os outros três.

          - Como você achou? - Perguntei e ela sorriu.

          - Dos três, quem chama mais a atenção? - Devolveu a pergunta e entendi na mesma hora.

Acabou que minha mãe, o Gordon e o Tom foram em um táxi, Georg e Gustav em outro e eu fui com as meninas em um terceiro. Fiquei no banco do passageiro e, vez ou outra, dava uma olhada nas duas. Ainda mais que a Nicola estava sentada atrás de mim e, portanto, podia ver a Luiza, que por mais que tentasse se controlar, estava encantada. As duas conversavam animadas, tiravam foto e, quando entramos numa rua, elas viram o nome e começaram a discutir a respeito de alguma coisa.

          - Mas tem algum trecho da música que fala? - Ouvi a Nicola perguntar e concluí que a Luiza negou com a cabeça.

          - Só olhar na internet. - Ela respondeu. Assim, toda a ida para o hotel foi com o falatório das duas e não me incomodou.

No instante em que desceram do carro, já em frente ao hotel, a Nicola olhou para cima e a Luiza, sem que a amiga percebesse, tirou uma foto.

          - É nesse hotel? - A ruiva quis saber e então viu que a minha mulher estava tirando as fotos. - LUIZA, ME DÁ ESSE CELULAR AGORA!

Olhei e a Luiza segurava o celular baixo enquanto a outra tentava toma-lo.

          - Que histeria é essa? - Meu irmão quis saber e falei:

          - Luiza tirou foto da Nicola.

De repente, a minha mulher falou:

          - Vem cá... O que me dizem de entrarmos? Sua mãe e seu padrasto devem estar morrendo de cansaço...

Decidindo que realmente era o melhor a ser feito, seguimos a sugestão dela. Estávamos na recepção, fazendo o check-in e, enquanto isso, vi a Luiza apresentando a Nicola à minha mãe.

          - Te falei que ela gostou da Luiza... - O Tom disse e respondi:

          - E ela está com medo. Olha só como está.

Sorriu e fomos liberados para irmos para os quartos.

Assim que chegamos no nosso, perguntei:

          - Eu vi que você apresentou a Nicola para minha mãe...

          - Ela achou que a Lola fosse a Di.

          - Sério?

Assentiu, sorrindo.

          - Acho que vou tomar banho agora. Depois que eu terminar, se quiser...

Concordei e, depois de alguns minutos, enquanto ela estava no banheiro, seu celular tocou. Hesitei e acabei ignorando a vontade de ir ver o que ou quem era. Decidi, então, dar um jeito de me distrair, pegando o meu próprio celular e vendo umas coisas na internet. Assim que ela saiu, enrolada só numa toalha, não teve como não olhá-la. Saiu andando rapidamente até a sala, onde sua mala estava e falei:

          - Eu estava pensando... Amanhã à noite a gente podia dar uma saída.

          - E para onde? - Quis saber e respondi:

          - Estamos em Nova Iorque. O que não faltam são opções.

Estreitou os olhos e perguntou:

          - Por que está tanto querendo sair?

          - Vamos ficar aqui por, no máximo, três dias. Achei que a gente podia ter um dia de folga e aproveitar...

Não se convenceu. Pus o meu celular sobre o criado-mudo e, em seguida, tirei quase toda a roupa na frente dela, que desviou o olhar para a janela.

          Depois de poucos minutos, saí do banho e ela estava sentada na cama, mas mexendo no celular. Só para provoca-la, decidi colocar só uma boxer e fiz questão de vesti-la na sua frente. Não pareceu nem notar e, de repente, riu fraco. Fui até a cama e, me deitando ao seu lado, perguntei:

          - O que foi?

          - Nadine. Lembra que a Lola falou dos Crocs antes de sairmos de Los Angeles? - Concordei, a olhando. - É uma breve história. Um dia, fomos ao shopping para comprar um tênis para um dos irmãos da Lola.

          - Ela tem irmãos?

          - Tem. Dois meninos e uma menina. A Di só tem irmãs.

          - E acabei de perceber que não sei se você tem ou não.

          - Sou filha única. E voltando à história. A gente tinha ido com o Clayton, o irmão da Lola, à essa loja. E enquanto ela estava ajudando ele a escolher, fiquei zanzando com a Di até que achamos um stand cheio daqueles tamancos. A Nadine é chiliquenta, mas nesse dia... Extrapolou.

Sorri e contou o resto do caso, que era basicamente a Nadine falando mal do sapato e até brincando que dava para levar à praia e usar como balde de areia.

          -... E desde então, a gente enche o saco dela, mandando foto de um par, ameaçando comprar para ela... Somos basicamente terroristas de saias.

Ri e ela mostrou o comentário da amiga no Facebook.

          - Ela é sempre tão rabugenta assim? - Perguntei e negou com a cabeça.

          - Do trio... Só eu que sou. - Pôs o celular sobre o criado mudo e avisei que tinha feito barulho.

          - Era da operadora, avisando do vencimento da conta. - Respondeu, se deitando de frente para mim.

          - Sabe o que estou estranhando? - Perguntei e me olhou. - Que você não está reclamando de ter de dividir o quarto comigo...

Deu de ombros e disse:

          - Não me importo.

          - Isso significa que, quando voltarmos à Los Angeles... Vai dormir comigo?

          - Quem sabe... - Sorriu, misteriosa. Claro que, não muito tempo depois, acabamos dormindo.

Na manhã seguinte, as meninas aproveitaram para dar umas voltas pela cidade, acompanhadas da minha mãe e o Gordon acabou indo junto. 

Enquanto esperava por ele, o Tom me fazia companhia.

          - E aí? Alguma notícia do Ireland? - Quis saber e neguei com a cabeça.

          - Ela até recebeu uma mensagem ontem, mas era da operadora.

          - Tem certeza?

          - Se for ele também... Depois daquele dia do estúdio, não acho que ela vai querer me trair.

Ficou pensativo e perguntei:

          - Eu sei o que está pensando. E não. A Luiza é diferente da Lydia.

          - O que te garante? Quer dizer, eu gosto dela, mas pensa bem: O quanto você conhece dela? Como pode ter certeza absoluta de que pode confiar cem por cento nela?

Parei para pensar e falei:

          - Eu ainda não tenho certeza. O que eu sei é que ela está casada comigo, a cada dia, conheço um pouco mais dela e está ganhando a minha confiança aos poucos. Apesar de tudo, ela não mentiu sobre o Alex como a Lydia fez com aquele idiota.  Pode não ter me contado de imediato, mas eu sei que os dois não têm nada. E ela não aceitou o pedido de namoro dele.

          - Mas ia. A Nicola me falou. - Retrucou e suspirei.

          - Mesmo que ela seja como a Lydia, acabando o prazo, ela vai para a Itália e nunca mais vamos nos ver.

          - Quem te garante? Ainda mais que sei muito bem como você é e, por mais que negue, está gostando dela. Se acontecer tudo aquilo por uma segunda vez, não venha dizer que foi falta de aviso. E desta vez, se quiser correr atrás dela, não vou te deixar ir.

          - Você está se esquecendo de uma coisa importante. - Falei e me olhou, sério. - A Lydia conseguiu acabar com a banda. E olha o que a Luiza está conseguindo.

Respirou fundo e nesse instante, bateram na porta do quarto. Fui atender e eram o Georg e o Gustav. Não muito tempo depois, o Jost chegou e, depois que cumprimentou cada um, disse:

          - Soube que se casou... Eu jurava que o primeiro seria o Georg...

          - É... O que aconteceu em Vegas não ficou em Vegas. - Meu irmão disse e falei:

          - Se quiser, pode ficar aqui e esperar para conhecê-la.

 Assentiu e, logo, começamos a conversar sobre a volta da banda. Quando estávamos quase terminando, a Luiza chegou.

          - Ai... Desculpem. Achei que já tinham acabado. Eu vou...

          - Vem cá. - Falei, indo até ela, que já estava quase saindo do quarto. Fiz com que voltasse e a apresentei ao Jost. Imediatamente percebi que gostou dela.

Depois que ele foi embora e fiquei sozinho com a Luiza, perguntou, animada:

          - E então?

          - Indo conforme você quer. - Falei e ela quase deu pulinhos, batendo palmas e tudo mais. Ri da sua reação e perguntei: - E você? Como foi?

          - Lola quase ficou doida na Saks. Comprou uma bolsa que eu acho que a Nadine vai passar a mão quando menos esperar... - Respondeu.

          - Como assim?

Respirou fundo, se sentando sobre a cama e, enquanto tirava as sandálias, explicou:

          - A Nadine é doida com as coisas da Jimmy Choo. E a bolsa que a Lola comprou é justamente da marca. E a gente já vive pegando uma coisa da outra...

          - Imagino a casa de vocês em Londres. - Falei, me sentando numa poltrona de frente para ela. - Deve ser tipo... “Onde está minha saia?” “Ah, a Nadine pegou!” “Não, foi a Luiza!”

Riu e disse:

          - Não. Todas nós costumamos pedir antes de pegar as coisas emprestadas. Mesmo porque, cada uma tem um tipo de corpo e nem tudo que serve na Nicola serve em mim e na Nadine e vice-versa.

          - Mesmo assim... Imagino vocês três se arrumando antes de sair.

Sorriu e se levantou, tirando a jaqueta e perguntando:

          - E aí? Conseguiu descobrir uma balada para a gente ir?

          - Tem uma aqui perto. Se vocês não gostarem, a gente pode ir a outra.

Assentiu e disse:

          - Fala com os meninos e vê se eles querem ir também, por favor?

Fato: Nunca ia me acostumar com a educação da Luiza. Talvez porque alguém que sempre dizia “por favor”, “obrigada”, etc. era raro.

          - Tudo bem.

          - Vou tomar um banho e passar no quarto da Nicola, para ajuda-la a escolher a roupa. - Avisou.

          - Será que eu posso tomar banho com você? Sabe, para economizar água...

Me olhou, sorrindo maliciosamente e veio andando até onde eu estava. Aproveitando que eu estava sentado com as pernas abertas, tipo o Tom, apoiou as mãos sobre os braços da poltrona, se inclinando na minha direção. Aproximou seu rosto do meu e disse:

          - Acho que... Nós dois sabemos muito bem o que vai acontecer se você for tomar banho comigo...

Percebi que sorria exatamente do mesmo jeito que ela.

          - Eu nem estava pensando nisso... Já que sugeriu...

Arqueou a sobrancelha e disse:

          - Pois é... - Deixou uma das mãos escorregar até a minha coxa e começou a desenhar círculos com a ponta das unhas. Isso tudo sem quebrar o contato visual. - Mas... Pode esquecer. E vou trancar a porta, só por garantia.

Se endireitou e foi andando até o banheiro. Suspirei ao ouvir o barulho da chave.

Mais tarde, quando saí do banho, ela estava se arrumando. E imediatamente, quase perdi meu autocontrole: A Luiza estava usando um robe preto e curto. Como estava debruçada na direção da cama, mexendo em alguma coisa que não consegui ver de imediato o que era, então o robe subiu um pouco e a oportunidade era boa demais para ser desperdiçada.

          - Ei! - Reclamou, se endireitando, depois que passei e dei um tapa na sua bunda. - Que folga é essa?

          - Não é folga nenhuma. Estou no meu direito.

Arqueou a sobrancelha e falou:

          - Vai se vestir que ganha mais.

De propósito, soltei a toalha e ela revirou os olhos. Pude ouvi-la me chamar de exibicionista e ri, enquanto ia pegar as roupas.

Cerca de uma hora depois, já tínhamos saído.

Fomos à uma boate no centro e as meninas não gostaram tanto assim. Já na segunda...

Nem cinco minutos haviam se passado desde que chegamos e as duas já estavam dançando. Querendo ou não, ficamos de olho para ver se tinha algum folgado que chegasse perto das duas. Por sorte, tinham alguns caras que ficavam olhando, mas não se aproximavam. Enquanto eu observava a Luiza, que estava realmente se divertindo, ouvi meu irmão dizer:

          - Se você visse sua cara agora...

Olhei para ele, sem entender.

          - Por quê?

Simplesmente deu um sorriso e nem precisei pensar muito para descobrir do que ele estava falando...

          - Você está babando pela Luiza. - Respondeu e, por pura teimosia, neguei.

Depois de um bom tempo, ela e a Nicola finalmente pararam um pouco e foram até o bar. De repente, a ruiva veio andando até onde estávamos e, percebendo uma coisa, perguntou:

          - Não tinha que ter mais dois?

          - Estão por aí... - O Tom respondeu. - Cansaram?

          - Pausa para beber. Por um acaso vocês querem alguma coisa?

Negamos em perfeita sincronia e ela riu fraco, assentindo e se afastando. Só que, no meio do caminho, um cara foi se engraçar para cima da Nicola. Quando agarrou seu braço, nos levantamos. Só que, antes mesmo que pudéssemos chegar perto, vimos que ela tinha conseguido se soltar e o agarrou pelo braço, usando o seu próprio e, jogou o cara contra uma pilastra.

          - Você viu o mesmo que eu? - O Tom perguntou e falei:

          - Pela segunda vez. A primeira foi a Luiza, naquele jantar da fusão do estúdio.

          - Como assim?

          - O Paul ficou dando em cima dela e, no final das contas, ela conseguiu dar um jeito nele.

          - Se elas continuarem nesse padrão de, a cada uma ficar pior, nem quero imaginar do que a Nadine é capaz.

Olhei para ele, sorrindo maliciosamente e o provoquei:

          - Ah, eu sei que você quer descobrir...

Me deu um soco leve no ombro e rimos. De repente, a Luiza apareceu e o Tom comentou:

          - A gente estava de olho em vocês, mas ao que parece, não vão precisar de proteção...

          - Por quê?

          - Acabamos de ver a Nicola jogar um cara contra uma pilastra. - Meu irmão disse e a Luiza riu.

          - Não explicou para ele? - Perguntou para mim e neguei com a cabeça. - Fomos obrigadas pelo dono do pub a ter aulas de autodefesa por causa de um incidente que tivemos uma vez. Toda menina que vai trabalhar lá tem que ter as aulas antes mesmo de começar. 

          - E você viu aonde a Nicola foi? - Ele perguntou e a Luiza procurou pela amiga, conseguindo encontra-la no bar. Meu irmão foi até lá e perguntei, indicando o copo que minha mulher segurava:

          - Que bebida é essa?

Deu de ombros.

          - Um coquetel da casa. Quer experimentar?

Concordei e me entregou a taça. Tomei um gole e senti o gosto de maracujá e manga. Sem falar no rum.

          - E aí? - Perguntou e falei:

          - É bom.

Experimentou também e, depois fez uma cara engraçada.

          - Gostou? - Perguntei e ela assentiu.

          - Quando a gente voltar para Los Angeles, vou te fazer de minha cobaia. - Respondeu e perguntei:

          - Cobaia de...?

          - Eu trabalho em um bar... Isso não te dá nenhuma pista? - Perguntou, dando um meio sorriso. - E gostei desse drink. Vou pegar mais um. Quer também?

Neguei com a cabeça e a vi indo até o bar. Quando procurei pelo Tom, estava num canto com a Nicola, que ria de alguma coisa que ele falava. Tentei encontrar o Georg e o Gustav e nem sinal deles. Antes que pudesse me controlar, olhei para o bar e vi a Luiza. Não resisti e fiquei a observando, desde a nuca, agora descoberta graças ao coque improvisado que havia feito, até o decote do vestido, que mostrava as suas costas, e as pernas. Desde o primeiro instante, era uma das partes do corpo dela em que eu mais reparava. E imediatamente já comecei a fantasiar, com elas envolvendo meu quadril.

Cerca de uma hora depois, acabei bebendo um pouco demais e me sentia um pouco alto. Ainda tinha consciência do que estava fazendo, apesar de tudo. A Luiza, por outro lado, estava começando a ficar bêbada. Sabia que na manhã seguinte acordaria com uma ressaca daquelas e, vez ou outra, ficava controlando o que bebia. Ficou brava, mas mesmo assim, acabava se comportando um pouco.

Eu estava sentado em um canto, ainda a olhando dançar e não conseguia prestar atenção em qualquer outra coisa que acontecia naquela boate. Vez ou outra, ela devolvia meu olhar, acompanhado de um sorriso torto. O pior era quando decidia me provocar e rebolava. E sempre que tinha essa provocação, mordia o lábio inferior, mantendo o sorriso. Fato: Ela estava conseguindo me fazer perder o autocontrole com tudo aquilo.

Quando parou um pouco, provavelmente para descansar, veio andando na minha direção e notei que rebolava um pouco ao caminhar. Se sentou ao meu lado e perguntou:

          - Vai só ficar me comendo com o olhar?

          - Eu não...

Riu e disse:

          - Ah, Bill... Estou te vendo. Só não entendo por que você não vai lá dançar comigo...

          - Eu não sei dançar.

          - E eu sei, por um acaso? - Perguntou.

          - Sabe.

          - Anda. Vem. Notei o monte de urubus que têm aqui e com certeza não foi todo mundo que viu a reação da Nicola.

Respirei fundo e, tombando a cabeça para o lado, deu um sorrisinho meigo e pediu:

          - Vem comigo, por favor...

Me levantei e ela sorriu largamente. Fui até a pista de dança com ela, que logo deu um jeito de desviar totalmente minha atenção. Quando ficou virada de costas para mim, com o corpo colado ao meu, não resisti e pus minhas mãos na sua cintura. E no instante em que menos estava esperando... Começou a rebolar. Claro que teve uma reação imediata, mas isso não a afastou ou sequer impediu de continuar. Pelo contrário; Parecia servir de estímulo para que continuasse e aquilo tudo estava sendo uma provação enorme para mim, afinal de contas, estávamos no meio da pista de dança de uma boate, cercados por um monte de pessoas e ela estava me tentando daquela maneira.

Pouco tempo depois, quando não estava mais dando para continuar aguentando tudo aquilo, falei:

          - Acho melhor a gente ir para o hotel...

Me olhou e, por muito pouco mesmo, não a agarrei ali mesmo. Apesar do álcool, sua expressão era de inocência e, querendo ou não, aquilo mexeu comigo. Logo, encontramos a Nicola e o Tom e avisamos que estávamos indo para o hotel.

Nem meia hora depois, chegamos à nossa suíte e, assim que a Luiza parou no meio do caminho para o quarto, me aproximei dela, ficando atrás, e afastei os seus cabelos e descobrindo a nuca, começando a beijar sua pele. Passei um dos braços em torno da sua cintura e quase imediatamente, senti suas mãos o cobrindo. Comecei a traçar um caminho até seu ombro e, à medida que ia avançando, abaixava a manga do vestido. Com isso, via seu busto sendo revelado aos poucos e, de certo modo, sabia que aquele era um caminho sem volta. Refiz o caminho até sua orelha, não parando de beijar sua pele um único segundo sequer, me viciando cada vez mais no seu cheiro, e assim que cheguei aonde queria, mordi o lóbulo e ela estremeceu. Falei, ainda mantendo a boca próxima à sua orelha:

          - Eu quero você.

Ficou quieta e afastou meu braço. Achei que tinha feito alguma besteira quando ela se virou e, surpreendentemente séria, disse:

          - Eu também. Mais até do que imagina.

Me aproximei dela e, no instante seguinte, já estávamos nos beijando.