quarta-feira, 13 de abril de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 15º capítulo - Interativa









I didn't go and try to change my mind

Sempre deixe o seu coração trancado
Não deixe a sua mente descansar
Oh, mas eu não pude aguentar
Eu tentei muito não fingir
Mas eu me atrapalhei quando tudo ficou por um fio

(HAIM - The Wire)



Na manhã seguinte, meio sem pensar, fui até a casa da Nadine, sabendo que o estava lá. Só que, antes mesmo de bater a campainha, a porta se abriu e a , ainda com a roupa do dia anterior, saiu. Perguntei, a observando:

- O que...? Por que você está aí e não em casa?

- Eu dormi aqui. Quer dizer, eu fiquei aqui, já que a Di e eu passamos a noite inteira conversando.

Sabia que as duas eram capazes de fazer aquilo.

- Já... Tomou café?

Negou.

- E você?

- Também não.

- Eu... Estava pensando seriamente em uma coisa. Panquecas. O que me diz?

Sorri e fomos até a sua casa. Me pediu:

- Faz o seguinte: Começa escolhendo o que vai querer usar para incrementar as panquecas que vou só trocar o vestido e já venho. Pode olhar na geladeira e no armário sobre a pia.

Concordei. Esperei alguns poucos minutos até que ela voltasse. Quando terminamos de fazer, nos sentamos à bancada e comemos as panquecas em silêncio.

Por ter passado a noite em claro, notei que não demorou a começar a ficar pescando. Fui até ela e, quando fiz menção de pegá-la no colo, protestou.

- Para de teimosia, . - Avisei e ela me olhou.

- Achei que já tivesse se acostumado...

Suspirei e consegui fazer com que concordasse em ir dormir. E sendo ela danada, conse-guiu me fazer prometer que ficaria ali. Aproveitando que tinha subido, lavei a louça rapidamente, guardei as coisas em seus lugares e, quando entrei no seu quarto, já estava deitada, deixando o espaço vazio à sua esquerda. Assim que me deitei, a se aconchegou mais perto de mim e passei meu braço em torno da sua cintura. Não resistindo, me inclinei na sua direção e beijei de leve o seu rosto. A ouvi suspirar e comecei a desenhar círculos na base da sua coluna, um pouco acima da sua tatuagem. Fiquei a observando dormir até quando eu mesmo acabei caindo no sono.

Quando acordei, ela continuava na mesma posição de antes, virada de frente para mim, e ainda dormia. Por um instante, eu me esqueci de tudo: Que estava noiva, que estávamos em Londres, que não éramos só amigos... Por um instante, desejei que ainda estivésse-mos em Los Angeles e pudesse tocá-la sempre que quisesse. A recaída que tivemos só me fez querer ainda mais que a fosse só minha.

Quando acordou, já era tarde e, por ter dormido praticamente o dia todo, estava morta de fome. Acabamos pedindo uma pizza e continuei ali com ela.

- O não vai implicar? - Perguntei e ela negou.

- Viajou ontem para a Austrália. Vai ficar pelo menos uns quinze dias fora.

- Tem certeza que vai querer se casar com ele, sendo que nem para direito em casa?- Provoquei e ela concordou.

- Falou o rockstar que passava um ano fora de casa. - Me provocou e claro que tinha que cobrar: - E falando nisso... O que aconteceu com a sua parte na promessa?

Suspirei e disse:

- Achei que já estivesse sabendo, fosse através do twitter ou do facebook...

Me olhou confusa e respondi:

- A gente decidiu entrar em hiato. Com o aqui, eu sozinho lá em Los Angeles e e do outro lado do oceano...

- Quer saber? Dane-se. A banda é sua e faz o que quiser. Só fico chateada porque cumpriu com parte da sua palavra. Não com tudo. - Disse e deu para ver que realmente estava sentida.

- O que me impede de aproveitar que estamos os quatro aqui e acabar com esse hiato?

- Bom mesmo. - Respondeu, se fingindo de brava. Não resisti e mordi sua bochecha. Ela, claro, tentou me afastar e me xingou: - Seu canibal!

- Só porque eu gosto de coisas gostosas?

- Ai meu Deus. - Suspirou e ri.

- Aliás... Eu descobri uma cantada ótima outro dia.

Me olhou e sabia que não ia acabar resistindo à curiosidade.

- Ah, então você não gosta muito de sexo casual...

A cara que ela fazia era realmente engraçada.

- Não. - Respondeu, já prevendo o que vinha pela frente.

- Tudo bem. Eu ponho um smoking e vamos chamar de sexo formal.

Ela não resistiu e acabou rindo.

- Eu sabia que aí ia ter... - Respondeu.

- E você? Conhece alguma?

- Eu vi uma outro dia... Você não é tampinha de iogurte, mas bem que eu queria dar uma lambida!

- À vontade. - Brinquei, oferecendo a minha mão e a a afastou.

- Bobo.

- É, mas nega que você gosta...

- Não gosto. - Disse, mas eu sabia que era para me provocar. Me levantei e fiz que ia embora e ela acreditou. Tanto que veio correndo atrás de mim. Acabei dormindo lá de novo.

Na semana seguinte, quando tinha saído com o e os caras e ido até um pub que, inclusive, tinha bilhar, claro que o assunto não podia ser outro:

- E aí? Aquele seu plano de semana passada deu certo? - O quis saber e, depois de tomar um gole de cerveja, respondi, vendo o jogando:

- Mais ou menos.

- Ela não ficou com ciúmes da Seren? - O perguntou e neguei.

- De duas uma. - O falou. - Ou a é uma ótima atriz e está conseguindo enganar todo mundo ou... Ela não gosta mais tanto assim de você.

- Considerando que ela é péssima para mentir... - Respondi, resignado.

- Se te servir de consolo - O disse. - Ela é péssima mentirosa com quem gosta de verdade. E pelo que a gente andou observando...

- Então por que ela aceitou o pedido do ?

- Se nem ela se entende, por que a gente ia? - O perguntou.

- Mas a gente conhece duas pessoas que talvez consigam. - O disse e nós três olhamos para ele. - E que podem muito bem ser espiãs.

- Acho que a Nicola é mais fácil. - O respondeu. - A confia mais na Nadine e acho que isso pode atrapalhar.

- E o que, exatamente, estamos planejando, além de fazer a Nicola de espiã?- Eu quis saber.

- Não está óbvio? - O perguntou, depois de jogar. - Acabar com o casamento da com o . E, para ele não ficar na mão, literalmente... A gente pode dar uma de cupidos com ele e a Seren. Nesse meio tempo, nada te impede de ficar com ela enquanto o aproveita os últimos momentos do lado da .

- Eu não acho que seja boa ideia. Sei lá, vou me sentir como se estivesse usando a Seren. - Respondi.

- Sei... E essa sua... Crise de consciência é por que...? - O quis saber e respondi:

- Não é crise de consciência. Só...

- Não é a . - O concluiu.

- Também. Mas não é só isso.

- E é o quê então? - O insistiu. Respirei fundo e admiti:

- A Seren é péssima de cama.

Eu esperava um monte de zuação da parte deles. Mas no final, descobri que só ficaram me olhando.

- Quando você diz péssima... - O começou.

- Quis deixar a luz apagada, cheia de frescura, não sabia fazer oral... Não me deixou fazer oral nela...

- Foda. - O comentou.

- Nem me fale. - Resmunguei.

- Mas ela é ruim mesmo? - O perguntou. Concordei.

- É péssima. - Respondi. - Está entre as três piores. O que irrita mesmo é a falta de confiança dela. Parece que tem medo.

- Sabe uma coisa que eu estava pensando? - O perguntou, depois de jogar e conseguir encaçapar uma das bolas. - Talvez isso de ser Coyote ajude. Talvez, com o tempo e o costume, a Seren mude.

- Acho difícil. Mesmo dando dicas e tal, não adiantou muita coisa. - Falei. De repente, o fez uma cara e sabia que aí vinha.

- O que foi? - Perguntei para ele.

- É uma... Curiosidade mórbida que eu tenho. Não vou fazer nada, não se preocupe. Mas é só... Vontade de saber mesmo.

- Fala logo. - Retruquei e ele perguntou:

- Você fala que a Seren é péssima e tal e... A ? Como ela é?

- É curiosidade mórbida mesmo? - Indaguei e ele concordou. O até parou para ouvir.

- É o oposto da Seren.

- Sério? - O perguntou e concordei.

- Se ela sente vergonha de alguma coisa, consegue disfarçar muito bem.

- Quer dizer então que a está longe de ser... Inocente e até mesmo doce, como no dia-a-dia? - O quis saber e, mesmo a contragosto, assenti.

- Agora sabe quem eu ficaria chocado de descobrir que não é nenhuma santa? A Nicola. - O comentou. Hesitei e isso não passou despercebido. - Quê? Vai dizer que ela é pior que a ?

- Então. Eu não sei. A falou uma coisa que me deixou cismado.

- O que foi?- O perguntou.

- Ela falou que, quem é quieto, é pior porque apronta mais. - Respondi e eles se entreolharam.

- A Nadine é faladeira. - O começou. - Mas não quer dizer nada. - Apressou a dizer assim que viu a olhada que o deu na sua direção. - Em seguida, vem a Nicola. É. Realmente acho que a é a pior das três.

- Ainda mais se considerarmos como o a conheceu... - O falou, me olhando. Suspirei e eles riram. - Fala a verdade. Você teria agarrado a , se tivesse a chance, não é?

- Não. - Os três me olharam, incrédulos. - Eu agarrei, mas quando tive chance e ela estava vestida.

Assim, o assunto se estendeu por um bom tempo. Quando cheguei em casa, comi qualquer coisa que encontrei na geladeira e fui para a cama logo em seguida.

No dia seguinte, eu ainda estava dormindo quando ouvi o toque do celular. Xinguei quem estava ligando antes de finalmente atender:

- Fala.

- Três horas da tarde de domingo e você ainda estava roncando e babando no seu travesseiro, ? Coisa feia! - Ouvi a .

- Me dá um bom motivo para eu não desligar o telefone.

- Te dou três, tá bom? O primeiro é que você vai ter a companhia de três e meia mulheres lindas. Segundo: Festival de pizza lá na Di. Estou no supermercado aqui perto da sua casa, comprando algumas coisas. E terceiro? Bom... Depois de um debate mais acirrado do que os que acontecem no parlamento, a sobremesa vai ser nhá Benta recheada de briga-deiro.

- Espera. O que é que vai ser recheada de brigadeiro?

- É um doce. É uma... Coisa feita com chocolate derretido e recheada, normal-mente, de marshamallow. Mas como a Sophia manda mais na gente que qualquer outra pes-soa, eu estou comprando coisas para fazer recheios alternativos. E aí? Te convenci?

- Não.

Pude ouvi-la respirando fundo e disse, abaixando o tom de voz um pouco:

- Eu estou usando minissaia.

- Em quanto tempo você chega aqui?

Ela riu e respondeu:

- Estão faltando só duas coisas, mas que são na mesma sessão. Eu acho que... De quinze a vinte minutos.

- Ok. Vou me arrumar então. Até daqui a pouco.

- Até.

Algum tempo depois, quando tinha acabado de me arrumar, a me mandou uma mensagem, avisando que tinha chegado e já estava me esperando. Peguei o celular, as chaves, a carteira e um maço de cigarros e saí.

Logo que ia entrar no carro, vi um paparazzo com a câmera pronta. A perguntou:

- O que foi?

- Paparazzo. - Respondi, não conseguindo deixar a preocupação de lado.

- E...? Qual é o problema?

- Tem nome e sobrenome. ander Ireland.

- E...? Está com medo de o vir tirar satisfação com você por causa de algumas fotos de paparazzi?

- A preocupação não é comigo.

Deu a partida em silêncio e, logo fomos para a casa da Nadine. Antes de sairmos do carro, porém, a falou:

- Os vidros são escuros, não tem jeito de ver que sou eu. Ainda mais à luz do dia.

- Mas e a placa do carro? Apesar de tudo, não vi tantas Ferrari como a sua circulando por Londres.

- Esta aqui é do . Ele me deixa usar quando viaja justamente para não deixar encostada e estragar. A mãe dele também passa a dirigir os carros dele.

Ergui a sobrancelha, um pouco surpreso. Não imaginava mesmo que ele teria DUAS Ferrari.

Logo que a Nadine abriu a porta, disse, depois de dar uma olhada rápida na quantidade de sacolas que a trazia:

- Comprou o supermercado inteiro, foi?

- Engraçadinha. - A retrucou ao passar pela porta. Cumprimentei a Nadine e, logo, fui procurar o . Acabei encontrando o e o por lá e, enquanto as meninas estavam na cozinha, ficamos ali conversando.

- Ainda tá com receio por causa da história de a gente atrapalhar o noivado da com o ?- O perguntou e concordei.

- Continua assim que você vai perdê-la para sempre então. - O falou e mesmo assim, me mantive firme na decisão de não atrapalhar. Afinal de contas, se ele realmente fazia a feliz... Por que não?

No final do dia, depois de muita bagunça e quando estávamos empanturrados de pizza e de doce, a me convenceu, daquele jeito manhoso que conseguia tudo aquilo que queria, a passar a noite na casa dela.

- Só um segundo que eu já venho. - Avisou e subiu. Sabia muito bem que ia trocar de roupa e, por isso, não me importei de esperar na sala. Isso até ela voltar e mexer no aparelho de som. Começou a tocar uma música que eu conhecia, mas não conseguia lembrar de onde...

- É a música do Clube dos cinco, aquele filme dos anos oitenta, sabe?

- Não, não é da minha época. - A provoquei e ela se sentou ao meu lado. Bateu o ombro no meu e comentou:

- Nunca vi o filme, acredita?

- Sério? É legal. Qualquer dia desses, a gente vê.

- Ó... Vou cobrar a promessa, hein?

- Pode cobrar. Aliás... A gente bem que podia era ir atrás de vários filmes da época, tipo “Caça-fantasmas”, “De volta para o futuro”, “Flashdance”...

- Eu escolho. Não quero correr o risco de pagar pela locação de “Grease” e não ver.

- Nunca entendi sua aversão à filmes musicais.

- Porque é cantoria o tempo inteiro! Imagina um filme onde o Van Damme estivesse atirando nos caras e cantando? - Pior é que eu imaginei e caí na risada. - Imagina o Chuck Norris ou até mesmo o Clint Eastwood com aquelas caras de maus cantando no ápice da cena? Nem... Broxante demais. Acho que Moulin Rouge é o único que eu consegui ver, gostar e assistir mais de três vezes porque são músicas que eu já conhecia. Bom, a maioria. Uma coisa é como o próprio “Flashdance”, que a menina lá dança.

- A menina lá que dança, se eu não estiver enganado, tem o nome do seu noivo.

- Eu vi “Flashdance” uma vez na vida, há anos. Não me perturba, .

Ri e ela comentou:

- Agora sabe um filme que eu sempre via passando na TV e demorei a assistir até o final e acabei gostando?

Olhei para ela, dando a entender que era para continuar.

- “Dirty Dancing”. Não tem nada a ver com aquela coisa clássica, do Patrick Swayze levantando a Jennifer.

- Jennifer...?

Deu um estalo impaciente com a língua e respondeu, me fazendo perceber que tinha se esquecido do sobrenome da atriz:

- Grey, eu acho.

- Eu achava que você gostava do filme por causa da cena famosa.

- Então. Nada me tira da cabeça que eles devem ter caído pelo menos umas vinte vezes durante os ensaios. Mas eu gostei foi principalmente das partes em que ele ensinava a Baby a dançar. E no final, os dois deram foi um belo cala a boca nos pais dela, que ficavam enchendo o saco até dizer chega.

Ri fraco e ela, percebendo o que eu estava pensando, falou:

- Não. Pode tirar o cavalo da chuva que eu não ia fazer isso nem com você e nem com ninguém. Não sou tão leve assim, sem falar que é perigoso.

- Eu estava lembrando é de quando a gente estava em Los Angeles e você cismou de me ensinar a dançar.

- E você morreu de medo que eu fosse pisar no seu pé. Eu lembro muito bem desse dia.

Rimos.

- Acho que eu tive essa... Impressão de que você podia pisar no meu pé porque eu via o quanto você é desastrada. Lembra do dia que você e a Nadine trombaram uma com a outra?

- Quando?

- Ah, foi num domingo que as meninas tinham ido lá para a casa e vocês estavam na piscina. Num minuto que eu saí do estúdio, passei pela cozinha e vi vocês trombando uma com a outra na hora que iam pular na piscina. O que eu fiquei surpreso foi que quem caiu foi você. Não ela.

- Acho que eu estou lembrando... Foi quando eu tive de dormir de bunda para cima por quase um mês.

Não segurei o riso e ela me bateu.

- Pior foi que justamente na época, você estava com um fogo... E eu lá, aguentando firme.

- Devia ter me dito. Eu pegaria mais leve.

- Do jeito que você estava? Capaz!

- Se eu bem me lembro, você não achou tão ruim.

- Tá. E como você sabia que eu não estava gemendo de dor?

- Gemido de dor é mais curto. É diferente. Eu teria parado no mesmo instante em que notasse a menor diferença.

Ela me observou em silêncio.

Respirou fundo antes de perguntar:

- Eu te vi beijando a Seren naquele dia que a gente tinha saído. Vocês estão juntos?

- Não. E nem sei se vai rolar de novo.

- Por que não?

- Somos muito... Diferentes um do outro.

- E daí? Você e eu também e olha só. Estamos sendo civilizadíssimos.

- É justamente isso. Com ela não teve a química que eu tenho com você.

- Sabe o que eu acho? Você está desanimado com ela porque a Seren é tímida demais. Provavelmente, ela morre de vergonha do próprio corpo e dá para ver isso de longe. A noite inteira eu vi que ela ficou puxando o vestido para baixo.

- Ela não me faz rir como você consegue.

- Bom, tem gente que também não me faz rir, pasme. E olha que tenho o riso frouxo e rio com coisa besta, tipo... Bom, piada de toc-toc não que eu nunca entendi aquela porcaria.

Ri e tentei explicar:

- É justamente isso. Você pode me contar a pior piada de toc-toc que existe que vou achar graça. E com a Seren não é bem assim. Com ela é diferente. Gosto da companhia dela, mas não sinto a necessidade de ficar perto dela o tempo todo.

- E comigo... Você sente?

Concordei.

- É sério. - Afirmei. - Eu não sei o motivo, mas gosto de ter a sua companhia. Seja só pela necessidade de ter você acabando com o silêncio e me fazendo rir já é o suficiente.

Desviou o olhar por um instante e perguntei:

- Se... Você não estivesse noiva do e eu... Quisesse tentar de novo, aceitaria?

Respirou fundo antes de responder:

- O problema é que estamos falando hipoteticamente. Você teve a chance.

- Eu tive? Quando? Eu cheguei aqui e descobri que você estava namorando o . Quando tive chance?

- A partir do momento em que você foi embora de Roma até o dia em que eu aceitei o pedido de namoro. Por que você simplesmente não me procurou? As coisas com certeza seriam diferentes agora.

- Eu não acho.

- Não tem como você saber.

- Tem. Um ano foi suficiente para te conhecer. Se a gente já começou brigando, imagina o que seria esse tempo todo?

Suspirou e ficou em silêncio. Depois de um minuto inteiro, respondeu:

- Eu estou começando a achar que você não estava tão disposto assim a tentar.

- Quem disse?

- Eu. Se realmente estivesse disposto, não teria esperado dois anos para fazer essa loucura de vender a sua casa e vir para cá.

Como sempre, ela me deixou sem resposta...

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quarta-feira, 6 de abril de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 14º capítulo - Interativa








Come and take a walk on the wild side

É por engano ou planejado?
Me sinto tão sozinha em uma sexta à noite
Você pode fazer eu me sentir em casa
Se eu disser que você é meu?
É como te disse, querido

(Lana Del Rey - Born to die)



Conforme o combinado, no domingo fiz a mudança. E, para minha surpresa, veio todo mundo me ajudar. Até a Sophia. Assim que o viu o , deu para sentir a tensão entre os dois, mas, por sorte, a Lola logo veio pedir a ajuda do segundo e as coisas se desanuviaram um pouco. A Claire comentou, quando todas nós estávamos terminando de desembalar as coisas da cozinha:

- Era só eu quem estava prevendo uma tragédia daquelas no encontro do e do ?

- Não. - Dissemos em coro.

- Parecia que eu estava sentindo... - A Lola comentou.

Naquele instante, o entrou na cozinha, trazendo uma caixa e parecia estar fazendo um esforço tremendo de modo que tinha dobrado o braço um pouco e, por isso e até por causa da força, ressaltava os seus bíceps. Olhei para as meninas, que tentavam segurar o riso. O perguntou:

- Onde eu coloco?

- Pode colocar aqui. - Indiquei a cadeira que estava do meu lado. Ele pôs a caixa ali e, sem dizer nada, saiu. Fiz sinal para as meninas não fazerem qualquer barulho e fui ver se ele estava longe o suficiente. Peguei a mesma caixa que ele segurava e levantei. Tinha certeza que era extremamente leve e, assim que confirmei, falei:

- Quando a pessoa quer bancar o pavão... É difícil.

Elas riram na mesma hora e a Lola perguntou:

- Quer dizer então que todo aquele esforço era fingimento?

Concordei.

- Ele estava querendo era ficar se exibindo. - Respondi, abrindo a caixa e descobrindo que ali tinham as coisas como alguns utensílios tipo ralador, tampas de garrafas, formas de silicone e etc.

O entrou e fazendo exatamente a mesma coisa. Quase se desequilibrou e, achando que aquela caixa era igualmente leve, só tirei a que o tinha posto sobre a cadeira e falei com o para coloca-la ali. Ele deu uma olhada na cadeira e acabou colocando a caixa em cima da bancada.

- Acho que a metade das louças está aí. - Ele comentou e abri a tampa. Realmente estava muito pesada e, para tentar consolá-lo, dei um beijo rápido nele.

No final da tarde, o teve que ir até a casa da e o único que quis ficar ali me ajudando foi o . Quando ele estava me ajudando a organizar os livros numa estante na sala de estar, perguntei:

- E aí? Já sabe quando vamos finalmente ser vizinhos?

- Semana que vem, sem ser na próxima. Já marquei com o pessoal da mudança.

- A hora que quiser que eu vá até o prédio e te ajude a levar as coisas...

- Eu te aviso, pode deixar. - Respondeu. Abriu uma das caixas e encontrou as minhas fotos ali dentro. Eram desde a infância até as mais recentes, tiradas no bar há poucos dias. Pegou uma e disse:

- Essa foi a primeira das suas fotos que eu vi.

Olhei e resmunguei:

- Ai meu Deus.

A foto não era tão sexy quanto algumas que eu tinha feito para o Stephen usar no site do bar (Que acabaram nem entrando na minha galeria, no final das contas). Aquela em especial era sombreada e tinha mais tons escuros, apesar de ser colorida. Eu estava com os cabelos mais lisos do que de costume graças à uma escova e usava um blazer preto, mais ajustado na cintura. Por baixo... Nada. Lembro de ficar um pouco reticente, mas, graças à muitas fitas dupla-face que eu coloquei para segurar a peça de roupa no lugar e não mostrar mais do que deveria, me senti mais segura. Usava um sautoir, que era aquele colar comprido, típico da década de 20, feito de ouro branco e com brilhantes na corrente e, no final, uma pedra de topázio em forma de gota. O , vendo que eu tinha gostado do colar... Convenceu o leiloeiro que tinha emprestado o bendito, a vendê-lo. O resultado era que o sautoir estava guardado na minha caixa de joias.

- Lembro que vi a foto no dia que a gente se casou. - O disse. Olhei para ele, surpresa.

- Sério?

Começou a ficar sem jeito e perguntei:

- Ok. O que mais você aprontou?

- Eu... Olhei o site do bar durante a pesquisa sobre Doctor Who. O lembrava da Nadine e da Nicola e lembrava do nome e... Foi fácil descobrir o seu perfil. Tinha essa foto lá e por isso que foi a primeira.

Olhei para ele e falei:

- É a sua preferida?

- Não. A que eu mais gosto já tenho.

Franzi as sobrancelhas e ele logo deu um jeito de mudar de assunto. Ficou ali me ajudando até altas horas e, por causa do horário, consegui convencê-lo a dormir ali.

No dia do meu aniversário, convenci o Stephen a me dar carta branca e, logo que o bar atingiu sua capacidade máxima, esperamos só a música acabar e refizemos a apresentação inspirada no desfile da Victoria’s secret, mas com as asas e as roupas um pouco diferentes. Justamente por estar planejando essa apresentação há algum tempo, então tivemos tempo suficiente para mandar fazer as asas. A da Nicola era a mais legal de todas, por ter luzes coloridas de neon. Pareciam asas de libélula, mas desenhadas pela Sophia (Que, aliás, eram. A Lola simplesmente pediu para a filha fazer o desenho e pronto.). As da Di eram mais parecidas com as de borboleta, acinzentadas e com várias borboletas claras presas. As da Claire eram arredondadas e em tons de azul e roxo bem clarinho mesmo, com alguns reflexos verdes. A segunda mais legal era a da Seren: Bolhas. As minhas eram comuns, tipo as da Di, só que em lilás. No entanto, a maior surpresa foi quando vimos a Seren caminhar perfeitamente e com uma segurança assombrosa sobre um par de saltos maiores que os que usávamos.

- Como pode?- Perguntei, chocada.

- Minha mãe me obrigou a fazer um curso de modelo quando eu tinha uns dezoito anos. - Ela respondeu. - Só que eu era rebelde demais. E sempre achei que saltos eram desconfortáveis. Sem falar que sou desastrada, então...

Mas, mesmo assim, estávamos em choque com tudo.

Depois de algum tempo, já estávamos em posição enquanto o vídeo da introdução era exibido. Tínhamos feito como da primeira vez, com uma espécie de backstage do desfile da Victoria’s secret. Logo, a música começou a mudar e, conforme havíamos ensaiado, a Claire foi a primeira a desfilar.

- Stephen pirando em cinco... Quatro... Três... - A Di provocou e ri. Vimos a Claire chegando à beirada da passarela e mandando um beijinho bem na direção da janela do escritório do chefe. Seguramos o riso enquanto ela voltava e se posicionava. A Seren foi a seguinte e só não estava silencioso ali porque tinha a música. De improviso, ela pôs as mãos na cintura, piscou e sorriu. A Nicola, ao chegar ao final da passarela, ela mexeu no cabelo e deu um sorriso tímido. A Di foi a próxima e, quando foi a vez dela, deu uma mordida no lábio inferior e piscou. E eu fui a última. Sentindo os meus pés pesarem uma tonelada, respirei fundo enquanto andava. Ao chegar no final da passarela, vi que o estava ali. Mas meu olhar foi atraído para o bar e vi o , embasbacado. Dei um meio sorriso e pisquei para ele. Em seguida, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: Levantei os braços e dei um gritinho, como se estivesse num show de rock. Em seguida, fui até o meu lugar, à esquerda da Di, que começou a cantar a música. Era a mesma da outra vez, mas fez tanto sucesso quanto.

Por causa do peso das asas, assim que a música acabou, corremos para os bastidores e os assistentes do artista que tinha feito as benditas cujas nos ajudaram a tirá-las. Já de volta ao palco, começamos a dançar e, como sempre, a Di foi a primeira a cantar. Aproveitei essa chance para olhar para o pessoal ali. Não que não fizesse isso normalmente, mas justamente por poder prestar atenção melhor que eu aproveitei a chance.

Quando os dançarinos vieram, eu pude ver o ficando sério, mas pelo menos não tinha feito nada. Quer dizer, até o rapaz que dançava comigo pegar na minha perna. Sabia que, quando ele tivesse a chance, ia me fazer ouvir suas reclamações.

Tudo correu muito bem, obrigada, até mais ou menos o intervalo entre a quarta e a quinta música. Ouvi um burburinho e as meninas até tentaram me chamar, falando que íamos atrasar, mas, quando vi, o tinha dado um jeito de subir ao palco e eu fui até ele e perguntei:

- O... Que você está fazendo?

- Eu vou ser rápido. - Falou. - Me empresta, por favor. - Pegou o microfone das mi-nhas mãos e disse: - Hã... Boa noite.

Obviamente, atraiu a atenção de todo mundo e isso serviu de incentivo para ele continuar:

- Há quase sete anos eu entrei numa lojinha esotérica em Fitzrovia atrás de um presente para uma amiga. Voltei nessa loja todo santo dia até conseguir convencer a vendedora a sair comigo. Tivemos alguns percalços no caminho - Eu sabia que ele estava olhando para o . - Mas mesmo assim, tenho certeza do que eu quero.

De repente, ele pôs o microfone no bolso traseiro do jeans e se ajoelhou na minha frente. Em algum momento, ele conseguiu pegar um anel de ouro branco e brilhantes.

- Ai meu Deus! - Falei, entendendo o que estava acontecendo. - , levanta.

- ... Você aceita se casar comigo?

A minha vontade foi a de falar um palavrão.

- Levanta. Por favor. - Pedi. Ele obedeceu e o levei até o camarim. Fechei a porta e avisei: - A minha vontade é a de descer o braço em você.

- O que eu fiz?

- Proposta de casamento na frente de todo mundo. De gente que nem nos conhece, de gente que nos conhece e...

- É por causa do ?

- Quê? Claro que não! O está enrolado com a Seren.

- Mas ainda te cerca que nem uma mosca cerca um sonho de padaria!

Suspirei e respondi:

- Eu estou brava justamente porque era um momento nosso. Não acho que era nem a hora e lugar.

Respirou fundo e disse:

- Sua reação por si só já dá a entender é a sua resposta.

- Mas ô raiva que eu tenho dessa mania de todo mundo tirar conclusão precipitada!

Franziu as sobrancelhas.

- Eu aceito. - Respondi e ele me surpreendeu, me abraçando e me tirando do chão. Fui tão pega de surpresa que até dei um gritinho. Me beijou do jeito mais apaixonado imaginável e só fomos interrompidos pelas meninas, que tinham que trocar de roupa.

Depois do show, quando estava sozinha no camarim, sob a desculpa de que estava trocando de roupa. Mas na realidade, estava em crise. Estava começando a cair a ficha do que tinha acontecido e comecei a sentir um medo daqueles. Tomei um susto quando ouvi umas batidas na porta.

- Eu já vou. - Respondi. As batidas vieram de novo e, impaciente, fui abrir a bendita da porta.

- Está tudo bem? - O perguntou, não conse-guindo esconder a preocupação. Tentei segurar o choro, mas não consegui. Imediatamente, senti que me abraçou daquela maneira que me envolveu completamente. Física e emocionalmente.

Quando me acalmei um pouco, ele perguntou:

- O que você falou?

- Eu aceitei. - Respondi.

- E se arrependeu?

Não. Era do que eu tentava me convencer.

- Não importa o que aconteça, eu vou estar aqui, ok? - Perguntou, me fazendo olhar para ele. Concordei e agradeci. De repente, deu um sorriso misterioso e falou: - Eu tenho uma surpresa para você.

- Que surpresa?

Sem dizer nada, abriu a porta e fez um sinal para alguém que estava esperando no corredor. Assim que a vi, não resisti e fui abraçar a .

- Podia ter me avisado que estava vindo! - Reclamei e ela riu, dizendo em seguida:

- E estragar a surpresa? De jeito nenhum!

O teve que voltar ao trabalho e aproveitei o tempo que tinha para conversar com ela, mesmo que fosse rapidamente. Ela, claro, quis saber sobre o noivado e eu não pude deixar de notar que parecia estar um pouco com raiva.

- Tem uma loira sentada perto de nós que vibrou quando o fez o pedido. Tem que ver a pose dela. Diria que ela é bem aquele tipo que faz questão de luxo, vive com nariz em pé e é fútil.

- Ela tem os olhos azuis?

Concordou.

- Cabelo na altura dos ombros?

Repetiu a resposta.

- É a mãe do . E ela não é tão madame assim.

- Tem certeza? Eu acho que a roupa que ela está usando hoje dá bem quase dez mil euros cada peça.

Ri e falei, já pronta:

- Obrigada por ter vindo.

- Eu estava com saudades.

A abracei e, não muito tempo depois, a apresentação com as meninas continuou. Descobri que, durante aquele tempo, o DJ tinha dado conta de animar o pessoal.

Na noite seguinte, saímos. Mas só as meninas. Conseguimos, inclusive, convencer a Seren a nos deixar arrumá-la. Talvez por ser a primeira vez em muito tempo que saíamos sem os meninos, caprichamos na produção.

Acabamos indo ao mesmo bar do aniversário da Lola e na mesa ao lado, tinha um grupo de cinco amigos que não paravam de olhar para nós. Achamos ótima a massagem nos egos.

Quando as meninas foram ao banheiro e a Seren ficou ali na mesa comigo, quis saber:

- Por que você não quis continuar com o ?

Parei para pensar na resposta. Por fim, dei de ombros.

- Medo, talvez.

- Se as coisas dessem errado?

- Ao contrário. E se acontecesse alguma coisa que fizesse a gente brigar para sem-pre?

- Posso te ser sincera? - Perguntou e concordei. - Eu acho que você e o combinam. Mas o problema é que são como a Lucy e o Desi.

Olhei para ela, surpresa.

- Ok. Eu confesso. Amo “I love Lucy”.

Sorri e respondi que também gostava.

- Voltando ao assunto... Tem sempre um “mas”. - Observei e ela concordou.

- A questão é que com o é diferente. Vocês são como Jack e Rose, sem toda a parte do Titanic. Percebi que, com o , você não tem medo de se arriscar. Com o é diferente. Você é mais... Contida.

- E por que você está me falando tudo isso?

- Porque eu não quero ser um empecilho. Não quero ficar entre ninguém.

- Seren, presta atenção. Sou só amiga do . Espero de verdade que ele seja feliz. Como vocês dois estão se dando bem, torço para que fiquem juntos. Eu não posso e nem quero fazer outra coisa porque estou noiva do agora.

- Mas por quanto tempo? - Ela perguntou. Sabia que não tinha falado por mal; Era o mesmo tom que a Lola costumava usar. Logo, ela, a Di e a Claire voltaram e tivemos de mudar de assunto.

Depois do bar, fomos para uma boate. Enquanto eu dançava com a Nadine, olhei para um ponto qualquer e vi o . Comecei a andar na sua direção, mas um cara me interceptou no meio do caminho. Quando finalmente consegui me livrar dele, já era tarde demais e o já tinha sumido. Fui beber alguma coisa e, quando estava de volta à pista, começou a tocar uma das minhas músicas preferidas. Não resisti e dancei como se fosse a única pessoa ali. Quando menos esperei, senti alguém se aproximar. Consegui reconhecer quem era e começou a se inclinar na minha direção, deixando a boca praticamente colada à minha orelha e falando:

- O que o seu noivo disse quando soube que viriam para cá?

Me virei de frente para ele e respondi:

- E quem disse que ele sabe?

O deu um sorriso malicioso e continuou dançando ali comigo. Perguntei, depois de um tempinho:

- Viu a Seren?

Negou.

- Não achei que você fosse chama-la.

- Ih... Agora é tarde demais. Ela é parte do grupo.

Sorriu e quis saber:

- Você realmente não falou com o aonde ia?

Neguei.

- Ele não vai brigar com você?

- Por que você está tão preocupado com a reação dele?

- Porque eu tenho medo do que ele pode fazer com você.

Parei de dançar.

- Ele não teria coragem. E ele sabe que, o dia que tentar fazer isso, vou embora sem nem pensar duas vezes ou sequer olhar para trás. - Respondi, assumindo uma postura séria. - Isso não se aplica só ao .

Depois de algum tempo, quando paramos um pouco para tomar alguma coisa, perguntei:

- É mais de curiosidade do que qualquer outra coisa. - Me olhou, não escondendo o interesse. - Já saiu com a Seren?

Negou com a cabeça.

- Tem quase um mês que você a conhece e até hoje nada?

- Não surgiu oportunidade.

- Quer oportunidade melhor que hoje? Ainda mais que ela está só recusando convite para dançar a noite inteira?

Suspirou e entendi o motivo. Não precisava nem ele ter me olhado.

- Se não estivesse tudo bem, não ia te incentivar. Anda, vai lá, tira ela para dançar, para quebrar o gelo.

Hesitante, ele foi falar com ela. Em poucos segundos, os dois já estavam dançando. A Lola tinha que vir me provocar:

- Não está nem com uma pontinha de ciúmes?

Neguei.

- Não acho que seria justo com ele. - Respondi. - Ainda mais que...

- Já sei. “Estou noiva do .”

Assenti.

- É, mas vai mesmo valer a pena no final, casar com um cara que você enxerga como um ótimo amigo, mas ama mesmo outra pessoa?

- Se eu realmente enxergasse o como amigo, por que ia aceitar o pedido dele?

- Vou te dizer o porquê. Por puro orgulho. Eu te conheço, .

Já ia começar uma discussão quando a Di e a Claire apareceram e nos arrastaram para a pista de dança. As duas tomaram o cuidado de nos deixar bem longe do e da Seren.

Começou a tocar várias músicas que a gente gostava e dançamos todas, atraindo a atenção de quase todo mundo ali. Sempre imaginei que as pessoas quase quebravam o pescoço de tanto olhar para a gente justamente porque não conseguíamos evitar de dançar como se estivéssemos no bar. E principalmente, porque a gente sempre dançava como se não tivesse mais ninguém ao nosso redor. Chamávamos a atenção justamente por causa da confiança que era quase... Palpável.

Quando eu estava distraída, um cara chegou por trás e colou o corpo no meu. Começou a dizer certas... Coisas não tão comportadas e acabei perdendo a paciência.

- Na boa. Eu não estou a fim, eu tenho noivo e você está conseguindo me atrapalhar.

- Eu não sou ciumento... - Insistiu e consegui afastá-lo. As meninas perceberam e, logo, me ajudaram a colocar o folgado para correr.

Depois de algum tempo, fomos ao banheiro e, como só nós estávamos ali, então pudemos conversar um pouco:

- E aí? Vão para Reading este ano?- A Claire quis saber e justamente por não ter uma data definida para o casamento, dei de ombros.

- Seria legal se fosse uma espécie de despedida de solteira sua. - A Lola falou, batendo o quadril no meu.

- Ia... - Respondi. - Quem sabe?

As três me olharam, surpresas e acho que o choque foi maior ainda quando elas perceberam que eu estava falando sério.

- Sim, porque, por mais que futuramente possa acontecer que o viaje na época e dê para a gente ir, ainda sim... - Comentei.

- Ainda sim, tinha que ser você. - A Di provocou e apertei sua cintura de leve.

- Eu estava pensando no que a Seren disse. - A Claire falou. - Daquela história toda de modelo e tal. O que será que houve para ela largar tudo?

Ninguém arriscou um palpite. Só eu:

- Vendo como as modelos quase se matam... Acho que foi toda uma mistura de fatores: A mãe dela deve ter enchido a paciência dela, que se rebelou. E ela tem jeito de quem gosta de comida. Acho que a ideia de ficar sem comer não deve ter sido lá tão atraente.

- Será? - A Lola ficou pensando e mais que depressa, falei:

- Deve. Mas isso é especulação da vida alheia e é um trem danado de feio.

As meninas riram do jeito que eu falei.

Depois que saímos do banheiro, a Claire e a Lola foram tomar mais um drink cada uma enquanto a Di e eu fomos dançar. Estava indo tudo muito bem, obrigada, até que eu me virei numa direção qualquer e tive uma surpresa: O e a Seren estavam se beijando. Comecei a me sentir estranha e a Di deu logo um jeito de me tirar dali. Quando estávamos do lado de fora, eu respirei fundo, tentando me acalmar, mas não estava funcionando.

- Vamos fazer uma coisa. Hoje você dorme lá em casa.

- E o ?

- Ele não vai se importar.

Mesmo hesitante, concordei.

Passamos o resto da noite e por saber que eu podia confiar mais na Nadine do que na Nicola, contei para ela tudo aquilo que estava sentindo.

- Mas você está arrependida de ter incentivado os dois a ficarem?

- Não. - Respondi. - O tem todo o direito de ser feliz e a Seren me parece ser a candidata perfeita.

- Mais perfeita que você... Impossível.

- Nadine, eu não vou terminar tudo com o assim, de uma hora para a outra por causa de um capricho. Sim, porque é isso o que vai ser: Um capricho. Demorei todos esses anos para finalmente aceitar o pedido de namoro dele e, quando aceito... O volta.

- E mexe com você.

- Não foi à toa que aconteceu tudo.

Me olhou, não conseguindo esconder a curiosidade e perguntou:

- Me responde sinceramente uma coisa?

Concordei, já sabendo o que ela ia querer saber.

- Acho que o meu remorso é justamente por não ter um pingo de arrependimento que seja. - Admiti.

- Já parou para pensar que o arrependimento de quando você perceber que está fazendo a coisa errada pode ser maior e pior ainda? - Perguntou. Era isso o que eu mais gostava da Nadine: Quando precisava brincar... Ela era uma das primeiras a se prontificar a fazer todo mundo ao seu redor morrer de rir das suas palhaçadas. Mas quando um conselho era necessário...

- Segundo você... Qual seria a coisa errada? Me casar com o ? - Questionei, sem emoção.

- Não. - Respondeu e ficou em silêncio por um instante. - A coisa errada pode ser entregar o homem que você ama de bandeja para a Seren.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 14º capítulo


Come and take a walk on the wild side

É por engano ou planejado?
Me sinto tão sozinha em uma sexta à noite
Você pode fazer eu me sentir em casa
Se eu disser que você é meu?
É como te disse, querido

(Lana Del Rey - Born to die)

Luiza

Conforme o combinado, no domingo fiz a mudança. E, para minha surpresa, veio todo mundo me ajudar. Até a Sophia. Assim que o Alex viu o Bill, deu para sentir a tensão entre os dois, mas, por sorte, a Lola logo veio pedir a ajuda do segundo e as coisas se desanuviaram um pouco. A Claire comentou, quando todas nós estávamos terminando de desembalar as coisas da cozinha:

- Era só eu quem estava prevendo uma tragédia daquelas no encontro do Bill e do Alex?

- Não. - Dissemos em coro.

- Parecia que eu estava sentindo... - A Lola comentou.

Naquele instante, o Bill entrou na cozinha, trazendo uma caixa e parecia estar fazendo um esforço tremendo de modo que tinha dobrado o braço um pouco e, por isso e até por causa da força, ressaltava os seus bíceps. Olhei para as meninas, que tentavam segurar o riso. O Bill perguntou:

- Onde eu coloco?

- Pode colocar aqui. - Indiquei a cadeira que estava do meu lado. Ele pôs a caixa ali e, sem dizer nada, saiu. Fiz sinal para as meninas não fazerem qualquer barulho e fui ver se ele estava longe o suficiente. Peguei a mesma caixa que ele segurava e levantei. Tinha certeza que era extremamente leve e, assim que confirmei, falei:

- Quando a pessoa quer bancar o pavão... É difícil.

Elas riram na mesma hora e a Lola perguntou:

- Quer dizer então que todo aquele esforço era fingimento?

Concordei.

- Ele estava querendo era ficar se exibindo. - Respondi, abrindo a caixa e descobrindo que ali tinham as coisas como alguns utensílios tipo ralador, tampas de garrafas, formas de silicone e etc.

O Alex entrou e fazendo exatamente a mesma coisa. Quase se desequilibrou e, achando que aquela caixa era igualmente leve, só tirei a que o Bill tinha posto sobre a cadeira e falei com o Alex para coloca-la ali. Ele deu uma olhada na cadeira e acabou colocando a caixa em cima da bancada.

- Acho que a metade das louças está aí. - Ele comentou e abri a tampa. Realmente estava muito pesada e, para tentar consolá-lo, dei um beijo rápido nele.

No final da tarde, o Alex teve que ir até a casa da Lee e o único que quis ficar ali me ajudando foi o Bill. Quando ele estava me ajudando a organizar os livros numa estante na sala de estar, perguntei:

- E aí? Já sabe quando vamos finalmente ser vizinhos?

- Semana que vem, sem ser na próxima. Já marquei com o pessoal da mudança.

- A hora que quiser que eu vá até o prédio e te ajude a levar as coisas...

- Eu te aviso, pode deixar. - Respondeu. Abriu uma das caixas e encontrou as minhas fotos ali dentro. Eram desde a infância até as mais recentes, tiradas no bar há poucos dias. Pegou uma e disse:

- Essa foi a primeira das suas fotos que eu vi.

Olhei e resmunguei:

- Ai meu Deus.

A foto não era tão sexy quanto algumas que eu tinha feito para o Stephen usar no site do bar (Que acabaram nem entrando na minha galeria, no final das contas). Aquela em especial era sombreada e tinha mais tons escuros, apesar de ser colorida. Eu estava com os cabelos mais lisos do que de costume graças à uma escova e usava um blazer preto, mais ajustado na cintura. Por baixo... Nada. Lembro de ficar um pouco reticente, mas, graças à muitas fitas dupla-face que eu coloquei para segurar a peça de roupa no lugar e não mostrar mais do que deveria, me senti mais segura. Usava um sautoir, que era aquele colar comprido, típico da década de 20, feito de ouro branco e com brilhantes na corrente e, no final, uma pedra de topázio em forma de gota. O Alex, vendo que eu tinha gostado do colar... Convenceu o leiloeiro que tinha emprestado o bendito, a vendê-lo. O resultado era que o sautoir estava guardado na minha caixa de joias.

- Lembro que vi a foto no dia que a gente se casou. - O Bill disse. Olhei para ele, surpresa.

- Sério?

Começou a ficar sem jeito e perguntei:

- Ok. O que mais você aprontou?

- Eu... Olhei o site do bar durante a pesquisa sobre Doctor Who. O Tom lembrava da Nadine e da Nicola e lembrava do nome e... Foi fácil descobrir o seu perfil. Tinha essa foto lá e por isso que foi a primeira.

Olhei para ele e falei:

- É a sua preferida?

- Não. A que eu mais gosto já tenho.

Franzi as sobrancelhas e ele logo deu um jeito de mudar de assunto. Ficou ali me ajudando até altas horas e, por causa do horário, consegui convencê-lo a dormir ali.

No dia do meu aniversário, convenci o Stephen a me dar carta branca e, logo que o bar atingiu sua capacidade máxima, esperamos só a música acabar e refizemos a apresentação inspirada no desfile da Victoria’s secret, mas com as asas e as roupas um pouco diferentes. Justamente por estar planejando essa apresentação há algum tempo, então tivemos tempo suficiente para mandar fazer as asas. A da Nicola era a mais legal de todas, por ter luzes coloridas de neon. Pareciam asas de libélula, mas desenhadas pela Sophia (Que, aliás, eram. A Lola simplesmente pediu para a filha fazer o desenho e pronto.). As da Di eram mais parecidas com as de borboleta, acinzentadas e com várias borboletas claras presas. As da Claire eram arredondadas e em tons de azul e roxo bem clarinho mesmo, com alguns reflexos verdes. A segunda mais legal era a da Seren: Bolhas. As minhas eram comuns, tipo as da Di, só que em lilás. No entanto, a maior surpresa foi quando vimos a Seren caminhar perfeitamente e com uma segurança assombrosa sobre um par de saltos maiores que os que usávamos.

- Como pode?- Perguntei, chocada.

- Minha mãe me obrigou a fazer um curso de modelo quando eu tinha uns dezoito anos. - Ela respondeu. - Só que eu era rebelde demais. E sempre achei que saltos eram desconfortáveis. Sem falar que sou desastrada, então...

Mas, mesmo assim, estávamos em choque com tudo.

Depois de algum tempo, já estávamos em posição enquanto o vídeo da introdução era exibido. Tínhamos feito como da primeira vez, com uma espécie de backstage do desfile da Victoria’s secret. Logo, a música começou a mudar e, conforme havíamos ensaiado, a Claire foi a primeira a desfilar.

- Stephen pirando em cinco... Quatro... Três... - A Di provocou e ri. Vimos a Claire chegando à beirada da passarela e mandando um beijinho bem na direção da janela do escritório do chefe. Seguramos o riso enquanto ela voltava e se posicionava. A Seren foi a seguinte e só não estava silencioso ali porque tinha a música. De improviso, ela pôs as mãos na cintura, piscou e sorriu. A Nicola, ao chegar ao final da passarela, ela mexeu no cabelo e deu um sorriso tímido. A Di foi a próxima e, quando foi a vez dela, deu uma mordida no lábio inferior e piscou. E eu fui a última. Sentindo os meus pés pesarem uma tonelada, respirei fundo enquanto andava. Ao chegar no final da passarela, vi que o Alex estava ali. Mas meu olhar foi atraído para o bar e vi o Bill, embasbacado. Dei um meio sorriso e pisquei para ele. Em seguida, fiz a primeira coisa que me veio à cabeça: Levantei os braços e dei um gritinho, como se estivesse num show de rock. Em seguida, fui até o meu lugar, à esquerda da Di, que começou a cantar a música. Era a mesma da outra vez, mas fez tanto sucesso quanto.

Por causa do peso das asas, assim que a música acabou, corremos para os bastidores e os assistentes do artista que tinha feito as benditas cujas nos ajudaram a tirá-las. Já de volta ao palco, começamos a dançar e, como sempre, a Di foi a primeira a cantar. Aproveitei essa chance para olhar para o pessoal ali. Não que não fizesse isso normalmente, mas justamente por poder prestar atenção melhor que eu aproveitei a chance.

Quando os dançarinos vieram, eu pude ver o Alex ficando sério, mas pelo menos não tinha feito nada. Quer dizer, até o rapaz que dançava comigo pegar na minha perna. Sabia que, quando ele tivesse a chance, ia me fazer ouvir suas reclamações.

Tudo correu muito bem, obrigada, até mais ou menos o intervalo entre a quarta e a quinta música. Ouvi um burburinho e as meninas até tentaram me chamar, falando que íamos atrasar, mas, quando vi, o Alex tinha dado um jeito de subir ao palco e eu fui até ele e perguntei:

- O... Que você está fazendo?

- Eu vou ser rápido. - Falou. - Me empresta, por favor. - Pegou o microfone das mi-nhas mãos e disse: - Hã... Boa noite.

Obviamente, atraiu a atenção de todo mundo e isso serviu de incentivo para ele continuar:

- Há quase sete anos eu entrei numa lojinha esotérica em Fitzrovia atrás de um presente para uma amiga. Voltei nessa loja todo santo dia até conseguir convencer a vendedora a sair comigo. Tivemos alguns percalços no caminho - Eu sabia que ele estava olhando para o Bill. - Mas mesmo assim, tenho certeza do que eu quero.

De repente, ele pôs o microfone no bolso traseiro do jeans e se ajoelhou na minha frente. Em algum momento, ele conseguiu pegar um anel de ouro branco e brilhantes.

- Ai meu Deus! - Falei, entendendo o que estava acontecendo. - Alex, levanta.

- Luiza... Você aceita se casar comigo?

A minha vontade foi a de falar um palavrão.

- Levanta. Por favor. - Pedi. Ele obedeceu e o levei até o camarim. Fechei a porta e avisei: - A minha vontade é a de descer o braço em você.

- O que eu fiz?

- Proposta de casamento na frente de todo mundo. De gente que nem nos conhece, de gente que nos conhece e...

- É por causa do Bill?

- Quê? Claro que não! O Bill está enrolado com a Seren.

- Mas ainda te cerca que nem uma mosca cerca um sonho de padaria!

Suspirei e respondi:

- Eu estou brava justamente porque era um momento nosso. Não acho que era nem a hora e lugar.

Respirou fundo e disse:

- Sua reação por si só já dá a entender é a sua resposta.

- Mas ô raiva que eu tenho dessa mania de todo mundo tirar conclusão precipitada!

Franziu as sobrancelhas.

- Eu aceito. - Respondi e ele me surpreendeu, me abraçando e me tirando do chão. Fui tão pega de surpresa que até dei um gritinho. Me beijou do jeito mais apaixonado imaginável e só fomos interrompidos pelas meninas, que tinham que trocar de roupa.

Depois do show, quando estava sozinha no camarim, sob a desculpa de que estava trocando de roupa. Mas na realidade, estava em crise. Estava começando a cair a ficha do que tinha acontecido e comecei a sentir um medo daqueles. Tomei um susto quando ouvi umas batidas na porta.

- Eu já vou. - Respondi. As batidas vieram de novo e, impaciente, fui abrir a bendita da porta.

- Está tudo bem? - O Bill perguntou, não conseguindo esconder a preocupação. Tentei segurar o choro, mas não consegui. Imediatamente, senti que me abraçou daquela maneira que me envolveu completamente. Física e emocionalmente.

Quando me acalmei um pouco, ele perguntou:

- O que você falou?

- Eu aceitei. - Respondi.

- E se arrependeu?

Não. Era do que eu tentava me convencer.

- Não importa o que aconteça, eu vou estar aqui, ok? - Perguntou, me fazendo olhar para ele. Concordei e agradeci. De repente, deu um sorriso misterioso e falou: - Eu tenho uma surpresa para você.

- Que surpresa?

Sem dizer nada, abriu a porta e fez um sinal para alguém que estava esperando no corredor. Assim que a vi, não resisti e fui abraçar a Simone.

- Podia ter me avisado que estava vindo! - Reclamei e ela riu, dizendo em seguida:

- E estragar a surpresa? De jeito nenhum!

O Bill teve que voltar ao trabalho e aproveitei o tempo que tinha para conversar com ela, mesmo que fosse rapidamente. Ela, claro, quis saber sobre o noivado e eu não pude deixar de notar que parecia estar um pouco com raiva.

- Tem uma loira sentada perto de nós que vibrou quando o Alex fez o pedido. Tem que ver a pose dela. Diria que ela é bem aquele tipo que faz questão de luxo, vive com nariz em pé e é fútil.

- Ela tem os olhos azuis?

Concordou.

- Cabelo na altura dos ombros?

Repetiu a resposta.

- É a mãe do Alex. E ela não é tão madame assim.

- Tem certeza? Eu acho que a roupa que ela está usando hoje dá bem quase dez mil euros cada peça.

Ri e falei, já pronta:

- Obrigada por ter vindo.

- Eu estava com saudades.

A abracei e, não muito tempo depois, a apresentação com as meninas continuou. Descobri que, durante aquele tempo, o DJ tinha dado conta de animar o pessoal.

Na noite seguinte, saímos. Mas só as meninas. Conseguimos, inclusive, convencer a Seren a nos deixar arrumá-la. Talvez por ser a primeira vez em muito tempo que saíamos sem os meninos, caprichamos na produção.

Acabamos indo ao mesmo bar do aniversário da Lola e na mesa ao lado, tinha um grupo de cinco amigos que não paravam de olhar para nós. Achamos ótima a massagem nos egos.

Quando as meninas foram ao banheiro e a Seren ficou ali na mesa comigo, quis saber:

- Por que você não quis continuar com o Bill?

Parei para pensar na resposta. Por fim, dei de ombros.

- Medo, talvez.

- Se as coisas dessem errado?

- Ao contrário. E se acontecesse alguma coisa que fizesse a gente brigar para sem-pre?

- Posso te ser sincera? - Perguntou e concordei. - Eu acho que você e o Alex combinam. Mas o problema é que são como a Lucy e o Desi.

Olhei para ela, surpresa.

- Ok. Eu confesso. Amo “I love Lucy”.

Sorri e respondi que também gostava.

- Voltando ao assunto... Tem sempre um “mas”. - Observei e ela concordou.

- A questão é que com o Bill é diferente. Vocês são como Jack e Rose, sem toda a parte do Titanic. Percebi que, com o Bill, você não tem medo de se arriscar. Com o Alex é diferente. Você é mais... Contida.

- E por que você está me falando tudo isso?

- Porque eu não quero ser um empecilho. Não quero ficar entre ninguém.

- Seren, presta atenção. Sou só amiga do Bill. Espero de verdade que ele seja feliz. Como vocês dois estão se dando bem, torço para que fiquem juntos. Eu não posso e nem quero fazer outra coisa porque estou noiva do Alex agora.

- Mas por quanto tempo? - Ela perguntou. Sabia que não tinha falado por mal; Era o mesmo tom que a Lola costumava usar. Logo, ela, a Di e a Claire voltaram e tivemos de mudar de assunto.

Depois do bar, fomos para uma boate. Enquanto eu dançava com a Nadine, olhei para um ponto qualquer e vi o Bill. Comecei a andar na sua direção, mas um cara me interceptou no meio do caminho. Quando finalmente consegui me livrar dele, já era tarde demais e o Bill já tinha sumido. Fui beber alguma coisa e, quando estava de volta à pista, começou a tocar uma das minhas músicas preferidas. Não resisti e dancei como se fosse a única pessoa ali. Quando menos esperei, senti alguém se aproximar. Consegui reconhecer quem era e começou a se inclinar na minha direção, deixando a boca praticamente colada à minha orelha e falando:

- O que o seu noivo disse quando soube que viriam para cá?

Me virei de frente para ele e respondi:

- E quem disse que ele sabe?

O Bill deu um sorriso malicioso e continuou dançando ali comigo. Perguntei, depois de um tempinho:

- Viu a Seren?

Negou.

- Não achei que você fosse chama-la.

- Ih... Agora é tarde demais. Ela é parte do grupo.

Sorriu e quis saber:

- Você realmente não falou com o Alex aonde ia?

Neguei.

- Ele não vai brigar com você?

- Por que você está tão preocupado com a reação dele?

- Porque eu tenho medo do que ele pode fazer com você.

Parei de dançar.

- Ele não teria coragem. E ele sabe que, o dia que tentar fazer isso, vou embora sem nem pensar duas vezes ou sequer olhar para trás. - Respondi, assumindo uma postura séria. - Isso não se aplica só ao Alex.

Depois de algum tempo, quando paramos um pouco para tomar alguma coisa, perguntei:

- É mais de curiosidade do que qualquer outra coisa. - Me olhou, não escondendo o interesse. - Já saiu com a Seren?

Negou com a cabeça.

- Tem quase um mês que você a conhece e até hoje nada?

- Não surgiu oportunidade.

- Quer oportunidade melhor que hoje? Ainda mais que ela está só recusando convite para dançar a noite inteira?

Suspirou e entendi o motivo. Não precisava nem ele ter me olhado.

- Se não estivesse tudo bem, não ia te incentivar. Anda, vai lá, tira ela para dançar, para quebrar o gelo.

Hesitante, ele foi falar com ela. Em poucos segundos, os dois já estavam dançando. A Lola tinha que vir me provocar:

- Não está nem com uma pontinha de ciúmes?

Neguei.

- Não acho que seria justo com ele. - Respondi. - Ainda mais que...

- Já sei. “Estou noiva do Alex.”

Assenti.

- É, mas vai mesmo valer a pena no final, casar com um cara que você enxerga como um ótimo amigo, mas ama mesmo outra pessoa?

- Se eu realmente enxergasse o Alex como amigo, por que ia aceitar o pedido dele?

- Vou te dizer o porquê. Por puro orgulho. Eu te conheço, Luiza.

Já ia começar uma discussão quando a Di e a Claire apareceram e nos arrastaram para a pista de dança. As duas tomaram o cuidado de nos deixar bem longe do Bill e da Seren.

Começou a tocar várias músicas que a gente gostava e dançamos todas, atraindo a atenção de quase todo mundo ali. Sempre imaginei que as pessoas quase quebravam o pescoço de tanto olhar para a gente justamente porque não conseguíamos evitar de dançar como se estivéssemos no bar. E principalmente, porque a gente sempre dançava como se não tivesse mais ninguém ao nosso redor. Chamávamos a atenção justamente por causa da confiança que era quase... Palpável.

Quando eu estava distraída, um cara chegou por trás e colou o corpo no meu. Começou a dizer certas... Coisas não tão comportadas e acabei perdendo a paciência.

- Na boa. Eu não estou a fim, eu tenho noivo e você está conseguindo me atrapalhar.

- Eu não sou ciumento... - Insistiu e consegui afastá-lo. As meninas perceberam e, logo, me ajudaram a colocar o folgado para correr.

Depois de algum tempo, fomos ao banheiro e, como só nós estávamos ali, então pudemos conversar um pouco:

- E aí? Vão para Reading este ano?- A Claire quis saber e justamente por não ter uma data definida para o casamento, dei de ombros.

- Seria legal se fosse uma espécie de despedida de solteira sua. - A Lola falou, batendo o quadril no meu.

- Ia... - Respondi. - Quem sabe?

As três me olharam, surpresas e acho que o choque foi maior ainda quando elas perceberam que eu estava falando sério.

- Sim, porque, por mais que futuramente possa acontecer que o Alex viaje na época e dê para a gente ir, ainda sim... - Comentei.

- Ainda sim, tinha que ser você. - A Di provocou e apertei sua cintura de leve.

- Eu estava pensando no que a Seren disse. - A Claire falou. - Daquela história toda de modelo e tal. O que será que houve para ela largar tudo?

Ninguém arriscou um palpite. Só eu:

- Vendo como as modelos quase se matam... Acho que foi toda uma mistura de fatores: A mãe dela deve ter enchido a paciência dela, que se rebelou. E ela tem jeito de quem gosta de comida. Acho que a ideia de ficar sem comer não deve ter sido lá tão atraente.

- Será? - A Lola ficou pensando e mais que depressa, falei:

- Deve. Mas isso é especulação da vida alheia e é um trem danado de feio.

As meninas riram do jeito que eu falei.

Depois que saímos do banheiro, a Claire e a Lola foram tomar mais um drink cada uma enquanto a Di e eu fomos dançar. Estava indo tudo muito bem, obrigada, até que eu me virei numa direção qualquer e tive uma surpresa: O Bill e a Seren estavam se beijando. Comecei a me sentir estranha e a Di deu logo um jeito de me tirar dali. Quando estávamos do lado de fora, eu respirei fundo, tentando me acalmar, mas não estava funcionando.

- Vamos fazer uma coisa. Hoje você dorme lá em casa.

- E o Tom?

- Ele não vai se importar.

Mesmo hesitante, concordei.

Passamos o resto da noite e por saber que eu podia confiar mais na Nadine do que na Nicola, contei para ela tudo aquilo que estava sentindo.

- Mas você está arrependida de ter incentivado os dois a ficarem?

- Não. - Respondi. - O Bill tem todo o direito de ser feliz e a Seren me parece ser a candidata perfeita.

- Mais perfeita que você... Impossível.

- Nadine, eu não vou terminar tudo com o Alex assim, de uma hora para a outra por causa de um capricho. Sim, porque é isso o que vai ser: Um capricho. Demorei todos esses anos para finalmente aceitar o pedido de namoro dele e, quando aceito... O Bill volta.

- E mexe com você.

- Não foi à toa que aconteceu tudo.

Me olhou, não conseguindo esconder a curiosidade e perguntou:

- Me responde sinceramente uma coisa?

Concordei, já sabendo o que ela ia querer saber.

- Acho que o meu remorso é justamente por não ter um pingo de arrependimento que seja. - Admiti.

- Já parou para pensar que o arrependimento de quando você perceber que está fazendo a coisa errada pode ser maior e pior ainda? - Perguntou. Era isso o que eu mais gostava da Nadine: Quando precisava brincar... Ela era uma das primeiras a se prontificar a fazer todo mundo ao seu redor morrer de rir das suas palhaçadas. Mas quando um conselho era necessário...

- Segundo você... Qual seria a coisa errada? Me casar com o Alex? - Questionei, sem emoção.

- Não. - Respondeu e ficou em silêncio por um instante. - A coisa errada pode ser entregar o homem que você ama de bandeja para a Seren.

quarta-feira, 30 de março de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 13º capítulo


But I will not renounce all hope
A partir do momento que eu te vi pela primeira vez
Toda a escuridão virou luz
Uma pintura impressionista
Pequenas partículas de luz

(Madonna - Masterpiece)

Luiza

Assim que o Bill saiu com a Seren, na primeira vez em que a vi, corri até o escritório do Stephen. Perguntei:

- Ela vai ser Coyote?

- Vai. Alguma oposição quanto à isso?

- Não. Eu mesma quero treiná-la.

Ficou desconfiado, claro.

- Por quê?

- Lembra daquilo que eu tenho, de bater o olho na pessoa e dizer se vou gostar ou não dela?

Concordou.

- O santo bateu?

- High five daqueles. E outra: eu estou com o Alex. Sem falar que só seria capaz de proteger o Bill se o meu santo realmente tivesse espancado o dela.

- Fechado. Vai ser sua pupila. E você se comporte, hein?

- Apesar de a tentação de ser uma garota má ser enorme... Vou deixar esse meu lado negro para o Alex.

- Ai meu Deus... Eu realmente prefiro te imaginar como a garota doce de sete anos atrás que cruzou aquelas portas e nem conseguia dançar sobre o balcão sem sentir vergonha.

Ri e falei:

- Carta branca para transformar a menina numa Coyote como nós?

- Liberada. Olha lá, hein, Luiza...

- Confia em mim. Eu sei exatamente o que estou fazendo.

Na semana seguinte, quando ela chegou com o Bill, esperei a primeira oportunidade para falar a sós com ela. Estava intimidada por mim e, assim que chegamos no camarim, avisei:

- Você provavelmente já sabe que sou a gerente daqui e você é uma Coyote em treinamento. Portanto, está em período de avaliação, do mesmo jeito que os lobinhos. Senta. - Apontei o sofá de couro vermelho que havia ali e ela prontamente obedeceu. Eu fui na direção de uma das cadeiras de maquiagem e falei: - Seguinte: Tenho uma reputação de ser durona aqui, mas quero que você saiba que se você precisar de qualquer coisa mesmo, nem é para pensar duas vezes antes de vir falar comigo. Não é para ficar com medo de mim porque as únicas pessoas que eu mordo são meu namorado e a filha daquela ruiva, a Nicola. Mas a Sophia é fofa e mordo de leve. Enfim. Dúvidas?

- Eu vou ter de dançar em cima do balcão?

- Por enquanto... Não. Mas quero fazer um teste com você depois.

- As roupas que eu tenho... Não acho que são muito...

- Sei... Vamos fazer o seguinte: Amanhã, na hora do almoço, você me encontra em Brompton que vamos fazer umas compras. - Abriu a boca para retrucar e falei: - Não senhora. Não aceito recusas porque vão ser um presente de boas-vindas. Aliás... Depois que a gente terminar, quero começar a te treinar para ser Coyote. Pelo que estou vendo, você é toda... - Estiquei os braços e as pernas, endurecendo praticamente todo o corpo. - e também um pouco tímida.

- O Bill falou que você também é.

- É. Mas o foco aqui é você. Não eu. Reparei em você outro dia e você é muito... - Falei, tentando achar uma definição boa. - Parece que você tem medo que os outros te vejam de verdade. Tem vergonha, eu diria. Estou errada?

Negou com a cabeça, que estava baixa e ela olhava para o chão.

- Tem quanto tempo desde a última vez que você namorou?

- Três anos. E desde então tive uns... Três encontros.

- É... Não vai ser mole, mas vou te ajudar. Uma das grandes vantagens de trabalhar como Coyote é justamente a autoestima que vai subir que é uma maravilha. - Riu e perguntei: - Posso então te ajudar com isso?

- Pode.

- Bem-vinda ao Coyote.

Ela sorriu largamente.

Naquela noite, depois que o cara deu em cima dela e o Bill falou com os seguranças para o tirarem dali, aproveitei e chamei a Seren num canto e perguntei:

- Está tudo bem?

Ela concordou com a cabeça e falei:

- Olha, infelizmente, esses caras são bem comuns por aqui. Acabam exagerando na bebida e acham que podem sair falando qualquer besteira. Quando isso acontecer, me avisa, ok?

Repetiu o gesto e voltamos ao trabalho.

No dia seguinte, assim que nos encontramos, ficamos um tempo andando e só olhando as vitrines e conversando.

- Sério, perdi a conta de quantas vezes as pessoas me chamam de Serena. - Ela contou.

- E você não tem um apelido?

Negou.

- Eu vou te arrumar um, pode ser?

Mesmo com medo, não se opôs. Quando estávamos numa das lojas que decidimos entrar, ela perguntou:

- O seu namorado é aquele cara, o... Ireland, não é?

Concordei.

- Ele estava no bar no seu primeiro dia de trabalho. - Respondi.

- Ah é?

- Foi. Vez ou outra ele vai.

Ela pareceu pensar um pouco e falei:

- Está um pouco óbvio demais que você está querendo me perguntar alguma coisa mas está sem jeito. Pode falar.

Engoliu em seco e perguntou:

- Ia ficar brava se eu... Tentasse alguma coisa com o Bill?

- Claro que não! - Respondi. - Eu te ajudo, se quiser.

Sorriu e retribuí.

Nem bem tínhamos entrado na Topshop e falei:

- Ah! Lembrei que tenho uma coisa para fazer e já venho. Pode ir começando a olhar as roupas.

Aproveitando que ela logo se distraiu, fui até a Harrod’s e, logo que cheguei à sessão feminina, encontrei o que procurava. Em seguida, fui até o subsolo. Assim que entrei na parte de vinhos, um rapaz, não tão mais velho que eu, de nariz empinado e me olhando de cima a baixo, se aproximou e disse, com ar de superioridade:

- Posso... Ajudá-la?

- O Roger está?

- Ele está em atendimento. Seria só com ele?

- Sim. Meu namorado fez a reserva de um vinho e eu vim buscar.

- A reserva foi feita no nome de quem? - Ele falou, se sentando à uma mesa e pronto para digitar.

- Alexander Ireland.

O idiota não segurou uma risada discreta e comecei a perder a paciência. Peguei o celular na bolsa e disquei o número do Alex. No terceiro toque, ele atendeu:

- Oi, linda. Estava pensando em você agora.

- Oi. Eu vim buscar o vinho aqui na Harrod’s... O Roger está ocupado e o vendedor que está me atendendo não quer acreditar no que eu estou falando...

- Deixa eu falar com ele por favor.

Entreguei o celular e, pelo que pude ouvir, o Alex passou uma descompostura daquelas no vendedor, que, assim que terminou de ouvir um monte, me devolveu o celular.

- Quando acabar as compras, eu vou lá para a casa, ok? - Perguntei, enquanto o vendedor registrava a retirada do vinho.

- Ok. Já estou quase acabando aqui também.

Nos despedimos e, quando estava prestes a pegar a carteira, fui avisada que o vinho já tinha sido pago. O vendedor, ainda tremendo e morrendo de vergonha, me entregou a embalagem e falei:

- Só uma dica, tá? Da próxima, não julgue um livro pela capa.

Bati no seu ombro de leve e saí.

Logo que encontrei a Seren na Topshop, vi que o Bill estava falando com ela. Antes de me aproximar, eu respirei fundo.

Depois de algum tempo, quando a Seren terminou de experimentar mais umas roupas que eu havia sugerido para ela, perguntou:

- O que eu estou fazendo de errado?

- Sendo teimosa. - Respondi. - As roupas que a gente usa no bar não são tão difíceis assim. É camiseta regata ou com manga curta, jeans e botas de salto. Ou aquelas de montaria. A blusa pode ter um detalhe de uma transparência, um decote não tão chamativo... É o que o povo fala que é ser sexy sem ser vulgar.

- Roupas justas?

- Preferencialmente as calças. - Falei.

- Pode ser uma camiseta mais... Solta?

- Depende. Teve alguma que você gostou?

Concordou.

- É larga, mas daquelas que deixa um ombro aparecendo.

Parei para pensar um pouco e falei:

- Talvez com um cinto mais grosso ou espartilho... É. Talvez role.

Quando ela entrou de novo no provador, a ouvi perguntar:

- O Bill não implicava com você por causa das roupas?

Dei uma risada fraca e respondi:

- Uma vez, ele cismou de comprar um vestido para mim. E um sapato. Quase bati nele na hora.

- E como era o vestido? - Ela quis saber e só então, notei que ele estava ali. Tinha trazido umas camisetas e duas calças e estava prestando atenção à nossa conversa.

- Hérve Leger.

- Mas... Não são aqueles vestidos justos... Bandagem, não é?

- É. - Respondi.

- Mas você não respondeu à minha pergunta. - Ela cobrou, saindo da cabine. Viu que ele estava ali e corou.

- Pode perguntar diretamente para ele. - Respondi e ela quase quis morrer.

Não muito tempo depois, quando tínhamos saído dali com algumas das roupas que o Bill e eu praticamente obrigamos a Seren a comprar, ouvi o meu celular e, logo que o pesquei de dentro da minha bolsa, atendi meio sem ver quem era. Tanto que me surpreendi ao ouvir a voz da Lee do outro lado da linha:

- Luiza? É a Lee. Tudo bem?

- Ah... Oi. Tudo bem. E você?

- Também. Escuta, estou tentando falar com o Alex, mas não estou conseguindo. Sabe dele?

- Falei com ele agora há pouco e me avisou que estava no trabalho.

- Pois é. Liguei para lá, mas ele já tinha saído. O celular não atende...

Olhei para o Bill e a Seren que estavam vendo a vitrine de uma loja e falei:

- Eu vou lá para Mayfair. Mas vou passar o recado logo que encontra-lo.

- Ok.

Agradeceu e nos despedimos. Me aproximei da Seren e avisei:

- Eu vou ter de ir agora.

- Sério? Aconteceu alguma coisa?

Olhei para o Bill, que estava interessado até demais na minha resposta.

- Pois é...

Para minha sorte, o próprio Alex me mandou uma mensagem e só mostrei o celular.

- Ah... Entendi. - Ela falou. - Bom, vai lá.

- Kaulitz, será que você pode ajudar a Seren pelo resto do dia?

- Claro. Aposto que vamos aproveitar muito mais do que você...

Ignorei a provocação justamente por ser o melhor que eu podia fazer.

Logo que cheguei em casa, o Alex estava no banho. Não resistindo, tirei toda a roupa e entrei no box, o surpreendendo.

Depois de um banho especialmente longo, finalmente saímos dali e, enquanto eu me vestia, ele ficou me observando.

- O que foi?- Perguntei.

- Você está chateada?

- Não... Teria algum motivo?

- Aquela garota que começou a trabalhar como Coyote...

- O que tem? Anda, Alex, fala logo de uma vez.

- Você não está com ciúmes dela com o Bill.

- Não, não estou.

Franziu as sobrancelhas e falei:

- Tá. Eu estou tentando entender o seu estranhamento com o fato de eu não sentir ciúmes da Seren.

- Porque eu vi como você ficou desde que o Bill veio de Los Angeles e toda e qualquer garota dava em cima dele no bar.

- Quer mesmo saber a verdade? - Perguntei e ele concordou. - Eu tenho namorado. E como ele não é o Kaulitz... Tudo o que posso fazer é torcer para que o Bill seja feliz com quem for. A Seren me parece uma boa pessoa e eu acho que talvez ela seja a garota certa para ele.

Me olhou, analisando e disse, surpreso:

- Você está falando sério!

- E por que eu mentiria? Estou com você, não com ele. Por mais que estejamos brigados, não tem por que desejar que o Bill coma o pão que o diabo amassou. Não tem sentido!

Ele estava chocado, fato. E eu sabia que ele não seria o único.

No dia seguinte, aproveitando que o Stephen tinha dito que estava pensando em fazer uma festa temática em março, as meninas e eu fomos até a casa da Nadine e, como ela tinha mandado fazer no porão uma sala para ensaiarmos ali (A Lola e eu também tínhamos feito uma nas nossas casas), chamamos a Claire, que tinha convencido o Stephen a deixa-la voltar às suas antigas funções de coyote, e a Seren, que estava tímida, num canto.

- Cansei! - Resmunguei, ao ver a novata morrendo de vergonha. - Seren! Vem cá.

Me obedeceu, tremendo mais que vara verde, e falei:

- Você tem que ser uma Coyote. Não uma Chihuahua. Os caras dão em cima de você, mesmo que continue com essa besteira de timidez.

- Eu tenho vergonha. Vejo vocês em cima do palco, dançando e com os caras babando por vocês...

- Do que você tem vergonha, exatamente? - A Nicola perguntou.

- De tudo. Eu sou desajeitada, acho que meu peito é grande demais, os quadris são estreitos demais, as pernas são muito finas...

Olhamos para a Nadine, que disse:

- Quer pernas mais finas que as minhas? E olha que os caras sempre babaram por elas...

- E tenho um problema sério que falta peito e sobra sutiã. - Falei e a Seren riu. - Mas você acha que isso importa? Cada cara é diferente. Cada um gosta mais de uma coisa, mas estão mais interessados é na mulher como um todo.

- Alex andou te mimando? - A Claire perguntou e concordei.

- Aprontou alguma. - Respondi, brincando. - Até tenho cá minhas suspeitas, mas... Não vou falar nada.

- O que ele fez? - A Lola logo quis saber, interessada até demais para o meu gosto.

- Acho que ele andou gastando um pouco demais em um vinho... - Comentei. - Mas a questão não é o Alex, mas sim, a Seren.

Fizemos com que ela dissesse tudo que a deixava insegura. E ainda conseguimos descobrir que ela se achava feia. Sendo que não era verdade. Ela chamava a atenção, verdade fosse dita.

- Eu sugiro uma noite só do clube da Luluzinha. - A Nadine falou. - A gente dá um perdido nos meninos e vamos à uma boate. Vamos ver quantos caras chegam em cada uma. Se a Seren receber mais de dez elogios... - A Seren se encolheu frente à possibilidade. - Vai deixar a gente te transformar. E sem reclamações, fechado?

- Vocês vão perder. - Ela retrucou e estávamos confiantes demais, verdade fosse dita. E estávamos ansiosas para começar.

Na quarta-feira, quando eu estava terminando de almoçar com o Alex, o meu celular tocou e vi que era o número do arquiteto que estava controlando a reforma da minha casa. Atendi:

- Oi?

- Luiza? Estou te ligando para avisar que está tudo pronto.

- Ah é? E quando posso fazer a mudança?

- Amanhã mesmo, se quiser. O Alex já chamou um pessoal para cuidar da limpeza e eles já estão chegando.

- Ai, que bom. Obrigada pelo aviso.

Agradeci e me despedi do arquiteto e, quando desliguei, olhei para o Alex e falei:

- Quer dizer então que você sabia que a minha casa já estava pronta, é?

Sorriu e disse:

- E já contratei o serviço de mudanças. Tem problema de eu ter marcado para domingo?

Neguei; Logo que tinha ido morar com o Alex em Mayfair, tinha empacotado tudo e por isso mesmo seria mais fácil.

- Eu... Fiz um pequeno favor ao Kaulitz. - Ele avisou.

- Que favor?

- Dei um jeito de a casa dele ficar pronta rápido também.

Ok. Por essa eu realmente não esperava.

- Eu quero te propor uma coisa. - Falou, pegando na minha mão. Enrijeci, já imagi-nando certas coisas e ele continuou: - A gente podia fazer um almoço no domingo, para comemorar seu aniversário, o que você me diz? Podemos chamar todo mundo e não se preocupe com o que vai ser servido; Pedi para minha mãe cuidar de toda essa parte e só falta mesmo você concordar.

- A casa vai estar uma bagunça.

- Posso muito bem contratar aquele pessoal que organiza tudo.

Ri fraco e disse:

- Sorte sua que todo mundo sabe como eu sou bagunceira. - Me inclinei um pouco sobre a mesa e roubei um selinho demorado.

- E então? Posso fazer o convite formal para todo mundo? - Ele perguntou, depois que saímos do restaurante.

- Eu faço isso. - Respondi.

No dia seguinte, quando as meninas e eu arrastamos a Seren para um shopping, a Di aproveitou que as outras estavam mais afastadas de nós e quis saber:

- Até quando você vai ficar brigada com o Bill?

- Depois do que falei com ele, era para o Bill nem olhar mais na minha cara.

- "O amor é como a guerra; fácil de começar, e muito difícil de terminar.".

- A prova disso é a guerra dos cem anos.

- Vai mesmo esperar um século inteiro para voltar às boas com ele? Está realmente um saco sair com vocês dois separados. Pior é o concurso para ver quem tem a maior tromba.

Ri fraco e perguntei:

- O que você sugere que eu faça?

- Liga para ele. Pede desculpas pelo que você disse. E conversa francamente. Não estou falando para você simplesmente dar um pé na bunda do Alex e ir correndo para a cama do Bill. - Franzi as sobrancelhas e ela fez uma careta também. - O que eu estou dizendo é para você não deixar passar essa chance de ter pelo menos a amizade dele.

Logo, fomos interrompidas pela Claire, que nos arrastou até o provador para darmos palpites nas roupas que ela e a Lola tinham escolhido para a Seren.

Naquela noite, aproveitando que o Alex ainda não tinha chegado, hesitei antes de pegar o celular. Quando finalmente reuni coragem... Pensei por um bom tempo no que ia escrever. Acabei optando pelo caminho curto e direto:

Eu queria conversar com você. O que vai fazer amanhã?

Respirei fundo e apertei o botão para enviar a mensagem. Em seguida, virei o telefone com a tela virada para baixo e aproveitei que a Vivi pulou em cima da cama para coçar atrás das suas orelhas. Ela se assustou com o tremor do aparelho e, sabendo que era uma resposta, li:

Sobre o que quer conversar comigo?

Ai, Kaulitz. Perdi a paciência e liguei para ele. Atendeu quase de imediato e falei:

- Antes de qualquer coisa, não me interrompe, por favor. Eu quero conversar com você porque não está dando mais para continuar assim. Reconheço que errei em ter fala-do aquilo com você e isso de ficar um virando a cara para o outro é... Irritante.

Ele ficou em silêncio.

- Me dá um bom motivo para não continuar te ignorando.

Filho da mãe.

- Eu... - Comecei a dizer, um pouco hesitante, mas, respirei fundo antes de respon-der: - Eu sinto a sua falta. Mais do que deveria.

Outra pausa, tão grande quanto a primeira.

- Onde? - Perguntou, suspirando.

- Tanto faz. O importante é a gente conversar e acabar essa briga porque eu não estou mais aguentando ficar nisso.

- Bom, foi você quem quis...

Suspirei e ele perguntou:

- A gente pode almoçar amanhã?

- Pode, claro. Tem um restaurante novo aqui perto e...

- Tem? Eu nem sabia...

Hesitei e respondi:

- Então. Eu... Acho que você percebeu que saí aí do prédio. Estou temporariamen-te em Mayfair.

- Ah... Entendi. Bom, não tem problema. Quer que eu te busque ou você passa aqui?

- Eu te busco. Uma hora está bom?

Concordou e nos despedimos, ainda mais que eu ouvi o barulho das chaves do Alex.

Então, no dia seguinte, pontualmente à uma da tarde, estava esperando pelo Bill dentro do carro e mexendo no celular, distraída. Estava trocando mensagens com a Nadine sobre a primeira mudança drástica que faríamos com a Seren quando ouvi umas batidas leves no vidro da janela do passageiro. Olhei para o lado e destravei a porta para o Bill entrar. Para a minha surpresa, ele me cumprimentou com os beijinhos no rosto e terminei de digitar a mensagem para a Di, mandando em seguida.

Logo que chegamos ao restaurante, que era italiano, o Bill deu uma boa olhada ao redor e parecia impressionado. Falei com o garçom:

- Pode me trazer, de entrada, essa porção de saltimbocca, o prato principal pode ser o cannelloni de ricota com tomate seco.

O Bill pediu as mesmas coisas, exceto a entrada. Quando o prato principal foi trazido, começamos a conversar e ele escutou tudo em silêncio o que eu tinha para dizer. Fiz o mesmo quando ele falou, inclusive, o que estava sentindo. Por fim, conseguimos nos entender.

Quando o garçom trouxe as sobremesas, o assunto já tinha mudado de rumo e o Bill comentou:

- A Seren está começando a mudar.

- Ah é? Vocês já saíram finalmente?

- Não. Sair no meio da semana é até... É ruim. Não dá para aproveitar como se deve.

Tive que concordar.

- Você podia me ajudar com ela.

Franziu as sobrancelhas e, logo, mudou a expressão, claramente pensando besteira.

- O Alex finalmente aceitou que você fizesse... - Começou a dizer e falei:

- Já fiz. Mas eu não quero sua ajuda com a Seren para isso. Quero que você me ajude fazendo com que ela ceda um pouco às ideias que eu e as meninas temos para que ela ganhe mais confiança e a gente consiga fazer com que ela dance sobre o balcão.

- Você realmente fez um ménage e o Alex concordou?

- Justamente porque era uma mulher, não outro cara.

- E aí?

- Aí que você está sendo muito intrometido. Sossega. - Bati de leve no seu ombro e ele riu.

- Ainda acho estranho que ele tenha aceitado de boa te dividir com outra mulher...

Franzi as sobrancelhas e comentei:

- Do jeito que você falou, até parece que tenho um caso com uma garota.

E para quê eu fui falar aquilo...

- Você se comporte. - Avisei. - Estamos em um lugar público e em plena luz do dia!

- Mas é você quem tá estimulando... Isso.

Suspirei e lembrei de uma coisa.

- A reforma de lá de casa acabou.

- Ah é? E quer fazer uma comemoração? - Perguntou e na mesma hora entendi o que ele quis dizer.

- Mas você quer parar? Eu quero sim comemorar, mas é o meu aniversário. No domingo e vou chamar o pessoal. Inclusive a Seren.

- Vai ser na sexta-feira, não é?

Assenti.

- E não vai fazer nada no bar? Quer dizer, acho que o Stephen não vai se importar se você tirar folga...

- Já pedi folga outro dia e não quero ficar abusando demais. Então, na sexta-feira... Nada de comemoração, ainda mais surpresa, entendido?

Concordou, se fingindo de bom moço.

Depois que cada um foi para um lado, foi estranho. Só então me dei conta do quanto senti falta dele durante aquele tempo todo em que ficamos sem nos falar direito.