quarta-feira, 18 de novembro de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 35º capítulo



Where there is desire there is gonna be a flame

Engraçado como o coração pode iludir
Mais do que apenas algumas vezes
Por que nos apaixonamos tão fácil?
Mesmo quando isso não é certo

(Pink - Try)

Bill


Respirou fundo e disse, entendendo tudo:

- O teste não era meu.

Assenti, sentindo uma pontada de desapontamento. Era estranho. Quer dizer, eu não deveria me sentir daquela maneira, uma vez que a Luiza provavelmente ia voltar para Londres, não importando o quanto eu tentasse fazê-la ficar.

- De quem era? - Perguntei, depois de um longo tempo em silêncio.

- Nicola. Não conta nada para ninguém, porque o Charlie vem semana que vem e quer pedi-la em casamento. A Di e eu vamos ajudar com tudo e ele ainda não sabe.

Concordei. Dei uma desculpa qualquer, depois daquilo, e fui me trancar no estúdio.

Marquei uma consulta com o terapeuta no dia seguinte e já avisei que era só comigo. Assim que me recebeu, indicou o divã, como sempre, e logo que quis saber o motivo de eu ter feito aquilo, respondi:

- Eu estou confuso. Ontem a Luiza foi na casa das amigas e, como ela estava demorando, resolvi ir lá e busca-la. Assim que ela apareceu, estava segurando um teste de gravidez e disse que o terceiro havia dado positivo.

O terapeuta concordou em silêncio; Acho que ele não esperava que estivéssemos nesse nível de relacionamento. Quer dizer, era de se esperar, não é?

- Só que, enquanto eu ainda estava tentando assimilar tudo, ela me levou para a casa e disse que era o teste de uma das amigas. Na mesma hora, senti... Frustrado. Acho que... - Parei para pensar no que ia dizer. - Eu sei que, acabando o prazo, ela não vai querer ficar em Los Angeles. Pensei que, se ela realmente estivesse grávida, pudesse mudar de ideia. Talvez por isso que eu quis tanto que fosse verdade.

Ele assentiu.

- Vocês estão realmente gostando um do outro, não é?

Concordei em silêncio.

- Acho que ela é do tipo que não gosta de qualquer um e, quando gosta, é para valer. Aquele cara com quem ela ia namorar... Bom, dá para ver que ela gosta dele, mas é como um amigo. No máximo, um irmão. E, pelo que já ouvi as amigas dizendo, comigo é diferente. Ela não diz “eu te amo” com frequência, mas eu sei disso por algumas pequenas coisas que ela faz e que acha que eu não reparo. Como por exemplo, fazer o jantar com o máximo de capricho e dedicação. Me acordar do jeito mais carinhoso possível. Esse tipo de coisa, sabe?

Concordou.

- E você?

- Tento fazer a mesma coisa. A Luiza... É diferente de qualquer outra garota que eu conheci. Não só por causa do que ela faz, mas por causa da personalidade. É verdade que ela consegue me irritar como ninguém, mas... Toda vez que eu saio, fico ansioso para voltar logo para a casa e vê-la. Seja cozinhando ou até mesmo vendo Doctor Who. Vou sentir falta dela, verdade seja dita.

O terapeuta tirou os óculos e perguntou:

- Posso te dar um conselho? Não como terapeuta, mas como homem.

Concordei.

- É inegável que você está apaixonado por ela. Fala na Luiza como se tivesse ganho na loteria. Sendo assim, faz com que ela queira ficar em Los Angeles depois da audiência. Uma garota como ela não se acha em qualquer esquina. Sem falar que você já tem concorrência e acirrada, pelo visto.

Um tempo depois, estava indo de volta para a casa e pensando em tudo o que o terapeuta disse. Meu celular começou a tocar e procurei um lugar para parar e atender. Peguei o aparelho sem ver quem era e falei:

- Oi.

- Kaulitz, está tudo bem? - Ouvi a Luiza perguntando do outro lado da linha. Respirei fundo e respondi:

- É... Um pouco. Estou indo para a casa e aí a gente se fala.

- Ok... Enfim. Te liguei para avisar que já estou preparando o jantar. Demorei um século para conseguir achar uma receita que desse para fazer uma variação vegetariana.

Apesar de tudo, consegui sorrir.

- E achou?

- Não sei como. Quer dizer, se você abrir uma exceção só desta vez e comer frango... Vai ser melhor.

- Tá. Eu abro essa exceção.

Podia ver seu sorriso largo. E seus pulinhos.

- Nesse caso... Ah! Vai te preparando porque fiz uma sobremesa... Mas uma sobremesa digna. Só não vai me inventar de bancar o Adolfo Frederico da Suécia, hein?

- Quem?

- Quando vier, te explico. Agora vem logo que já está quase tudo pronto.

Não demorei mais tempo. Logo que cheguei, ouvi uma música animada vinda da cozinha, junto da voz da Luiza e, assim que me encostei no batente, a vi dançando. Usava um vestido laranja e, não para a minha surpresa, estava descalça. O vestido tinha um decote enorme nas costas e se não bastasse só isso, ela ainda tinha preso os cabelos num coque alto. Não reconheci a música de imediato, mas a Luiza estava cantando do jeito mais alegre possível. Era contagiante. Assim que me notou ali, perguntei:

- Não está com frio?

Negou.

- Está doente?

Fez língua.

- Estou mexendo o tempo inteiro e por isso que não estou sentindo o frio.

Continuei olhando para ela enquanto fazia tudo. Depois que nos sentamos à mesa, algum tempo depois, como sempre, o macarrão que havia feito estava delicioso.

- Onde você foi hoje? - Quis saber. Respirei fundo e admiti:

- Ao terapeuta. Tinha uma coisa que eu precisava conversar com ele.

Assentiu. Sabia que estava curiosa e, talvez por isso, decidi não tortura-la:

- Falamos sobre você.

Ergueu o olhar, arqueando a sobrancelha.

- Espero que não esteja insatisfeito.

- Então... Na realidade... Estou.

Me olhava fixamente.

- Toda essa situação, de ter a pressão da audiência do juiz e saber que você vai voltar para Londres assim que conseguirmos o divórcio é o que me deixa insatisfeito.

- O que quer que eu faça? Largue toda uma vida em Londres para ficar com você?

- Já fez isso quando saiu do Brasil. Qual é a diferença em fazer isso para ficar aqui?

Respirou fundo e limitou-se a dizer:

- Podemos falar sobre isso em outra hora que não seja quando estamos comendo?

- Não, não podemos. O que eu tenho que fazer para te convencer a ficar? Eu sei que não é uma coisa fácil, mas não é impossível.

Hesitou e disse:

- Percebeu que a gente costuma brigar um bocado? O que te garante que, se eu ficar, vai ser diferente?

- O que eu sinto por você. É isso o que me garante que vai ser diferente. Você não é uma garota comum, Luiza. Se eu me casei com você em Las Vegas e não movi uma palha para me divorciar de você no dia seguinte, é porque tem motivo. E forte o suficiente para que eu queira que você não vá embora. Forte o suficiente para ir atrás de você, não importa se eu tiver que atravessar um oceano inteiro ou até mesmo o mundo.

Me olhava. Apoiou o garfo no prato e, depois de limpar a boca com o guardanapo, o recolocou sobre a mesa e já ia levantando quando a impedi.

- Não desta vez. Sempre que te confronto, você foge. Hoje, vai ficar sentada aqui e me ouvir. Se quiser, pode falar depois que eu terminar.

Se sentou e me olhava fixamente.

- Por que você é assim? Sempre que damos um passo adiante, você retrocede dois. Foi assim depois que a gente transou em Nova Iorque, é assim quando eu te peço para não voltar para Londres... Qual é o problema, afinal de contas? É medo de tentar e não dar certo? Se for isso, pode ter certeza que só vai descobrir se a gente tentar e ver o que acontece. Eu tento te entender, eu juro. Mas não consigo. Nunca sei o que esperar de você a maior parte do tempo e honestamente, isso me tira do sério.

Travou o maxilar e sabia que ela não estava gostando daquele rumo que a conversa estava tomando.

- Qual é a dificuldade em entender e aceitar que eu posso estar realmente gostando de você e não quero te perder? - Perguntei, já um pouco irritado. - Tive uma experiência ainda mais traumatizante com a Lydia do que você teve com o Alex e, mesmo não sendo fácil, me deixei envolver com você. Não estou falando só por causa do que você fez com a banda, mas por você mesma. É por causa da sua cabeça extremamente dura, do seu gênio insuportável, do seu jeito terrivelmente mimado, da sua desordem absurda... É principalmente por causa de que, quando você quer, consegue ser a pessoa mais... Incrivelmente carinhosa do universo. É, talvez, a garota mais... Extraordinária que eu conheci. Por todas essas e muitas outras razões que eu não quero que você volte para Londres depois da audiência com o juiz.

Ela me olhou e falei:

- Iza, eu te amo demais para te deixar ir.

Hesitou e, numa rapidez surpreendente, se levantou e, sem dizer uma única palavra, foi até o andar de cima. Bufei e, antes que pudesse me dar conta, fui atrás dela. Assim que entrei no seu quarto, claro que ela tentou me expulsar, mas não conseguiu.

- Me deixa sozinha, por favor! - Pediu e me neguei.

- Não vou. Principalmente porque sei muito bem que não é isso o que você quer.

- Fica aí. Eu saio. - Disse, mas a interceptei no caminho para a porta. A abracei firmemente e, apesar de lutar contra, a beijei. De início, foi resistente, mas não demorou muito para que cedesse e correspondesse. Senti sua mão se enroscando nos meus cabelos e os puxando de leve. Não demorei muito a começar a guia-la até a cama. Ainda com a minha mão nas suas costas, a deslizei em busca do zíper do seu vestido. Não achei e ela riu fraco. Se separou de mim e passou a peça pela cabeça. Ao vê-la ali... Só de calcinha e parada na minha frente, senti a excitação aumentar um pouco mais e, de repente, ela se aproximou de mim de novo e começou a me despir. Quando ela tirou a minha calça e levou a cueca junto, a urgência dela foi algo tão descontrolado que, quando a Luiza voltou para perto de mim, perguntei:

- Vai me odiar se eu pular as preliminares hoje?

- Não. - Respondeu, fazendo uma leve careta. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela tirou a calcinha e a observei por alguns instantes. Quando passou perto de mim, a peguei pela cintura e fiz com que se deitasse na cama. Fiquei por cima dela e, depois de colocar a camisinha, comecei a penetrá-la, me movendo lentamente e só de provocação. Depois de alguns minutos em que começava a investir um pouco mais rapidamente, senti que ela tentava corresponder como podia. De repente, tive uma ideia e saí completamente de dentro dela. Sem entender, me olhava e inverti as posições, a deixando por cima. Passei uma das suas pernas por cima do meu corpo e ela se apoiou um pouco abaixo do meu quadril. Deixou as unhas deslizarem pela minha barriga e falei:

- Isso é um castigo porque eu não quis fazer as preliminares?

Deu um meio sorriso e disse:

- Vou te dar o privilégio da dúvida.

Se mexeu e, em seguida, sua mão se fechou em torno do meu sexo, o guiando para dentro dela. Em seguida, pegou as minhas mãos e as pôs sobre a sua cintura e começou a se mexer. A visão que eu tinha do seu corpo era a melhor de todas, principalmente quando ela se segurou nos próprios tornozelos e tombou a cabeça para trás, depois de algum tempo. Uma das coisas que eu mais gostava nela nessas horas era o rubor que tomava conta do seu rosto; Fazia com que ficasse ainda mais encantadora e irresistivelmente inocente. Conforme ela ia rebolando cada vez mais rápido, eu sentia que não ia aguentar por mais tempo e foi quando seu olhar encontrou o meu. Não via mais a mulher com ar de moleca com quem eu havia me casado em Las Vegas. Por pior que a comparação pudesse soar... Eu via era a coyote que rebolava em cima de um balcão de bar em Londres, quase minando o juízo de todos os frequentadores dali, dançando da maneira mais provocante de todas. E só para piorar ainda mais a minha situação, ela mordeu o lábio e sorriu. Isso tudo ainda me olhando fixamente enquanto rebolava no meu colo. Como ela ainda tinha a coragem de dizer que não conseguia ser sensual?

Quando estava muito perto mesmo de atingir o clímax, ela fez uma careta que eu sabia muito bem o que significava e, sem deixar que ela se separasse de mim, fiz com que se deitasse de novo na cama e foi a minha vez de comandar. Não resistindo, segurei seus pulsos acima da sua cabeça enquanto finalmente a beijava. Durou pouco, é verdade. Mas foi o suficiente para que eu a sentisse se tensionando e relaxando quase imediatamente, enquanto abria a boca em um “O” e não emitia som algum; Só um ofego longo antes de novamente cravar os dentes no lábio inferior, que àquelas alturas, estava ainda mais vermelho que de costume. Quando foi a minha vez, escondi meu rosto na base do seu pescoço e inspirei, sentindo que ela cravou as unhas no meu ombro.

Depois de alguns breves instantes em que nos recuperávamos, senti que ela deslizava os dedos pelos meus cabelos e aquilo, querendo ou não, estava me dando um pouco de sono. Relutante, tive que me separar dela e, ao voltar do banheiro, fiquei a observando, deitada na cama e quase pegando no sono também. Me deitei ao seu lado e, em seguida, a puxei para mais perto, fazendo com que encostasse a cabeça no meu peito e eu a abraçava de lado.

- Eu estava pensando... - Disse, quando comecei a acariciar sua cintura; Passei a mão sob o lençol e, portanto, tocava sua pele diretamente. - você falou com o terapeuta a respeito da gravidez da Lola?

Resmunguei uma resposta positiva.

- Foi por isso que você marcou a consulta? Eu vi que você ficou decepcionado.

- É. Fiquei. Quis tentar entender o motivo.

Percebi que se endireitou e me olhava. Estava apoiada nos cotovelos e ainda mais irresistível do que nunca.

- Se as circunstâncias fossem outras, pode apostar que eu não ia ter problema nenhum em tentar ter um filho com você. - Disse. De algum modo, pude ter certeza do que estava falando.

- E o que te impede de ficar aqui e tentar?

Suspirou e disse:

- Já te falei mil vezes. A minha vida é em Londres, apesar de tudo. Nunca me imaginei morando em um lugar como Los Angeles.

- E se eu me mudar para Londres?

Me olhou sem acreditar no que eu estava dizendo.

- Kaulitz, não faz isso. - Disse. - Sua vida é aqui. Não tem o menor sentido em você deixar tudo para começar do zero e principalmente por minha causa.

- Não fiz isso quando me mudei para cá? Tudo bem que ainda tinha a casa da minha mãe e toda a minha família ainda está na Alemanha. E, se não estou enganado, você também fez isso.

- É por isso mesmo que estou questionando essa sua ideia de largar tudo. E diferente de você, a minha casa em Londres foi a primeira que era só minha, sem ter minha mãe ou a minha avó por perto. - Respondeu.

- Mete uma coisa nessa sua cabeça dura, Luiza? Eu não pensaria duas vezes em largar tudo para ir atrás de você. Eu sei que não vai ser fácil me adaptar à um país diferente de novo, mas não me importa.

Respirou fundo e disse, pondo fim à discussão:

- Como já te falei uma vez... Vamos esperar a audiência do juiz e ver no que dá. Até lá... Muita coisa pode acontecer.

Ela que não pensasse que eu ia dar o braço a torcer assim tão facilmente...

Na tarde seguinte, quando estava na casa do Tom, ele percebeu que eu estava chateado com alguma coisa e perguntou:

- O que aconteceu?

- A Luiza está teimando comigo.

- Tá. E qual é novidade nisso? - Quis saber, rindo.

- Ela quer porque quer voltar para Londres sozinha. Não aceita ficar aqui e muito menos aceita que eu vá para lá com ela.

- Será que ela não tem medo do que você pode aprontar por causa do Alex?

Neguei com a cabeça.

- Por mais que eu sinta ciúmes dele, ainda sim... Vou ter de aceitar a presença dele sempre por perto.

- Pois é. Sabe muito bem que a Luiza não é do tipo que aceita mandos e desmandos, ainda mais proibições.

Respirei fundo e concordei.

- Pior é que ela é capaz de, justamente, fazer o contrário, só de birra.

Tomou um gole de cerveja e perguntei:

- Nadine é assim?

Sorriu e disse:

- É pior. Ainda mais imprevisível que a Luiza. Apesar de tudo, não vai achando que a gente não briga.

- Vocês brigam? - Perguntei. - Eu achava que vocês passavam era o tempo inteiro na cama...

Riu e disse:

- Nadine tem aquele jeitão de quietinha, mas quando se irrita... O temperamento dela vira o pior imaginável.

Dei um sorriso fraco e fiquei pensando por um tempo. Era tão estranho pensar que a Nicola estava grávida, mas a Luiza não. Acho que se a minha mulher realmente estivesse esperando um filho meu, ia ser realmente estranho.

- O que ela te falou? - O Tom me tirou dos meus pensamentos.

- Quem?

- A Luiza, quem mais seria? Você está pensativo demais e eu sei que é por causa dela. O que houve?

Respirei fundo e contei:

- A Nicola está grávida. Quando eu descobri, achei que fosse a Luiza. E ela falou que tentar por agora é algo fora de cogitação.

Concordou lentamente.

- Se ela está teimando tanto... Vale mesmo a pena tentar ter um filho agora?

Suspirei, negando e ele disse:

- E honestamente? Eu acho que, se ela está tão determinada a ir embora depois do prazo do juiz, não vai ser um filho que vai prendê-la aqui.

Encarei meu próprio copo e admiti:

- Sabe o que é o pior de tudo? - Olhei para ele, que retribuiu. - Descobri que eu amo a Luiza.

Me olhava chocado.

- Já falou com ela?

Concordei.

- E aí?

- Aí que não falou nada. Pelo menos, não que fosse o esperado.

- Honestamente, eu não sei quem é pior. Não é à toa que se casaram e não duvido que, se o juiz conceder o divórcio, vocês são capazes de avançar no coitado.

Ri fraco e, por um instante, imaginei a cena: Todo mundo reunido no tribunal, a Luiza pulando no juiz e batendo nele. Não segurei o riso e o Tom disse:

- Pelo menos de uma coisa você não pode reclamar.

Olhei para ele.

- Se vocês desistirem do divórcio e continuarem juntos, sua vida nunca vai ser tediosa.

Sorri.

Mais tarde, quando cheguei em casa, para a minha surpresa, a Luiza não estava fazendo o jantar, como sempre. Estava deitada e, depois de entrar no seu quarto, tomando o cuidado de não fazer qualquer ruído, me aproximei da cama e vi que estava dormindo. Decidi que ia pedir pizza naquela noite e assim que ela acordasse. A cobri e, em seguida, fui até o estúdio, terminar uma música. Quando tinha começado a trabalhar na terceira, ouvi umas batidas na porta e falei:

- Entra.

A Luiza veio e fiz sinal para que viesse até onde eu estava e, quando estava perto o bastante, a pus no meu colo. Passou as mãos em torno do meu pescoço e segurei seu rosto. Acariciei sua bochecha e ela foi lentamente fechando os olhos e a puxei para mais perto, começando a beijá-la. Adorava a sensação da sua boca na minha e, depois de alguns minutos, era impossível manter as minhas mãos concentradas num único ponto do seu corpo. Logo, a vontade de apertar, acariciar, beijar... Fazer o que bem quisesse, sempre ficava cada vez mais e mais incontrolável e eu simplesmente não conseguia entender como conseguia parar.

Sendo assim, apertei a sua cintura e a puxei para mais perto enquanto pedia para intensificar o beijo. Assim que abriu a boca um pouco mais, não consegui resistir por mais tempo. Ela começou a se mexer, mas, do nada, parou de me beijar. Abri os olhos e a vi resmungando.

- O que foi?

Olhou ao redor e viu algo. Se levantou e saiu me puxando junto até o sofá de couro preto que eu tinha ali. Fez com que me sentasse ali e voltou a ficar no meu colo, desta vez, virada de frente para mim e com uma perna de cada lado do meu corpo. Recomeçou a me beijar e, justo quando consegui soltar uma das suas mãos e a guiava para um determinado ponto... O telefone tocou, estragando tudo. Nós dois bufamos e ela se levantou de um salto, indo atender:

- Funerária Bom descanso, sua morte é a nossa alegria, boa noite?

Ela realmente falou aquilo?

- Tudo bem. Boa noite.

E desligou.

- O... Que foi isso? - Perguntei, dividido entre a surpresa e a vontade de rir.

- Uma bela cortada de assunto para alguém que queria vender um plano de celular. - Respondeu, sorrindo. - Nunca tive dessas sacadas, mas enfim... Onde estávamos mesmo?

Acho que nem preciso dizer o que aconteceu depois, não é?

No dia seguinte, quando estava no estúdio, vendo como andavam as obras, recebi mais uma daquelas mensagens anônimas. Desta vez, sugeria de levar a Luiza ao cinema. Quase imediatamente, o J.J. me ligou e aproveitei a oportunidade para pedir um favor a ele:

- Lembra daquele cara que a gente contratou para descobrir um número de telefone?

- Lembro... Aconteceu alguma coisa?

- Já tem compromisso para o almoço? - Perguntei e ele aceitou o meu convite. Depois de combinar tudo, nos despedimos e encerrei a chamada a tempo de o engenheiro vir falar comigo.

Quando estava perto da hora combinada com o J.J., fui até o estacionamento e peguei o carro, indo até o prédio onde o meu amigo trabalhava. Logo que chegamos ao restaurante, o mâitre nos indicou uma mesa e anotou os pedidos. Depois que trouxe os pratos, expliquei toda a situação para o J.J., que perguntou:

- Tem certeza que não pode ser uma das amigas dela?

- Perguntei para a Nicola, que me garantiu que ela e a Nadine têm números aqui em Los Angeles. E lembro que as duas já me ligaram mais de uma vez e apareceu o número das duas. Não tenho a menor ideia de quem possa ser.

- É alguém que gosta da Luiza e quer que você fique com ela.

Nesse instante, me ocorreu uma coisa.

- Que foi? - Perguntou.

- Georg. Ele falou que ia me ajudar... Mas não entendo o motivo de usar número restrito.

- Vai ver ele ficou com medo de ela ver...

Decidi tirar aquilo a limpo naquele instante mesmo e liguei para o meu amigo, que negou firmemente que era ele quem mandava as mensagens.

- Nada?- O J.J. quis saber. Neguei com a cabeça. - Me empresta o celular.

Entreguei o aparelho e ele gravou o número do hacker, que era amigo dele. Terminamos de almoçar, sendo que o J.J., claro, quis saber como a Luiza estava e fez um monte de perguntas.

Quando estava chegando em casa, no final da tarde, havia um bilhete preso à porta da geladeira e a Luiza avisava que estava na casa das amigas. Como estava com um pouco de fome, decidi ver o que tinha para comer e, justo quando ia colocar um pouco de macarrão para esquentar no micro-ondas, o telefone tocou. Peguei o aparelho, sem ver quem era, e atendi:

- Oi.

- A Luiza está em casa? - Ouvi uma voz masculina do outro lado e estranhei.

- Não, ela não está. Quem é?

- Ainda bem. Quero falar com você por um instante. - Reconheci o sotaque e o dono da voz: Alex.

- Pode falar. Estou ouvindo. - Respondi entredentes.

- Preciso que me faça um grande favor. E a Luiza não pode nem desconfiar do que estou te pedindo.

- Tudo bem.

Me contou o que queria e acabei tendo que concordar.

Depois de algum tempo, já tinha desligado o telefone e estava comendo o macarrão quando a minha mulher chegou.

- Já ia te sugerir de a gente sair para comer alguma coisa...

- Se quiser, ainda está em tempo... - Respondi, sorrindo.

- Ah é? Bom saber... E para de atacar esse pobre coitado desse macarrão. - Praticamente mandou e tive que guardar o pote de novo na geladeira. Acabamos indo comer uma pizza mesmo e, enquanto eu terminava de mastigar um pedaço, ela me perguntou:

- O que o engenheiro falou sobre o estúdio?

- Está indo tudo conforme o planejado e não acha que vai demorar mais tanto assim para a reforma acabar. - Respondi, depois de engolir.

- Ai, que bom.

- E o que você foi fazer lá nas meninas?

- Lola está planejando contar para o Charlie sobre a gravidez durante um jantar. E ela pediu a nossa ajuda. E quando falo nossa... Você está incluído. E o Tom também.

- Certeza? - Perguntei inseguro e ela riu.

- Tinha que perguntar isso era para a Lola, não para mim. - Respondeu, colocando mais um pedaço na boca.

Depois dali, me pediu para irmos à Bel-Air e estranhei. A sua resposta foi a de que estava curiosa para ver como era aquela parte da cidade.

- Um monte de mansões numa colina. - Respondi. Estreitou os olhos e acabei concordando em leva-la até lá.

Quando paramos o carro um pouco, perguntei:

- Por que queria vir aqui?

- Curiosidade. Já sabia das mansões, mas queria ver como eram.

- Decepcionada?

Negou com a cabeça.

- Imagina o quanto esse povo que mora aí não deve ter o nariz em pé? Credo.

Fez uma careta e ri.

- Um dia ainda te levo no letreiro de Hollywood.

Sorriu e nesse instante, tive a impressão de que ela ficava muito mais satisfeita com esse tipo de coisa do que, por exemplo, ir à lugares caros. Seria piegas demais dizer que passei a admirá-la ainda mais?


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