domingo, 13 de outubro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 7º capítulo




Porém, eu tenho que pensar duas vezes
Antes de entregar meu coração
Eu conheço todos os jogos que você joga
Porque eu os jogo também


(George Michael - Faith)

Bill

Durante toda a manhã de sábado, não tive nem sinal da Luiza. Sabia que ela e a Claire saíram e, por isso não me preocupei tanto assim. Como sempre acontecia, a Dani apareceu e me fez companhia. Claro que quis saber como a Luiza era. Hesitei ao responder e logo disparou:

          - Ai, não me diz que ela é como a...

          - Então... São parecidas. Quer dizer, apesar de a Lydia ser mais magra e mais alta, ainda sim têm a mesma cor de cabelo, olhos e pele. Apesar de a Luiza ser mais branquinha...

Cruzou os braços, fazendo bico.

          - E onde ela está agora?

          - Saiu com a Claire. As duas foram fazer compras.

          - E não tem foto dela?

          - Se contar para alguém, juro que paro de falar com você, entendido?

Cruzou os dedinhos, dando um beijo em cada um e fazendo uma promessa silenciosa. A levei até o estúdio e, quando liguei o computador, ficou olhando para a foto da Luiza que estava de plano de fundo.

          - Ela está bem? - Perguntou, fazendo uma cara estranha. Ri e expliquei:

          - Tinha bebido um pouco.

Me olhou e falei:

          - Tá. Estava começando a ficar bêbada.

          - Ela não é meio nova para você? Parece que tem dezoito anos...

Parei para pensar e me dei conta que não sabia quantos anos a Luiza tinha.

          - Como assim você não pergunta a idade dela? - A Dani cobrou e falei:

          - Sorte sua que é criança e não precisa entender toda essa confusão que aconteceu de Las Vegas para cá.

          - Vou te falar... Eu tenho muito mais juízo que você!

A olhei e disse:

          - Não me diga que você nem sabe o sobrenome dela.

Procurei na minha mesa e consegui achar o papel com o telefone dela, dado em Las Vegas.

          - Italiana?

          - Brasileira. - Respondi e ela já começou a fuçar na internet. Em cinco minutos, achou praticamente todas as coisas relacionadas à Luiza. Achou um link que parecia ser do bar e, justamente naquela hora, o telefone tocou e fui atender. Depois de alguns poucos segundos (já que era engano), voltei para perto da Dani, que olhava uma espécie de página com o perfil da Luiza.

          - Senta que até eu estou chocada. - Falou e, quando encostei na mesa, continuou: - Ela tem a sua idade. Aliás... E até mais velha que você. Seis meses...

Parei ao seu lado e ela indicava na tela a data de nascimento da Luiza.

          - Ela dorme no formol? - A Dani perguntou e não segurei o riso.

Ouvimos um barulho e falei:

          - Deve ser ela... Deixa eu desligar tudo aqui.

Se levantou da cadeira, dando lugar para mim. Não demorei a ouvir a Luiza:

          - Kaulitz?

          - Por que ela te chama pelo sobrenome e não de “amor”? - A Dani perguntou e, sem desviar o olhar da tela, falei:

          - Está na TPM.

          - Ah tá. Eu vou ao banheiro e já volto, tá?

Concordei e fiquei sozinho ali. Assim que o computador foi desligado, peguei o celular e as outras coisas que precisaria e saí do estúdio. Antes mesmo de chegar à sala de estar, onde imaginei que a Luiza estaria, ouvi sua voz:

          - Ai meu Deus... Uma criança!

Não ouvi a Dani responder e fui andando até lá.

          - Ela... Não é sua filha, é? - A Luiza perguntou, assim que parei ao seu lado, indicando a Dani.

          - Não... É minha... Nossa vizinha. E se eu tivesse uma filha, acha mesmo que ia mantê-la escondida por quatro dias?

          - Nós dois sabemos que totalmente impossível não é. E sei lá... Geralmente a guarda dos filhos ficam com a mãe...

          - Ia ser bem legal, mas... Não, o Bill não é meu pai. - A Dani disse e se adiantou: - Danielle. Pode me chamar de Dani.

          - Vou te chamar de Elle, para ficar diferente. E em troca, você me chama de Iza, feito? - A Luiza disse, estendendo a mão e a Dani a apertou.

          - Se incomoda de olhar a Dani um instante? Preciso fazer uma ligação...

          - Tranquilo. - A Luiza disse. Voltei ao estúdio e liguei para o Tom. Assim que atendeu, pedi um favor para ele, que concordou.

Não muito tempo depois, a mãe da Dani veio busca-la para irem à casa da avó. E no final da tarde, começamos a nos arrumar. Aproveitei enquanto ela estava no banho para ir ao site do bar onde trabalhava. No entanto, antes de olhar seu perfil, fui no da Nadine e no da Nicola, onde encontrei os links para as contas das duas no instagram. Em praticamente todas da conta da ruiva, as três estavam no bar, sendo que em algumas, seguravam copos. Uma me chamou a atenção e, depois de ampliar um pouco a foto, descobri que era a Luiza. Dançando sobre o balcão, usando uma calça jeans mais justa que as que de costume, além de uma blusa branca, com uma estampa que não consegui descobrir do que era. Na legenda, a ruiva escreveu: “I love this little party girl”. Estranhei aquilo e descobri outra foto da Luiza, praticamente agarrada à um daqueles postes de pole dance, aparentemente no mesmo bar e a legenda era um pouco diferente: “She started swaying so sexy and looking at me and it got me caught in a mind control”. Olhei a conta da Nadine e encontrei uma foto dela com as amigas e um cara que parecia um modelo da Calvin Klein. Na legenda, havia uma menção à ele e a acessei. Descobri que haviam inúmeras fotos dele com a Luiza, sendo que em poucas eles pareciam bem mais que amigos. E, pelo visto, o cara era rico, já que tinham fotos de coisas como, um Lamborghini, uma coleção de relógios, além de ter algumas que pareciam ter sido tiradas em festas, todas luxuosas. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi uma série, postada agora de manhã, mostrando um apartamento em reformas. Abri a primeira e a legenda era: “Reforma em Mayfair... Espero que a resposta que estou esperando seja positiva e eu não precise morar aqui sozinho...”. Ela ia casar com ele, é isso?

De curiosidade, fiz uma busca com o nome dela e apareceu uma foto tirada por um paparazzo, na saída de uma boate. Estava de mãos dadas com o cara e usava um vestido curto vermelho, tomara-que-caia. Seus cabelos estavam mais curtos e parecia ligeiramente mais magra. Se equilibrava em cima de um par de sandálias de saltos altíssimos. Era basicamente a mesma Luiza que eu conhecia. Cliquei na foto e pude ver que a Nicola estava andando um pouco atrás dos dois. E o cabelo estava mais escuro, além de ter uma franja. No título da foto, estava escrito: “Alex Ireland e Luiza Belotti...”. Fui na opção para visitar o site e, quando abriu, era um tabloide com uma matéria que falava sobre uma festa que os dois tinham ido. O que me chamou a atenção foi o fato que, apesar do que a foto mostrava, não falava que os dois eram namorados. E, pelo que deu para entender, ela havia sido fotografada porque ele era o famoso ali. O cara era herdeiro de uma multinacional que trabalhava com combustíveis alternativos e continuei fazendo a busca, descobrindo, inclusive, que morava em um bairro nobre de Londres e fazia sucesso com a mulherada (Apesar de a Luiza ser sua companheira constante nos eventos). Porém, o que eu acabei descobrindo que me deixou um pouco cismado foi que, em nenhuma das matérias que tinham fotos dos dois falavam qual era o tipo de relacionamento entre os dois. Era sempre: “Alex Ireland e Luiza Belotti.”. Consegui achar o site da empresa dele e anotei os telefones de contato. Quando tivesse a primeira oportunidade, agiria.

Voltei ao site do bar e sob o título, havia vários links, como “Home”, “Quem somos”, “Como chegar”, entre outros. No entanto, o que mais atiçou minha curiosidade foi o “The Coyotes”. Cliquei e abriu uma página com uma foto de cada garçonete ali e não tardei a encontrar a que queria. Numa das fotos, nem parecia a mesma Luiza: Estava olhando a foto de uma mulher, não a garota que tinha se casado comigo; Era muito mais... Femme fatale e sexy. Estava sentada sobre um balcão, dando o seu meio sorriso e estava maquiada de um jeito que, até então, não tinha visto: Os olhos estavam esfumados com sombra escura e ela usava um batom mais avermelhado. Sem falar no vestido preto justíssimo. Era realmente estranho ver a Luiza como um mulherão, usando calças justas e decotes nas fotos e, ao vivo, como uma moleca que usava jeans e camiseta. Olhei sua biografia rapidamente e quase no final, haviam mais links, sendo que um era para uma Playlist e outro para uma galeria de vídeos. De curiosidade, fui no primeiro e, de repente, começou a tocar “Pour some sugar on me”. Olhei a lista e tinham músicas de várias bandas. Mas a maioria ali era de bandas das antigas. De curiosidade, comecei a olhar as fotos e senti que estava vendo outra pessoa, totalmente diferente daquela que morava sob o mesmo teto que eu. Não tinham exclusivamente fotos como a do seu perfil, mas outras, inclusive dela em pleno trabalho e até mesmo em cima do balcão, dançando. Pausei a música e abri um dos vídeos. Se arrependimento matasse, juro que estava a sete palmos da terra. No vídeo que selecionei, ela não fazia como as garotas do filme; Era muito mais... Provocante. E nem por isso era exatamente ruim. Quer dizer, o que era mais chamativo naquilo tudo era que dava para ver o quanto estava se divertindo, apesar de tudo.

Pus outro vídeo para carregar e esse era um pouco parecido com uma cena do filme. A diferença era que justamente a Luiza ativava os sprinklers do lugar. E imaginei por um instante a quantidade de caras que ficavam vendo esses vídeos e babando (Ignoremos aqueles que fazem outras coisas) por ela, que rebolava e ignorava totalmente a água que caía sobre si. Era algo realmente... Bom, dava para mexer mesmo com um cara. Estava tão concentrado ali que até tomei um susto daqueles quando a ouvi me chamar. Rapidamente, desliguei o computador e saí do estúdio, trancando a porta ao passar. Estava descendo as escadas, já praticamente pronta, faltando só colocar os sapatos mesmo e, assim que parou na minha frente, fiquei um pouco sem fôlego.

          - Nossa...  - Deixei escapar e ela sorriu.

          - Excelente.

          - O quê?

          - Se você teve essa reação, é sinal que estou bem.

          - Você está linda...

Sorriu fraco e quis saber, disfarçando:

          - Então... Já está pronto?

          - Não. Vou... Subir e já venho.

Assentiu e foi para o quarto.

Nem vinte minutos depois já estávamos na metade do caminho e ela tinha ligado o mp3 no rádio do carro. Ouvíamos 30 seconds to mars e a ouvia cantar baixo algumas das músicas. Quando chegamos, é óbvio que atraiu a atenção de quase todos os outros convidados. Já a maioria das acompanhantes a olhava de cima a baixo e até faziam aquela cara de desprezo, mas disfarçando. E a Luiza não parecia se abalar com isso.

Pouco tempo depois, já estava enturmada, conversando com algumas das acompanhantes que haviam se mostrado simpáticas enquanto eu discutia sobre a proposta da fusão do estúdio com a gravadora. Um dos intermediários, Paul, não parava de olhar para a Luiza e aquilo estava me incomodando um bocado. Apesar de tudo, era minha mulher e tinha todo o direito de sentir ciúmes dela, não é?

          - Então... Acho que a gente pode oficializar essa fusão, não é Bill? - Um dos representantes da gravadora quis saber e assenti.

          - Ótimo. Bem a tempo do jantar. - O James, anfitrião, anunciou. Aos poucos, todo mundo foi se levantando e o seguindo até a sala. Fomos para os lugares indicados e o Paul ficou sentado de frente para mim e a Luiza, que ficou ao meu lado.

O jantar foi tranquilo, embora eu notasse que a Luiza estava inquieta. Na troca dos pratos, aproveitei para perguntar:

          - O que foi?

          - Troca de lugar comigo? - Pediu e, mesmo estranhando, atendi. Serviram o segundo prato e, enquanto eu estava comendo, senti alguma coisa encostando na minha perna. Olhei para a frente e o Paul disfarçava, forçando a conversa com a pessoa ao seu lado. Estava fechando a mão em punho, sem perceber, quando senti a Luiza segurando meu pulso. A olhei e disse, baixo:

          - Melhor não.

Respirei fundo e o ouvimos dizer, em tom de desprezo:

          -... Afinal de contas, a única função das mulheres, além de cuidarem da casa, é nos servir integralmente.

Vi a Luiza erguer a sobrancelha e disse:

          - Desculpe... Paul, não é? - Ele me olhou, esperando que fosse ela sentada ali e ficou desconcertado. Tive que disfarçar uma risada. - Mas estou tentando entender qual é, exatamente a utilidade de um homem como você. Quer dizer, quantas mulheres hoje em dia são totalmente capazes de sustentar a família inteira? Minha mãe mesmo é um ótimo exemplo. Me criou sozinha e ainda cuidou da minha avó. Isso tudo com uma pensão que o banco pagava para ela por causa da morte do meu pai. Desculpe, mas a única função que eu vejo para alguém como você é a de subordinado e submisso de uma mulher.

Houve várias pessoas disfarçando o riso. Eu só conseguia observar a Luiza.

          - Ora, então temos uma feminista à mesa? - Ele perguntou, tentando se recuperar. - Kaulitz, se eu fosse você, tomaria cuidado, senão é ela quem vai vestir as calças.

          - E se ela vestisse? Não me faria ter menos orgulho dela.

A Luiza me olhou.

           - Quer dizer que você não se importa de ser o cachorrinho dela?- Ele tentou atacar e respondi:

          - Não.

O anfitrião, antes que a situação piorasse, decidiu atrair a atenção de todos, conversando sobre amenidades.

Quando estávamos indo embora, aproveitei que não tinham mais muitas pessoas e me aproximei do Paul, dizendo:

          - Sobre a pergunta que você me fez a respeito de eu me importar ou não em ser o cachorrinho da Luiza... - Me olhou especulativo. - Não me importo, principalmente porque sou eu. Não você. E da próxima vez que ficar passando a perna na Luiza por debaixo da mesa, não espere que vá me controlar...

Debochando, me provocou:

          - Eu não tenho medo de você, Kaulitz. Aliás... Seria bom se fosse você a sentir medo. Não duvide que eu roubaria sua mulher em dois tempos.

Estreitei os olhos e, para a sorte dele, o valete trouxe seu carro. De repente, ouvi o barulho de alguém correndo e a Luiza passou por mim, chamando aquele idiota. Ele parou, se virando com um sorriso convencido. Como a Luiza não falava exatamente baixo, pude ouvi-la:

          - Me esqueci de uma coisa...

Ele manteve o sorriso. Até que ela deu um tapa estalado no seu rosto.

          - Isso é por ser um porco machista.

Em seguida, deu uma joelhada... Lá.

          - Isso é por ter ficado esfregando essa sua perna nojenta em mim por baixo da mesa.

          - Vadia! - O ouvi gemer e ela deu um soco nele, simplesmente.

          - Isso é por provocar o Bill. E desta vez, vou deixar o xingamento passar. Boa noite.

E veio andando até onde eu estava parado, em choque. Quando trouxeram o meu carro, fomos andando até lá e, assim que entramos, perguntei:

          - Tem alguma coisa a me dizer sobre aquilo que acabei de ver?

          - O Stephen nos obrigou a ter aulas de autodefesa. Sempre tem um bêbado que acaba ficando um pouco assanhado demais e a gente tinha que saber se virar.

Tive que prestar atenção ao trânsito. E ela, para acabar com o silêncio, ligou o mp3, que tocava músicas de rock clássico, em sua grande parte, sendo Queen.

Quando deitei na minha cama, algum tempo depois, fiquei pensando no que falei com o Paul e, mais uma vez, duas palavras ecoavam em minha mente: “Minha mulher”. Naquela noite, tive um sonho estranho, com a Luiza em uma capela em Las Vegas, se casando de novo. Mas eu não era o noivo...

Na segunda-feira de manhã, estava mexendo em uma demo quando me lembrei de uma coisa. Peguei o celular e encontrei o número que queria. Fui até a mesa da Claire e avisei que não era para passar nenhuma ligação até que eu pedisse. Assentiu e, quando voltei à minha escrivaninha, peguei o telefone, discando o número. Depois de alguns toques, ouvi uma voz feminina e com sotaque britânico do outro lado da linha:

          - Ireland Corporation, boa tarde. Em que posso ajudar?

          - Por favor, eu gostaria de uma informação.

          - Sim?

          - Eu trabalho em uma revista de economia de Nova Iorque e gostaria de falar com a assessoria de imprensa.

          - Aguarde, por favor, enquanto transfiro sua ligação.

Ouvi aquela música irritante e, por sorte, não muito tempo depois fui atendido. Ainda me passando pelo repórter, perguntei à atendente:

          - Estou escrevendo uma matéria sobre jovens empresários e acabei encontrando o nome do Sr. Ireland na minha busca. Será que poderia me ajudar, passando algumas informações?

          - Claro.

Para disfarçar, fiz mais perguntas sobre a sua carreira e, quando vi que a atendente ia falar tudo aquilo que me interessava, perguntei:

          -... Sei. E deixa te perguntar uma coisa. Eu até cheguei a procurar algumas fotos dele, para colocar no artigo e vi que tem várias dele com uma moça... É a namorada dele? Não tinha nenhuma explicação sobre quem era...

          - Então... - Houve uma pausa e a menina começou a falar baixo. - Eu a conheço. Se chama Luiza e acho que todo mundo aqui torce para que fiquem juntos logo. Corre o boato de que, antes de ir para Las Vegas com as amigas, ele a pediu em namoro. Mas, até onde eu sei, parece que ela se casou lá e, quando foi tentar o divórcio, o juiz não concedeu. A última notícia que tive era a de que está em Los Angeles.

          - Ah é? Mas então ela não namora com ele?

          - Não. Tem uma colega minha que disse que ouviu os dois na sala dele uns dias antes de ela viajar...

Travei o maxilar e, antes que estragasse tudo, perguntei:

          - Por um acaso ele tem assessor pessoal?

          - Sim. Quer o telefone?

Anotei os números e agradeci antes de desligar.

Depois de três toques, o seu assessor atendeu e recontei a mesma história. Quando tive brecha, perguntei:

          -... E, quando fui procurar por alguma imagem dele para colocar no artigo, vi que tinham várias dele com uma moça... Quem é ela?

          - É uma amiga. - Limitou-se a dizer. - A Srta. Belotti costuma acompanhar o Sr. Ireland nos eventos sociais. Como ela está viajando, então ele está indo sozinho.

          - Então devo escrever isso? Que ela é apenas uma amiga?

          - Sim.

          - Mas... Ela não é o tipo de acompanhante que é paga? - Perguntei, sabendo que ia me arrepender.

          - Não. A Srta. Belotti conhece o Sr. Ireland há, pelo menos, três anos. Ela trabalha numa loja de produtos esotéricos e foi assim que ambos se conheceram.

          - Engraçado, porque eu encontrei um site de um bar chamado “The Coyote” e há uma das garçonetes que é muito parecida com essa amiga do Sr. Ireland.

          - É. Ela trabalha como garçonete no bar também. Mas é preferível que você escreva sobre a loja.

Continuei conversando com o assessor por mais um tempo e ele continuou a me passar as informações que eu queria, ainda que não fosse tão aberto quanto a representante da empresa.  Apesar disso, o que consegui, já era o suficiente.

Assim que terminei, avisei à Claire que podia transferir as ligações normalmente e ela, logo de cara, já me disse que um amigo estava numa das linhas. Voltei para a minha sala e, assim que atendi, o ouvi dizer:

          - Já estou sabendo do que o senhor andou aprontando em Vegas... Meu garoto, que mulher é aquela com quem você se casou? Com todo o respeito, mas... Ô mulher gostosa!

Ri e falei:

          - É uma história longa e complexa, J.J.

          - Pode ter o monte de complexidade que quiser, mas preciso que você me responda uma coisa. De onde ela saiu, tinha mais?

Só ele mesmo para me fazer rir. Era um pouco mais velho e era aquele tipo de cara que ganhava as mulheres pela personalidade. Quer dizer, a aparência dele era a de um típico nerd, de óculos de armação quadrada e grosseira, bem acima do peso e cabelos cacheados. E era justamente pela inteligência e criatividade que era um dos produtores mais respeitados na nossa área.

Acabamos combinando de irmos almoçar juntos e, quando desliguei, a Claire bateu na porta e avisou:

          - A secretária do terapeuta está na linha, querendo marcar uma consulta para você e a Luiza.

          - Faz o seguinte: Avisa que você retorna daqui a pouco. Liga para a Luiza e veja qual dia ela quer ir. Depois você me passa.

Assentiu.

Quando cheguei ao restaurante, um tempo depois, não demorei a encontrar o J.J. Pedidos feitos, ele começou com o interrogatório:

          - Pode começar a me contar a longa e complexa história por trás do seu casamento.

Vendo que não ia ter saída, foi o que fiz. Assim que terminei, a garçonete trouxe os pratos e, enquanto comíamos, ele falou:

          - Na boa, Bill. Eu acho que você vai acabar se apaixonando por ela. Ainda mais que toda essa sua implicância só pode significar que você gosta dela.

          - J.J., ela é a última pessoa no universo por quem eu me apaixonaria. Ainda mais que... Tem alguém em Londres esperando por ela.

          - Me responde uma coisa, sinceramente.

Concordei.

          - Quem te dá mais tesão? Ela ou a Lydia?

         - Que pergunta! - Tentei desconversar e, graças ao seu olhar inquisitivo, respondi: - A Luiza, satisfeito? - Deu um sorrisinho convencido e falei: - E o que você quer? Ela fica andando por todo lado praticamente pelada!

A cara de choque dele foi hilária.

          - Você só pode estar brincando comigo!

          - Estou falando sério. - Respondi.

          - Kaulitz, se você não me apresentar sua mulher, juro que te mato e ainda caso com ela.

          - J.J., não sei se você entendeu, mas depois que esse prazo do juiz acabar, ela volta para Londres.

          - Entendi. E nem que seja preciso atravessar o oceano a nado, mas eu vou atrás dessa mulher!

Ri.

          - Ah! Acabei de me lembrar que você não vai ter escapatória e vai ter de me apresentar à sua mulher. O Rock Shelter assinou. E pensei numa festinha para comemorar. Os caras podem, inclusive, tocar ao vivo.

          - Sério?

Concordou.

          - Eu vou procurar um lugar para fazer essa festa e te mantenho informado. Vou pedir para a Claire olhar bufê, fazer lista de convidados... Todas essas coisas.

          - Falando nela... A sua secretária continua naquela saúde toda?

É. Ele tinha um tombo por ela.

Depois do almoço, assim que voltei para o estúdio, fiz uma breve reunião com a Claire e passei tudo que queria e, cerca de duas horas depois, ela já tinha cuidado de praticamente tudo.

          - Muito bem. - Falei, dando uma olhada nos lugares disponíveis para dar a festa.

          - Mais alguma coisa?

          - E a consulta?

          - Marquei para a próxima terça-feira, às quatro.

Assenti. Tão logo voltei ao trabalho, me ocorreu uma coisa.

Mais tarde, quando cheguei em casa, a Luiza estava na cozinha; Descobri graças à música que vinha de lá. Encostei no batente e logo vi que, como sempre, estava com uma das suas combinações de camiseta e shorts, que eram jeans naquela noite. A camiseta era branca e tinha uma estampa rosa de uma coisa que me lembrou o robozinho do Star Wars, mesmo sendo tão diferentes. Principalmente por causa da frase “Exterminate”, que dava para entender que aquilo na estampa não era tão... Bonzinho assim. Não demorou a me notar ali e pediu:

          - Lava a mão antes, por favor.

Parecia que estava de volta à minha infância. Fui até o lavabo e fiz o que pediu. Quando cheguei, a mesa já estava posta e dois pratos de macarrão estavam ali.

          - Espero que o molho não tenha carne. - Falei, ao me sentar.

          - Não tem. - Respondeu, servindo um pouco de vinho tinto em duas taças. - E te digo que foi difícil achar uma receita que pudesse ser feita para alguém tão exigente quanto você.

Suspirei e comi a primeira garfada. Aquilo era divino, simplesmente.

          - Bem que você avisou que ia me surpreender. - Falei e pude ver que disfarçou um sorriso. - Escuta, eu tenho que te falar sobre uma coisa.

Me olhou e continuei:

          - Uma banda assinou um contrato e vamos dar uma festa.

          - Ah é?

Concordei.

          - Você... Vai comigo, não é?

Deu de ombros.

          - Só... De curiosidade, o que você vai falar para a imprensa?

          - A verdade. Que somos casados. E estranho que você não quer ir à uma festa... - A provoquei.

          - Provavelmente porque estou sendo obrigada...

          - O que quer que eu faça para que vá comigo? Pode pedir qualquer coisa.

          - Qualquer coisa? - Perguntou, sorrindo maldosamente.

          - Desde que não seja ilegal e não envolva um risco à minha vida...

          - Nah... O que eu pensei não é totalmente impossível. Muito pelo contrário.

          - O que tenho que fazer então?

Deu um meio sorriso e disse:

          - Duas coisas, na realidade. Uma é que você não vai falar um “A” a respeito da minha roupa.

Estava até com medo de descobrir...

          - E a outra coisa?

          - Fácil. Volta com o Tokio Hotel. - Respondeu, em tom óbvio.

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Imagens e músicas do capítulo

2 comentários:

  1. Eita, será que ele vai atender o pedido dela e voltar com a banda? Podia né? Ia ser legal.
    Mas que carinha chato!! Ainda bem que a Lu deu jeito nele... Paul é um tipo de homem que dá vontade de cuspir na cara.
    Dani... essa menina ainda vai aprontar para o Bill ficar com a Lu, duvido nada kkkkkkkkkk
    Bill...Bill.... você já tem uma queda absurda pela Lu, só não notou ainda.

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    1. Oie!
      Então... Promessas como essa têm a obrigação de serem cumpridas. ;)
      Presta bem atenção nesse pé no saco do Paul, só te digo isso.
      Queda? Eu diria que é um senhor tombo, tipo o que eu tomei um dia, que estava em plena avenida lotada, na hora de rush e fiquei de quatro no meio da rua. Detalhe: Eu estava de minissaia :P
      Obrigada pelo comentário ;)
      Beijinhos e até a próxima ;*

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