domingo, 29 de setembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 6º capítulo




Então estou armando minhas defesas
Porque não quero me apaixonar
Se alguma vez fizesse isso
Acho que teria um ataque cardíaco

(Demi Lovato - Heart attack)

Luiza

Assim que acordei e fui tomar café da manhã, decidida a ir procurar um emprego, não havia nem sinal do Bill. Suspirei ao perceber isso e, logo fui pegar a bolsa, deixando um recado avisando onde estava, caso ele aparecesse. Saí de casa e fiquei um bom tempo batendo perna, indo de loja em loja, vendo se tinha alguma vaga disponível e fazendo cadastro. Nem tinha visto que horas eram quando meu celular tocou, logo que saí de uma loja de roupas. Procurei o aparelho dentro da bolsa e, assim que o encontrei, vi que era a Claire.

          - Oi, Claire.

          - Onde você está?

Procurei pela placa com o nome da rua e falei, inclusive dando um ponto de referência.

          - Beleza. Escuta o que você vai fazer: Anda por dois quarteirões na direção sul e atravessa a rua. Vou te esperar na porta, ok?

Concordei, seguindo suas indicações e, em poucos minutos, estava chegando lá. Nos cumprimentamos com dois beijos no rosto e perguntei:

          - E então? Aonde vamos?

          - Gosta de comida chinesa?

          - Amo!

Riu e fomos andando lado a lado, conversando, principalmente sobre a minha busca por um emprego. E assim continuamos até chegarmos ao restaurante.

Depois que fizemos os pedidos, ela perguntou:

          - Como é Londres?

          - Quer mesmo minha opinião nem um pouco confiável?

Riu, concordando.

          - Beleza. Sempre ouvi o pessoal falando que é um dos lugares em que mais chove no planeta inteiro, que era cinzenta, feia e tal. E eu discordo. O pessoal que falou esse monte de baboseira é porque não soube aonde ir. E a questão da chuva... Foram na época e na Irlanda é pior. Duzentos dias de chuva, direto e reto.

          - E qual seu lugar preferido?

          - Tem tantos... Toda noite eu ia ao Hyde Park entre o trabalho na loja e o do bar.

          - Bar? Como assim?

          - Trabalho num bar. Tipo o daquele filme “Showbar”, sabe? - Concordou, animada.

          - Então... Sabe fazer aqueles malabarismos com as garrafas?

Assenti. O garçom trouxe a comida e contei um pouco mais do meu trabalho. E ela ouvia a tudo, atenta e deslumbrada.

Depois que acabamos, pagamos a conta e ela me avisou, quando saíamos do restaurante:

          - Ah! Duas coisas que eu estava quase esquecendo de te avisar: O Bill dormiu na casa do Tom ontem, mas pelo que consegui descobrir, ele volta hoje. E já está cuidando para trazer suas coisas.

          - Ai que bom. Não vejo a hora de que venha tudo de Londres. - Respondi. - Se bem que as minhas amigas podiam vir junto... Você ia adorá-las.

Comecei a matracar sobre as duas e ela ficou curiosa. Antes de entrar no estúdio, porém, me disse que teria folga no sábado e já combinamos a hora em que nos encontraríamos e aonde. Estava quase indo procurar um ponto de ônibus quando a ouvi me chamar e me virei. Fez sinal para que eu fosse até lá e disse:

          - O Bill quer falar com você.

Estranhei, mas fui ver o que ele queria.

Assim que entrei na sua sala, ele estava virado de costas para mim e, sem um pingo de delicadeza, larguei a bolsa sobre um sofá de couro preto que havia ali. Claro que atraiu sua atenção e ia abrir a boca quando o interrompi:

          - Você nem ouse me contestar porque não tem razão nenhuma, ainda mais depois de ontem, que fiquei sozinha, te esperando que nem uma trouxa. Ai, Kaulitz, estou com uma raiva de você...

Deu um sorrisinho que me deixou mais irritada ainda.

          - Engraçado, porque achei que não ia se importar de ficar sozinha... Ainda mais que você deu a entender que nosso casamento é de fachada... - Disse e minha vontade era a de voar no seu pescoço.

          - Me importo. Ficar sozinha é uma das coisas que mais detesto. - Falei. - Mas o que você queria comigo?

          - Temos um jantar para ir depois de amanhã.

          - Jantar com quem?

          - Uma gravadora quer fazer uma fusão com o estúdio e vão me fazer a proposta.

Assenti.

          - Beleza. Mas tenho uma condição.

Me olhou e continuei:

          - Você vai deixar a Claire ir comigo comprar o vestido.

          - E eu não posso ir?

          - Não, porque eu sei que você vai cismar de pagar e a última coisa que quero é que gaste dinheiro comigo!

Suspirou e disse:

          - Não tem outro produto de barganha?

          - Tem alguma ideia? - Perguntei e ele deu de ombros.

          - Alguma outra coisa que você queira...

Parei para pensar e falei:

          - Beleza. Aceito sua condição de ir comigo para comprar um vestido desde que passe o resto da semana sem por um único cigarro na boca.

          - Ah, você tá de sacanagem, Luiza!

          - Então divirta-se sozinho no jantar.

Me virei para pegar a bolsa e me chamou. Suspirei e disse:

          - Só até o dia do jantar.

          - Tanto faz. Contanto que você fique sem fumar...

          - Me espera aqui então.

Saiu da sala e me larguei de novo sobre o sofá. De repente, ouvi um sinal e olhei para seu computador. Não resistindo à curiosidade, fui até lá e vi o aviso de que era uma chamada de vídeo do Andreas, além de uma mensagem escrita. Não mexi em nada e decidindo que o melhor a ser feito era voltar para onde estava, assim o fiz e aproveitei para checar meus e-mails no celular. Havia uma SMS do Alex e meu estômago deu uma volta completa. O Bill entrou na sala e avisei, sem nem desviar o olhar para ele:

          - Seu computador fez um barulho aí.

Pela visão periférica, pude vê-lo se sentando na cadeira de novo e mexendo em algumas coisas, inclusive digitando. Me concentrei em escrever uma resposta para o Alex:

Oi. Achei que as meninas tivessem te dito o motivo pelo qual não fui para Londres com elas...

E apertei o botão “enviar”. Ergui o rosto a tempo de ver que o Bill estava desligando o computador, mas principalmente: Qual era seu plano de fundo. Uma foto minha que, provavelmente, tinha sido tirada em Las Vegas. E pela minha cara... Foi depois de alguns drinks que havia tomado. Fingi não ter visto e li a mensagem do Alex que havia acabado de chegar:

Onde você está, Luiza?

Respirei fundo e o Bill me assustou, por eu estar distraída:

          - Vamos?

Rapidamente, peguei a bolsa, não guardando o celular ali dentro, e fiquei de pé, indo até a porta. Estava tão absorta em responder à mensagem do Alex que quase não notei que estava indo na direção de uma coluna que havia ali. Por sorte, o Bill me segurou pela cintura, evitando a colisão, e murmurei um agradecimento.

          - Era melhor se prestasse atenção onde está indo...

Suspirei e andei, dando passadas largas. Ao passar pela recepção, me despedi da Claire, garantindo que sairíamos no sábado de manhã e ela sorriu. Fui andando ao lado do Bill enquanto guardava o celular na bolsa. Me guiou até a parte de trás do estúdio, onde tinha um estacionamento. Caminhamos até seu carro em silêncio e, uma vez que destravou as portas, entrei no veículo, não me separando da bolsa. Não demorou muito para que saíssemos dali e estivéssemos numa avenida movimentada. Aproveitei para responder à mensagem do Alex, que não replicou imediatamente. Amuada, guardei o celular na bolsa e encarei o movimento da rua.

          - A Claire disse que você está procurando por um emprego... - O Bill tentou puxar papo e não respondi. - Agora vai ficar com raiva de mim?

Mantive meu silêncio e ficou óbvio que estava começando a se irritar. Que se dane.

          - Quer saber? Foda-se. - Resmungou e ligou o rádio. Justamente na hora, tocava uma música de um rapper americano que nunca tinha visto mais gordo e cuja letra tinha algumas muitas palavras de baixo calão. Olhei para o Bill, fazendo uma cara de incrédula e ele riu.

          - É sério que você vai me obrigar a ouvir isso? - Perguntei e ele assentiu, sorrindo. Suspirei e peguei o meu mp3 dentro da bolsa, colocando os fones de ouvido e caçando uma música das mais... Barulhentas possíveis, para tentar abafar o som daquela coisa inominável que tocava no rádio. Acabei achando a “Never Enough” e pus para tocar, agradecendo por existir a Tarja. Como sempre, não me dei conta de que estava balançando a cabeça e, quando menos esperei, o Bill simplesmente tirou um dos meus fones e pôs na própria orelha. Ia reclamar quando notei uma coisa: Ele havia desligado o rádio.

          - De todas os gêneros musicais existentes, o último que eu ia imaginar que você gosta é metal.

Arqueei a sobrancelha, dando um meio sorriso e falei:

          - Você ainda tem muita coisa para descobrir ao meu respeito, Kaulitz. E te garanto que descobrir que amo metal nem é tão chocante assim.

          - Tá... O que acha que pode ser realmente chocante?

Parei para pensar e falei:

          - Não sei... O que você acha que te surpreenderia?

Deu de ombros e respondeu:

          - Bom, depois dessa música, comecei a perceber que posso esperar tudo de você.

Sorri torto e o sinal abriu, obrigando-o a prestar atenção ao trânsito.

          - Veja pelo lado positivo... Você nunca vai ficar entediado comigo.

Olhou para mim rapidamente e dei um meio sorriso.

Quando chegamos à loja, uma das vendedoras tinha um nariz empinado, como se estivesse sentindo o pior cheiro do mundo. Me viu andando com o Bill em meu encalço e crispou a boca. Disse, em tom de voz entediado:

          - Pois não? Em que posso ajudar?


          
          - Tenho um jantar para ir na sexta-feira e preciso de um vestido.

Me olhou de cima a baixo, fazendo uma cara de desdém e notei, de repente, que o Bill tinha saído do meu lado. A menina me pediu para acompanha-la e fiz com um pouco de má vontade, assim como ela. Começou a me mostrar alguns vestidos que eram até bonitos. Mas quando vi os preços...

          - Escuta, não teria um vestido preto, bem simples, teria? Quer dizer, vi um da Chanel e era incrível.

Suspirando e rolando os olhos, se afastou e tomei um susto quando o Bill se materializou do meu lado e quis saber:

          - Não gostou de nenhum?

          - Não. E muito menos dessa vendedora mal comida. Estou me controlando para não dizer umas boas para ela.

Me olhou, meio surpreso, mas querendo rir do meu comentário. A menina voltou, com dois vestidos pretos que pareciam mais camisolas e, quando olhei a etiqueta, falei:

          - Obrigada, mas eu vou dar mais uma olhada. Qualquer coisa, volto aqui.

Assentiu, com aquela cara de bunda e entediada e puxei o Bill pela “lapela” da jaqueta para fora da loja. Perguntou:

          - Qual era o problema daqueles vestidos?

          - Em primeiro lugar: Mete uma coisa nessa sua cabeça dura. Eu nunca usaria um vestido de, no máximo, £60. E não me pergunta quanto dá isso porque não tô com paciência para ficar fazendo cálculo!

Ergueu as mãos em rendição, rindo e falei:

          - Em segundo: Rir de mim quando estou brava piora sua situação ainda mais. Já quase voei no pescoço da secretária do meu curso de alemão porque ela não queria mudar o horário*, sendo que todo mundo estava...

          - Volta. Você fez curso de alemão?

 Assenti.

          - E oficialmente, você é o primeiro alemão com quem eu converso na minha vida inteira. E a ironia é que estamos falando em inglês. Mas nem pensa em conversar na sua língua materna porque não me lembro de um bocado de coisas. E já tem sorte que me lembre das poucas que aprendi.

Estava claramente impressionado.

          - E em terceiro e último... Se ousar pegar a sua carteira para pagar o vestido, juro que arranco sua mão fora na base da dentada, entendeu?

          - Qual mão?

          - A esquerda. Odiei essa sua tatuagem. É medonha. Não tinha outra melhor? Sem falar que era preferível deixar o pássaro e a flor. E os números nos dedos.

          - Por que você acha que não teria significado para mim?
           
          - Belo significado! Quer bancar aqueles piratas amaldiçoados do “Piratas do Caribe”?

          - Você está de mau humor hoje, hein?

Dei um sorriso forçado e saí falando, sem filtro e controle:

          - E como eu poderia estar gostando disso tudo? Estou aqui obrigada, sendo que preferia muito mais estar do outro lado do oceano, com as minhas amigas e a minha gata, sem falar que eu queria estar com o Alex à uma hora dessas. E não enfiada aqui em Los Angeles, com um chato de galocha que nem você!

Me olhou, sério, e, respirando fundo, pedi, mais calma:

          - Vamos fazer o seguinte. Vamos para a casa. Lembrei que teve um vestido que não usei em Las Vegas.

Deu de ombros, sem dizer nada e foi andando ao meu lado até o carro.

A viagem até sua casa foi feita em total silêncio e, quando cheguei no quarto, fui direto para o computador. Aproveitei para mandar um e-mail para as meninas e outro para o Alex, explicando tudo. Quase imediatamente, recebi uma mensagem dele no celular:

Estou no Skype.

Aproveitei para fazer o login no programa e quase imediatamente, ele me chamou. E ainda mandou um pedido para ligar a webcam. Assim que a imagem se estabilizou, notei que ele estava sem camisa.

          - Essa tentação é por eu estar do outro lado do oceano? - Perguntei e ele deu aquele sorriso canalha que, por mais que me irritasse, eu adorava.

          - Para você ver o que está perdendo...

Suspirei e perguntou:

          - Você está bem?

Assenti e falei:

          - Apesar da burrada que fiz hoje. Simplesmente explodi e acho que acabei magoando mais um por não medir as palavras.

Me olhou, sério, e quis saber:

          - Não tem alguma coisa que possa fazer para te trazer de volta para cá?
         
          - Não. E acho que, pelo jeito do juiz, se eu tentar alguma coisa, é bem capaz de ele apreender meu passaporte. Mesmo com a cidadania italiana. Isso sem falar na extradição direta para o Brasil.

          - Não tem nem uma semana que você foi embora e a minha vontade é a de ir aí e te buscar.

Sorri fraco e falei:

          - Estou sentindo saudades de você...

          - Acho que não, já que a primeira coisa que você reparou foi que eu estou sem camisa...

Fiz uma expressão que pareceu um meme e ele riu.

          - Alex... - Falei, anotando uma coisa no primeiro pedaço de papel que encontrei, de uma propaganda. Depois que terminei, ergui para a câmera e ele riu, dizendo:

          - Chama o seu marido que vou falar com ele para te dar um pouco de educação, sua desaforada.

Ri e, me aproximando do microfone, falei:

          - Prefiro que você me bata.

E pisquei. Ele, claro, fez a maior cara de tarado possível.

          - Você tem uma sorte de eu não poder sair de Londres agora... Senão alugava um jatinho e amanhã mesmo estava aí.

Ri e continuei falando com ele.

Na manhã seguinte, quando acordei, a moça que fazia limpeza na casa estava fazendo o café. O Bill conversava com ela e, assim que me viu ali, disse:

          - Rosa... Essa é a Luiza. Luiza, essa é a Rosa.

          - Tudo bem? - Perguntei, sorrindo e ela assentiu, também sendo simpática.

          - Vai tentar conseguir um emprego? - Ele quis saber e concordei. - Se quiser, posso te ajudar. Quer dizer, você pode ficar comigo lá no estúdio e posso te ensinar algumas coisas.

Dei de ombros e a Rosa me perguntou o que eu ia querer comer e falei:

          - Ah, eu não costumo comer nada. Só café com leite já está de bom tamanho.

Senti o olhar do Bill em cima de mim e ela acabou indo se ocupar de outras coisas. Não conseguindo mais aguentar aquela fixação, me virei para o lado e perguntei:

          - O que foi?

          - Nada. Estava só... Pensando no que eu ouvi ontem... - Sorriu maliciosamente. - E antes que você me acuse de estar me intrometendo aonde não sou chamado, quero te lembrar que você grita ao invés de falar.

Arqueei a sobrancelha e perguntei:

          - E o que te impedia de colocar um fone de ouvido ou até mesmo ir para o estúdio? Quer dizer, lá é à prova de som, não é?

          - É. Mas tenho que dizer que a sua conversa estava muito mais... Interessante. E avisa ao seu amigo que vou te educar direitinho.

Nem teve como não arregalar os olhos ao ouvir aquilo.

           - Experimenta! - O desafiei. - Quero ver você ousar encostar a mão em mim!

Riu e me provocou:

          - Olha que aceito o desafio...

Respirei fundo e peguei a xícara já vazia, indo até a pia. Depois que passei ao seu lado, fez algo que deveria ter previsto de tão óbvio: Me deu um tapa na bunda. Não foi muito forte, mas ainda sim... Olhei para ele, que sorria, e não falei nada, o que o fez rir. Suspirei e fui andando. Nem me dei conta, ao chegar no quarto, que estava atrás de mim. Quando vi, estava presa entre seu corpo e a parede.

          - Me solta, por favor. - Pedi, sem emoção na voz. Deu um sorriso malicioso e se inclinou na minha direção. Afastou meu cabelo, descobrindo meu pescoço e deixou a boca muito próxima àquela parte e me controlei ao máximo que pude, tentando disfarçar os arrepios que tinha ao sentir sua respiração morna se chocar contra minha pele.

          - Sabe, gostei muito desse seu pijama... Principalmente do short.

          - Kaulitz... - Falei, em tom de aviso. - Estou te pedindo educada e calmamente para me soltar.

          - E se eu não quiser? O que você vai fazer? Vai fazer aquela ameaça clichê de gritar?

          - Vai sonhando... - Respondi, sorrindo e começando a reunir coragem para enfrenta-lo. - Não sou esse tipo de garota.

          - Será que não é mesmo?

          - Eu não tenho medo de você. Pode ser maior, mas não é dois.

Deu um meio sorriso e segurou meu queixo, endireitando a minha cabeça e a inclinando um pouco para trás.

          - Desde que te vi no dia da sentença que quero te beijar de novo... - Disse, com a boca praticamente colada na minha. Confesso que estava espantada com meu autocontrole...

          - Ah é? - Perguntei, entrando no joguinho dele, que sorriu ainda mais.

          - É. Você tem uma boca que é irresistível...

Só para provoca-lo, fiz questão de deslizar a ponta da língua sobre meu lábio inferior e o soltei lentamente. Pude notar que sua respiração ficou mais pesada e acelerada. Ergui a mão até as correntes que usava em torno do pescoço e fiquei brincando com uma das medalhinhas. Falei, mantendo o olhar fixo no dele:

          - Homens são todos iguais mesmo... Nem você foge à regra. Basta a gente dar um mole de nada e já ficam assim... Não se aguentando de excitação e quase perdendo o controle...  

Ficou sério e avisei:

          - Isso aqui, só para você saber, não é um casamento de fato. O que significa que pode tirar o cavalinho da chuva que não vai acontecer absolutamente nada entre nós.

Ergueu a sobrancelha e perguntou:

          - Quer apostar?

          - Não ouse. - Falei. Deu um sorriso maldoso e, quando vi, já estava me beijando. Tentei empurrá-lo e até dando tapas mais fortes para ver se conseguia afastá-lo, mas não consegui. Mordi sua língua e ainda sim, não teve efeito. Não correspondi e ele não desistiu. Quando achei que finalmente tinha se dado por vencido, relaxei e me arrependi mortalmente, já que a peste se aproveitou para me erguer do chão, enroscando minhas pernas em torno do próprio quadril e me colocando, literalmente, contra a parede. Tentei afastá-lo, em vão. Parecia que, quanto mais tentava empurrá-lo, mais ele insistia. Por fim, vendo que não ia ter jeito, cedi. E o tiro saiu pela culatra de novo, já que aquilo, de novo, serviu de incentivo para que continuasse e mais intensamente. Propositalmente, deixei minhas unhas arranharem sua nuca, descendo até a bainha da sua camiseta, a erguendo. Ah, se ele achava que ia sair ileso dessa...

Quando interrompeu o beijo para passar a peça pela própria cabeça, o telefone atrapalhou meus planos. Já ia avançando na minha direção quando o detive, perguntando:

          - Não é melhor atender? Vai que é algo realmente importante...

Suspirou e finalmente me pôs no chão, saindo dali e propositalmente deixando a camiseta para trás. A ignorei propositalmente e fui me arrumar.

Fiquei o dia inteiro fora e, quando já eram quase seis da tarde, não resisti e peguei um ônibus, indo para Santa Monica. Assim que cheguei à orla, olhei para os lados e tirei as sandálias, pisando na areia fofa até chegar à água. Imediatamente, me lembrei de uma viagem que fiz à Ilha de Wight com o Alex. Tudo bem que fomos só nós dois e foi bem pouco tempo depois que nos conhecemos, mas ainda sim, valeu cada minuto.

Quando cheguei em casa, o Bill estava no banho e aproveitei para trocar de roupa, além de fazer outras coisas que queria. Estava absolutamente distraída, arrumando as roupas que levaria à lavanderia no dia seguinte e, quando me virei, para sair do closet, quase dei um encontrão no Bill, que estava parado ali. Demorei um minuto inteiro para que assimilasse o fato de que estava com a mão sobre seu peito nu, justamente para evitar a colisão.

          - Ai, Kaulitz, que susto! - Reclamei, tentando disfarçar. Riu fraco e afastei a minha mão, mas ele segurou meu pulso, me impedindo. - Que é? Vai ficar me cercando o tempo inteiro agora, é isso?

          - Não estava te cercando... Estou procurando a minha camiseta. A que eu estava usando hoje de manhã...

          - E por que diabos estaria aqui?

Deu de ombros, me provocando logo em seguida:

          - Tem pessoas que são capazes de tudo...

          - Me chama de macumbeira de novo para ver se não te largo no meio da encruzilhada, feito o despacho que você já é! - Ameacei, me controlando para não rir. Principalmente por causa da cara de tacho dele. Indiquei a sua camiseta, que estava sobre a cadeira (Não estava dobrada - Só faltava essa!) e ele foi andando. Só que, antes de sair, tinha que fazer graça:

          - Ah, achei que você ia dobrar para mim.

Olhei feio para ele, cruzando os braços e falei, caprichando na ironia:

          - Meu amor, só cuido bem das minhas coisas. E isso aí na sua mão não é meu.

De repente, ele deu um sorriso malicioso e perguntou:

          - Mas bem que gostaria, não é, meu amor?

Filho da mãe! Ainda enfatiza o final!

          - Some daqui agora, Kaulitz! - Falei apontando para a porta e ele ficou ali, parado. Não vestiu a camiseta, embora ainda a segurasse. - Raus aus meinem Zimmer! Jetzt!

Ainda sorrindo, pôs a camiseta sobre o ombro e finalmente me deixou sozinha. De raiva, fui até a cama e peguei um dos travesseiros, o jogando na parede. Era isso ou gritar. E entre dar o gostinho para ele e ficar quieta...

Mais tarde, enquanto estávamos os dois na sala, devorando uma pizza que ele havia pedido,  tomava o máximo de cuidado para não engordurar a tela do celular, distraída, enquanto jogava Angry Birds. Mesmo que a moda tivesse passado, ainda era viciada no jogo.

Tinha chegado num nível que não conseguia quebrar a barreira dos malditos porcos e estava perdendo a paciência. Joguei o último dos passarinhos, que passou por cima da barreira. Resmunguei um “Filho da puta” e senti o olhar do Bill em cima de mim. Sabendo o que ia acontecer, saí do jogo e travei a tela, justamente para evitar que ele cismasse de mexer e tentar descobrir o que estava fazendo.

          - E então? - Perguntou, puxando assunto. - Conseguiu o emprego?

Neguei com a cabeça.

          - Não vou desistir. Londres foi muito mais difícil...

Me olhou, mas não disse nada.

Dois dias depois, na manhã de sábado, nunca quis tanto encontrar um banco ou até mesmo um cantinho para sentar. A Claire me arrastava para cima e para baixo por uma rua lotada de roupas, sapatos e por aí vai. Quando estávamos na décima loja seguida, não me aguentava mais em pé. E ela, olhando as araras do mesmo jeito que eu fazia, passando cada peça de roupa por vez. Perguntou, em tom de quem não quer nada:

          - Confesso que estou curiosa para saber uma coisa. Ainda mais depois de quinta-feira que o Bill apareceu no estúdio todo feliz.

A olhei e quis saber:

          - Vai dizer que ele normalmente é rabugento?

Assentiu.

          - Eita! Por essa eu realmente não esperava...

Riu e falei que podia me fazer a pergunta. E assim a fez:

          - Por um acaso...

Ih, lá vinha...

          -... Ele descobriu as suas fotos do site do bar?

Hã?

          - Eu achei que ele já tivesse visto...

Negou.

          - Apesar de tudo... Acho que só de ele visitar o site não seria suficiente para ter uma reação como essa...

          - Tá... E por que você está jogando verde desse jeito?

Sorriu e disse:

          - Simplesmente porque quero ter certeza que você e o Bill, apesar do pouco tempo, estão começando a gostar um do outro.

Arqueei a sobrancelha.
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* Fato. Eu estava quase voando no pescoço da criatura, que ria. Resultado: Tive que abandonar o curso por causa de conflito de horário.
Imagens e músicas do capítulo

sábado, 14 de setembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 5º capítulo



Eu tenho alma, você pode verificar
No meu coração, na minha cabeça
Eu tenho um espirito, você pode sentir
Você achou que eu não era real?

(Kylie Minogue - Aphrodite)


Luiza

          -... E ele ainda me perguntou se eu era prostituta, aquele filho da... - Grunhi, me interrompendo. As meninas se esticaram, crentes que eu ia falar um palavrão, só que me freei, não dando o gostinho para elas, que fizeram bico. - E coitada da mãe dele, que não tem culpa do traste de filho que tem!

          - Agora você sabe o que eu passo com aquela coisa do irmão dele! - A Di protestou e a olhei, assim como a Nicola.

          - “O que eu passo”? - Perguntei, erguendo a sobrancelha e cruzando os braços. - Ah, Di... Nega que você não ama o sacrifício de correr dele, vai...

Torceu a boca, suspirando e a amiga da onça (Ignoremos o fato que, vez ou outra, a própria usava uma blusa com a estampa do bicho), voltou o foco para mim:

          - E então? O que vamos fazer?

          - Vocês voltam para Londres e, assim que esse bendito divórcio sair, pego o primeiro avião e volto para a mesma vida que tinha antes. Afinal de contas, o que acontece em Vegas, fica em Vegas, não é?

          - Então... A Bertha diria algo tipo... “Acho que esse problema no sistema do juizado aconteceu por obra do destino. Eu vi nas cartas.” - A Lola falou, imitando o tom de voz da minha chefe e rimos.

          - O que me desanima mais ainda é que, digamos que realmente não saia conforme o planejado. - Bati no tampo da mesinha de madeira ao meu lado, para isolar. - vai ser pior ainda do que é com o Alex no quesito privacidade zero.

As duas se entreolharam, fazendo cara de malícia.

          - O que foi?

          - Nada. Mas falando sério. - A Lola se adiantou. - E se você aceitasse a proposta dele e fosse para Los Angeles por uns dias?

          - Está fora de questão.

          - Iza, será que você não está sendo um pouco mesquinha? Quer dizer, o caminho mais fácil seria justamente abrir mão do dinheiro para ficar evitando confusão. - A Di arriscou e falei:

          - Acontece que, ao contrário de mim, ele não precisa desse dinheiro. Já eu... Imaginem só: A gente podia muito bem investir esse dinheiro e... Sei lá. A Lola podia abrir o próprio ateliê e a gente, Di, podia abrir o pub, o que me diz? É tão ruim assim imaginar esse tipo de coisa?

          - Não. Mas... Sei lá. - Ela respondeu, incerta.

          - Olha, eu vou exigir o que é meu de direito. Entenda-se por metade desse dinheiro, já que era a minha moeda que ele pôs na máquina.

As duas suspiraram, provavelmente já percebendo que não ia adiantar muita coisa continuar naquela discussão comigo.

No entanto, um pouco antes do jantar, aproveitei que fiquei de molho na banheira para poder pensar em tudo aquilo. Assim que tomei uma decisão, fiz o que precisava e, em seguida, saí do quarto e parei em frente à porta e bati. Esperei por um tempinho e não houve resposta. Bati de novo e esperei mais uns minutos. Ia bater pela terceira vez quando a porta finalmente se abriu e não sei como não tive um treco ali mesmo. Quem atendeu foi o próprio Bill e usando nada mais além de uma toalha, que nem estava presa; Ele segurava uma das pontas.

          - Sim?

          - Eu... Queria conversar com você.

Deu de ombros, se afastando e me deixando entrar. Respirei fundo, mas tentando ser o menos ruidosa possível e fui até a sala de espera, notando que ele tinha ido até o quarto. Me sentei em um dos sofás e esperei. Assim que ele voltou, usando uma camiseta e jeans, se sentou de frente para mim e perguntou:

          - Então?

          - Já falei com meus chefes e eles concordaram que eu ficasse esses dias a mais em Los Angeles até que toda essa situação se resolva.

          - Sério? - Ele perguntou surpreso. Tive a ligeira impressão que teve um pouco de animação demais da parte dele. Concordei e avisei:

          - Tão logo saia o divórcio, volto para a casa.

Assentiu em silêncio.

          - Eu sei que você provavelmente não vai querer, mas... Para não ficar gastando dinheiro com hotel, pode ficar na minha casa.

          - Ah, não se preocupe. Eu dou um jeito e arrumo um lugar para ficar.

          - Deixa de ser teimosa?

Ri e falei:

          - Está no meu DNA, lindinho. Bom, eu já falei tudo que tinha para dizer. Vou ver se consigo remarcar a minha passagem para Los Angeles.

          - Por que você não me dá seu telefone? Que dizer, como eu vou saber quando você vai para lá?

Consegui controlar o sorriso que teimava em aparecer por estar vendo alguém como ele desconsertado daquele jeito por pedir meu telefone. Olhei ao meu redor e encontrei um bloco de papel perto da mesa de canto ao lado do sofá. Levantei e anotei quase todos meus contatos. Não tirei a folha e avisei:

          - Aí. Bom, eu vou indo que amanhã quero acordar cedo para resolver essa história das passagens.

Se levantou e foi comigo até a porta. Perguntou, antes de destrancá-la:

          - O que você lembra de ontem? De verdade.

Suspirei e respondi:

          - O mesmo tanto que você.

          - Mas... Você não lembra nem se a gente...?

          - E que diferença vai fazer?

          - Nenhuma, mas eu queria só... Saber. Só isso.

Respirei fundo e falei:

          - Já te disse. Não lembro de praticamente nada entre o momento em que você me beijou e quando acordei hoje de manhã.

Concordou em silêncio e saí dali. Assim que cheguei ao quarto, a Nicola perguntou:

          - E aí?

          - Já foi devidamente avisado.

          - E...?

          - “E...?” o quê, Nicola? Não tem mais nada além desse aviso.

Me olhou daquele jeito inquisitivo que eu odiava e suspirei, me largando em um dos sofás.

          - Me disse para ficar na casa dele.

          - E o que você falou?

          - Que não, é claro!

Suspirou e continuou a fazer as malas. Sabia muito bem o que ela estava imaginando e nessas horas, não podia aguentar esse lado da Lola.

Na manhã seguinte, conforme o combinado, consegui trocar as passagens. Fizemos o check-out do hotel e a Nadine iria comigo para Los Angeles e a Lola voltaria para Londres. Nem me preocupei em descobrir à que horas o Bill iria para a casa; A única coisa que sabia era que Georg e Gustav voltariam para Hamburgo no mesmo dia que nós.

Enquanto estávamos no aeroporto, esperando o voo, minha amiga, sem eu perceber, pegou o meu mp3 da minha bolsa e começou a mexer, olhando cada música. Quando fomos fazer o check-in senti que ela pôs um dos fones de ouvido na minha orelha e me assustei.

          - Ai, praga! Não faz isso de novo!

Ela riu e, ignorando o fato de que alguém podia ver, aproveitou que era uma música que sempre dançávamos de zueira e, em frente ao balcão da companhia, começou a fazer discretamente os passinhos e a cantar embolado, já que era uma música de uma banda sul-coreana. O atendente olhou para ela por cima dos óculos e falei:

          - Pior que esse é o normal dela.

O cara não disse nada. Nem precisava. No seu lugar, faria igualzinho, sem tirar e nem pôr.

Quando estávamos indo para o portão de embarque, falei com ela:

          - Cada uma que você me faz passar, Nadine...

Riu e, de repente, estacou antes mesmo de irmos pelo detector de metais.

          - Ai, coisa! Que foi? - Perguntei, irritada por quase trombar nela, que me indicou duas figuras mais à nossa frente. - Não é possível! - Resmunguei.

          - Ah, é possível sim. E pode ir se preparando porque aquele fofo do Murphy deve estar aprontando.

Suspirei e falei:

          - Pena que não dá para ressuscitar uma pessoa... Senão, coitado do Murphy. Ia ter uma das piores mortes imagináveis.

Riu fraco e, depois que fomos para a sala de espera, fiz questão de arrastar minha amiga para o mais longe possível de onde eles estavam.

          - E se ele vier falar com você?

          - Vou ser educada.

Fez expressão descrente e resmunguei:

          - Ah, Nadine, vai!

Riu e me sentei na poltrona do canto mais escondido. Por sorte ou não, na nossa frente sentou um casal que mais parecia uma dupla de montanhas. Ela, loira, de olhos azuis e porcinos com um belo par de bochechas rosadas e esticadas. Ele, de cabelos castanhos, meio careca, com os olhos com as mesmas características e um cavanhaque perfeitamente desenhado. Me deitei um pouco na cadeira, mais para me esconder e a Nadine riu. Ouvimos a chamada do voo e relutei um pouco em levantar dali. Pedi para ela:

          - Algum sinal deles?

          - Os primeiros da fila.

          - Qual o tamanho?

          - Cerca de trinta pessoas.

          - Contando ou não com eles?
 
          - Sem.

          - Deixa eles saírem que a gente vai. - Respondi e ela concordou. Assim que se passaram alguns poucos minutos, lá fomos nós duas. Foi tudo perfeitamente bem até a hora em que encontramos os nossos assentos. Que eram na mesma direção que os deles. Fingi não vê-los e agradeci que, pelo menos, o avião era menor e as fileiras tinham duas poltronas de cada lado. Ou seja? A Di era minha... Companheira de viagem.

          - Dos males o menor. - Ela disse e dei um sorriso fraco, sem mostrar os dentes.

          - Pois é. - Respondi.

Até que a viagem foi relativamente tranquila. Quer dizer, até o desembarque. Estávamos esperando as bagagens passarem pela esteira quando percebi que duas pessoas altas pararam do meu lado. Fingi que nem vi e, quando a Di avançou para pegar a sua mala, ele aproveitou para dizer:

          - Eu estava pensando... O convite para que você fique lá em casa ainda está de pé. E quero avisar que se estende à sua amiga.

          - Eu realmente agradeço a gentileza, mas de novo, recuso. Não vamos nos demorar aqui em Los Angeles e, por isso, não tem problema se ficarmos hospedadas em um hotel, sinceramente.

          - Você é teimosa, hein?

Ergui a sobrancelha, dando um sorrisinho torto e a Di me entregou a minha mala que havia pegado.

          - Quando quiser ir ao juiz e pedir o divórcio... Só me ligar. Ah! E só faça isso quando for estritamente necessário.

Não respondeu nada. Saímos do terminal e passamos pelo saguão lotado do LAX. Assim que conseguimos um táxi, eu e a Di conversamos durante todo o caminho e o motorista nos ajudou com a bagagens depois que chegamos.

Naquela noite, enquanto minha amiga estava no banho, ouvi meu celular dar o aviso de mensagem e, depois que peguei o aparelho, vi que era uma SMS do Bill, avisando que já tinha conseguido marcar a audiência para a manhã seguinte. Menos mal. Quanto mais rápido essa situação toda fosse resolvida, melhor.

Então, às oito da manhã, chegamos à corte praticamente ao mesmo tempo e tivemos de esperar um pouquinho. E do mesmo jeito que a Di estava me acompanhando... O Tom também o fazia com o Bill.

Depois de uns minutos, fomos chamados e deixei minha amiga passar na minha frente ao entrarmos ali. O Bill explicava toda a situação e o juiz, um homem de cabelos grisalhos, de óculos meia lua e expressão cansada, ouvia à tudo atentamente. Por fim, quando terminou o monólogo daquele que eu relutava em chamar de “meu marido”, o juiz disse:

          - Bem, me deixem dizer uma coisa. Sou casado há quase quarenta anos com a mesma mulher. E assim como vocês dois, fui para Las Vegas e me casei com ela no mesmo dia em que a conheci. E durante toda a viagem de volta, feita dentro de um ônibus, conversamos e percebi que não tinha feito a maior burrada da minha vida, como havia pensado. Claro que tem dias que simplesmente quero jogar tudo para o alto e sumir, mas ao me lembrar que ela me deu os meus três filhos... Respiro fundo e tento consertar o que está errado. Por isso, sentencio vocês a passarem um ano inteiro juntos, vivendo sob o mesmo teto e sendo acompanhados por um terapeuta de casais, que me enviará os relatórios das consultas. Se, depois desse ano, vocês dois ainda estiverem dispostos a pedirem o divórcio, então concedo e com a divisão estabelecida do dinheiro. Até lá, o valor que ambos ganharam em Las Vegas será congelado.

Mentalmente xinguei o juiz.

          - Senhora, por um acaso você tem residência e trabalho fixos?

          - Do outro lado do oceano, excelência. - Respondi.

          - Neste caso, você ficará na residência do Sr. Kaulitz durante esse período.

Sabendo que eu não podia retrucar, apenas consenti com a cabeça e sem dizer nada.

Ele concordou também e não muito tempo depois, fomos liberados. Entretanto, assim que saímos da tribuna, o ouvi perguntar:

          - Ei... Está indo aonde?

          - Isso não é da sua conta. - Respondi, o mais rabugenta que consegui.

          - Ah, é sim. Você é minha mulher agora. Vai comigo para a minha casa.

Fechei as mãos em punho e tentei manter a respiração controlada.

          - Quero ver você me obrigar. - Desafiei. No instante seguinte, fui erguida do chão e posta sobre seus ombros feito um saco de batatas. Esperneei e estapeei cada mínimo pedaço do seu corpo que conseguia alcançar. - ME PÕE NO CHÃO, SUA COISA COMPRIDA!

          - Que maturidade! - Resmungou, rindo e consegui bater na sua bunda. - Bate que eu apaixono, hein?

Grunhi, daquele jeito típico de filme de patricinha norte-americana e, vendo que estava atraindo olhares por onde passava por causa do escândalo (Além do fato óbvio, de estar sobre o ombro de um cidadão de quase dois metros de altura), fiquei quieta. A Di andava bem atrás e tentava me acalmar. Continuei sendo carregada daquele jeito até o estacionamento.

          - Pode me colocar no chão, por favor? Não vou tentar fugir, ainda mais em cima desses saltos. - Falei, estranhamente calma e, para minha surpresa, fui atendida prontamente.

De lá, fomos até o hotel e, depois que terminei de trocar de roupa e guardar as minhas coisas, fui até a sala, onde o Bill perguntava à minha amiga:

          - Nadine, tem como você dar um jeito de mandar as coisas da Luiza para cá? Não se preocupa, porque pago o transporte.

Ela concordou e, me olhando, perguntou:

          - E a Vivi?

          - Quem é Vivi? - Ele se intrometeu e por muito pouco não dei uma resposta malcriada.

          - Boa pergunta.- Respondi especificamente para a Nadine e mordi o lábio.

          - Vamos fazer o seguinte: Eu volto para cá e trago a Vivi. Não tem problema. - Ela falou e não resisti e a abracei apertado. Sem nos separarmos, disse, de modo que só eu escutei: - Ei... Vai com calma. Foca no dinheiro e lembra que um ano passa rápido.

          - É. Tão rápido quanto vinte e quatro horas. - Resmunguei e ela riu.

          - Lembra do nosso mantra, caso a situação fique periclitante.

Foi a minha vez de rir e quando ouvi o Bill pigarrear, suspirei e hesitei ao largar a minha amiga. Se despediu rapidamente dela e saímos dali. Durante todo o caminho até sua casa, não disse uma única palavra. Assim que chegamos, dei uma olhada no lugar. Quer dizer, casa para aquele imóvel era apelido. Era uma mansão mesmo e parecia um pequeno castelo. A fachada era em um tom de marrom muito claro e tinha alguns detalhes com tijolos expostos. A beirada das janelas redondas eram brancas e as portas, em arco, também tinham esse detalhe dessa cor. A porta de entrada era de madeira escura e tinha detalhes em ferro.

Depois de entrar na garagem, o Bill saiu do carro e, já prevendo o que aconteceria se eu não o imitasse, soltei o cinto e logo depois, saí, vendo-o abrir o porta-malas e pegar a minha mala. Abriu uma porta que imaginei que dava para o resto da casa. Entrou ali e pôs tudo do outro lado. Em seguida, veio andando até onde eu estava e me pegou nos braços. Perguntei:

          - Vai ficar me carregando o tempo inteiro?

Juro que fiquei com muito medo de ele, acidental ou propositalmente, bater minha cabeça na porta, mas teve o maior cuidado. Me pôs no chão, como se eu fosse feita de porcelana e disse:

          - Vou te mostrar a casa.

Ainda surpresa por aquela gentileza, o segui e, antes mesmo de sair daquela espécie de antessala em que estávamos, me provocou:

          - Ah! Uma coisa. Já que você vai morar aqui por um ano e é minha mulher, querendo ou não, não precisa ficar me pedindo permissão para fazer certas coisas, como abrir a geladeira e pegar alguma coisa para comer, por exemplo. E como vocês lá do Brasil dizem... “Mi casa es su casa”.

Arqueei a sobrancelha e falei:

          - Engraçado você falar isso, porque segundo consta... Quem descobriu o Brasil não foram os portugueses, mas os espanhóis, na realidade. Não me lembro direito do que aconteceu para terem mudado a nacionalidade dos colonizadores, sinceramente.

          - Irritante. - Sibilou e fingi que nem ouvi. - Continuando... - Respondeu, seguindo em frente e não segurei o riso, aproveitando que tinha se virado de costas para abrir uma outra porta. - À esquerda, tem a adega e à direita, tem a escada que leva à cozinha.

          - Uma adega em casa? - Perguntei, balançando a cabeça em negação.

          - É. Imagino que você saiba que eu gosto de tomar vinho de vez em quando e por isso que quis construir uma tão logo me mudei para cá.

Segurei minha língua para não fazer qualquer comentário.

Subimos as escadas que davam para a cozinha, que era moderna, em tons de branco e preto. O chão era quadriculado, os móveis brancos, assim como as paredes (Exceto a que ficava de frente para uma ilha, que era coberta por pastilhas pretas). As cadeiras e tampos das bancadas eram da mesma cor das pastilhas. Numa parede, havia um armário com livros de receitas, algumas de lugares específicos do mundo, como a Itália, por exemplo. Não me surpreendi ao ver um só de massas. Saindo dali, me mostrou a sala de jantar, que também era em tons sóbrios; Havia uma longa mesa de jantar de madeira escura e circundada por cadeiras cobertas com estofado branco. As paredes eram escuras e tinham alguns detalhes de beirada de gesso branco. Na parede entre as passagens para a cozinha e o hall de entrada, tinha uma lareira. O resto da casa era sempre em tons de branco e outra cor escura. Ainda no primeiro andar, tinha seu escritório e me lembrei do filme de “A bela e a fera” da Disney, onde o “monstro” proíbe a heroína de ir à ala leste do castelo, uma vez que o Bill também avisou que não deveria entrar no seu escritório quando ele estivesse lá; Alegou que não gostava de ser interrompido. Sei...

No segundo andar, tinham os quartos e, no final do corredor à esquerda, era o dele. E não para a minha surpresa, prevalecia a combinação de cores, só que desta vez, tinha também, o prata, além do preto.

De volta ao andar debaixo da casa, me mostrou a piscina, que era enorme e parecia que a água caía do lado de fora. As espreguiçadeiras e um par de sofás que havia ali seguiam o mesmo padrão de cor. Perguntei, não conseguindo me controlar:

          - Reparou que sua casa inteira é decorada em branco, preto e marrom? Não me surpreenderia se soubesse que, durante todo esse tempo, você tenha ficado em depressão. Pelo amor de Deus, essa casa precisa de umas coisas mais... Vivas!

          - Me responde uma coisa? Você é designer de interiores?

          - Não. Mas sou filha de uma. - Respondi e, de novo, ele ficou sem saber o que dizer. - E esse vai ser um ano muito interessante...

          - Isso me lembra de uma coisa. Mesmo que eu tenha dito que você pode ficar à vontade, aqui tem as minhas regras.

Cruzei os braços na altura do estômago, empinando o nariz e ele começou:

          - Vamos revezar com a louça. Duas vezes por semana, vem uma moça fazer a limpeza da casa. E, pelo pouco que vi de você, é mais um pedido que uma regra. Tenta deixar tudo organizado, por favor. Se você for à piscina, não é para deixar um rastro de água. O mesmo se aplica ao banho. Como você vai usar o meu banheiro, tenta não deixar aquele monte de cabelos no ralo. E nada de toalha molhada em cima da cama.

          - Aceito suas regras desde que aceite as minhas.

Concordou.

          - Nada de fumar perto de mim. Tenho rinite alérgica e prefiro não virar fumante passiva.

Ergueu as sobrancelhas e falei:

          - É isso ou é melhor ir se acostumando às minhas reclamações.

Suspirou e acabou concordando.

          - Mais alguma coisa?

          - Nunca, sob nenhuma hipótese, me acorde, a menos que seja em duas situações distintas: Ou se o mundo está acabando ou se eu te pedir antes. E nem mexa nas minhas coisas sem a minha permissão.

          - Por que não posso te acordar?

          - Simplesmente porque detesto que me acordem.

          - Mesmo se for gentilmente?

          - Mesmo assim. E tenho algumas coisas para te pedir. Se eu quiser sair à noite, caso faça alguma amiga por aqui durante esse tempo, nada de ficar me controlando, ligando a cada cinco minutos, querendo saber com quem estou e o que estou fazendo. Tente, também, não ficar me interrogando a respeito da minha vida. Seja em Londres, seja no Brasil. Ah! Relacionamentos passados é assunto proibido entre nós, feito? Você não me pergunta sobre quem passou pela minha cama e eu não pergunto sobre a sua ex.

Não houve oposições.

Depois que ele saiu, fiquei sozinha naquela casa enorme, não sabendo o que diabo podia fazer. Estava deitada na cama, encarando o teto e pensando que aquele seria um longo ano, apesar do que a Di falou. Peguei o celular e digitei uma mensagem para ela, que não respondeu e acabei pondo o aparelho de lado. Voltei à mesma posição de antes e não demorei muito a pegar no sono.

Quando acordei, tinha a sensação de que era muito mais tarde, apesar de não ser nem oito horas da noite. Suspirei e decidi levantar da cama. Olhei o celular e nada. Mentalmente xinguei a Nadine e fui até a cozinha. Assim que abri a geladeira, vi que o que mais tinha ali eram garrafas e latas de cerveja.

          - Tá de sacanagem comigo, Kaulitz! - Pensei em voz alta e continuei a procurar alguma coisa ali que pudesse comer, mas não tinha nada. Saí procurando pelo telefone de uma pizzaria ou até mesmo restaurante de comida chinesa. Não consegui achar nada e, xingando o Bill, subi até o segundo andar da casa, querendo pegar o meu celular. Mas no meio do caminho, fui impedida ante a visão de uma mulher loira, com a maior pinta de Barbie, entrando na casa. Assim que terminou de trancar a porta, veio andando na minha direção e quis saber:

          - Você deve ser a Luiza, não é?

          - E você é...?

          - Claire. Sou secretária do Bill. Vim aqui te trazer uma cópia das chaves daqui.

Desci os poucos degraus e, quando parei na sua frente, me senti uma nanica. A mulher parada à minha frente era alta, mesmo usando sapatilha. Realmente podia se passar por uma Barbie, ainda mais com os olhos azuis arredondados que tinha.

          - E ele ainda está no estúdio?

          - Não. Precisou resolver algumas coisas e me pediu para te avisar.

          - Sei... Escuta, você por um acaso teria ideia de qual pizzaria ele costuma ligar? Fui olhar a geladeira e tem mais cerveja que qualquer outra coisa.

Deu um sorriso e propôs:

          - Então. Se quiser vir comigo... Estava indo comer alguma coisa.

Dei de ombros e avisei que iria pegar a bolsa.

Cerca de meia hora depois, estávamos num Burger King, perto de casa, e devorando um sanduíche cada uma. Sempre que dava, conversávamos e ela me contou algumas coisas:

          - Depois que deu toda aquela confusão com a ex, ele ficou mais... Introspectivo ainda.

          - E você chegou a conhecer a criatura?

          - Então. Ela é filha da minha madrasta. Mas nós não temos muito contato. Já não nos falávamos antes de tudo acontecer...

          - Tipo, você é irmã postiça dela? - Perguntei, chocada e ela concordou. - Wow... Por essa eu realmente não esperava.

Riu e disse:

          - Então. Nunca vi o Bill com outra garota desde então. E só soube de você hoje de manhã. Já tem um monte de sites comentando.

          - É. Eu sabia que beber em excesso não era bom e mesmo assim, não teve como evitar essa... Burrada.

Sorriu, mas sem mostrar os dentes.

          - Acho que vai ver que está errada. Não foi exatamente uma burrada se casar com o Bill, apesar das circunstâncias. Ele pode ter ficado mais chato depois que tudo aconteceu, mas, acho que você vai conseguir dar um jeito nele.

          - Duvido um pouco, já que somos o oposto do outro... E nem vem com a história de que os opostos se atraem porque não acredito.

Riu e disse:

          - Então... Para sua sorte, passei os últimos três anos convivendo quase diariamente com ele. Querendo ou não, sei bastante coisa sobre o Bill e principalmente: Coisas úteis.

          - Me dá um exemplo.

          - Ele costuma sair às sextas-feiras e vai à um bar no centro. E ele pensa que eu não sei, mas descobri que nessas saídas, acaba indo para a cama com alguma garota que conhece por lá. Totalmente na abstinência ele nunca ficou.

          - Seria essa garota do tipo que... É paga? - Perguntei e ela deu de ombros.

          - Acho improvável, porém não impossível. Mas se quiser, te ajudo com ele. Mesmo que não queira se envolver, ainda sim, vai tornar a sua convivência mais fácil.

Suspirei e perguntei:

          - E o que quer em troca?

          - Fácil. Sigilo absoluto, já que é meu emprego que vai estar em jogo.

Estiquei a mão para ela, dizendo:

          - Feito. E eu vou precisar de alguns favores esporádicos seus.

Concordou.

          - E já sei qual vai ser o primeiro.

Me olhou, curiosa e falei, sorrindo:

          - Vou te pagar para ser minha guia pelos shoppings, brechós e lojas daqui.

          - Ah, não precisa. Adoro fazer compras e só o prazer de sair com uma garota para variar já está ótimo. Quer dizer, todo santo dia faço a rotina de ir do estúdio para a casa e vice-versa...

Antes de sair do seu carro, que era popular, falei:

          - Ó... Na primeira folga que tiver, a gente combina e vai fazer as compras, feito?

Concordou e me despedi dela, que olhou para a casa, receosa. Achei que ela tivesse visto o Bill, mas logo descobri que era justamente o oposto: Ele ainda não havia chegado.

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Imagens e músicas do capítulo

A casa do Bill (Parte 01 - Parte 02)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 4º capítulo



Me interrompeu, perdi meu caminho
Não é culpa minha que eu sou um maníaco
Não é mais engraçado, não é não
Meu coração é como um garanhão
Elas o amam ainda mais quando ele está partido

 (Fall Out Boy - Alone together)


Bill

Tinha uma garota nua na banheira. E tudo o que eu conseguia fazer era olhar para ela, atônito. E me olhava de volta, não muito diferente.

          - Bill, eu acho que... - O Tom falou, andando até parar do meu lado e ver a garota. - Oi.

          - Oi. - Ela respondeu, natural. Definitivamente, se era uma groupie (O que, cá entre nós, não parecia nem um pouco), era uma das mais... Estranhas.

          - Tem algum motivo para você estar tomando banho aqui? - Meu irmão perguntou e ela riu.

          - Tem. Este quarto foi reservado para as minhas amigas e eu. E, pelo visto, a pessoa encarregada de fazer as reservas devia estar de ressaca... Posso pedir para esperarem na sala um pouquinho enquanto me visto, por favor?

Meu irmão concordou e eu não conseguia me mover um único milímetro sequer. Ela era... Diferente e ao mesmo tempo, tão comum... Sua pele era branca, os cabelos escuros e os olhos eram castanhos. No entanto, o que mais chamava a atenção nela era a boca: Carnuda e naturalmente vermelha. Não sabia dizer se era alta. Mas vi que era magra, principalmente pelo seu braço fino que descansava sobre a borda da banheira.

          - Bill. - O Tom me chamou, finalmente conseguindo me tirar do transe em que eu estava. Pisquei algumas vezes e, pedindo licença, fechei a porta do banheiro ao passar. Em seguida, fui até a saleta e meu irmão se sentou no sofá, fazendo um barulho de estalo com a boca. De repente, a garota passou, usando um roupão branco e entrou num dos quartos. Passados alguns poucos minutos, a porta se abriu e vi que mais duas meninas entraram, sendo que a que vinha na frente era a mais diferente das três, com pele mais bronzeada, cabelos castanhos, cheios e ondulados e mais alta. Sem falar no detalhe mais assustador sobre ela: A garota era magra, mas muito magra mesmo. A ponto de me fazer pensar se ela não sofria de algum distúrbio, como anorexia.

Assim que a viu, o Tom se endireitou no sofá e perguntou:

          - Ora, ora, ora... Quem diria que nos encontraríamos novamente?

Olhei para ele e a garota, que estava com cara de poucos amigos.

          - Ah, só pode estar brincando comigo! - Disse, com um sotaque meio estranho; Era um pouco britânico, mas ao mesmo tempo, era diferente.

Voltei meu olhar para meu irmão, que sorria daquela maneira maliciosa.

          - Estou falando seríssimo... - Respondeu. - Quem diria que iríamos nos encontrar de novo e justamente aqui, no meu quarto?

Ela arqueou a sobrancelha, dando um meio sorriso, e disse:

          - Seu quarto? Você realmente é muito sonhador mesmo, hein?

Ele sorriu e respondeu:

          - Não sou sonhador. Este quarto é meu e do meu irmão.

Ela deu um riso de escárnio e só então, notei a garota que estava mais atrás. Era meio difícil de não vê-la, uma vez que era tão branca quanto a que estava na banheira. O diferencial eram seus cabelos vermelhos e os olhos claros. Era magra, mas não tanto quanto a que estava sendo provocada pelo meu irmão.

Percebendo o clima de hostilidade ali, a ruiva puxou a amiga para o mesmo quarto que a da banheira havia entrado. E quase imediatamente, as três saíram. A morena da banheira nos chamou e fomos com elas para fora do quarto. Enquanto estávamos no elevador, perguntei para o Tom, em alemão:

          - De onde você as conhece?

          - Não está se lembrando delas?

Olhei para as duas e neguei com a cabeça. A garota da banheira nos olhava, com certo interesse.

          - Quando estávamos em Londres, fomos à um bar. Lembra que houve toda aquela... Excitação a respeito das dançarinas?

Parei para pensar e concordei, me lembrando das meninas. Olhei para a ruiva e a magra e concordei. A morena deu um meio sorriso e vi que cutucou a ruiva, disfarçando. As duas se olharam e trocaram um sorrisinho enigmático.

          - Eu estava pensando... - Falei, atraindo a atenção das meninas. - Com toda essa confusão, acabamos não nos apresentando...

As meninas se olharam de novo, dando o mesmo sorrisinho enigmático mais uma vez.

          - Sou Nadine - A magra disse. - Ela é a Nicola e aquela ali é a Luiza. - Indicou, respectivamente, a ruiva e a morena. - E sabemos muito bem quem vocês são. Mesmo não querendo...

Percebi que meu irmão estava se segurando para não provoca-la. Assim que chegamos ao térreo, falei:

          - Deixa que eu resolvo isso.

Fui andando até o balcão e, quando o recepcionista me olhou, avisei:

          - Escuta, eu estou com um pequeno problema e espero que, para o bem do hotel, seja resolvido. Tenho contatos, inclusive, na imprensa e, se eu falar um “A” que seja, pode apostar que o Bellagio não vai mais ser tão famoso assim. Acontece que aquelas três moças ali estão com reserva para o mesmo quarto que o meu e o do meu irmão. Ou você e o gerente encontram uma solução, no mínimo, satisfatória ou então, serei obrigado a fazer ligações para alguns... Contatos que eu tenho. E não são só aqui nos Estados Unidos, mas em vários lugares da Europa.

O rapaz engoliu em seco e tentou se explicar:

          - Senhor, eu realmente sinto muito por toda essa confusão. Acontece que o sistema sofreu uma pane há alguns dias e provavelmente foi por isso que o mesmo quarto foi reservado para dois grupos distintos. Vou coloca-los em outro quarto. A menos que prefira que a transferência seja das moças, que estão aqui desde ontem...

          - Não... Vamos fazer o seguinte então. Encontra um quarto como o delas que está bom.

Assentiu e, em poucos minutos, a transferência de quarto foi feita. Assim que voltei para o grupinho, avisei e a morena foi andando até o balcão, sem dizer mais nada. Se debruçou sobre o tampo e começou a conversar com o recepcionista, que engolia em seco, ainda mais nervoso do que havia feito quando fui falar com ele. As suas amigas riam disfarçadamente e perguntei:

          - Do que estão rindo?

As duas me olharam e a Nicola respondeu:

          - Estamos rindo de uma coisa absurda que a Luiza falou. Depois pergunta para ela...

Só então, me dei conta que ela já estava voltando e com expressão desconsolada.

          - O que foi?- A Nadine perguntou à amiga, que suspirou e disse:

          - Pois é. Tentei pedir uma compensação por toda essa bagunça e... - Só então vi que estava com as mãos nas costas. Ergueu os braços e continuou: - Ai, minha nossa! Vamos ter de fazer um grande sacrifício de usar isso aqui!

Tinha conseguido um bom número de passes para os casinos e acho que tinha até o que parecia ser flyers promocionais de boates. Deu um pouco para o meu irmão, que agradeceu. Depois dali, fomos até o elevador e, enquanto esperávamos, ele tentou puxar conversa com as meninas:

          - E então? Por que estão em Las Vegas?

A Nadine deu um estalo impaciente com a língua e vi que as amigas a cutucaram discretamente.

          - Vocês respondam primeiro. - A Luiza disse.

          - Vim para cá obrigado pelo Tom e mais dois amigos. - Respondi.

          - Senão, aposto que à uma hora dessas, estaria naquela rotina de ir para o estúdio, ficar enfurnado lá o dia inteiro e voltar para a casa para continuar trabalhando. - Meu irmão disse e dei uma olhada feia para ele.

          - Estamos aqui porque a Di faz aniversário daqui a três dias. - A Nicola respondeu. Notei que a Luiza ficou quieta e naquele instante, o elevador chegou. Entramos e, assim como antes, as três ficaram de um lado e nós de outro. Ficamos em silêncio e não consegui desviar o olhar da morena um único instante sequer. À parte a história da banheira. Só sei que não sabia por que não parava de olhá-la. E, por mais que estivesse se sentindo incomodada, não retribuía meu olhar; Decidia encarar o indicador dos andares. Assim que chegamos ao andar (Já que o quarto delas e o nosso era perto um do outro), elas saíram praticamente ao mesmo tempo e nós fomos mais atrás.

Logo que chegamos ao nosso novo quarto, o meu irmão não podia perder a oportunidade:

          - Você bem que gostou daquela branquinha de cabelo escuro, hein?

Dei um estalo impaciente com a língua, fazendo-o rir e avisei:

          - Não começa.

Riu e disse:

          - Escuta, se quiser ficar com ela, tem todo meu apoio, sabe disso...

Revirei os olhos e perguntei:

          - O que fez àquela garota para ela ter tanto ódio de você?

          - Por que acha que fiz alguma coisa para ela?

          - Talvez porque te conheço e sei que você não recebe tanto ódio assim gratuitamente?

Suspirou e admitiu, finalmente:

          - Fiquei bêbado naquela noite e acabei fazendo o que não devia.

          - E o que foi?

          - Roubei um beijo dela. E falei uma coisa que ela não gostou. Só te digo que mereci o tapa que levei.

Olhei para ele, surpreso.

          - Ela te bateu? - Perguntei, não conseguindo segurar o riso. Suspirou, impaciente e concordou.

Mais tarde, quando descemos para comer alguma coisa, não havia sequer sinal das meninas. E justamente por essa minha... Inquietação que os caras perceberam que tinha alguma coisa estranha acontecendo comigo.

          - O que foi?- O Georg perguntou.

          - Então. A gente chegou no quarto e, logo de cara, vimos que já tinha alguém ali, principalmente porque tinha um sutiã rosa sobre o braço do sofá. Aí, nisso, a gente escuta uma menina gritando que estava na banheira. - Meu irmão contava.

          - Groupie? - O Gustav quis saber.

          - A gente até achou que era. O Bill foi na frente e, quando cheguei lá... Realmente ela estava na banheira e tomando banho.

          - E o que mais ela estaria fazendo numa banheira? - Perguntei, meio sem pensar e o meu irmão respondeu:

          - Então. Ela podia estar com um cara e esperando uma terceira pessoa. Ou podia... Sei lá, estar se divertindo sozinha. E a única utilidade de uma banheira não é a de tomar banho. Você sabe tão bem disso quanto eu.

Suspirei e continuei a me concentrar na comida.

          - E aí? - O Georg perguntou, todo entusiasmado.

          - Aí que ela foi trocar de roupa e, quando a gente estava esperando, adivinha quem apareceu? - O Tom continuou a contar. Os dois olharam para meu irmão, sem entender e meu irmão questionou: - Vai dizer que não se lembram daquelas meninas que trabalhavam naquele pub de Londres?

Os dois fizeram cara de quem entenderam.

          - E aquela do sorriso encantador ainda trabalha lá? - O Georg quis saber. Meu irmão crispou a boca e suspirou.

          - Ela e a ruiva. - Respondi e o Georg ficou todo animadinho.

          - E aí? Descobriram o que elas vão fazer aqui? - O Gustav quis saber e falei:

          - Comemorar o aniversário da Nadine, a do sorriso.

          - Aposto que você vai querer dar os parabéns pessoalmente para ela, não é? - O Georg provocou meu irmão e ganhou um dedo do meio como resposta.

          - Mas a da banheira é bonita? - O mais velho do grupo quis saber. Sabia que o Tom estava me olhando, só esperando para fazer um dos seus comentários típicos. Respirei fundo e assenti, encarando meu próprio prato.

          - E já sabem o nome dela? - Ouvi o Gustav perguntar e o Tom respondeu:

          - Na realidade... Não consegui guardar...

          - Luiza. - Respondi.

          - Ih, acho que essa Luiza pegou o Bill de jeito... - O Georg debochou e falei:

          - Ela é parecida com a Lydia, pelo menos fisicamente. E nós sabemos muito bem que a última coisa de que eu preciso é outra pessoa que ferre com minha vida uma segunda vez.

Levantei, sem mais e nem menos, fui andando na direção da saída do restaurante e, quando estava no elevador, ouvi um grito e segurei as portas até que vi a Luiza estava correndo naquela direção. Quando entrou, murmurou um agradecimento enquanto ia até o painel com os botões dos andares e parou ao ver que eu já tinha apertado o que ela queria. Ficou encostada na parede oposta à que eu estava e prestava atenção ao indicador luminoso. Foi nesse instante, que vi a sua camiseta. Era daquelas com “Keep calm &...”. O estranho era o final da frase: “Don’t blink.”. Bem acima, o que parecia ser uma daquelas cabines telefônicas típicas de Londres. Inevitavelmente, fiquei olhando, imaginando o que significava aquilo e ela cruzou os braços, pensando, talvez, que eu estivesse olhando seu busto. As portas se abriram e, em silêncio, ela saiu, sendo seguida por mim. Ela entrou no quarto e continuei, com a frase em mente. Chegando à minha suíte, liguei o computador e digitei a frase no Google. A pesquisa mostrava, basicamente, sites de lojas que vendiam camisetas. Abri a pesquisa de imagem em outra guia e me deparei com um link que era o mais útil ali, sobre algo chamado “Doctor Who”. Fiz uma nova busca com esse nome e descobri que era uma série inglesa. O site, inclusive, era da BBC e tinha outro nome, “Weeping Angel.”. Fiz a busca e descobri a foto de uma estátua de anjo que cobria os olhos. Logo ao lado, de uma criatura idêntica, mas com cara de demônio mesmo, de boca aberta e exibindo dentes pontiagudos, além de manter os braços para cima, em posição ameaçadora. De repente, tomei um susto com o Tom perguntando:

          - Que porra é essa?

Uma vez recuperado, depois de alguns breves instantes, expliquei:

          - Quando vim para cá, a Luiza pegou o mesmo elevador que eu. E ela estava usando uma daquelas camisetas com a frase “Keep calm”. - Ele assentiu. - E a continuação me deixou curioso e descobri que é de uma série que tem isso aqui. - Apontei para a tela.

          - E ela gosta disso?

          - Prefiro acreditar que gosta da série.

Riu fraco e avisou que ia tomar banho. Continuei olhando mais coisas da série. E me surpreendi ao descobrir que era de ficção científica. O mais engraçado é que a Luiza não parecia ser nem um pouco geek...

Três dias depois, em pleno sábado, me vi parado em frente ao espelho do banheiro, encarando meu próprio reflexo e me perguntando o que diabos estava fazendo. Apesar disso, não tinha a sensação que estava fazendo algo de errado, muito pelo contrário.

Quando estava pronto, fui encontrar meu irmão e meus amigos e, assim que saímos do hotel, tentamos encontrar um táxi, já que tínhamos decidido ir à um casino e boate na “The Strip”. No entanto, não pudemos deixar de notar três figuras mais à frente, entrando numa limusine. A última, no entanto, parou no meio do caminho e nos olhou. Se debruçou e o Georg perguntou, finalmente a notando ali:

          - É aquela ali?

          - Em carne e osso. - O Tom respondeu. Era engraçado vê-la usando um vestido preto curto, saltos e maquiada daquele jeito e lembrar que era a mesma pessoa com camisa geek que pegou o elevador comigo. Ela se endireitou e veio andando na nossa direção e perguntou:

          - Como estão tentando, sem sucesso, conseguir uma carona... Aceitam a nossa oferta? - Indicou o carro. - Tem lugar mais que suficiente para vocês. E não acho que vão desviar tanto assim do nosso caminho, já que estamos indo para a Strip...

Olhei para os outros e eles deram de ombros, aceitando a oferta. A seguimos até o carro e, depois que ela entrou, deixei os outros se acomodarem. E, apesar de tudo, um dos lugares vagos era exatamente ao seu lado. Respirei fundo e tentei não olhar para o meu irmão, porque sabia muito bem que ele ia acabar falando alguma coisa. Acabei percebendo o cheiro de um perfume floral. Não precisei pensar muito para descobrir que era da Luiza.

          No meio do caminho, a Nicola perguntou:

          - E então? Onde vocês estão indo?

          - A uma boate chamada XS. - O Georg respondeu. As três se entreolharam e a Luiza disse:

          - É... Acho que realmente a carona veio muito a calhar. Estamos indo para lá também.

          - Ah, está de sacanagem! - O Tom exclamou e a Nadine foi a única que ficou séria. Dava para ver o quanto ela estava detestando ficar ali, ao lado do meu irmão; Não conseguia entender o motivo desse ódio todo que sentia por ele.

Assim que chegamos, cada um foi para um lado, sendo que as meninas ficaram juntas e não demorou muito para que meu irmão sumisse, assim como nossos amigos. Fiquei sozinho em um canto, só observando tudo e, depois que vi a Nadine ir até a mesa do DJ, não resisti e procurei as outras duas com o olhar, sabendo muito bem que, onde uma estava, a outra também estaria.

Não demorou e as três estavam juntas de novo, dançando uma música que havia acabado de começar e eu sabia que era a que a Nadine provavelmente tinha pedido para o DJ tocar. Observei o trio dançar, prestando atenção a cada mínimo detalhe: Desde o jeito com que se moviam, atraindo a atenção de todos os caras dali, até os sorrisos que trocavam, claramente se divertindo. Pude perceber que a amizade que tinham era verdadeira e, por um instante, me ocorreu a hipótese de a Luiza ser a mais nova dali. Isso aconteceu quando vi um cara se aproximando dela, que tentou afastá-lo e, imediatamente, a Nadine interviu. Assim que a música acabou, a Luiza aproveitou para ir ao bar. Tomei o resto da minha bebida e fui até lá, me usando disso como álibi. Parei ao seu lado no balcão e perguntei:

          - Cansou de dançar?

Deu um meio sorriso e quis saber:

          - E você? Vai ficar só sentado naquele canto ali, bebendo e bancando a águia?

Ri e o barman entregou seu drink: Uma margarita rosa.

          - Então... Aonde aprendeu a dançar desse jeito? - Indaguei e ela me olhou, curiosa.

          - Por que está me perguntando uma coisa que já sabe?

          - Então você trabalha no tal bar.

Assentiu.

          - A Nadine conseguiu o emprego para mim. - Respondeu. - Depois que a ajudei e à Nicola.

          - Vai querer voltar a dançar?

Negou com a cabeça.

          - Pelo menos até eu terminar... - Ergueu a taça com a margarita. O barman me entregou o meu drink e, depois que o peguei, indiquei umas mesas altas que estavam a um canto e ela me acompanhou. Depois de se sentar ao meu lado, perguntei:

          - E como você ajudou as duas?

          - Elas estavam sendo assaltadas. Pulei em cima do ladrão, literalmente, e a gente começou a conversar na delegacia.

Olhei para ela, surpreso, e a Luiza apenas ria. Continuamos conversando, principalmente sobre a vida de cada um e, quando estávamos na sexta dose das bebidas, a inibição já tinha acabado quase que totalmente e eu a observava, contando sobre a primeira noite de trabalho no bar:

          -... Aí, eis que o Stephen parece brotar sabe Deus de onde e fala comigo: “Sobe naquele balcão senão está na rua. Se quiser, pode tomar uma bebida.”.

          - E o que você fez?

          - Me servi de uma dose de tequila. E descobri que era uma das mais vagabundas de todas, já que na manhã seguinte, não conseguia levantar da cama.

Ria da sua narrativa, a acompanhei e ela disse:

          - Mas falando sério... No início, eu realmente precisava de uma dose para poder subir em cima daquele balcão e conseguir dançar. Normalmente, evito ficar exagerando demais na bebida. Primeiro porque não gosto de ficar bêbada, passando mal e acordar com aquela ressaca monstro, já que não trabalho só no bar.

          - E aonde mais você trabalha?

          - Numa loja de produtos exotéricos. A dona vive pondo jogos de tarô para mim, falando cada coisa bisonha que nunca realiza.

Continuou contando das previsões da dona da loja e se divertia ao relembrar algumas. Num dado momento, alguns instantes depois, perguntei:

          - E... Você tem alguém em Londres?

Me olhou, curiosa e devolveu a pergunta:

          - Por quê?

          - Curiosidade. Só isso.

Estreitou os olhos e disse:

          - Mentiroso.

          - Desculpe?

          - Estou te chamando de mentiroso porque não acredito que é só uma curiosidade.

          - E o que é?

Deu um sorriso misterioso e, depois de tomar um gole da sua bebida, respondeu:

          - Interesse. Toda santa vez que você me encontra, não para de me olhar um segundo sequer. Foi assim quando você me pegou na banheira... - Parou de falar, olhando em um ponto qualquer e com cara de pensativa. - Isso não soou muito bem. Enfim. Me olhou no elevador...

          - Eu estava olhando a camiseta.

 Arqueou a sobrancelha e continuou, ignorando minha resposta:

          - Fato é que você simplesmente não parou de me olhar a noite inteira. E, pelo pouco que sei, sua postura, com o corpo totalmente virado para mim e me tocando vez ou outra no braço, demonstra interesse.

Que diabos...?

          - E agora... Com licença que eu adoro essa música. - Falou, tomando outro gole da bebida e indo até a pista de dança, onde as amigas estavam a chamando. Dançou e não olhou na minha direção por um único segundo sequer. Comecei a prestar atenção nos seus movimentos e era impossível não olhar para ela. Ainda mais que, assim como da outra vez em que estava com as amigas, sorria. De repente, a Nicola fez com que trocassem de lugar e a Luiza ficou virada de frente para mim. A ruiva disse algo para ela, que negou, franzindo o nariz um pouco e sorri ao vê-la fazendo aquele gesto. A amiga a incentivou e ela suspirou. A Nicola e a Nadine, então, se afastaram e parecia que só havíamos nós dois ali, apesar de ela continuar se recusando a me olhar. Rebolava, movimentando os quadris lentamente e, perto do refrão, jogou os cabelos para trás, finalmente me olhando e mordendo o lábio inferior. Engoli em seco, pegando o meu copo e tomando um gole generoso da minha bebida. Sem perceber, comecei a pensar que a Lydia nunca fazia algo daquele tipo, mesmo em particular. E o mais estranho era que, por mais que houvesse caras praticamente a comendo com o olhar, a Luiza fixou o seu somente em mim. Assim que a música acabou, veio andando de volta até a mesa e perguntei:

          - Por um acaso você dança assim no bar?

Deu um sorriso enigmático, me espiando pela borda do copo e, quando o pôs de volta sobre a mesa, pegou a minha mão e disse:

          - Já que está tão interessado... Vem que eu te mostro. Aproveita que não é todo dia que fico tão... Desinibida.

Quando ia argumentar que íamos perder a mesa ou que alguém podia colocar algo nas bebidas, notei que as meninas estavam sentadas ali. Ela não ia desistir tão cedo e por isso, cedi. Me levou até o centro da pista de dança e, de início, tentei não me aproximar, mas não teve jeito depois que ela veio na minha direção. Quase imediatamente, o álcool começou a fazer efeito e, quando dei por mim, já estava cedendo. Tanto que, não muito tempo depois, não resisti e, aproveitando a primeira oportunidade que tive, a beijei. Essa, inclusive, foi uma das últimas coisas de que tive consciência de fazer.

No dia seguinte, quando acordei, estava no quarto e gemi ao abrir os olhos e senti-los queimar com a claridade. Esperei uns poucos instantes até reunir coragem para me sentar e só então, percebi que estava sem roupa nenhuma. Olhei ao redor e o quarto inteiro estava uma bagunça. Respirei fundo, reunindo coragem para me levantar da cama e, depois que entrei no banheiro, abri a torneira e pus as mãos em concha. Esperei uns poucos segundos e joguei a água no rosto. Quando parei para olhar, notei um anel no dedo anelar esquerdo. Demorou meio minuto para a ficha finalmente cair. Resmunguei um palavrão, correndo para ir para me vestir e arrumar, saindo do quarto em seguida. Bati na porta mais à frente e não houve qualquer resposta. Desci até o primeiro andar e parecia que estava adivinhando aonde poderia encontrar a Luiza. E estava certo, já que estava colocando uma pilha de moedinhas numa máquina caça-níqueis e conversando com a Nadine. Assim que me viu, a segunda deu uma desculpa qualquer e foi embora. Quando me aproximei, pude ver que havia uma aliança idêntica à minha, só que mais fina no dedo anelar da Luiza. Respirei fundo e perguntei:

          - Então... A gente se casou ontem.

          - Em algum momento entre o instante em que me beijou e que tive consciência de voltar para o quarto. - Respondeu, sem me olhar. Só quando viu que não ia ganhar nada é que finalmente me deu atenção.

          - Olha, quando você quiser, a gente pode ir tentar se divorciar. - Falei e ela arqueou a sobrancelha.

          - Aí que está. Não vai dar.

          - Por quê?

          - Ouvi várias pessoas falando que deu um problema no sistema do juizado e ninguém conseguiu ser atendido e dizem que tem um aviso pregado na porta, dizendo que não há previsão para que tudo se normalize. Ou seja? Ainda vamos ficar casados, querendo ou não.

          - Escuta, se você quiser, eu posso te reembolsar com a passagem até a gente conseguir o divórcio.

Riu meio sarcástica e disse:

          - Acontece que eu consegui uma semana de folga. Amanhã, no máximo, temos que voltar à Londres. Não tem como eu simplesmente ligar para os meus chefes e falar que não consegui me divorciar e estou indo para Los Angeles! - Respirou fundo, claramente tentando manter a calma. - Para um rockstar aposentado é fácil. Se quiser, você pode alugar um jatinho e ir para Los Angeles ainda hoje. Não tem compromisso e precisar cruzar o oceano e ficar quase um dia inteiro sentado na porcaria de uma poltrona dura de avião...

          - Você realmente acha que é a única que não quer acabar logo com tudo isso para poder voltar à própria vida?

          - E desde quando passar o dia inteiro indo do estúdio para a casa e da casa para o estúdio é vida?

          - Do mesmo jeito que ficar virando a noite enchendo a cara e acordando todo santo dia de ressaca...

          - É, mas pelo menos eu me divirto, saio com as minhas amigas, não fico remoendo um relacionamento que não deu certo...

Abri a boca para responder, mas não consegui dizer nada.

          - Touché, monsieur Kaulitz.

Ignorei totalmente o fato que ela falou francês da maneira mais... Bonitinha. Mesmo que fossem só duas palavras. Nem falo nada sobre ela ter dito meu sobrenome. E muito menos ainda sobre a alfinetada que me deu.

          - Enfim. Acho que você tem que concordar comigo que a gente tem que resolver toda essa situação para que cada um possa continuar a viver à sua própria maneira. - Falei e ela deu de ombros. Bufei, irritado e, só de birra, peguei uma das moedas e coloquei na máquina. Saí andando sem nem ver o resultado e sabia que estava vindo atrás de mim, provavelmente para insistir na discussão. Só que ouvimos um barulho bem específico e, quando nos demos conta... Os funcionários do casino estavam à nossa volta e não entendi direito o que tinha acontecido até que olhei para a máquina: Era uma daquelas que, para se ganhar o prêmio, tinha que fazer uma combinação de três figuras iguais. Em meio àquela confusão toda, só consegui entender que tinha ganhado U$ 6.000.000. Quase imediatamente, ouvi a voz da Luiza, dizendo que a moeda usada era dela. Acabei concordando e, quando saí do meio daquela confusão, fui direto para o elevador. E ela também. Disse:

          - Você sabe que o justo seria 50% do dinheiro para cada um, não é?

          - Sim. Mas nada me impede de entrar na justiça e ficar com tudo.

          - Ah, você não ousaria! A moeda que você usou era minha.

          - Te faço uma proposta então. Te dou a metade desse dinheiro em espécie se ficar aqui só até conseguirmos o divórcio. Depois disso, você pode pegar o avião de volta para Londres e continuar sua vida festeira e bebum do outro lado do oceano, bem longe de mim.

          - Se usando de chantagem?

          - Não. Não usaria uma palavra tão... Pesada. É mais algo como... Um estímulo.

Riu e disse:

          - Não está se lembrando daquela expressão... O que acontece em Vegas, fica em Vegas?

          - É. Mas eu garanto que, o dia que você quiser se casar de verdade, não vai poder porque já é a minha mulher.

Por que aquilo soou estranho demais? E por que teve aquele silêncio terrivelmente incômodo?

Ela pigarreou e disse:

          - Por mim... Como você disse, vou estar do outro lado do oceano. Se quiser aprontar, não precisa ficar com remorso. O que os olhos não veem, o coração não sente. - Piscou, dando um meio sorrisinho.

          - Eu não apronto.

          - Estou vendo... Ainda mais depois da bebedeira de ontem... - Riu e antes que pudesse me frear, perguntei:

          - Por um acaso, você sabe se... Aconteceu alguma coisa ontem?

          - Pois é. Ia até te perguntar se, por um acaso, você achou minha calcinha...

A olhei, imaginando que ela deveria ser como meu irmão, há alguns anos: Nem perguntava o nome do cara e já pulava em cima do coitado. Os dois, logo em seguida, corriam para um lugar reservado. E o irônico era que ela não parecia ser desse tipo...

          - Você não é... Prostituta, é?

Me olhou, de cima a baixo, fazendo uma careta e disse:

          - Se fosse, pode ter certeza que eu não estaria aqui já há algum tempo e você estaria alguns dólares mais pobre.

Chegamos ao andar em que ela e as amigas estavam e as portas se abriram. Ia sair quando deu meia volta e se aproximou de mim. Disse:

          - A propósito...

Me deu aquele tapa estalado e ardido no rosto.

          - Isso é por me fazer uma pergunta tão absurda.

E saiu, me deixando ali, atônito. As portas se fecharam e, quando cheguei ao meu quarto, o Tom estava ali, junto dos nossos amigos.

          - O que aconteceu? - Ele perguntou, notando a marca vermelha no meu rosto.

          - Digamos apenas que mereci. - Respondi.

          - O que você fez? - O Gustav quis saber.

          - Falei algumas coisas que não devia com a Luiza.

          - O quê, exatamente? Anda, Bill. Fala. - O meu irmão disse e acabei contando, quase apanhando deles também.

          - Onde já se viu perguntar essas coisas para uma mulher? - O meu irmão me repreendeu.

          - Sei lá. Na hora que vi, já tinha saído.

          - Tem horas que eu sinceramente questiono se somos irmãos.

Revirei os olhos e saí, avisando que ia até o banheiro. Só conseguia pensar em uma única coisa: O quanto eu queria voltar para a casa e imaginar que tudo aquilo era um sonho. Ou melhor, um pesadelo.

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Imagens e músicas do capítulo