quarta-feira, 25 de maio de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 21º capítulo


When you need me I'll, I'll come for you

Porque eu e você somos superiores a isso
Oh, vou estar lá de braços abertos, yeah
Ooh, eles podem tentar nos separar
Vou brigar contra eles, vou proteger o seu coração
Sim, podemos brigar juntos, não podemos ser destruídos

(Cher Lloyd - Bind your love)

Luiza

Já estávamos quase no fim do mês e eu nem tinha visto o Alex, que passara esse tempo inteiro viajando de uma cidade à outra e nenhuma era na Inglaterra; Quase todas eram do outro lado do oceano. Eu já tinha quase tudo pronto para o casamento, graças à um cerimonialista que a Lee contratou de surpresa (E que eu consegui convencê-lo - Com uma mãozinha financeira, inclusive - a não falar nada do que estava fazendo) e aquilo foi realmente uma mão na roda. Ele cuidou de praticamente tudo o que ainda faltava e, no final das contas, pude relaxar um pouco. Ainda mais que não demorou muito para a Lee sentir falta do filho e ir viajar atrás do Alex. Ou seja? Eu ia ser uma das noivas mais relaxadas de todas.

No entanto, quem estava acabando com o meu sossego... Era o Bill. Primeiro que, toda santa vez que a Seren estava no mesmo ambiente que nós, ele ficava de agarramento com ela. Até mesmo durante o expediente. Por mais que estivesse torcendo para que ficassem juntos, ainda sim, eu era a gerente do bar e tinha que chamar a atenção deles para esse tipo de coisa. E também... Cá entre nós, estava com uma pontinha quase insignificante de ciúmes. Principalmente porque dava para ver que ele estava cada vez mais encantado com a nova Seren, que se parecia e muito comigo, apesar de tudo.

No dia que fomos experimentar os vestidos e a Sophia estava junto, a gente tinha decidido irritar minha futura sogra um pouco. Pegamos um vestido mais antigo da Sophia e a Deborah, mãe da Nicola, fez uma pequena reforma de modo que ficou idêntico ao modelo que a Lee escolheu para a Sophia usar no casamento. Por isso, quando a Sophia começou a correr para lá e para cá, engatinhar, sentar no chão e fazer tudo o que tinha direito, a vendedora (Que estava a par disso tudo) estava fingindo preocupação enquanto a Lee quase surtava.

Em um dado momento, quando a Lee agarrou o braço da Sophia e começou a xingar a menina, eu não consegui me controlar:

- Lee, ela é uma criança. Se estragar o vestido, eu pago, não só o prejuízo, mas também a costureira. Pode soltar, por favor.

Ela não se mexeu e, de repente, a Sophia deu um chute daqueles na sua canela e ela finalmente estava livre.

- Sua bruxa! - A Sophia xingou e saiu correndo na direção da Lola.

Assim que ficamos sozinhas, a Lee falou:

- Faço questão de pagar o melhor internato para garantir que os meus netos sejam extremamente educados.

Era em horas como essas que eu agradecia os raros momentos em que o cérebro era mais rápido que a língua. E capaz que eu ia concordar com aquilo, de mandar meus filhos para um internato!

Na tarde seguinte, aproveitamos que estávamos todas de folga para ensaiar um pouco e estávamos bolando alguns passos. Quando deu um momento de folga, deixamos o rádio ligado e começou a tocar só músicas dos anos 90.

- Ai meu Deus... - A Claire falou. - Eu dançava isso com as minhas amigas no meu quarto...

Rimos e, logo, estávamos cantando as músicas. Tínhamos nos esquecido por um instante que estávamos no bar (É... Longa história) e o Stephen estava ali. De repente, começou a tocar uma música e não teve como a gente não dançar e cantar, naquela empolgação:

Oh my God we're back again
(Ai meu Deus, nós estamos de volta mais uma vez)
Brothers and sisters, everybody sing
(Irmãos e irmãs, todo mundo cantando)
We're gonna bring you the flavor show you how
(Nós vamos trazer o tempero, te mostrar como)
I've got a question for
(Eu tenho uma pergunta)
Better answer now
(Melhor responder agora)

Am I original? (yeah)
(Eu sou original? (Sim))
Am I the only one? (yeah)
(Eu sou o único? (Sim))
Am I sexual? (yeah)
(Eu sou sexual? (Sim))
Am I everything you need?
(Eu sou tudo aquilo de que você precisa? (Sim))
You better rock your body now
(É melhor você mexer seu corpo agora)

No refrão, não nos aguentamos e estávamos quase gritando:

Everybody
(Todo mundo)
Rock your body
(Mexe o corpo)
Everybody
(Todo mundo)
Rock your body right
(Mexe bem o corpo)
Backstreet's back alright
(Backstreet está de volta, sim)

A gente gargalhou ao ver a cara do Stephen. Era choque, simplesmente. Ainda mais ao descobrir que a Claire era uma das mais empolgadas. Mas nem assim, a gente parou.

- Eu estava pensando numa coisa. - Ele comentou, quando a música (e a farra) acabou. - E se a gente fizesse uma festa com tema dos anos 90?

- Está pensando em voltar com as festas temáticas? - A Nicola perguntou. Ele coçou a sobrancelha e entendemos na mesma hora.

- Eu voto por uma com o tema de cabaré. - Falei. - Se quiser, organizo tudo. Inclusive figurinos e até decoração.

Ele avaliou por um instante e assentiu.

- A gente pode reunir todo o time depois e fazer uma votação. - Ele respondeu e concordei. - E agora... Que histeria coletiva foi aquela?

Rimos e ele acabou ficando ali e observando o ensaio.

Dois dias depois, o Stephen cismou com uma coisa e convocou todo mundo. Até os lobinhos. Todo mundo estava espalhado pelo bar e as meninas e eu estávamos sentadas no balcão em que costumávamos dançar. O chefe anunciou:

- Bom, no final de semana nós começamos a discutir a ideia de voltarmos com as festas temáticas e eu estava considerando seriamente em começarmos com uma ao estilo das discotecas dos anos 70. Podemos até usar o tema do Studio 54. Sem as drogas, claro.

Preciso dizer que eu fui a única que riu ao entender a piada? E que depois, ao sentir o olhar de todo mundo, quis o famoso buraco se abrindo sob meus pés?

- Continuando... - O Stephen falou. - Sem sexo gratuito também, por favor. Mas eu estava realmente pensando nisso. Usem e abusem das plataformas, das roupas de lurex, calças com boca-de-sino e, quem tiver a oportunidade, black power. Alguma dúvida?

Ergui a mão. Ele apontou para mim e perguntei:

- E as danças? Vamos ter um professor especial?

- Sim. Afinal de contas, eu sou o único aqui que viveu naquela época. E não se preocupem porque não sou eu quem vai ensinar vocês a dançarem.

Uma das coyotes levantou a mão.

- Sim? - O Stephen perguntou.

- Quando vai ser a festa?

- Em duas semanas.

Claro que tiveram protestos e eu consegui me sobrepor àquela confusão:

- Vamos fazer uma coisa: Vou conseguir algumas peças de roupa que possam servir. Mas que fique claro uma coisa: Não vou fornecer figurino completo para ninguém.

Outra das coyotes lembrou que tinha uma prima que trabalhava na produção de peças teatrais na parte dos figurinos, mais especificamente, e garantiu que podia conversar com ela e ver o que podia ser emprestado.

Assim que fomos liberados, as meninas e eu saímos. Notei que o Bill e a Seren saíram juntos e com um pouco de pressa demais para o meu gosto. A Lola perguntou:

- Sabe aquele penteado da Farrah Fawcett nas panteras? Eu estava pensando em fazer ele.

- Considerando que era bem a marca da época... Eu te apoio. - Falei.

- Será que a gente consegue alguma coisa à lá Abba? - A Di quis saber e respondi:

- Eu acho que é difícil não conseguir alguma coisa que seja remotamente parecida.

Rimos e decidimos ir à um brechó. Lá, conseguimos encontrar algumas coisas bem interessantes. Quando a Di estava experimentando um macacão, a Lola comentou:

- Estou começando a achar que nasci na década errada.

- Eu tenho certeza. Eu tinha era que ter nascido em, no mínimo, 1850!

- E você ia muito conseguir baixar a cabeça se seu pai te mandasse casar com um velho banguela, babão e caquético, não é?

- Não ia. Me rebelaria e fugiria de casa. Ou, na pior das hipóteses, tentaria a sorte num convento, torcendo para as freiras não me expulsarem.

Ela riu e a Di apareceu.

- Não! - Exclamei e a Lola franziu o nariz.

- Por quê? - A Di perguntou.

- Francamente, ficou péssimo. Anda, vai lá trocar se não a gente te compra um par de crocs de cada cor.

Ela fez língua e trocou; Acabou comprando uma blusa preta cheia de miçangas, de alça e ela comentou, quando saímos:

- Eu tenho uma calça com a boca mais larga que vai ficar perfeita. Mesmo não sendo a boca de sino característica.

- Eu tenho uma foto da Donna Summer, senão me engano, no Studio 54. Vocês, que estão generalizando demais as roupas dos anos 70 vão tomar um belo susto. - Comentei.

- Olha, a coisa mais chocante dos anos 70 para mim eram os homens usando aquelas plataformas gigantes. - A Lola falou e propus:

- Por que a gente não discute isso naquele restaurante de Chinatown, aproveitando que estamos perto?

Não houve oposição de nenhuma das duas. E assim, em pouco tempo, cada uma comia um prato diferente enquanto discutíamos as ideias de roupas.

Na sexta-feira, o Alex voltou de viagem e tivemos uma discussão daquelas. Chegou ao ponto que eu estava tremendo de tanta raiva que sentia dele, que falou alguns muitos absurdos. Por muito pouco mesmo, não bati nele.

No sábado, eu já estava uma pilha de nervos graças à briga com o Alex, e, para completar, qualquer coisinha me tirava do sério e eu perdia a paciência. A gota d’água foi quando eu fiz uma pausa e aproveitei para ir falar uma coisa com o Stephen quando encontrei o Bill e a Seren quase se engolindo, numa confusão daquelas. Chamei a atenção dos dois por estarem num lugar que os clientes passavam e aquilo acabou virando uma discussão daquelas e só o Stephen quem conseguiu acabar com a briga. Me mandou entrar no seu escritório e repreendeu os dois por estarem ali, se agarrando, no meio do expediente. Assim que entrou e fechou a porta, o meu chefe foi diretamente ao seu bar particular e me serviu um drink. Depois, se sentou à sua cadeira, de frente para mim e perguntou:

- Desde o instante em que você pôs os pés aqui, deu para ver que não está bem. O que houve?

- O Alex voltou de viagem ontem. E a gente discutiu feio.

- Chegaram a acabar com o noivado?- Ele quis saber e neguei.

- Bem que ele merecia, depois de tudo o que me disse. E sei que não tinha nada que misturar vida particular com o trabalho, mas... Está difícil. Está tudo virando uma bola de neve, que só faz crescer a cada instante e não é só mais a intromissão irritante da Lee. É tudo.

Ele acariciou o meu braço e disse:

- E você ainda é do tipo que engole tudo... Sabe que não te faz bem.

Assenti.

- E... Pelo jeito que você estava discutindo com o Bill... Nem era com a Seren, eu acho que não foi só o fato de eles estarem se agarrando no meio da passagem dos clientes, estou certo?

- De repente, ele se afastou de mim. Se eu ligo, dá uma desculpa qualquer e me dispensa logo. Estou sentindo falta da companhia dele.

Me olhou, descrente e estalei a língua.

- Estou falando sério!

- Eu acredito. Só que, se todo mundo ao seu redor te questiona sobre o casamento com o Alex... É por que tem motivo, não concorda? E não é só porque ele não vai com a cara de ninguém.

- Ok, doutor Stephen Freud. - Brinquei e ele riu. - O que é, então?

- Está óbvio que você estava quase avançando no Bill porque estava com ciúmes. Está mais cristalino que as águas do Caribe - Eu ri e ele me cutucou. - Não ri. Mas é óbvio que você, mesmo teimando em falar que ele é só um amigo... Não é só isso. E não me venha com a ladainha que é porque vocês foram casados e tal. Já está cansada de ouvir Deus e o mundo te dizendo que, se você ficou um ano inteiro em Los Angeles, sem contestar a decisão do juiz... É porque quis. Ou estou errado?

Neguei.

- Pois é. E se eu fosse você, francamente, terminaria tudo com o Alex enquanto ainda é tempo e dá para manter a amizade com ele. Se você levar tudo isso adiante, além de ser tarde demais, os dois vão sair magoados e pior: Você vai ter uma vida de luxo.

Eu ri e ele, mantendo a postura séria, falou:

- Sempre achei que você era mais incompatível com o Alex do que com o Bill.

- Como se o Bill morasse debaixo da ponte. Stephen, ele dirige um BMW. Morava em uma mansão perto de Bel-Air. Tem várias roupas de marca.

- Mas ele é mais simples que o Alex, que gosta de ostentar que tem dinheiro.

Suspirei.

- Tem uma coisa. Ele está com a Seren.

- Nem é namoro. É só... Como é mesmo que vocês falam? Ah, pegação!

Tive que gargalhar vendo o Stephen falando aquilo. Quer dizer, ele não era tão velho assim, mas...

Depois que o expediente acabou, eu estava saindo do bar, flanqueada pelas meninas, quando a Di falou:

- Hã... Nós... Vamos. A gente se fala mais tarde.

E saiu puxando a Lola, que estava tão confusa quanto eu. Olhei na mesma direção que a Di e encontrei o Alex. De terno. Encostado no carro. Com as mãos no bolso. E cabelo bagunçado acompanhado daquele sorriso torto irresistível. Ô praga!

Fui andando até onde ele estava e falei:

- Sua sorte é que eu não consigo ficar com raiva por muito tempo. Mas que é golpe baixo tu me aparecer aqui de terno e cabelo bagunçado...

Riu e pediu:

- Eu reconheço que fui um idiota e que merecia que você nem olhasse mais na minha cara. Mas eu te amo demais, Izzy... Me desculpa?

Suspirando, me adiantei e passei os braços pelo seu pescoço, sentindo que ele envolvia minha cintura com os seus.

- Da próxima... - Falei, aproximando a boca do seu ouvido. - Juro que te dou uma chicotada para você aprender.

Ele riu e, logo, me puxou para um beijo daqueles. Antes mesmo de nos separarmos, eu sentia o olhar fixo em cima de mim. Não precisava nem olhar para o lado para saber que o Bill estava nos olhando. E o ignorei de propósito.

Claro que naquela noite, o Alex e eu nos reconciliamos, se é que me entende. E eu simplesmente não conseguia dormir, ao contrário dele, que só sabia que estava vivo graças ao seu peito, que subia e descia tranquilamente. Peguei a sua camisa e a vesti e fui até a cozinha, querendo tomar um copo de água (E com alguma sorte, encontraria o remédio que tomava quando sofria com as insônias) e, no instante em que pisei no chão frio... Meu olhar foi atraído para a janela da frente, onde o Bill estava. Com a Seren. Foi a conta de olhar para os dois que ele parecia ter sentido que eu estava ali, embora não tivesse acendido a luz e me devolveu o olhar, fixo e intenso. Travei o maxilar e não me demorei outro segundo antes de pegar o copo, encher de água e tomar tudo numa sentada. Saí da cozinha e fui para o quarto, morta de raiva. E se antes já estava difícil de dormir, depois daquilo então... Foi impossível!

No dia da festa, eu estava me arrumando quando o Alex entrou no meu quarto e perguntei:

- E então? O que você acha?

- Você sabe que, por mim... Nem iria à essa festa.

Suspirei e ele logo se aproximou, oferecendo o pescoço. Resmunguei:

- É incrível que até hoje, você não perde essa mania de, quando está comigo, me pedir para dar nó em gravata!

Ele riu e falei:

- Não fica bravo por causa da festa lá no bar.

- Ah, eu fico. A festa lá no Coyote vai ser infinitamente mais animada que o jantar beneficente que a minha mãe vai oferecer...

- Nada te impede de, quando ela se distrair, você fugir do jantar e ir lá para o Co-yote...

- O que me impede é o sermão que eu vou ter de ouvir depois.

- Se quiser, te ligo, dando uma desculpa qualquer para você ir embora...

- Qual desculpa seria essa?

Dei de ombros.

- Não se preocupa que na hora eu invento. - Respondi, roubando um selinho demorado. Não muito tempo depois, ele me deu uma carona até o bar.

Logo que entrei, vi que o Stephen realmente queria fazer com que todo mundo ali se sentisse no próprio Studio 54. Sem a parte do sexo e das drogas, obviamente.

Depois da primeira hora, a Lola mal aguentava a plataforma e decidiu se arriscar, ficando descalça. Quer dizer, como a gente saía de detrás do balcão para ir dançar sobre ele... E quem acabou fazendo o penteado igual à Farrah Fawcett foi a Claire.

Na hora em que começou a tocar YMCA... Fui a primeira a subir no balcão. As outras me acompanharam, ainda mais a Di, que sempre dançava comigo, sempre brincando. Até tinha sugerido ao Stephen de botar alguns lobinhos imitando o Village People, mas ele não conseguiu candidatos dispostos àquilo. As meninas e eu até tentamos a sorte, nos oferecendo para nos vestirmos como a banda, mas o Stephen não achou nem um pouco boa a ideia da Claire se vestir de índia. No final, nós estávamos nos divertindo, principalmente porque acabamos brincando e rindo das próprias palhaçadas.

Depois da meia-noite, durante a minha pausa, recebi uma mensagem do Alex, avi-sando que não ia dar para vir ao bar. Suspirei enquanto mandava uma resposta e logo que apertei o botão para enviar, ouvi a porta abrir. Nem precisei pensar para entender (E sentir) quem era.

- Me deixa adivinhar. - Falou. - O Alex avisou que não vai vir.

Me virei para olhá-lo e perguntei, com a voz transbordando sarcasmo:

- Gente... Finalmente descobriu que eu ainda existo...

Claro que ele deu aquele sorriso torto que sempre me fazia xingá-lo de, no mínimo, safado.

- Isso tudo é ciúmes porque eu estou andando mais com a Seren?

- Antes fosse um ciuminho besta por causa de Seren. Estou é... Irritada por ter sido ignorada quando eu te pedi ajuda. Mas, agora, quando já está tudo resolvido, não preciso mais. Mas não vou desfazer o convite para padrinho.

Me analisava com o olhar.

- Você tem só um defeito.

Franzi as sobrancelhas.

- É teimosa demais. - Respondeu. - Era muito mais fácil se você admitisse, não só a verdade, mas o que sente.

Suspirei.

- Estou te falando que não estou com ciúmes. Estou irritada por ter sido ignorada nesses dias, justamente quando mais precisei de você! - Reclamei. - E agora me dá licença que tenho que voltar ao trabalho. E deveria fazer o mesmo, já que é lobinho, não se esqueça.

Consegui sair dali e voltei para trás do balcão, ignorando o Bill sempre que podia.

Quando finalmente fomos liberados, o sol já tinha nascido e a Lola me deu uma carona até em casa. Claro que, durante o caminho, quis saber:

- Eu estava percebendo que você e o Bill se estranharam mais uma vez hoje.

- Estou puta com ele. Quer dizer, fui deixada de lado quando mais precisava dele. Não desfiz o convite e nem vou pedir para ele deixar de ser padrinho. Ainda ficou tei-mando que eu estava com ciúmes.

- E não está?

Olhei feio para ela.

- Não tanto quanto ele imagina. - Admiti. - Acho que eu estou mais irritada por ele ter sido tão... Por ter me tratado com tanto descaso.

A Lola concordou e não muito tempo depois, chegamos. Antes que eu saísse do carro, porém, me disse:

- Escuta... A Sophia vai fazer uma apresentação na escola na sexta-feira...

- Não precisa dizer mais nada. - Respondi, sorrindo. - Quer dizer, precisa só me falar a hora.

Ela riu e avisou que a gente ia combinar melhor depois. Nos despedimos e finalmente pude entrar em casa. Estava morta de cansaço, mas não estava com o mínimo de sono. Então, decidi tomar um banho, trocar de roupa e ficar mofando no sofá, enquanto recarregava as minhas energias. Acabei pegando no sono e, quando acordei, algumas horas depois, o canal tinha sido trocado graças à Vivi, que pisou no controle, e passava um daqueles programas de fofocas. Suspirei e já ia desligar quando os apresentadores linguarudos começaram a falar:

- E falando em casamentos com uma história bem bizarra...

E não é que começaram a falar de mim e do Bill? O pior foi quando a loira siliconada, que só fazia dar risada enquanto o fofoqueiro ao seu lado (E que me lembrou muito o Perez Hilton, não só fisicamente, mas no jeito também) dava todos os mínimos detalhes possíveis, assumiu o controle:

- Atualmente, sabemos que a Luiza está noiva do empresário Alexander Ireland e o casamento está marcado para Agosto. Agora a pergunta que não quer calar: Será que Kaulitz foi convidado?

Enquanto começava uma matéria, mostrando fotos recentes de paparazzi minhas com o Bill em momentos comuns, em que não acontecia absolutamente nada de especial a não ser tomarmos café na Starbucks aqui perto, saindo do bufê naquele dia que experimentamos os salgadinhos e etc., a voz da loira, em voiceover, narrava:

- Até um mês atrás, Luiza e Bill eram vistos sempre juntos, sempre fazendo coisas banais e foram poucas as vezes em que estavam sozinhos. Além dele, a noiva tinha a com-panhia das suas melhores amigas, Nadine Coyle e Nicola Roberts, que descobrimos que serão madrinhas.

Continuaram falando tanta besteira que não aguentei e desliguei a TV, irritada. De repente, tocaram a campainha e fui atender. Não me surpreendi ao encontrar a Nadine do outro lado. A deixei entrar e, enquanto tomávamos chá, não aguentei e contei para ela do flagra:

-... E aí eu vim aqui na cozinha para tomar um copo de água e, quando olho... Tão os dois. Ela em cima do balcão e ele, na frente dela. Não sei como não dava para ouvir o escândalo da Seren.

Ela ouvia à tudo atentamente, com uma expressão incrédula estampada no rosto.

- Mas... Dava para ver alguma coisa?

- Não. Quer dizer, o que dava para ver é que os dois estavam sem roupa e deu para entender perfeitamente o que estava acontecendo ali.

Ela me pareceu bem mais nervosa do que deveria e não falei nada.

- Mas sabe o que foi o pior?

- O quê?

- Ele olhou para mim. Eu ainda não tinha acendido a luz e mesmo assim, pareceu que conseguiu sentir que eu estava aqui.

Ela disfarçou e deu para ver aquilo. E, de novo, não falei nada.

Mas aquilo não saiu da minha cabeça pelo resto do dia. O Alex, mais para o final da tarde, apareceu e claro que notou que eu estava mais distraída que de costume.

- O que foi?

Olhei para ele, acordando do transe em que eu estava e ele riu da minha confusão.

- Você estava com o pensamento longe. O que foi?

- Estava preocupada com a festa. - Menti. Não sei por que não contei a verdade para ele; Preferi falar outra coisa justamente para evitar a briga que eu sabia que ia acontecer.

- A de casamento? - Concordei. - O que tem?

- Eu estava pensando que, se a gente for fazer como sua mãe falou... Vai ser exata-mente o oposto do que eu queria. Ainda mais que boa parte dos convidados extra são amigos dela. Não nossos.

- É... Você não deixa de ter razão. E eu sei que minha mãe está se intrometendo muito.

Tive que concordar, mortificada.

- Devia ter me falado, Iza.

- Fiquei com medo de magoá-la, ela ficar com raiva de mim e você também, além de brigar comigo. Afinal de contas... É sua mãe. Se fosse o contrário, ia reagir também.

- Eu sei. Falando nisso... Já conversou com a sua mãe?

Concordei.

- E aí?

- Ela vai vir. E vamos precisar de um tradutor, afinal, eu não vou poder dar a assis-tência o tempo todo.

- É justamente por isso que eu voltei a fazer aulas de italiano.

Olhei para ele, surpresa.

- Sério?

Concordou. Não me segurei e pulei em cima dele, o abraçando e beijando enquanto ele se divertia com a minha reação. Eu estava genuinamente feliz que ele estava fazendo aquilo por mim.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 21º capítulo - Interativa









Porque eu e você somos superiores a isso
Oh, vou estar lá de braços abertos, yeah
Ooh, eles podem tentar nos separar
Vou brigar contra eles, vou proteger o seu coração
Sim, podemos brigar juntos, não podemos ser destruídos

(Cher Lloyd - Bind your love)

null

Já estávamos quase no fim do mês e eu nem tinha visto o null, que passara esse tempo inteiro viajando de uma cidade à outra e nenhuma era na Inglaterra; Quase todas eram do outro lado do oceano. Eu já tinha quase tudo pronto para o casamento, graças à um cerimonialista que a null contratou de surpresa (E que eu consegui convencê-lo - Com uma mãozinha financeira, inclusive - a não falar nada do que estava fazendo) e aquilo foi realmente uma mão na roda. Ele cuidou de praticamente tudo o que ainda faltava e, no final das contas, pude relaxar um pouco. Ainda mais que não demorou muito para a null sentir falta do filho e ir viajar atrás do null. Ou seja? Eu ia ser uma das noivas mais relaxadas de todas.

No entanto, quem estava acabando com o meu sossego... Era o null. Primeiro que, toda santa vez que a Seren estava no mesmo ambiente que nós, ele ficava de agarramento com ela. Até mesmo durante o expediente. Por mais que estivesse torcendo para que ficassem juntos, ainda sim, eu era a gerente do bar e tinha que chamar a atenção deles para esse tipo de coisa. E também... Cá entre nós, estava com uma pontinha quase insignificante de ciúmes. Principalmente porque dava para ver que ele estava cada vez mais encantado com a nova Seren, que se parecia e muito comigo, apesar de tudo.

No dia que fomos experimentar os vestidos e a Sophia estava junto, a gente tinha decidido irritar minha futura sogra um pouco. Pegamos um vestido mais antigo da Sophia e a Deborah, mãe da Nicola, fez uma pequena reforma de modo que ficou idêntico ao modelo que a null escolheu para a Sophia usar no casamento. Por isso, quando a Sophia começou a correr para lá e para cá, engatinhar, sentar no chão e fazer tudo o que tinha direito, a vendedora (Que estava a par disso tudo) estava fingindo preocupação enquanto a null quase surtava.

Em um dado momento, quando a null agarrou o braço da Sophia e começou a xingar a menina, eu não consegui me controlar:

- null, ela é uma criança. Se estragar o vestido, eu pago, não só o prejuízo, mas também a costureira. Pode soltar, por favor.

Ela não se mexeu e, de repente, a Sophia deu um chute daqueles na sua canela e ela finalmente estava livre.

- Sua bruxa! - A Sophia xingou e saiu correndo na direção da Lola.

Assim que ficamos sozinhas, a null falou:

- Faço questão de pagar o melhor internato para garantir que os meus netos sejam extremamente educados.

Era em horas como essas que eu agradecia os raros momentos em que o cérebro era mais rápido que a língua. E capaz que eu ia concordar com aquilo, de mandar meus filhos para um internato!

Na tarde seguinte, aproveitamos que estávamos todas de folga para ensaiar um pouco e estávamos bolando alguns passos. Quando deu um momento de folga, deixamos o rádio ligado e começou a tocar só músicas dos anos 90.

- Ai meu Deus... - A Claire falou. - Eu dançava isso com as minhas amigas no meu quarto...

Rimos e, logo, estávamos cantando as músicas. Tínhamos nos esquecido por um instante que estávamos no bar (É... Longa história) e o Stephen estava ali. De repente, começou a tocar uma música e não teve como a gente não dançar e cantar, naquela empolgação:

Oh my God we're back again
(Ai meu Deus, nós estamos de volta mais uma vez)
Brothers and sisters, everybody sing
(Irmãos e irmãs, todo mundo cantando)
We're gonna bring you the flavor show you how
(Nós vamos trazer o tempero, te mostrar como)
I've got a question for
(Eu tenho uma pergunta)
Better answer now
(Melhor responder agora)

Am I original? (yeah)
(Eu sou original? (Sim))
Am I the only one? (yeah)
(Eu sou o único? (Sim))
Am I sexual? (yeah)
(Eu sou sexual? (Sim))
Am I everything you need?
(Eu sou tudo aquilo de que você precisa? (Sim))
You better rock your body now
(É melhor você mexer seu corpo agora)

No refrão, não nos aguentamos e estávamos quase gritando:

Everybody
(Todo mundo)
Rock your body
(Mexe o corpo)
Everybody
(Todo mundo)
Rock your body right
(Mexe bem o corpo)
Backstreet's back alright
(Backstreet está de volta, sim)

A gente gargalhou ao ver a cara do Stephen. Era choque, simplesmente. Ainda mais ao descobrir que a Claire era uma das mais empolgadas. Mas nem assim, a gente parou.

- Eu estava pensando numa coisa. - Ele comentou, quando a música (e a farra) acabou. - E se a gente fizesse uma festa com tema dos anos 90?

- Está pensando em voltar com as festas temáticas? - A Nicola perguntou. Ele coçou a sobrancelha e entendemos na mesma hora.

- Eu voto por uma com o tema de cabaré. - Falei. - Se quiser, organizo tudo. Inclusive figurinos e até decoração.

Ele avaliou por um instante e assentiu.

- A gente pode reunir todo o time depois e fazer uma votação. - Ele respondeu e concordei. - E agora... Que histeria coletiva foi aquela?

Rimos e ele acabou ficando ali e observando o ensaio.

Dois dias depois, o Stephen cismou com uma coisa e convocou todo mundo. Até os lobinhos. Todo mundo estava espalhado pelo bar e as meninas e eu estávamos sentadas no balcão em que costumávamos dançar. O chefe anunciou:

- Bom, no final de semana nós começamos a discutir a ideia de voltarmos com as festas temáticas e eu estava considerando seriamente em começarmos com uma ao estilo das discotecas dos anos 70. Podemos até usar o tema do Studio 54. Sem as drogas, claro.

Preciso dizer que eu fui a única que riu ao entender a piada? E que depois, ao sentir o olhar de todo mundo, quis o famoso buraco se abrindo sob meus pés?

- Continuando... - O Stephen falou. - Sem sexo gratuito também, por favor. Mas eu estava realmente pensando nisso. Usem e abusem das plataformas, das roupas de lurex, calças com boca-de-sino e, quem tiver a oportunidade, black power. Alguma dúvida?

Ergui a mão. Ele apontou para mim e perguntei:

- E as danças? Vamos ter um professor especial?

- Sim. Afinal de contas, eu sou o único aqui que viveu naquela época. E não se preocupem porque não sou eu quem vai ensinar vocês a dançarem.

Uma das coyotes levantou a mão.

- Sim? - O Stephen perguntou.

- Quando vai ser a festa?

- Em duas semanas.

Claro que tiveram protestos e eu consegui me sobrepor àquela confusão:

- Vamos fazer uma coisa: Vou conseguir algumas peças de roupa que possam servir. Mas que fique claro uma coisa: Não vou fornecer figurino completo para ninguém.

Outra das coyotes lembrou que tinha uma prima que trabalhava na produção de peças teatrais na parte dos figurinos, mais especificamente, e garantiu que podia conversar com ela e ver o que podia ser emprestado.

Assim que fomos liberados, as meninas e eu saímos. Notei que o null e a Seren saíram juntos e com um pouco de pressa demais para o meu gosto. A Lola perguntou:

- Sabe aquele penteado da Farrah Fawcett nas panteras? Eu estava pensando em fazer ele.

- Considerando que era bem a marca da época... Eu te apoio. - Falei.

- Será que a gente consegue alguma coisa à lá Abba? - A Di quis saber e respondi:

- Eu acho que é difícil não conseguir alguma coisa que seja remotamente parecida.

Rimos e decidimos ir à um brechó. Lá, conseguimos encontrar algumas coisas bem interessantes. Quando a Di estava experimentando um macacão, a Lola comentou:

- Estou começando a achar que nasci na década errada.

- Eu tenho certeza. Eu tinha era que ter nascido em, no mínimo, 1850!

- E você ia muito conseguir baixar a cabeça se seu pai te mandasse casar com um velho banguela, babão e caquético, não é?

- Não ia. Me rebelaria e fugiria de casa. Ou, na pior das hipóteses, tentaria a sorte num convento, torcendo para as freiras não me expulsarem.

Ela riu e a Di apareceu.

- Não! - Exclamei e a Lola franziu o nariz.

- Por quê? - A Di perguntou.

- Francamente, ficou péssimo. Anda, vai lá trocar se não a gente te compra um par de crocs de cada cor.

Ela fez língua e trocou; Acabou comprando uma blusa preta cheia de miçangas, de alça e ela comentou, quando saímos:

- Eu tenho uma calça com a boca mais larga que vai ficar perfeita. Mesmo não sendo a boca de sino característica.

- Eu tenho uma foto da Donna Summer, senão me engano, no Studio 54. Vocês, que estão generalizando demais as roupas dos anos 70 vão tomar um belo susto. - Comentei.

- Olha, a coisa mais chocante dos anos 70 para mim eram os homens usando aquelas plataformas gigantes. - A Lola falou e propus:

- Por que a gente não discute isso naquele restaurante de Chinatown, aproveitando que estamos perto?

Não houve oposição de nenhuma das duas. E assim, em pouco tempo, cada uma comia um prato diferente enquanto discutíamos as ideias de roupas.

Na sexta-feira, o null voltou de viagem e tivemos uma discussão daquelas. Chegou ao ponto que eu estava tremendo de tanta raiva que sentia dele, que falou alguns muitos absurdos. Por muito pouco mesmo, não bati nele.

No sábado, eu já estava uma pilha de nervos graças à briga com o null, e, para completar, qualquer coisinha me tirava do sério e eu perdia a paciência. A gota d’água foi quando eu fiz uma pausa e aproveitei para ir falar uma coisa com o Stephen quando encontrei o null e a Seren quase se engolindo, numa confusão daquelas. Chamei a atenção dos dois por estarem num lugar que os clientes passavam e aquilo acabou virando uma discussão daquelas e só o Stephen quem conseguiu acabar com a briga. Me mandou entrar no seu escritório e repreendeu os dois por estarem ali, se agarrando, no meio do expediente. Assim que entrou e fechou a porta, o meu chefe foi diretamente ao seu bar particular e me serviu um drink. Depois, se sentou à sua cadeira, de frente para mim e perguntou:

- Desde o instante em que você pôs os pés aqui, deu para ver que não está bem. O que houve?

- O null voltou de viagem ontem. E a gente discutiu feio.

- Chegaram a acabar com o noivado?- Ele quis saber e neguei.

- Bem que ele merecia, depois de tudo o que me disse. E sei que não tinha nada que misturar vida particular com o trabalho, mas... Está difícil. Está tudo virando uma bola de neve, que só faz crescer a cada instante e não é só mais a intromissão irritante da null. É tudo.

Ele acariciou o meu braço e disse:

- E você ainda é do tipo que engole tudo... Sabe que não te faz bem.

Assenti.

- E... Pelo jeito que você estava discutindo com o null... Nem era com a Seren, eu acho que não foi só o fato de eles estarem se agarrando no meio da passagem dos clientes, estou certo?

- De repente, ele se afastou de mim. Se eu ligo, dá uma desculpa qualquer e me dispensa logo. Estou sentindo falta da companhia dele.

Me olhou, descrente e estalei a língua.

- Estou falando sério!

- Eu acredito. Só que, se todo mundo ao seu redor te questiona sobre o casamento com o null... É por que tem motivo, não concorda? E não é só porque ele não vai com a cara de ninguém.

- Ok, doutor Stephen Freud. - Brinquei e ele riu. - O que é, então?

- Está óbvio que você estava quase avançando no null porque estava com ciúmes. Está mais cristalino que as águas do Caribe - Eu ri e ele me cutucou. - Não ri. Mas é óbvio que você, mesmo teimando em falar que ele é só um amigo... Não é só isso. E não me venha com a ladainha que é porque vocês foram casados e tal. Já está cansada de ouvir Deus e o mundo te dizendo que, se você ficou um ano inteiro em Los Angeles, sem contestar a decisão do juiz... É porque quis. Ou estou errado?

Neguei.

- Pois é. E se eu fosse você, francamente, terminaria tudo com o null enquanto ainda é tempo e dá para manter a amizade com ele. Se você levar tudo isso adiante, além de ser tarde demais, os dois vão sair magoados e pior: Você vai ter uma vida de luxo.

Eu ri e ele, mantendo a postura séria, falou:

- Sempre achei que você era mais incompatível com o null do que com o null.

- Como se o null morasse debaixo da ponte. Stephen, ele dirige um BMW. Morava em uma mansão perto de Bel-Air. Tem várias roupas de marca.

- Mas ele é mais simples que o null, que gosta de ostentar que tem dinheiro.

Suspirei.

- Tem uma coisa. Ele está com a Seren.

- Nem é namoro. É só... Como é mesmo que vocês falam? Ah, pegação!

Tive que gargalhar vendo o Stephen falando aquilo. Quer dizer, ele não era tão velho assim, mas...

Depois que o expediente acabou, eu estava saindo do bar, flanqueada pelas meninas, quando a Di falou:

- Hã... Nós... Vamos. A gente se fala mais tarde.

E saiu puxando a Lola, que estava tão confusa quanto eu. Olhei na mesma direção que a Di e encontrei o null. De terno. Encostado no carro. Com as mãos no bolso. E cabelo bagunçado acompanhado daquele sorriso torto irresistível. Ô praga!

Fui andando até onde ele estava e falei:

- Sua sorte é que eu não consigo ficar com raiva por muito tempo. Mas que é golpe baixo tu me aparecer aqui de terno e cabelo bagunçado...

Riu e pediu:

- Eu reconheço que fui um idiota e que merecia que você nem olhasse mais na minha cara. Mas eu te amo demais, ... Me desculpa?

Suspirando, me adiantei e passei os braços pelo seu pescoço, sentindo que ele envolvia minha cintura com os seus.

- Da próxima... - Falei, aproximando a boca do seu ouvido. - Juro que te dou uma chicotada para você aprender.

Ele riu e, logo, me puxou para um beijo daqueles. Antes mesmo de nos separarmos, eu sentia o olhar fixo em cima de mim. Não precisava nem olhar para o lado para saber que o null estava nos olhando. E o ignorei de propósito.

Claro que naquela noite, o null e eu nos reconciliamos, se é que me entende. E eu simplesmente não conseguia dormir, ao contrário dele, que só sabia que estava vivo graças ao seu peito, que subia e descia tranquilamente. Peguei a sua camisa e a vesti e fui até a cozinha, querendo tomar um copo de água (E com alguma sorte, encontraria o remédio que tomava quando sofria com as insônias) e, no instante em que pisei no chão frio... Meu olhar foi atraído para a janela da frente, onde o null estava. Com a Seren. Foi a conta de olhar para os dois que ele parecia ter sentido que eu estava ali, embora não tivesse acendido a luz e me devolveu o olhar, fixo e intenso. Travei o maxilar e não me demorei outro segundo antes de pegar o copo, encher de água e tomar tudo numa sentada. Saí da cozinha e fui para o quarto, morta de raiva. E se antes já estava difícil de dormir, depois daquilo então... Foi impossível!

No dia da festa, eu estava me arrumando quando o null entrou no meu quarto e perguntei:

- E então? O que você acha?

- Você sabe que, por mim... Nem iria à essa festa.

Suspirei e ele logo se aproximou, oferecendo o pescoço. Resmunguei:

- É incrível que até hoje, você não perde essa mania de, quando está comigo, me pedir para dar nó em gravata!

Ele riu e falei:

- Não fica bravo por causa da festa lá no bar.

- Ah, eu fico. A festa lá no Coyote vai ser infinitamente mais animada que o jantar beneficente que a minha mãe vai oferecer...

- Nada te impede de, quando ela se distrair, você fugir do jantar e ir lá para o Co-yote...

- O que me impede é o sermão que eu vou ter de ouvir depois.

- Se quiser, te ligo, dando uma desculpa qualquer para você ir embora...

- Qual desculpa seria essa?

Dei de ombros.

- Não se preocupa que na hora eu invento. - Respondi, roubando um selinho demorado. Não muito tempo depois, ele me deu uma carona até o bar.

Logo que entrei, vi que o Stephen realmente queria fazer com que todo mundo ali se sentisse no próprio Studio 54. Sem a parte do sexo e das drogas, obviamente.

Depois da primeira hora, a Lola mal aguentava a plataforma e decidiu se arriscar, ficando descalça. Quer dizer, como a gente saía de detrás do balcão para ir dançar sobre ele... E quem acabou fazendo o penteado igual à Farrah Fawcett foi a Claire.

Na hora em que começou a tocar YMCA... Fui a primeira a subir no balcão. As outras me acompanharam, ainda mais a Di, que sempre dançava comigo, sempre brincando. Até tinha sugerido ao Stephen de botar alguns lobinhos imitando o Village People, mas ele não conseguiu candidatos dispostos àquilo. As meninas e eu até tentamos a sorte, nos oferecendo para nos vestirmos como a banda, mas o Stephen não achou nem um pouco boa a ideia da Claire se vestir de índia. No final, nós estávamos nos divertindo, principalmente porque acabamos brincando e rindo das próprias palhaçadas.

Depois da meia-noite, durante a minha pausa, recebi uma mensagem do null, avisando que não ia dar para vir ao bar. Suspirei enquanto mandava uma resposta e logo que apertei o botão para enviar, ouvi a porta abrir. Nem precisei pensar para entender (E sentir) quem era.

- Me deixa adivinhar. - Falou. - O null avisou que não vai vir.

Me virei para olhá-lo e perguntei, com a voz transbordando sarcasmo:

- Gente... Finalmente descobriu que eu ainda existo...

Claro que ele deu aquele sorriso torto que sempre me fazia xingá-lo de, no mínimo, safado.

- Isso tudo é ciúmes porque eu estou andando mais com a Seren?

- Antes fosse um ciuminho besta por causa de Seren. Estou é... Irritada por ter sido ignorada quando eu te pedi ajuda. Mas, agora, quando já está tudo resolvido, não preciso mais. Mas não vou desfazer o convite para padrinho.

Me analisava com o olhar.

- Você tem só um defeito.

Franzi as sobrancelhas.

- É teimosa demais. - Respondeu. - Era muito mais fácil se você admitisse, não só a verdade, mas o que sente.

Suspirei.

- Estou te falando que não estou com ciúmes. Estou irritada por ter sido ignorada nesses dias, justamente quando mais precisei de você! - Reclamei. - E agora me dá licença que tenho que voltar ao trabalho. E deveria fazer o mesmo, já que é lobinho, não se esqueça.

Consegui sair dali e voltei para trás do balcão, ignorando o null sempre que podia.

Quando finalmente fomos liberados, o sol já tinha nascido e a Lola me deu uma carona até em casa. Claro que, durante o caminho, quis saber:

- Eu estava percebendo que você e o null se estranharam mais uma vez hoje.

- Estou puta com ele. Quer dizer, fui deixada de lado quando mais precisava dele. Não desfiz o convite e nem vou pedir para ele deixar de ser padrinho. Ainda ficou tei-mando que eu estava com ciúmes.

- E não está?

Olhei feio para ela.

- Não tanto quanto ele imagina. - Admiti. - Acho que eu estou mais irritada por ele ter sido tão... Por ter me tratado com tanto descaso.

A Lola concordou e não muito tempo depois, chegamos. Antes que eu saísse do carro, porém, me disse:

- Escuta... A Sophia vai fazer uma apresentação na escola na sexta-feira...

- Não precisa dizer mais nada. - Respondi, sorrindo. - Quer dizer, precisa só me falar a hora.

Ela riu e avisou que a gente ia combinar melhor depois. Nos despedimos e finalmente pude entrar em casa. Estava morta de cansaço, mas não estava com o mínimo de sono. Então, decidi tomar um banho, trocar de roupa e ficar mofando no sofá, enquanto recarregava as minhas energias. Acabei pegando no sono e, quando acordei, algumas horas depois, o canal tinha sido trocado graças à Vivi, que pisou no controle, e passava um daqueles programas de fofocas. Suspirei e já ia desligar quando os apresentadores linguarudos começaram a falar:

- E falando em casamentos com uma história bem bizarra...

E não é que começaram a falar de mim e do null? O pior foi quando a loira siliconada, que só fazia dar risada enquanto o fofoqueiro ao seu lado (E que me lembrou muito o Perez Hilton, não só fisicamente, mas no jeito também) dava todos os mínimos detalhes possíveis, assumiu o controle:

- Atualmente, sabemos que a null está noiva do empresário null null e o casamento está marcado para Agosto. Agora a pergunta que não quer calar: Será que null foi con-vidado?

Enquanto começava uma matéria, mostrando fotos recentes de paparazzi minhas com o null em momentos comuns, em que não acontecia absolutamente nada de especial a não ser tomarmos café na Starbucks aqui perto, saindo do bufê naquele dia que experimentamos os salgadinhos e etc., a voz da loira, em voiceover, narrava:

- Até um mês atrás, null e null eram vistos sempre juntos, sempre fazendo coisas banais e foram poucas as vezes em que estavam sozinhos. Além dele, a noiva tinha a com-panhia das suas melhores amigas, Nadine Coyle e Nicola Roberts, que descobrimos que serão madrinhas.

Continuaram falando tanta besteira que não aguentei e desliguei a TV, irritada. De repente, tocaram a campainha e fui atender. Não me surpreendi ao encontrar a Nadine do outro lado. A deixei entrar e, enquanto tomávamos chá, não aguentei e contei para ela do flagra:

-... E aí eu vim aqui na cozinha para tomar um copo de água e, quando olho... Tão os dois. Ela em cima do balcão e ele, na frente dela. Não sei como não dava para ouvir o escândalo da Seren.

Ela ouvia à tudo atentamente, com uma expressão incrédula estampada no rosto.

- Mas... Dava para ver alguma coisa?

- Não. Quer dizer, o que dava para ver é que os dois estavam sem roupa e deu para entender perfeitamente o que estava acontecendo ali.

Ela me pareceu bem mais nervosa do que deveria e não falei nada.

- Mas sabe o que foi o pior?

- O quê?

- Ele olhou para mim. Eu ainda não tinha acendido a luz e mesmo assim, pareceu que conseguiu sentir que eu estava aqui.

Ela disfarçou e deu para ver aquilo. E, de novo, não falei nada.

Mas aquilo não saiu da minha cabeça pelo resto do dia. O null, mais para o final da tarde, apareceu e claro que notou que eu estava mais distraída que de costume.

- O que foi?

Olhei para ele, acordando do transe em que eu estava e ele riu da minha confusão.

- Você estava com o pensamento longe. O que foi?

- Estava preocupada com a festa. - Menti. Não sei por que não contei a verdade para ele; Preferi falar outra coisa justamente para evitar a briga que eu sabia que ia acontecer.

- A de casamento? - Concordei. - O que tem?

- Eu estava pensando que, se a gente for fazer como sua mãe falou... Vai ser exata-mente o oposto do que eu queria. Ainda mais que boa parte dos convidados extra são amigos dela. Não nossos.

- É... Você não deixa de ter razão. E eu sei que minha mãe está se intrometendo muito.

Tive que concordar, mortificada.

- Devia ter me falado, .

- Fiquei com medo de magoá-la, ela ficar com raiva de mim e você também, além de brigar comigo. Afinal de contas... É sua mãe. Se fosse o contrário, ia reagir também.

- Eu sei. Falando nisso... Já conversou com a sua mãe?

Concordei.

- E aí?

- Ela vai vir. E vamos precisar de um tradutor, afinal, eu não vou poder dar a assis-tência o tempo todo.

- É justamente por isso que eu voltei a fazer aulas de italiano.

Olhei para ele, surpresa.

- Sério?

Concordou. Não me segurei e pulei em cima dele, o abraçando e beijando enquanto ele se divertia com a minha reação. Eu estava genuinamente feliz que ele estava fazendo aquilo por mim.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 20º capítulo - Interativa













Is he everything you wanted in a man?

Você passa suas noites sozinha
E ele nunca chega em casa
E toda vez que você liga pra ele, só dá ocupado

(...)
Você deseja ter alguém
Que poderia chegar e fazer tudo certo

(Justin Timberlake - What Goes Around.../... Comes Around)

null

- Por favor, eu gostaria de falar com... Kate Watson? - O null perguntou. Na sexta-feira seguinte à compra dos ternos, estávamos na casa da Nicola, executando o plano: O null, que era quem tinha a voz mais próxima à do null, ia se passar por ele e pedir para fazer as substituições. Naquela tarde, ele estava ligando para o bufê.

A atendente deveria estar chamando a responsável e, enquanto esperava, o null perguntou à Nadine:

- Qual que é para substituir?

- O de peito de peru. Pede para usar presunto. E queijo cremoso.

Sabia que a null odiava os dois. Quer dizer, eu sabia que ela não comia mais carne de porco (Evitava sempre que possível) e não gostava daqueles queijos moles e pastosos demais. Uma vez, ela me falou de um que simplesmente deu arrepios enquanto comia. Logo em seguida, lembrou que a marca não era vendida na Europa. Tentou me explicar como era, mais ou menos e entendi até certo ponto.

- Kate? - O null disse, se esforçando para imitar o sotaque do null. - null null, como vai? - A moça deve ter o cumprimentado. - Bem, obrigada. Kate, é o seguinte: A minha noiva foi aí no bufê com duas madrinhas e a minha mãe na semana passada e ela andou pensando melhor e vai preferir trocar algumas das coisas. A gente descobriu que uma das convidadas é alérgica à peito de peru.

A Nadine e a Nicola olhavam para ele o tempo inteiro e, vez ou outra, trocavam olhares. O null estava sentado à mesa, ao lado da Nadine, e o null e eu estávamos perto da porta, conversando baixo para não atrapalhar.

- A null vai ficar muito puta com a gente. - O null comentou.

- Mais do que ela já está com o null? Sim, porque é óbvio que ele não está fazendo o menor esforço para dar um toque que ela está atrapalhando.

Além do bufê, o null ligou para a floricultura e pediu para trocarem as flores que a null tinha escolhido, sem a null saber, pelas que a mãe do null havia encomendado.

- Tem só um problema. - A Nicola falou, depois que o null desligou. - A null não odeia lírios.

- Mas solta o pólen. Ainda mais esses laranjas. Lembra daquela vez que ela contou que a tia-avó dela foi sentir o cheiro e ficou com o rosto todo laranja? - A Nadine perguntou e olhamos para ela. - É verdade!

- Qual tia? - A Nicola quis saber e a Nadine respondeu:

- Lembra daquela que tem quatro filhos?

- Ah! A do Zé Maria?- A ruiva perguntou. A outra concordou e, vendo as nossas caras, a Di explicou:

- Tá para surgir uma família com mais casos engraçados que a da null. Tem essa tia, que é a segunda irmã mais nova do avô dela. Já tinha três meninos e, quando engravidou pela quarta vez, a bisavó da null falou: “Agora vem a Maria!”. Nasceu mais um menino e o avô da null falou: “Olha o José Maria aí...”.

- E você conheceu? - Questionei.

- A tia ou o José Maria? - A Nadine perguntou.

- Os dois. - Respondi.

- Conheci quase todo mundo. Só a tia que mora no Rio que ainda não conheci. - A Nadine respondeu.

- Agora... Qual é o próximo passo? O vestido? - A Nicola interrompeu.

- Pode ser. - A Di respondeu. - Mas... A gente pode estragar. Tipo... Jogando uma taça de vinho tinto.

- Cara... Eu quero morrer amigo de vocês, hein? - O null comentou e rimos.

- Então. Como a gente sabe que o null não gosta da gente e, de quebra, ainda fez aquilo com você... - A Nadine falou, olhando para mim. - Virou questão de honra. Se fosse só a implicância dele com a gente, nem íamos dar tanta importância assim. Bom, não tanto quanto estamos dando agora.

- E se fosse eu? - Perguntei. - Iam tentar atrapalhar também?

- Acho que o fato de a gente estar te ajudando, mesmo que indiretamente, já diz alguma coisa, não? Sem falar que, enquanto a gente esteve em Los Angeles, já serviu para mostrar do lado de quem a gente está. - A Nicola respondeu.

Mais tarde, quando estávamos no bar, eu estava terminando de trocar de roupa quando a null apareceu. Perguntei:

- Que jarras são aquelas?

Ela simplesmente deu um meio sorriso e não falou nada.

- Só posso te dizer que é bom se concentrar no trabalho hoje.

Depois de algum tempo, perto da meia-noite, as meninas estavam sobre o balcão e a null pegou o microfone. Se aproximando da beirada e me olhando, perguntou para todo mundo:

- Está quente aqui, não é?

Os caras já entenderam qual era a intenção dela. E responderam, gritando que estava.

- O que vocês acham de a gente... Esquentar um pouco mais? Eu prometo que vocês não vão achar tão ruim assim...

Ela se virou, jogando o cabelo por cima do ombro e, se aproximando de onde eu estava, pediu:

- Por favor, vai com os outros lobinhos e traz aquelas jarras que você me perguntou agora há pouco.

Puta merda. Ela ia aprontar, com toda a certeza do mundo.

Quando terminamos de trazer todas as jarras, ela fez um sinal para o DJ e começou a tocar uma música animada, mas, assim que começaram a cantar, notei que era o Lenny Kravitz e, não me pergunte como, consegui identificar que ele cantava sobre sexo. Muito bom mesmo, null...

Ela dançava no ritmo da música, abusando dos rebolados e, perto do refrão, deu a mão para a Nadine e fez a amiga rodopiar. Quando a Di parou de frente para a null, as duas se olhavam fixamente e tinha certeza que metade dos caras ali estava começando a fantasiar com elas. Não muito tempo depois, uma das outras coyotes se juntou e começou a dançar com a null, aproveitando que a Nadine tinha ido para perto da Nicola. Num momento que parecia que ia ter um solo de guitarra, a null e a coyote fizeram uma coisa que parecia que tinham se beijado. Os caras, claro, não conseguiram ignorar aquilo e eu simplesmente estava hipnotizado pelas duas. Eu tentei prestar atenção à garota de cabelos na altura dos ombros e escuros, mas não conseguia identificar quem era ela.

Logo, a música mudou e elas passaram a dançar de maneira ainda mais sexy, deixando as mãos percorrerem seus corpos, sendo que a Nadine jogava os cabelos para o lado e rebolava. Eu conseguia imaginar o null se segurando para não tirá-la dali. No refrão da música, elas pegaram as jarras e começaram a jogar a água; A Nicola entornou a água em si mesma enquanto a Coyote e a Nadine tinham a null como alvo. Francamente, foi uma das piores coisas que vi desde que comecei ali no bar. Pior justamente porque era tão... Sexy era apelido. Podia imaginar quantos dos caras que tinham ido ao Coyote naquela noite que iam bater uma pensando naquilo tudo assim que chegassem em casa. Era impossível não se excitar com aquele... Show.

Quando aquilo finalmente acabou, as meninas foram trocar de roupa e, logo que vi a coyote desconhecida, corri para alcança-la e, assim que segurei seu braço, ela se virou e tomei um susto daqueles ao ver que era a Seren.

- O que...? O que te aconteceu? - Perguntei, sem pensar. Ela franziu as sobrancelhas e perguntou:

- Não gostou?

- Gostei, só que... Foi muito inesperado.

Ela sorriu timidamente e respondeu:

- Já que a gente vai tentar de novo, eu... Achei melhor parar com aquela besteira toda de vergonha, ainda mais que eu sou uma coyote, não é?

Engoli em seco, concordando.

- Bom, vou lá que tenho que trocar de roupa e não posso me atrasar. Até mais.

Eu estava em choque, isso era um fato.

Naquela noite, eu simplesmente não conseguia em concentrar direito. Ainda mais que tanto a null quanto a Seren atraíam minha atenção. E o pior é que as duas faziam questão de esbarrar em mim, mesmo que fosse só um toque de leve, o tempo inteiro.

No final do expediente, quando a null finalmente foi embora, aproveitei a oportunidade e perguntei à Seren:

- Posso conversar com você?

- Aqui?

- Não. - Respondi. - Eu estou com fome. Quer comer alguma coisa?

Ela concordou e, quando chegamos à um restaurante que funcionava àquela hora, perguntei, enquanto esperávamos os pedidos:

- O que aconteceu com você?

- Já é a segunda vez que você me faz essa pergunta...

- Porque eu estou tentando entender o que houve para você, da noite para o dia, mudar tão... Radicalmente. Até onde me lembro, você não era nem um pouco vaidosa, morria de vergonha de mostrar um pouco mais de pele...

- Quer mesmo saber o que houve? - Assenti. - A null. Ela me deu uma prensa e, com a ajuda das outras, fui convencida a mudar a postura.

- O que elas te falaram?

- E faz alguma diferença? Aliás... Por que está te incomodando tanto que eu tenha mudado?

- Não é incômodo. É surpresa mesmo, porque até outro dia, você não usava um pingo de maquiagem, não subia num salto alto e muito menos usaria um decote.

- Eu te falei que fui convencida. As meninas me fizeram perceber que eu estava fazendo uma besteira enorme continuando a ser daquele jeito. E entendi a melhor parte da história de ser coyote.

- Que é...?

Deu um sorriso enigmático.

- A propósito... Eu estava pensando em uma coisa. A gente podia tentar, mas sem compromisso. - Ela falou, enrolando uma mecha de cabelo nas mãos. Ok. Meu queixo, agora, não caiu; Despencou. - O que tem de mais? Até o Papa sabe que você ainda tem uma queda enorme pela null, está muito óbvio. Como te acho um fofo e é gostoso e ainda está disposto a tentar... Pelo menos assim a gente se diverte um pouco antes de você ir correndo atrás dela.

Eu estava sem fala. Só conseguia encarar a mulher à minha frente, que era muito diferente da Seren que eu tinha conhecido. E não sabia se gostava dessa nova.

Por mais que, enquanto a gente comia, ela ainda tivesse algumas coisas da “antiga” Seren, ainda não conseguia me acostumar a ver os gestos costumeiros em alguém que, apesar de ser a mesma pessoa, era tão diferente. Por um lado, eu achava ótimo que ela estava tão mais... Confiante e com a autoestima tão mais alta. Mas por outro... Eu tinha a impressão que ela estava tentando desesperadamente ser como a null. Não sabia dizer se era por minha causa ou sim-plesmente porque queria ir se acostumando à vida de coyote.

Quando terminamos de comer e estávamos no metrô, indo de volta para a casa, ela disse:

- Eu sei que você está assustado com a minha mudança. Mas te garanto que, ape-sar do que te propus... Ainda continuo a mesma Seren de antes. Só com um pouco mais de segurança. Te fiz a proposta porque não quero sair machucada. Acho que assim, pelo menos vai ser menos dolorido quando você conseguir a null de volta. E eu sei que vai.

- Como você pode ter tanta certeza? - Perguntei, a observando. Era estranho vê-la usando maquiagem, ainda mais carregada. Estava linda, verdade fosse dita.

- Você não largou tudo em Los Angeles e veio para cá atrás dela? Nunca achei que você fosse do tipo que desiste fácil...

Dei um meio sorriso e comentou:

- E honestamente? Apesar de você ser gostoso, o null não deixa nem um pouco a desejar.

- Espera. Você seria fura-olho a esse ponto?

- Não exatamente. Quer dizer, se você conquistar a null e o null estiver livre...

Eu só consegui dar risada daquela observação.

- Além do mais... Você lembra que me contou que ela era ciumenta? Acho que, se a gente estiver junto, a null vai perceber de quem ela realmente gosta.

Vendo por esse lado...

- Só me promete uma coisa? - Ela pediu e levantei o queixo, quase imperceptivelmente. - Não vou perder meu posto de madrinha.

Sorri e prometi.

- Eu estava pensando... - Comentei. - Você ainda não viu como a minha casa está.

Ela entendeu na mesma hora.

Quando destranquei a porta, a deixei passar primeiro e, em seguida, entrei. Ela observou a sala atentamente e comentou:

- Você realmente gosta de uma decoração sóbria...

Sorri e contei:

- E você, infelizmente, não é a primeira pessoa que me fala isso. Já tem três na sua frente.

- As meninas? - Perguntou e concordei.

- A null implicou primeiro. Foi lá em Los Angeles. Na época, eu tinha... Passado por uma experiência bem traumática.

- Se não quiser contar, está tudo bem.

- No dia que eu ia me casar com a minha ex, null, eu descobri que ela me traía. Vi quando ela e o melhor amigo estavam...

- Nossa... - Suspirou e, de repente, pareceu se dar conta de uma coisa. - Mas... Foi na época em que você e a null se casaram?

- Foram dois anos depois. Eu só fui para Las Vegas por insistência do null, do null e do null. E conheci a null quando ela estava tomando banho.

A cara de surpresa dela foi engraçada.

- Como assim?- Ela quis saber.

- A gerência do hotel fez alguma bagunça que nos registrou na mesma suíte. Quando cheguei, ouvi um barulho vindo do banheiro e, quando parei à porta, a null estava na banheira. Não vi nada além do rosto, braços e pés.

- E ela?

- Ficou tão em choque quanto eu.

- Imagino. - Ela respondeu, sorrindo.

- E eu acabei de me dar conta que não te ofereci nada. Tenho cerveja, água, suco, chá... Acho que tenho refrigerante e energético também.

- Eu estou bem, obrigada. Mas quero que termine de contar a sua história com a null. Sempre fui curiosa.

- Por quê?

Deu de ombros.

- Justamente porque não é comum uma fã se casar com um ídolo. E sem falar que é menos comum ainda acontecer uma coisa como a que aconteceu entre vocês.

- O que você quer saber?

- Ela já... Deu ataque de histeria?

Ri e neguei.

- Acho que até hoje não caiu a ficha. Mas ela é mais escandalosa com as meninas mesmo.

- Ela nunca ficou: “Ai, meu Deus! Eu conheci o null!”?

Neguei.

- É estranho. - Respondi, pensativo e ela concordou comigo.

- Se eu encontrasse o Johnny Depp na rua, era bem capaz de deixá-lo surdo com meus gritos.

Rimos.

- A null é a única que consegue me tirar do sério. - Comentei. A Seren me olhou e expliquei: - Uma vez, a gente foi à uma festa e eu fiz ciúmes nela. E ela deu o troco.

- Ela ficou com outro cara na sua frente?

- Não. Subiu no balcão do bar e dançou. Ela e a Nicola.

A Seren arregalou os olhos.

- Sério?

- Sério. E depois eu a tirei dali e fomos embora. - Respondi, me divertindo ao lembrar daquela noite. - Acho que eu nunca tive tanta raiva de alguém...

- Mas você mereceu. Pelo que entendi, foi você quem começou.

Me virei para olhá-la e a Seren retrucou:

- Nem vem! Você sabe muito bem que é a verdade. E antes que você me acuse de ficar do lado dela, pode saber que eu sou justa. Se tivesse sido ela quem começou, não ia dar razão.

Decidindo mudar o rumo da conversa, eu perguntei:

- A ideia da água foi dela, não é?

- E da Nicola. A água estava quente, caso você não tenha percebido.

- Eu estava ocupado demais prestando atenção nos caras que vocês quase mataram.

Ela riu e disse:

- Sério? Eu nem reparei...

- Ah, tá bom que vocês não viram... - Respondi e ela cutucou a minha cintura. Me encolhi e, dali para um beijo foi um pulo. E me surpreendi ao perceber que até aquilo estava diferente nela. Não que o beijo não fosse bom antes, mas agora era mais... Envolvente.

Na manhã seguinte, enquanto estávamos tomando café da manhã, ela disse:

- Eu andei pensando... A gente pode fingir que está namorando.

- E por que essa... Mudança de ideia?

- Nada. Só... Pensei melhor. Quanto menos risco a gente tiver, melhor.

Pus a panqueca no seu prato e ela experimentou um pedaço.

- Está uma delícia! - Comentou, depois de engolir. Sorri, todo satisfeito, e falei:

- Se eu te contar uma coisa, você jura que não vai falar nada com a null?

Concordou.

- A gente está sabotando o casamento.

- “A gente” quem, exatamente?

- As meninas, o null, o null, o null e eu.

- A Claire também?

Neguei.

- Ela sabe, mas não conseguiu uma brecha ainda.

- Posso ajudar?

- Depende. Tem alguma ideia?

Ela sorriu, travessa.

- A despedida de solteira e a despedida de solteiro. - Começou a dizer. - A sorte de vocês terem madrinhas espiãs é que a gente é quem vai organizar tudo.

- Você não está pensando em armar um flagra para o null, está?

- Como assim?

- Ele pegar a null na cama com outro.

- Ah, não... Eu tenho uma ideia ainda mais... Maligna. Quando vai ser a próxima reu-nião?

- Se quiser, eu posso ligar para o pessoal e marcar daqui a pouco aqui em casa.

- Perfeito. - Ela respondeu.

Assim, logo que terminamos o café da manhã, ligamos para todo mundo e, até uma hora depois, estavam todos ali. A Seren explicava o seu plano para a gente:

- Como vocês todos foram convidados para padrinhos... Podem dar um jeito no noivo.

- E que jeito seria esse?- O null perguntou.

- Que ele não apareça no dia. - Ela respondeu. - Eu acho que isso do flagra armado não vai funcionar. Ainda mais que vocês falaram que eles têm uma relação onde um conta tudo para o outro...

- A null confia muito nele. - A Nadine observou. - A gente podia fazer alguma coisa a respeito...

- Então. - A Seren disse. - Não acho que fazer com que essa confiança seja quebrada seja uma coisa boa. Ainda mais que ela, com certeza, já vai ficar com raiva da gente quando descobrir tudo...

Todo mundo ficou pensativo.

- E eu tive uma ideia. - A Seren falou. - Já que o null está se passando pelo null, tinha que ter alguém que se passasse pela null. E dado o timbre de voz parecido... Eu acho que podia ser a Nicola.

- É, mas a null fala alto e a Nicola é mais calma. - Falei.

- Mas eu acho que posso tentar. - A ruiva opinou.

- O problema é o sotaque. - A Nadine falou. - A null não tem o sotaque de Cheshire...

- Mesmo assim. Eu vou tentar imitá-la. - A Nicola teimou. - Já conheço a null tempo o suficiente para saber como é, não só o sotaque, mas as expressões que ela usa mais.

A outra ficou quieta.

De repente, o celular da Nadine começou a tocar e, assim que ela pegou o aparelho, olhou a tela e disse:

- Foi só falar no diabinho...

- Atende. - A Seren pediu. A Di obedeceu e atendeu:

- Oi.

A Seren fez sinal para que pusesse no viva-voz e a Nadine assim o fez:

- O que foi? - Ouvimos a voz da null.

- Eu não vou poder continuar segurando o celular e, por isso pus no viva-voz. Mas pode falar.

- Então. Hoje vou olhar o bolo. Quer vir?

A Seren fez sinal positivo.

- Claro. Quer que eu avise às meninas?

- Por favor. É naquela confeitaria em Mayfair que a gente sempre passava em frente e ficava olhando a vitrine, lembra?

- Ah, sei. Pode deixar que a gente te encontra lá. - A Nadine respondeu. - À que horas?

- Ah... Fala primeiro com as meninas e depois me liga e aí a gente marca.

- Ok.

As duas se despediram e a Nadine esperou uns dez minutos para ligar de volta para a null e marcaram de se encontrar imediatamente. Antes de sair, porém, a Seren quis saber:

- Tem algum bolo que a null não gosta?

A Nadine e a Nicola se entreolharam e eu respondi:

- Ela não gosta de recheio de nozes. Mas com as nozes em pedaços.

A Seren concordou e elas saíram pouco depois. Os caras aproveitaram para ficar ali.

- A gente podia era dar um jeito de o null ver o que a null ganhar na despedida de solteira. - O null comentou e tive uma ideia.

- Melhor ainda. A null é cheia das superstições. - Falei. - E ela acredita naquilo que o noivo não pode ver o vestido antes do casamento.

- Mas não são dois vestidos? - O null perguntou.

- Só para garantir... A gente faz com que ele veja os dois. - Falei.

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 20º capítulo


Is he everything you wanted in a man?

Você passa suas noites sozinha
E ele nunca chega em casa
E toda vez que você liga pra ele, só dá ocupado

(...)
Você deseja ter alguém
Que poderia chegar e fazer tudo certo

(Justin Timberlake - What Goes Around.../... Comes Around)

Bill

- Por favor, eu gostaria de falar com... Kate Watson? - O Gustav perguntou. Na sexta-feira seguinte à compra dos ternos, estávamos na casa da Nicola, executando o plano: O Gustav, que era quem tinha a voz mais próxima à do Alex, ia se passar por ele e pedir para fazer as substituições. Naquela tarde, ele estava ligando para o bufê.

A atendente deveria estar chamando a responsável e, enquanto esperava, o Gustav perguntou à Nadine:

- Qual que é para substituir?

- O de peito de peru. Pede para usar presunto. E queijo cremoso.

Sabia que a Luiza odiava os dois. Quer dizer, eu sabia que ela não comia mais carne de porco (Evitava sempre que possível) e não gostava daqueles queijos moles e pastosos demais. Uma vez, ela me falou de um que simplesmente deu arrepios enquanto comia. Logo em seguida, lembrou que a marca não era vendida na Europa. Tentou me explicar como era, mais ou menos e entendi até certo ponto.

- Kate? - O Gustav disse, se esforçando para imitar o sotaque do Alex. - Alexander Ireland, como vai? - A moça deve ter o cumprimentado. - Bem, obrigada. Kate, é o seguinte: A minha noiva foi aí no bufê com duas madrinhas e a minha mãe na semana passada e ela andou pensando melhor e vai preferir trocar algumas das coisas. A gente descobriu que uma das convidadas é alérgica à peito de peru.

A Nadine e a Nicola olhavam para ele o tempo inteiro e, vez ou outra, trocavam olhares. O Tom estava sentado à mesa, ao lado da Nadine, e o Georg e eu estávamos perto da porta, conversando baixo para não atrapalhar.

- A Luiza vai ficar muito puta com a gente. - O Georg comentou.

- Mais do que ela já está com o Alex? Sim, porque é óbvio que ele não está fazendo o menor esforço para dar um toque que ela está atrapalhando.

Além do bufê, o Gustav ligou para a floricultura e pediu para trocarem as flores que a Luiza tinha escolhido, sem a Lee saber, pelas que a mãe do Alex havia encomendado.

- Tem só um problema. - A Nicola falou, depois que o Gustav desligou. - A Luiza não odeia lírios.

- Mas solta o pólen. Ainda mais esses laranjas. Lembra daquela vez que ela contou que a tia-avó dela foi sentir o cheiro e ficou com o rosto todo laranja? - A Nadine perguntou e olhamos para ela. - É verdade!

- Qual tia? - A Nicola quis saber e a Nadine respondeu:

- Lembra daquela que tem quatro filhos?

- Ah! A do Zé Maria?- A ruiva perguntou. A outra concordou e, vendo as nossas caras, a Di explicou:

- Tá para surgir uma família com mais casos engraçados que a da Iza. Tem essa tia, que é a segunda irmã mais nova do avô dela. Já tinha três meninos e, quando engravidou pela quarta vez, a bisavó da Iza falou: “Agora vem a Maria!”. Nasceu mais um menino e o avô da Iza falou: “Olha o José Maria aí...”.

- E você conheceu? - Questionei.

- A tia ou o José Maria? - A Nadine perguntou.

- Os dois. - Respondi.

- Conheci quase todo mundo. Só a tia que mora no Rio que ainda não conheci. - A Nadine respondeu.

- Agora... Qual é o próximo passo? O vestido? - A Nicola interrompeu.

- Pode ser. - A Di respondeu. - Mas... A gente pode estragar. Tipo... Jogando uma taça de vinho tinto.

- Cara... Eu quero morrer amigo de vocês, hein? - O Georg comentou e rimos.

- Então. Como a gente sabe que o Alex não gosta da gente e, de quebra, ainda fez aquilo com você... - A Nadine falou, olhando para mim. - Virou questão de honra. Se fosse só a implicância dele com a gente, nem íamos dar tanta importância assim. Bom, não tanto quanto estamos dando agora.

- E se fosse eu? - Perguntei. - Iam tentar atrapalhar também?

- Acho que o fato de a gente estar te ajudando, mesmo que indiretamente, já diz alguma coisa, não? Sem falar que, enquanto a gente esteve em Los Angeles, já serviu para mostrar do lado de quem a gente está. - A Nicola respondeu.

Mais tarde, quando estávamos no bar, eu estava terminando de trocar de roupa quando a Luiza apareceu. Perguntei:

- Que jarras são aquelas?

Ela simplesmente deu um meio sorriso e não falou nada.

- Só posso te dizer que é bom se concentrar no trabalho hoje.

Depois de algum tempo, perto da meia-noite, as meninas estavam sobre o balcão e a Luiza pegou o microfone. Se aproximando da beirada e me olhando, perguntou para todo mundo:

- Está quente aqui, não é?

Os caras já entenderam qual era a intenção dela. E responderam, gritando que estava.

- O que vocês acham de a gente... Esquentar um pouco mais? Eu prometo que vocês não vão achar tão ruim assim...

Ela se virou, jogando o cabelo por cima do ombro e, se aproximando de onde eu estava, pediu:

- Por favor, vai com os outros lobinhos e traz aquelas jarras que você me perguntou agora há pouco.

Puta merda. Ela ia aprontar, com toda a certeza do mundo.

Quando terminamos de trazer todas as jarras, ela fez um sinal para o DJ e começou a tocar uma música animada, mas, assim que começaram a cantar, notei que era o Lenny Kravitz e, não me pergunte como, consegui identificar que ele cantava sobre sexo. Muito bom mesmo, Luiza...

Ela dançava no ritmo da música, abusando dos rebolados e, perto do refrão, deu a mão para a Nadine e fez a amiga rodopiar. Quando a Di parou de frente para a Iza, as duas se olhavam fixamente e tinha certeza que metade dos caras ali estava começando a fantasiar com elas. Não muito tempo depois, uma das outras coyotes se juntou e começou a dançar com a Luiza, aproveitando que a Nadine tinha ido para perto da Nicola. Num momento que parecia que ia ter um solo de guitarra, a Luiza e a coyote fizeram uma coisa que parecia que tinham se beijado. Os caras, claro, não conseguiram ignorar aquilo e eu simplesmente estava hipnotizado pelas duas. Eu tentei prestar atenção à garota de cabelos na altura dos ombros e escuros, mas não conseguia identificar quem era ela.

Logo, a música mudou e elas passaram a dançar de maneira ainda mais sexy, deixando as mãos percorrerem seus corpos, sendo que a Nadine jogava os cabelos para o lado e rebolava. Eu conseguia imaginar o Tom se segurando para não tirá-la dali. No refrão da música, elas pegaram as jarras e começaram a jogar a água; A Nicola entornou a água em si mesma enquanto a Coyote e a Nadine tinham a Luiza como alvo. Francamente, foi uma das piores coisas que vi desde que comecei ali no bar. Pior justamente porque era tão... Sexy era apelido. Podia imaginar quantos dos caras que tinham ido ao Coyote naquela noite que iam bater uma pensando naquilo tudo assim que chegassem em casa. Era impossível não se excitar com aquele... Show.

Quando aquilo finalmente acabou, as meninas foram trocar de roupa e, logo que vi a coyote desconhecida, corri para alcança-la e, assim que segurei seu braço, ela se virou e tomei um susto daqueles ao ver que era a Seren.

- O que...? O que te aconteceu? - Perguntei, sem pensar. Ela franziu as sobrancelhas e perguntou:

- Não gostou?

- Gostei, só que... Foi muito inesperado.

Ela sorriu timidamente e respondeu:

- Já que a gente vai tentar de novo, eu... Achei melhor parar com aquela besteira toda de vergonha, ainda mais que eu sou uma coyote, não é?

Engoli em seco, concordando.

- Bom, vou lá que tenho que trocar de roupa e não posso me atrasar. Até mais.

Eu estava em choque, isso era um fato.

Naquela noite, eu simplesmente não conseguia em concentrar direito. Ainda mais que tanto a Luiza quanto a Seren atraíam minha atenção. E o pior é que as duas faziam questão de esbarrar em mim, mesmo que fosse só um toque de leve, o tempo inteiro.

No final do expediente, quando a Luiza finalmente foi embora, aproveitei a oportunidade e perguntei à Seren:

- Posso conversar com você?

- Aqui?

- Não. - Respondi. - Eu estou com fome. Quer comer alguma coisa?

Ela concordou e, quando chegamos à um restaurante que funcionava àquela hora, perguntei, enquanto esperávamos os pedidos:

- O que aconteceu com você?

- Já é a segunda vez que você me faz essa pergunta...

- Porque eu estou tentando entender o que houve para você, da noite para o dia, mudar tão... Radicalmente. Até onde me lembro, você não era nem um pouco vaidosa, morria de vergonha de mostrar um pouco mais de pele...

- Quer mesmo saber o que houve? - Assenti. - A Luiza. Ela me deu uma prensa e, com a ajuda das outras, fui convencida a mudar a postura.

- O que elas te falaram?

- E faz alguma diferença? Aliás... Por que está te incomodando tanto que eu tenha mudado?

- Não é incômodo. É surpresa mesmo, porque até outro dia, você não usava um pingo de maquiagem, não subia num salto alto e muito menos usaria um decote.

- Eu te falei que fui convencida. As meninas me fizeram perceber que eu estava fazendo uma besteira enorme continuando a ser daquele jeito. E entendi a melhor parte da história de ser coyote.

- Que é...?

Deu um sorriso enigmático.

- A propósito... Eu estava pensando em uma coisa. A gente podia tentar, mas sem compromisso. - Ela falou, enrolando uma mecha de cabelo nas mãos. Ok. Meu queixo, agora, não caiu; Despencou. - O que tem de mais? Até o Papa sabe que você ainda tem uma queda enorme pela Luiza, está muito óbvio. Como te acho um fofo e é gostoso e ainda está disposto a tentar... Pelo menos assim a gente se diverte um pouco antes de você ir correndo atrás dela.

Eu estava sem fala. Só conseguia encarar a mulher à minha frente, que era muito diferente da Seren que eu tinha conhecido. E não sabia se gostava dessa nova.

Por mais que, enquanto a gente comia, ela ainda tivesse algumas coisas da “antiga” Seren, ainda não conseguia me acostumar a ver os gestos costumeiros em alguém que, apesar de ser a mesma pessoa, era tão diferente. Por um lado, eu achava ótimo que ela estava tão mais... Confiante e com a autoestima tão mais alta. Mas por outro... Eu tinha a impressão que ela estava tentando desesperadamente ser como a Luiza. Não sabia dizer se era por minha causa ou simplesmente porque queria ir se acostumando à vida de coyote.

Quando terminamos de comer e estávamos no metrô, indo de volta para a casa, ela disse:

- Eu sei que você está assustado com a minha mudança. Mas te garanto que, ape-sar do que te propus... Ainda continuo a mesma Seren de antes. Só com um pouco mais de segurança. Te fiz a proposta porque não quero sair machucada. Acho que assim, pelo menos vai ser menos dolorido quando você conseguir a Luiza de volta. E eu sei que vai.

- Como você pode ter tanta certeza? - Perguntei, a observando. Era estranho vê-la usando maquiagem, ainda mais carregada. Estava linda, verdade fosse dita.

- Você não largou tudo em Los Angeles e veio para cá atrás dela? Nunca achei que você fosse do tipo que desiste fácil...

Dei um meio sorriso e comentou:

- E honestamente? Apesar de você ser gostoso, o Alex não deixa nem um pouco a desejar.

- Espera. Você seria fura-olho a esse ponto?

- Não exatamente. Quer dizer, se você conquistar a Luiza e o Alex estiver livre...

Eu só consegui dar risada daquela observação.

- Além do mais... Você lembra que me contou que ela era ciumenta? Acho que, se a gente estiver junto, a Luiza vai perceber de quem ela realmente gosta.

Vendo por esse lado...

- Só me promete uma coisa? - Ela pediu e levantei o queixo, quase imperceptivelmente. - Não vou perder meu posto de madrinha.

Sorri e prometi.

- Eu estava pensando... - Comentei. - Você ainda não viu como a minha casa está.

Ela entendeu na mesma hora.

Quando destranquei a porta, a deixei passar primeiro e, em seguida, entrei. Ela observou a sala atentamente e comentou:

- Você realmente gosta de uma decoração sóbria...

Sorri e contei:

- E você, infelizmente, não é a primeira pessoa que me fala isso. Já tem três na sua frente.

- As meninas? - Perguntou e concordei.

- A Luiza implicou primeiro. Foi lá em Los Angeles. Na época, eu tinha... Passado por uma experiência bem traumática.

- Se não quiser contar, está tudo bem.

- No dia que eu ia me casar com a minha ex, Lydia, eu descobri que ela me traía. Vi quando ela e o melhor amigo estavam...

- Nossa... - Suspirou e, de repente, pareceu se dar conta de uma coisa. - Mas... Foi na época em que você e a Luiza se casaram?

- Foram dois anos depois. Eu só fui para Las Vegas por insistência do Tom, do Georg e do Gustav. E conheci a Luiza quando ela estava tomando banho.

A cara de surpresa dela foi engraçada.

- Como assim?- Ela quis saber.

- A gerência do hotel fez alguma bagunça que nos registrou na mesma suíte. Quando cheguei, ouvi um barulho vindo do banheiro e, quando parei à porta, a Luiza estava na banheira. Não vi nada além do rosto, braços e pés.

- E ela?

- Ficou tão em choque quanto eu.

- Imagino. - Ela respondeu, sorrindo.

- E eu acabei de me dar conta que não te ofereci nada. Tenho cerveja, água, suco, chá... Acho que tenho refrigerante e energético também.

- Eu estou bem, obrigada. Mas quero que termine de contar a sua história com a Luiza. Sempre fui curiosa.

- Por quê?

Deu de ombros.

- Justamente porque não é comum uma fã se casar com um ídolo. E sem falar que é menos comum ainda acontecer uma coisa como a que aconteceu entre vocês.

- O que você quer saber?

- Ela já... Deu ataque de histeria?

Ri e neguei.

- Acho que até hoje não caiu a ficha. Mas ela é mais escandalosa com as meninas mesmo.

- Ela nunca ficou: “Ai, meu Deus! Eu conheci o Bill!”?

Neguei.

- É estranho. - Respondi, pensativo e ela concordou comigo.

- Se eu encontrasse o Johnny Depp na rua, era bem capaz de deixá-lo surdo com meus gritos.

Rimos.

- A Luiza é a única que consegue me tirar do sério. - Comentei. A Seren me olhou e expliquei: - Uma vez, a gente foi à uma festa e eu fiz ciúmes nela. E ela deu o troco.

- Ela ficou com outro cara na sua frente?

- Não. Subiu no balcão do bar e dançou. Ela e a Nicola.

A Seren arregalou os olhos.

- Sério?

- Sério. E depois eu a tirei dali e fomos embora. - Respondi, me divertindo ao lembrar daquela noite. - Acho que eu nunca tive tanta raiva de alguém...

- Mas você mereceu. Pelo que entendi, foi você quem começou.

Me virei para olhá-la e a Seren retrucou:

- Nem vem! Você sabe muito bem que é a verdade. E antes que você me acuse de ficar do lado dela, pode saber que eu sou justa. Se tivesse sido ela quem começou, não ia dar razão.

Decidindo mudar o rumo da conversa, eu perguntei:

- A ideia da água foi dela, não é?

- E da Nicola. A água estava quente, caso você não tenha percebido.

- Eu estava ocupado demais prestando atenção nos caras que vocês quase mataram.

Ela riu e disse:

- Sério? Eu nem reparei...

- Ah, tá bom que vocês não viram... - Respondi e ela cutucou a minha cintura. Me encolhi e, dali para um beijo foi um pulo. E me surpreendi ao perceber que até aquilo estava diferente nela. Não que o beijo não fosse bom antes, mas agora era mais... Envolvente.

Na manhã seguinte, enquanto estávamos tomando café da manhã, ela disse:

- Eu andei pensando... A gente pode fingir que está namorando.

- E por que essa... Mudança de ideia?

- Nada. Só... Pensei melhor. Quanto menos risco a gente tiver, melhor.

Pus a panqueca no seu prato e ela experimentou um pedaço.

- Está uma delícia! - Comentou, depois de engolir. Sorri, todo satisfeito, e falei:

- Se eu te contar uma coisa, você jura que não vai falar nada com a Luiza?

Concordou.

- A gente está sabotando o casamento.

- “A gente” quem, exatamente?

- As meninas, o Tom, o Georg, o Gustav e eu.

- A Claire também?

Neguei.

- Ela sabe, mas não conseguiu uma brecha ainda.

- Posso ajudar?

- Depende. Tem alguma ideia?

Ela sorriu, travessa.

- A despedida de solteira e a despedida de solteiro. - Começou a dizer. - A sorte de vocês terem madrinhas espiãs é que a gente é quem vai organizar tudo.

- Você não está pensando em armar um flagra para o Alex, está?

- Como assim?

- Ele pegar a Luiza na cama com outro.

- Ah, não... Eu tenho uma ideia ainda mais... Maligna. Quando vai ser a próxima reu-nião?

- Se quiser, eu posso ligar para o pessoal e marcar daqui a pouco aqui em casa.

- Perfeito. - Ela respondeu.

Assim, logo que terminamos o café da manhã, ligamos para todo mundo e, até uma hora depois, estavam todos ali. A Seren explicava o seu plano para a gente:

- Como vocês todos foram convidados para padrinhos... Podem dar um jeito no noivo.

- E que jeito seria esse?- O Tom perguntou.

- Que ele não apareça no dia. - Ela respondeu. - Eu acho que isso do flagra armado não vai funcionar. Ainda mais que vocês falaram que eles têm uma relação onde um conta tudo para o outro...

- A Iza confia muito nele. - A Nadine observou. - A gente podia fazer alguma coisa a respeito...

- Então. - A Seren disse. - Não acho que fazer com que essa confiança seja quebrada seja uma coisa boa. Ainda mais que ela, com certeza, já vai ficar com raiva da gente quando descobrir tudo...

Todo mundo ficou pensativo.

- E eu tive uma ideia. - A Seren falou. - Já que o Gustav está se passando pelo Alex, tinha que ter alguém que se passasse pela Luiza. E dado o timbre de voz parecido... Eu acho que podia ser a Nicola.

- É, mas a Luiza fala alto e a Nicola é mais calma. - Falei.

- Mas eu acho que posso tentar. - A ruiva opinou.

- O problema é o sotaque. - A Nadine falou. - A Iza não tem o sotaque de Cheshire...

- Mesmo assim. Eu vou tentar imitá-la. - A Nicola teimou. - Já conheço a Iza tempo o suficiente para saber como é, não só o sotaque, mas as expressões que ela usa mais.

A outra ficou quieta.

De repente, o celular da Nadine começou a tocar e, assim que ela pegou o aparelho, olhou a tela e disse:

- Foi só falar no diabinho...

- Atende. - A Seren pediu. A Di obedeceu e atendeu:

- Oi.

A Seren fez sinal para que pusesse no viva-voz e a Nadine assim o fez:

- O que foi? - Ouvimos a voz da Luiza.

- Eu não vou poder continuar segurando o celular e, por isso pus no viva-voz. Mas pode falar.

- Então. Hoje vou olhar o bolo. Quer vir?

A Seren fez sinal positivo.

- Claro. Quer que eu avise às meninas?

- Por favor. É naquela confeitaria em Mayfair que a gente sempre passava em frente e ficava olhando a vitrine, lembra?

- Ah, sei. Pode deixar que a gente te encontra lá. - A Nadine respondeu. - À que horas?

- Ah... Fala primeiro com as meninas e depois me liga e aí a gente marca.

- Ok.

As duas se despediram e a Nadine esperou uns dez minutos para ligar de volta para a Luiza e marcaram de se encontrar imediatamente. Antes de sair, porém, a Seren quis saber:

- Tem algum bolo que a Luiza não gosta?

A Nadine e a Nicola se entreolharam e eu respondi:

- Ela não gosta de recheio de nozes. Mas com as nozes em pedaços.

A Seren concordou e elas saíram pouco depois. Os caras aproveitaram para ficar ali.

- A gente podia era dar um jeito de o Alex ver o que a Luiza ganhar na despedida de solteira. - O Tom comentou e tive uma ideia.

- Melhor ainda. A Luiza é cheia das superstições. - Falei. - E ela acredita naquilo que o noivo não pode ver o vestido antes do casamento.

- Mas não são dois vestidos? - O Georg perguntou.

- Só para garantir... A gente faz com que ele veja os dois. - Falei.