Oh, did I almost see what's really on the inside?
Então, venha como você é pra mim
Não precisa de desculpas
Você sabe que é valioso
Eu levarei os seus dias ruins com os seus bons
Vou andar por essa tempestade, eu iria
Eu andaria porque te amo
(Katy Perry - Unconditionally)
Uma semana depois, começaram as obras no estúdio. Por causa do barulho, era impossível ficarmos lá, então, a , a Claire e eu estávamos trabalhando de casa. Num desses dias, acabamos virando a noite, mas por fim, conseguimos.
Na sexta-feira, logo de manhã, mal havíamos começado a trabalhar e a simplesmente saiu correndo até o banheiro. Fui atrás e, quando bati na porta do banheiro, perguntei:
- ? Precisa de ajuda?
Ouvi que tossiu e consegui abrir a porta. Se levantava com um pouco de dificuldade e a ajudei, imediatamente. Senti que vacilou e consegui segurá-la a tempo. Depois que conseguiu se recuperar um pouco, a levei para o meu quarto e, aproveitando que a Rosa estava passando por ali, pedi:
- Liga para o médico, rápido.
- Não liga, Rosa. Só... Me traz um copo de água. E um daqueles biscoitos de água e sal. - A disse e a olhei feio. Conseguiu me dar um tapa e ignorou meu olhar de reprovação.
- Eu estou bem. De verdade. Se eu precisar, pode deixar que vou falar. - Me garantiu e a levei até o meu quarto. Em seguida, dispensei a Claire, que pediu para dar notícias da .
Assim que fiquei sozinho com a minha mulher, perguntei:
- O que aconteceu, de verdade?
- Sei lá. Só sei que começou a me embrulhar o estômago e quando vi, já não dava para segurar.
Me ocorreu uma coisa.
- O que foi? - Perguntou, alarmada.
- Nada, é só... - Comecei a dizer, mas me freei no meio do caminho.
- O que? , fala logo!
- Será que não foi alguma coisa que você comeu? - Perguntei, disfarçando.
- Provavelmente. - Respondeu, pensativa.
No final da tarde, fui até a casa do e claro que ele percebeu que tinha alguma coisa de errado.
- Ela não é de passar mal desse jeito. - Comentei, depois que contei tudo o que tinha acontecido com a .
- Certeza?
Concordei.
- Nesse tempo todo, ela só passou mal uma vez e foi porque a pressão dela caiu.
- E você pode estar achando que ela está grávida? - Ele perguntou, percebendo tudo. Concordei. - E se estiver? O que vai fazer?
- Se ela estiver grávida, vou ao juiz e conto tudo. Claro que ele não vai dar o divórcio, ainda mais que você sabe que, além de eu sempre ter gostado de crianças, não vou deixar a simplesmente sair da minha vida de uma hora para a outra e com um filho meu nos braços. Ou barriga.
Me olhava, avaliativo.
- E você está doido para que ela realmente esteja esperando um filho seu, não é? - Perguntou, antes de tomar outro gole de cerveja. Concordei.
- Ela realmente me impressionou quando apareceu no estúdio assim que chegamos de Londres. Achei que fosse querer descansar da viagem...
- Você não foi o único. Falei com a Nadine e ela disse que a é assim mesmo.
Fiquei pensativo por um instante e o falou:
- A torcida por ela é grande, isso eu posso te garantir.
Dei um meio sorriso enquanto encarava o meu próprio copo.
- Se eu bem te conheço... Está se imaginando daqui a alguns anos, com o seu filho e ela, não é?
Olhei para ele, que entendeu na mesma hora.
- Não fica bravo, mas... Já passou pela sua cabeça a hipótese de, se ela realmente estiver grávida, fugir? - Perguntou e respondi, simplesmente:
- Eu vou atrás dela, não importa aonde. Eu... - Respirei fundo. - Amo a . Gosto dela de um jeito diferente. Até mesmo da Lydia.
Pôs a mão no meu ombro e disse:
- Fica com ela então. Do que mais você precisa?
Parei para pensar.
Algum tempo depois, quando voltei para a casa, ela estava vendo TV e tomando chá enquanto comia alguns biscoitos água e sal. Me aproximei dela e, me sentando ao seu lado, me inclinei na sua direção e beijei seu rosto. Perguntei:
- Como você está?
- Melhor. Rosa fez uma canja para mim antes de ir embora e a Di está me patrulhando o tempo inteiro.
Sorri.
- E o ?
- O que tem?
- Como ele está?
- Bem. - Respondi, estranhando e achando graça daquilo. - E você tem um fã.
- Ah é? - Perguntou, sorrindo. - Por quê?
- Ah... Ele gosta muito de você. Apoia que fique comigo.
- Bom, fico feliz que ele tenha mudado de opinião ao meu respeito.
- Acho que no fundo, ele gostou de você desde o início.
Arqueou a sobrancelha e acariciei sua bochecha.
- E você? - Perguntou.
A olhei e, não resistindo, brinquei:
- E tinha como não gostar de uma garota que estava nua e numa banheira?
Tomei um tapa no ombro e ri.
- Mas falando sério... Te achei um pouco... Rabugenta demais à primeira vista. Depois tive certeza.
Outro tapa.
- Mas gostei sim de você. Senão tivesse, não teria aceitado a carona que você ofereceu.
Estreitou os olhos e expliquei:
- Lembra que vocês estavam quase indo embora numa limusine e você ofereceu uma carona?
Arqueou as sobrancelhas e concordou.
- Pois é.
Me olhava fixamente e disse:
- Eu... Estou me sentindo bem melhor agora. Estou um pouco... Entediada... - Esticou a mão e a apoiou sobre a minha coxa. Começou a desenhar círculos com a ponta da unha. - Estou... Sentindo a sua falta. Do seu corpo...
Foi avançando cada vez mais e perguntei:
- E se você passar mal de novo?
- Acabei de falar que estou bem melhor. Além do mais... Nunca passei mal com balanço. O máximo que pode acontecer é eu perder um pouco do meu autocontrole e acabar te arranhando... - Respondeu, sorrindo de um jeito travesso.
- ...
Fez uma careta e notei que respirou fundo.
- O que foi?
Negou com a cabeça e pediu:
- Me faz um favor?
Concordei.
- Me traz um limão cortado no meio?
Mesmo estranhando, fui até a cozinha e fiz o que pediu. Quando entreguei a fruta, ela pegou uma das metades e, fazendo outra careta, respirou fundo de novo antes de coloca-la na boca. Não pude segurar o riso ao ver que a careta havia piorado e perguntei:
- Se é tão ruim, por que você está chupando o limão?
- Na falta de coisa melhor para chupar... Vai o limão mesmo. - Respondeu, dando uma direta.
- Ah tá, e você ia muito aguentar enjoada desse jeito, não é?
Me olhou feio antes de fazer outra careta. Quando não conseguiu aguentar mais, perguntei:
- Melhor?
- Agradeça à sua sogra por ter descoberto mais essa utilidade do limão: Tira enjoo. - Respondeu, com uma ponta de sarcasmo. A olhei e sorriu.
- Quer ajuda para ir lá para cima?
Negou. Fez um pouco de manha e me pediu para ficar ali com ela por um tempinho. Acabou que deitei no sofá e ela ficou em cima de mim. Claro que não demorou muito a pegar no sono.
Dois dias depois, o mal-estar já havia passado completamente e, além disso, era o aniversário dela.
- O que você quer fazer hoje, linda? - Perguntei, aproveitando que ela tinha dormido abraçada comigo.
- Posso pedir qualquer coisa?
Concordei.
- Qualquer coisa mesmo?
Assenti.
- E se eu te pedir para fazer alguma coisa tipo... Mantermos alguém cativo no porão?
Olhei para ela, que riu.
- Eu quis dizer algo dentro da lei, sem envolver riscos às nossas próprias vidas e às dos outros.
Riu ainda mais e se sentou.
- Em primeiro lugar... Nada de celulares por hoje. Em segundo? Você é meu pelo dia inteiro. Terceiro: É o dia do ano em que eu fico ainda mais chata que o normal. Amo ser mimada, o que significa... Coitado de você, . - Falou, rindo fraco.
- Quarto: Você não aceita presente.
- Ao contrário. Quarto: Vamos almoçar fora hoje?
Concordei e logo, cada um foi se arrumar. Depois que estávamos prontos, saímos e ela quis andar por Santa Monica, inclusive no píer.
- Eu juro que tento, mas não consigo entender essa sua fixação com Santa Monica. - Falei, quando estávamos passando pela entrada do parque. Riu e, me olhando, respondeu:
- Nasci numa cidade que é, literalmente, cercada por uma serra. Morava em Londres, que não tem mar. Daí, venho para Los Angeles e é natural que eu queira ficar um tempinho perto do oceano, não concorda?
Sorri e assenti.
- É, mas eu também nasci e morei em cidades que não tinham mar antes de Los Angeles.
- É, mas é diferente. Você mora numa casa com piscina. Já eu... Passei minha vida inteira morando em apartamentos.
A olhei e comentei:
- Engraçado porque eu jurava que o apartamento de Londres era o primeiro que você morava na sua vida.
- Não. Só passei seis meses da minha vida no sítio que meus avós tinham, perto da cidade em que eu nasci. De resto... Foi sempre dentro de apartamento. Tudo bem que onde eu nasci compensa mais morar num prédio do que em casa. É mais barato e, querendo ou não, mais seguro.
Continuamos conversando e, quando chegamos ao final do píer, ela quis se sentar num dos bancos e ficou observando o oceano em silêncio. Notei que estávamos só nós dois ali e, por causa dessa súbita privacidade, a abracei e encostou a cabeça no meu ombro.
- O que quer de presente? - Perguntei, brincando com as suas unhas. Se endireitou e a olhei.
- Um strip para fechar a noite não seria nada mal.
Hesitei por um instante e, por fim, concordei.
- Justo. Já que você fez um para mim...
- Oi! Eu estava brincando!
- É, mas eu não.
Me olhava, incrédula.
- Eu sabia que você era safado, mas não imaginava que fosse tanto!
Ri e disse, conseguindo se soltar:
- Vamos, que já estou começando a sentir fome.
Acabamos indo a uma Starbucks ali perto. Depois que pegamos os pedidos, conversamos até que ela disse, do nada:
- Sabe uma coisa que eu sempre tive vontade de aprender a fazer?
Olhei para ela.
- Estrela. Quando estava na escola e via as minhas colegas dando estrela, morria de inveja.
- Achei que fosse sambar, já que você é a brasileira mais fajuta que eu conheço... - Senti que bateu seu pé no meu por baixo da mesa e ri.
- Já que é assim, você é o alemão mais fajuto que eu conheço. Quer dizer, até onde eu sei, lá na Alemanha todo mundo come o porco inteiro. E você é vegetariano.
- Como se no Brasil não fizessem a mesma coisa com aquele prato que você falou outro dia. O que tem feijão.
- Feijoada.
- É.
Já falei o quanto eu gostava de ouvi-la falando português?
- E você? - Perguntou.
- O que tem eu?
- O que queria saber fazer?
Olhei para ela.
- Tocar piano. Já comecei aprender, mas não tive paciência para continuar.
- Experimenta tocar violino que aí a gente conversa. Sério, a pior coisa do mundo é o maldito do vibrato.
- E como você sabe disso?
- Simplesmente porque fiz aula por cinco anos, mais ou menos.
- Não sei porque ainda me surpreendo com você.
Sorriu e claro que eu tive que perguntar:
- Por um acaso o violino foi para Londres?
Negou.
- Tem muito tempo desde a última vez que peguei para tocar alguma coisa e estou enferrujada de um tanto que nem te conto.
- Se quiser...
- Ah, obrigada, mas eu passo. Ainda mais que comprei umas cordas que machucam e muito...
Terminamos o café da manhã (Sim) e ficamos andando pela região. Até que ela quis voltar à praia. Só que, diferente da outra vez, descalçou as botas e foi andando pela areia e a ouvi resmungando. Também tirei os sapatos e fui atrás dela.
- Não sei o que é pior: As areias escaldantes do Rio ou essas daqui, geladas.
- O que você quer fazer, exatamente?
- Fica de olho, por favor. - Me passou as botas e a bolsa. Em seguida, se abaixou para dobrar as pernas da calça e foi andando até a água, que chegou até sua canela. Na primeira onda, deu um grito fino e voltou correndo, me fazendo rir.
- Pelo amor de Deus! - A ouvi reclamar.
- Bundona! - A provoquei e me olhou feio. Em seguida, disse:
- Pior que sou mesmo. Já fui à uma praia na Inglaterra cuja água era ainda mais fria que essa e estou dando chilique à toa.
Gargalhei e, quase imediatamente, ela veio andando na minha direção. Se sentou ao meu lado e quase imediatamente, me levantei, a puxando.
- O que foi?- Perguntou e me limitei a responder:
- Vamos comprar seu presente, vem.
- Posso pelo menos calçar as botas?
Assim que terminou, fomos até um shopping que havia ali e entrei numa joalheria.
- Pode escolher o que você quiser. Qualquer coisa.
Me olhou e perguntou à vendedora, indicando uma corrente com um pingente de coração “gordinho”:
- Tem aquele ali em prata?
Não muito tempo depois, saímos da loja com seu presente de aniversário.
- Gostou? - Perguntei, quando andávamos pelo shopping. Concordou, sorrindo e pegou a minha mão, entrelaçando os dedos nos meus.
Durante todo o dia, pareceu ser suficiente só estar comigo ao seu lado, fazendo coisas simples como andar de mãos dadas, olhar as vitrines das lojas e conversar sobre assuntos que não tinham qualquer ligação entre si. No final da tarde, quando voltamos para a casa, teimou que não queria bolo e entramos numa negociação que, por fim, ela ganhou. O que me restou fazer, então, foi uma panelada de brigadeiro. Que comemos sentados na mesma espreguiçadeira, lado a lado, enquanto observávamos o pôr-do-sol.
Mais tarde, quando terminou de responder à todo mundo que havia ligado, mandado e-mail e até mesmo mensagens pelo facebook, foi até o meu quarto e, depois que se sentou numa cadeira do closet, ficou me observando arrumar algumas coisas. Perguntei:
- O que foi?
Negou com a cabeça.
- Hoje foi um dos melhores aniversários que eu tive.
- Queria ter feito mais coisas, mas você não quis...
- Ainda é dia 03... - Respondeu. - E se bem me lembro, alguém está me devendo um strip-tease...
- Achei que não quisesse...
- Mudei de ideia ao ver essa calça aí caindo.
Olhei para a calça de moletom preta que eu usava e me lembrei de uma coisa.
- Tive uma ideia. - Respondi e ela, claro, ficou curiosa. Mas, não contei. Se levantou e, logo dei um jeito de mudar de assunto. Vendo a gaveta em que eu guardava os anéis, pegava um, olhava, recolocava no lugar e disse:
- Qualquer dia desses, você vai dar por falta de um desses anéis.
- Qual?
- Ah, não sei. Só sei que vou sutilmente roubá-lo e não vai adiantar procurar no meio das minhas coisas.
Me aproximei dela e vi que olhava um específico. Perguntei:
- Gostou desse?
- E se eu gostei? - Perguntou, me olhando por cima do ombro.
- Se gostou... - Falei, pegando o anel das suas mãos. - É seu. Não precisa pegar sem eu saber.
Se virou, arqueando as sobrancelhas.
- Agradeço a oferta, mas... Não foi esse que eu gostei. Pode deixar que você não demora a descobrir qual é o que eu gostei... - Piscou. - E a propósito... Acho que vou querer o strip agora...
Então, venha como você é pra mim
Não precisa de desculpas
Você sabe que é valioso
Eu levarei os seus dias ruins com os seus bons
Vou andar por essa tempestade, eu iria
Eu andaria porque te amo
(Katy Perry - Unconditionally)
Uma semana depois, começaram as obras no estúdio. Por causa do barulho, era impossível ficarmos lá, então, a , a Claire e eu estávamos trabalhando de casa. Num desses dias, acabamos virando a noite, mas por fim, conseguimos.
Na sexta-feira, logo de manhã, mal havíamos começado a trabalhar e a simplesmente saiu correndo até o banheiro. Fui atrás e, quando bati na porta do banheiro, perguntei:
- ? Precisa de ajuda?
Ouvi que tossiu e consegui abrir a porta. Se levantava com um pouco de dificuldade e a ajudei, imediatamente. Senti que vacilou e consegui segurá-la a tempo. Depois que conseguiu se recuperar um pouco, a levei para o meu quarto e, aproveitando que a Rosa estava passando por ali, pedi:
- Liga para o médico, rápido.
- Não liga, Rosa. Só... Me traz um copo de água. E um daqueles biscoitos de água e sal. - A disse e a olhei feio. Conseguiu me dar um tapa e ignorou meu olhar de reprovação.
- Eu estou bem. De verdade. Se eu precisar, pode deixar que vou falar. - Me garantiu e a levei até o meu quarto. Em seguida, dispensei a Claire, que pediu para dar notícias da .
Assim que fiquei sozinho com a minha mulher, perguntei:
- O que aconteceu, de verdade?
- Sei lá. Só sei que começou a me embrulhar o estômago e quando vi, já não dava para segurar.
Me ocorreu uma coisa.
- O que foi? - Perguntou, alarmada.
- Nada, é só... - Comecei a dizer, mas me freei no meio do caminho.
- O que? , fala logo!
- Será que não foi alguma coisa que você comeu? - Perguntei, disfarçando.
- Provavelmente. - Respondeu, pensativa.
No final da tarde, fui até a casa do e claro que ele percebeu que tinha alguma coisa de errado.
- Ela não é de passar mal desse jeito. - Comentei, depois que contei tudo o que tinha acontecido com a .
- Certeza?
Concordei.
- Nesse tempo todo, ela só passou mal uma vez e foi porque a pressão dela caiu.
- E você pode estar achando que ela está grávida? - Ele perguntou, percebendo tudo. Concordei. - E se estiver? O que vai fazer?
- Se ela estiver grávida, vou ao juiz e conto tudo. Claro que ele não vai dar o divórcio, ainda mais que você sabe que, além de eu sempre ter gostado de crianças, não vou deixar a simplesmente sair da minha vida de uma hora para a outra e com um filho meu nos braços. Ou barriga.
Me olhava, avaliativo.
- E você está doido para que ela realmente esteja esperando um filho seu, não é? - Perguntou, antes de tomar outro gole de cerveja. Concordei.
- Ela realmente me impressionou quando apareceu no estúdio assim que chegamos de Londres. Achei que fosse querer descansar da viagem...
- Você não foi o único. Falei com a Nadine e ela disse que a é assim mesmo.
Fiquei pensativo por um instante e o falou:
- A torcida por ela é grande, isso eu posso te garantir.
Dei um meio sorriso enquanto encarava o meu próprio copo.
- Se eu bem te conheço... Está se imaginando daqui a alguns anos, com o seu filho e ela, não é?
Olhei para ele, que entendeu na mesma hora.
- Não fica bravo, mas... Já passou pela sua cabeça a hipótese de, se ela realmente estiver grávida, fugir? - Perguntou e respondi, simplesmente:
- Eu vou atrás dela, não importa aonde. Eu... - Respirei fundo. - Amo a . Gosto dela de um jeito diferente. Até mesmo da Lydia.
Pôs a mão no meu ombro e disse:
- Fica com ela então. Do que mais você precisa?
Parei para pensar.
Algum tempo depois, quando voltei para a casa, ela estava vendo TV e tomando chá enquanto comia alguns biscoitos água e sal. Me aproximei dela e, me sentando ao seu lado, me inclinei na sua direção e beijei seu rosto. Perguntei:
- Como você está?
- Melhor. Rosa fez uma canja para mim antes de ir embora e a Di está me patrulhando o tempo inteiro.
Sorri.
- E o ?
- O que tem?
- Como ele está?
- Bem. - Respondi, estranhando e achando graça daquilo. - E você tem um fã.
- Ah é? - Perguntou, sorrindo. - Por quê?
- Ah... Ele gosta muito de você. Apoia que fique comigo.
- Bom, fico feliz que ele tenha mudado de opinião ao meu respeito.
- Acho que no fundo, ele gostou de você desde o início.
Arqueou a sobrancelha e acariciei sua bochecha.
- E você? - Perguntou.
A olhei e, não resistindo, brinquei:
- E tinha como não gostar de uma garota que estava nua e numa banheira?
Tomei um tapa no ombro e ri.
- Mas falando sério... Te achei um pouco... Rabugenta demais à primeira vista. Depois tive certeza.
Outro tapa.
- Mas gostei sim de você. Senão tivesse, não teria aceitado a carona que você ofereceu.
Estreitou os olhos e expliquei:
- Lembra que vocês estavam quase indo embora numa limusine e você ofereceu uma carona?
Arqueou as sobrancelhas e concordou.
- Pois é.
Me olhava fixamente e disse:
- Eu... Estou me sentindo bem melhor agora. Estou um pouco... Entediada... - Esticou a mão e a apoiou sobre a minha coxa. Começou a desenhar círculos com a ponta da unha. - Estou... Sentindo a sua falta. Do seu corpo...
Foi avançando cada vez mais e perguntei:
- E se você passar mal de novo?
- Acabei de falar que estou bem melhor. Além do mais... Nunca passei mal com balanço. O máximo que pode acontecer é eu perder um pouco do meu autocontrole e acabar te arranhando... - Respondeu, sorrindo de um jeito travesso.
- ...
Fez uma careta e notei que respirou fundo.
- O que foi?
Negou com a cabeça e pediu:
- Me faz um favor?
Concordei.
- Me traz um limão cortado no meio?
Mesmo estranhando, fui até a cozinha e fiz o que pediu. Quando entreguei a fruta, ela pegou uma das metades e, fazendo outra careta, respirou fundo de novo antes de coloca-la na boca. Não pude segurar o riso ao ver que a careta havia piorado e perguntei:
- Se é tão ruim, por que você está chupando o limão?
- Na falta de coisa melhor para chupar... Vai o limão mesmo. - Respondeu, dando uma direta.
- Ah tá, e você ia muito aguentar enjoada desse jeito, não é?
Me olhou feio antes de fazer outra careta. Quando não conseguiu aguentar mais, perguntei:
- Melhor?
- Agradeça à sua sogra por ter descoberto mais essa utilidade do limão: Tira enjoo. - Respondeu, com uma ponta de sarcasmo. A olhei e sorriu.
- Quer ajuda para ir lá para cima?
Negou. Fez um pouco de manha e me pediu para ficar ali com ela por um tempinho. Acabou que deitei no sofá e ela ficou em cima de mim. Claro que não demorou muito a pegar no sono.
Dois dias depois, o mal-estar já havia passado completamente e, além disso, era o aniversário dela.
- O que você quer fazer hoje, linda? - Perguntei, aproveitando que ela tinha dormido abraçada comigo.
- Posso pedir qualquer coisa?
Concordei.
- Qualquer coisa mesmo?
Assenti.
- E se eu te pedir para fazer alguma coisa tipo... Mantermos alguém cativo no porão?
Olhei para ela, que riu.
- Eu quis dizer algo dentro da lei, sem envolver riscos às nossas próprias vidas e às dos outros.
Riu ainda mais e se sentou.
- Em primeiro lugar... Nada de celulares por hoje. Em segundo? Você é meu pelo dia inteiro. Terceiro: É o dia do ano em que eu fico ainda mais chata que o normal. Amo ser mimada, o que significa... Coitado de você, . - Falou, rindo fraco.
- Quarto: Você não aceita presente.
- Ao contrário. Quarto: Vamos almoçar fora hoje?
Concordei e logo, cada um foi se arrumar. Depois que estávamos prontos, saímos e ela quis andar por Santa Monica, inclusive no píer.
- Eu juro que tento, mas não consigo entender essa sua fixação com Santa Monica. - Falei, quando estávamos passando pela entrada do parque. Riu e, me olhando, respondeu:
- Nasci numa cidade que é, literalmente, cercada por uma serra. Morava em Londres, que não tem mar. Daí, venho para Los Angeles e é natural que eu queira ficar um tempinho perto do oceano, não concorda?
Sorri e assenti.
- É, mas eu também nasci e morei em cidades que não tinham mar antes de Los Angeles.
- É, mas é diferente. Você mora numa casa com piscina. Já eu... Passei minha vida inteira morando em apartamentos.
A olhei e comentei:
- Engraçado porque eu jurava que o apartamento de Londres era o primeiro que você morava na sua vida.
- Não. Só passei seis meses da minha vida no sítio que meus avós tinham, perto da cidade em que eu nasci. De resto... Foi sempre dentro de apartamento. Tudo bem que onde eu nasci compensa mais morar num prédio do que em casa. É mais barato e, querendo ou não, mais seguro.
Continuamos conversando e, quando chegamos ao final do píer, ela quis se sentar num dos bancos e ficou observando o oceano em silêncio. Notei que estávamos só nós dois ali e, por causa dessa súbita privacidade, a abracei e encostou a cabeça no meu ombro.
- O que quer de presente? - Perguntei, brincando com as suas unhas. Se endireitou e a olhei.
- Um strip para fechar a noite não seria nada mal.
Hesitei por um instante e, por fim, concordei.
- Justo. Já que você fez um para mim...
- Oi! Eu estava brincando!
- É, mas eu não.
Me olhava, incrédula.
- Eu sabia que você era safado, mas não imaginava que fosse tanto!
Ri e disse, conseguindo se soltar:
- Vamos, que já estou começando a sentir fome.
Acabamos indo a uma Starbucks ali perto. Depois que pegamos os pedidos, conversamos até que ela disse, do nada:
- Sabe uma coisa que eu sempre tive vontade de aprender a fazer?
Olhei para ela.
- Estrela. Quando estava na escola e via as minhas colegas dando estrela, morria de inveja.
- Achei que fosse sambar, já que você é a brasileira mais fajuta que eu conheço... - Senti que bateu seu pé no meu por baixo da mesa e ri.
- Já que é assim, você é o alemão mais fajuto que eu conheço. Quer dizer, até onde eu sei, lá na Alemanha todo mundo come o porco inteiro. E você é vegetariano.
- Como se no Brasil não fizessem a mesma coisa com aquele prato que você falou outro dia. O que tem feijão.
- Feijoada.
- É.
Já falei o quanto eu gostava de ouvi-la falando português?
- E você? - Perguntou.
- O que tem eu?
- O que queria saber fazer?
Olhei para ela.
- Tocar piano. Já comecei aprender, mas não tive paciência para continuar.
- Experimenta tocar violino que aí a gente conversa. Sério, a pior coisa do mundo é o maldito do vibrato.
- E como você sabe disso?
- Simplesmente porque fiz aula por cinco anos, mais ou menos.
- Não sei porque ainda me surpreendo com você.
Sorriu e claro que eu tive que perguntar:
- Por um acaso o violino foi para Londres?
Negou.
- Tem muito tempo desde a última vez que peguei para tocar alguma coisa e estou enferrujada de um tanto que nem te conto.
- Se quiser...
- Ah, obrigada, mas eu passo. Ainda mais que comprei umas cordas que machucam e muito...
Terminamos o café da manhã (Sim) e ficamos andando pela região. Até que ela quis voltar à praia. Só que, diferente da outra vez, descalçou as botas e foi andando pela areia e a ouvi resmungando. Também tirei os sapatos e fui atrás dela.
- Não sei o que é pior: As areias escaldantes do Rio ou essas daqui, geladas.
- O que você quer fazer, exatamente?
- Fica de olho, por favor. - Me passou as botas e a bolsa. Em seguida, se abaixou para dobrar as pernas da calça e foi andando até a água, que chegou até sua canela. Na primeira onda, deu um grito fino e voltou correndo, me fazendo rir.
- Pelo amor de Deus! - A ouvi reclamar.
- Bundona! - A provoquei e me olhou feio. Em seguida, disse:
- Pior que sou mesmo. Já fui à uma praia na Inglaterra cuja água era ainda mais fria que essa e estou dando chilique à toa.
Gargalhei e, quase imediatamente, ela veio andando na minha direção. Se sentou ao meu lado e quase imediatamente, me levantei, a puxando.
- O que foi?- Perguntou e me limitei a responder:
- Vamos comprar seu presente, vem.
- Posso pelo menos calçar as botas?
Assim que terminou, fomos até um shopping que havia ali e entrei numa joalheria.
- Pode escolher o que você quiser. Qualquer coisa.
Me olhou e perguntou à vendedora, indicando uma corrente com um pingente de coração “gordinho”:
- Tem aquele ali em prata?
Não muito tempo depois, saímos da loja com seu presente de aniversário.
- Gostou? - Perguntei, quando andávamos pelo shopping. Concordou, sorrindo e pegou a minha mão, entrelaçando os dedos nos meus.
Durante todo o dia, pareceu ser suficiente só estar comigo ao seu lado, fazendo coisas simples como andar de mãos dadas, olhar as vitrines das lojas e conversar sobre assuntos que não tinham qualquer ligação entre si. No final da tarde, quando voltamos para a casa, teimou que não queria bolo e entramos numa negociação que, por fim, ela ganhou. O que me restou fazer, então, foi uma panelada de brigadeiro. Que comemos sentados na mesma espreguiçadeira, lado a lado, enquanto observávamos o pôr-do-sol.
Mais tarde, quando terminou de responder à todo mundo que havia ligado, mandado e-mail e até mesmo mensagens pelo facebook, foi até o meu quarto e, depois que se sentou numa cadeira do closet, ficou me observando arrumar algumas coisas. Perguntei:
- O que foi?
Negou com a cabeça.
- Hoje foi um dos melhores aniversários que eu tive.
- Queria ter feito mais coisas, mas você não quis...
- Ainda é dia 03... - Respondeu. - E se bem me lembro, alguém está me devendo um strip-tease...
- Achei que não quisesse...
- Mudei de ideia ao ver essa calça aí caindo.
Olhei para a calça de moletom preta que eu usava e me lembrei de uma coisa.
- Tive uma ideia. - Respondi e ela, claro, ficou curiosa. Mas, não contei. Se levantou e, logo dei um jeito de mudar de assunto. Vendo a gaveta em que eu guardava os anéis, pegava um, olhava, recolocava no lugar e disse:
- Qualquer dia desses, você vai dar por falta de um desses anéis.
- Qual?
- Ah, não sei. Só sei que vou sutilmente roubá-lo e não vai adiantar procurar no meio das minhas coisas.
Me aproximei dela e vi que olhava um específico. Perguntei:
- Gostou desse?
- E se eu gostei? - Perguntou, me olhando por cima do ombro.
- Se gostou... - Falei, pegando o anel das suas mãos. - É seu. Não precisa pegar sem eu saber.
Se virou, arqueando as sobrancelhas.
- Agradeço a oferta, mas... Não foi esse que eu gostei. Pode deixar que você não demora a descobrir qual é o que eu gostei... - Piscou. - E a propósito... Acho que vou querer o strip agora...
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