quarta-feira, 2 de março de 2016

What happened in Vegas... Didn't stayed in Vegas - 9º capítulo


But his love is still in me

Ele é o espinho na minha carne
Que não consigo remover
Ele está roubando o meu fôlego
Quando você está por perto

(Pixie Lott - Broken arrow)

Bill

No dia que íamos voltar para Londres, o Georg e o Gustav iam ficar mais alguns dias, então só a Luiza, o Tom e eu embarcamos. No entanto, antes disso, a minha mãe, que foi nos acompanhar até o aeroporto, aproveitou que o Gordon falava com o meu irmão e a Luiza e me puxou para um canto. Disse:

- Eu realmente não sei o que aconteceu entre você e a Luiza ontem. Mas, seja o que for... Não deixe ficar por isso mesmo. Resolva a questão logo. - Assenti.

Logo, chamaram o voo e tivemos que ir. Nos despedimos dos dois e embarcamos. Para garantir, tínhamos reservado as poltronas uma ao lado da outra. Ela ficou sentada à janela, eu no meio e o Tom no lado do corredor. Durante as quase duas horas de voo, ela ficou isolada, ouvindo música e virada de costas para mim. O Tom dormiu. Então, eu fiquei relegado a ler e reler as revistas que tinha comprado no aeroporto várias vezes.

Assim que aterrissamos, esperamos boa parte dos passageiros desembarcarem e, quando finalmente saímos, fomos direto para a esteira das bagagens e pegamos as malas. O Tom foi buscar a Nadine, que chegava quase na mesma hora que nós e, quando ele estava esperando pela namorada e a Luiza e eu estávamos mais afastados, perguntei:

- Vai continuar me ignorando?

Ouvi um suspiro como resposta e falei:

- Te sugiro que você desfaça essa tromba porque ficar brava comigo não vai adiantar nada. Pelo contrário.

Respirou de novo e, de repente, falou, sem me olhar:

- Sabe o que seria engraçado? Se um dos dois desviasse do outro. Ou se eles caíssem com o choque.

Olhei para a mesma direção que ela e vi a Nadine pular em cima do Tom. Por sorte, ele conseguiu segurá-la e não cair. Ignoraram totalmente o fato de que haviam várias pessoas olhando os dois e deram um beijo cinematográfico.

Ouvi o celular da Luiza e ela, depois de ver quem era, atendeu:

- Ginge!

Houve uma pausa e, em seguida, ela respondeu:

- Já. Só estamos esperando certo casal parar de desentupir pia em pleno saguão de desembarque... Por quê?

Outra pausa.

- Georg e Gustav ficaram para trás, mas disseram que depois vão vir para a virada do ano.

Ela falou mais algum tempo ao telefone e, quando a Nadine e o Tom finalmente se soltaram um do outro, vieram andando na nossa direção. Cumprimentei a Di e esperou paciente até a Luiza terminar. Antes de desligar, porém, falou:

- Ok. Estamos indo então. Até daqui a pouco.

Pôs o telefone na bolsa e esticou os braços para a Nadine, que foi correndo e as duas se abraçaram. O Tom perguntou:

- Algum... Problema?

- Não. - Respondi. - Pelo menos, eu acho que não. Ela chamou a pessoa que ligou de “Ginge”.

- Ah, é a Nicola! - Ele respondeu. - Ela deve estar querendo saber como foi a viagem e tal.

No final, era um convite para almoçarmos com ela e, depois de deixarmos as bagagens em casa, a Nadine quis trocar de roupa e o Tom me ligou, avisando que podiam atrasar quando ouvi a voz da Luiza, com certeza brigando com o Alex.

- E aí? Pelo visto, ele está aí... - O Tom, que conseguia ouvir a discussão através do telefone, perguntou e concordei.

- Vou ficar alerta, para o caso de ela precisar.

- Apesar de ela conseguir se virar sozinha por um tempo, se precisar de ajuda, me liga que eu vou até aí correndo.

Concordei e, assim que desliguei, ficou tudo quieto. Até demais. Mandei uma mensagem para ela:

Iza, está tudo bem?

Não respondeu de imediato. Fiquei esperando pela resposta por bem uns quinze minutos, quase, e, com medo de que aquele filho da mãe pudesse ter feito alguma coisa, tinha aberto a porta quando ela fez o mesmo. E ele, com a maior cara de poucos amigos, a seguia. Assim que me viu, pôs a mão em torno da cintura da Luiza, como se quisesse dizer que ela era a propriedade dele.

- Depois eu te ligo. - Ela falou, quando chegaram ao elevador. Antes que entrasse, porém, ele fez questão de beijá-la de língua e daquele mesmo jeito possessivo de antes.

Assim que foi embora, a Luiza quase correu até onde eu estava. Sem dizer nada, a abra-cei, inclusive a levantando do chão e falei:

- Eu sei que não tinha que ter mandado a mensagem, mas, fiquei com medo. Vocês pararam com a briga e achei que ele pudesse ter feito alguma coisa.

- Me desculpa pelo meu comportamento nesses últimos dias. Por favor.

- Não tem o que desculpar. - Respondi. Ouvi meu celular e perguntei: - Você vai assim ou vai trocar de roupa?

Negou com a cabeça e, assim que a soltei, quis saber:

- Não vai atender?

Me seguiu até o apartamento e, assim que vi que era o Tom, atendi:

- Oi.

Percebi que a Luiza, mesmo sem querer, estava ouvindo e comecei a conversar com ele em alemão:

- E aí? Está tudo bem?

- Está. Depois eu te conto tudo o que aconteceu.

- Tem certeza de que está tudo bem?

- Sim. - Respondi. - Já está indo ou você acha que vai demorar mais um tempinho?

- Acho que a Nadine já está pronta. Então, a gente provavelmente vai se encontrar na casa da Nicola.

- Ok. Até daqui a pouco então.

Depois que peguei o celular e as chaves, a Luiza foi buscar a bolsa e o resto das suas coisas e saímos quase imediatamente.

Assim que chegamos à casa da Nicola, o Tom e a Nadine já estavam lá e as meninas aproveitaram para ajudar a anfitriã, enquanto eu conversava com o meu irmão. Contei o que tinha acontecido e, inclusive, sobre as provocações do Alex. O Tom falou:

- Pelo que a Nadine me contou, ele sempre foi esse filho da puta. Quando ela conseguiu o emprego para a Luiza no bar, soube que ele tentou atrapalhar de todas as maneiras possíveis e impossíveis. A sorte foi que o Stephen sacou como o Alex era e, mesmo assim...

- Sério?

- Seríssimo. - O Charlie disse, entrando ali e trazendo uma cerveja para cada um. Agradecemos e ele contou: - A Lola até quis que eu ficasse lá em Los Angeles por um tempo, mas eu achei melhor ficar e manter um olho nele. De certo modo, foi bom porque consegui ficar mais próximo dele.

- Então você é tipo um espião? - Perguntei e ele deu de ombros e rindo.

- Pode-se dizer que sim. - Respondeu. - É até útil, justamente porque eu consigo descobrir certas coisas bem... Interessantes.

- Como por exemplo? - O Tom quis saber. Antes de responder, porém, o Charlie pediu que esperássemos e foi olhar alguma coisa dentro de casa. Assim que voltou, disse:

- Está óbvio que ele não gostou nem um pouco de você ter vindo para cá, não é? - Concordei. - Ficou puto quando descobriu que a Luiza tinha ido para a Alemanha com vocês para o Natal e eu consegui descobrir uma coisa.

- O quê?

- Ele vai pedir a Luiza em casamento.

- Sério?

- Infelizmente, é. Conhecendo bem a Luiza, eu sei que ela vai aceitar. O pior de tudo é que, apesar do que ele faz e tal, é um cara legal com ela.

- Apesar do que ele faz?

- É. Tem essas implicâncias, que geram brigas e tal. Mas se o namoro está dando certo, apesar dessas discussões, é porque sempre se deram bem. É uma daquelas rela-ções de companheirismo, acima de tudo.

- Então ela é capaz de se casar com ele, mesmo se não estiver apaixonada, só porque é amigo dela? - Questionei e o Charlie concordou com a cabeça.

Logo, a Nicola apareceu, avisando que estava tudo posto à mesa e acabou sendo bom porque a Luiza pôde se distrair um pouco.

Na volta para a casa, estávamos andando lado a lado, mas sem nos encostar como sempre, e perguntei:

- O que você está planejando fazer amanhã?

- Por quê?

- Só curiosidade.

- A princípio... Só fazer supermercado.

- Sei... - Respondi.

- Não vai me falar o que está planejando, não é?

- Era curiosidade, como eu falei. Nem sempre eu tenho alguma coisa planejada.

Me olhou, surpresa.

- Wow... Por essa eu realmente não esperava.

- Ei, eu não sou você, que sempre fica inventando alguma coisa para fazer.

- Estamos em Londres. Difícil é morrer de tédio aqui.

Sorri e, assim que chegamos em casa, ela estava entrando no apartamento quando eu a chamei. Logo que se virou de frente para mim, perguntei:

- Você... Contou do beijo para o Alex?

Suspirou e negou com a cabeça.

- A reação dele ao saber que eu fui para a Alemanha com você já foi ruim o suficiente. Vou esperar a poeira baixar um pouco.

- Se você precisar de mim...

Sorriu fraco e veio andando até onde eu estava. Me abraçou e retribuí.

No sábado, bem no último dia do ano, eu tinha me atrasado. Estava acabando de tomar banho quando ouvi a campainha. Resmunguei um palavrão e fechei o registro, me enrolando na toalha logo depois. Assim que abri a porta, a Luiza estava parada do outro lado. Percebi que me olhou rapidamente antes de corar um pouco e, ao se dar conta de que tinha me tirado do banho, pediu desculpas. Segurei o seu braço e perguntei:

- O que foi?

- Nada, é... Besteira. - Foi então que notei que ela não parecia tão bem assim.

- Faz o seguinte. Termina de se arrumar e depois vem cá. Eu vou deixar a porta destrancada.

Assentiu e, depois que ela voltou para o apartamento, corri para o banheiro e terminei o banho. Assim que saí do box e estava indo pegar a minha roupa, notei que ela já estava ali e sentada na minha cama. Perguntei, do closet:

- O que houve?

- Eu contei para o Alex do beijo. - Respondeu. Vesti a boxer e fui até ela.

- E...?

- Ele quer conversar comigo.

Por um instante, eu quis acreditar que iam terminar. Mas ele tinha feito coisa pior, então era provável que continuassem. Foi então que eu me lembrei do que o Charlie tinha dito.

- Você acha que...? - Comecei a perguntar, mas ela entendeu na hora e negou com a cabeça.

- É isso o que está me preocupando. Ele me traiu. Foi para a cama com outra. Em comparação, o nosso beijo não é nada.

- Me lembro de ter visto uma vez, um comentário de que um beijo podia ser mais... Íntimo que sexo.

Me olhou, franzindo as sobrancelhas e disse:

- Acho que o Alex não se deu conta disso. Eu... Estou sentindo que ele vai aprontar. Mas não do tipo me dar o troco.

- O... Que você acha que ele vai fazer?

Deu de ombros.

- Se ele quiser resolver as coisas num duelo, que nem antigamente... Não me importo de morrer porque vai ter valido a pena.

Ela riu e disse:

- Que coisa dramática. Anda, vai se vestir senão vai ser o Stephen, não o Alex quem vai te matar. E me leva junto!

Rindo, me inclinei na sua direção e dei um beijo na sua bochecha. Falei:

- Viu como vale a pena?

Pude ver que sorriu timidamente antes que eu entrasse no closet e me vestisse.

Logo que chegamos ao bar, parecia que tínhamos entrado num iglu. O lugar estava todo decorado de branco e prata, mas não era exatamente... Brega. Muito pelo contrário.

Às dez, o lugar começou a encher e, mesmo com todas as coyotes e os lobinhos ali, ainda sim, quase não estávamos dando conta. As meninas ficaram atrás do balcão só até às onze da noite. Quando o Stephen soou o sino (Que eu sempre ouvia as meninas dizerem que iam dar um fim àquilo), elas sumiram. Estava terminando de servir um drink para um cliente quando o DJ parou com a música e o telão atrás do palco começou a exibir um vídeo. A música era como se alguém tentasse sintonizar um rádio. Na imagem, aparecia a mão de uma das meninas que, de início, até achei que pudesse ser da Luiza. Mas prestando um pouco mais de atenção, vi que era da Nicola. Encontrou a música que, aparentemente procurava e a reconheci de imediato. O telão se apagou no mesmo instante em que a Luiza começou a cantar. Ela e as outras meninas estavam sobre uma estrutura que tinha sido montada de modo que parecesse estar “flutuando”, quando na realidade, era uma espécie de coluna. Todas usavam um sobretudo preto, escondendo as roupas que estavam por baixo, além de, cada uma, estar com um quepe, da mesma cor do casaco, sobre as cabeças. Pude ver que a Luiza e a Nicola usavam rabo-de-cavalo enquanto a Nadine e a Claire tinham preso os cabelos num coque. Em um dado momento que elas se abaixaram um pouco, pude ver um pedaço de tecido vermelho que a Nicola usava. Me pareceu uma saia tipo as de bailarinas e fiquei imaginando a crise de ciúmes do Tom quando elas finalmente tirassem o casaco.

Depois de três músicas, elas saíram do palco e, quando voltaram, a iluminação do bar ficou mais avermelhada e o telão exibia imagens que tinham uma coisa meio de cabaré, meio burlesca... E, quando apareceram, todas estavam vestidas à caráter.

A festa foi boa e, perto da meia-noite, as meninas foram liberadas de continuar com o show. Vieram correndo até a área VIP, onde o resto da nossa turma estava (Inclusive eu) e, faltando alguns minutos para começarem a contagem, o Stephen me chamou e à Luiza num canto e pediu que fôssemos buscar uma câmera no seu escritório. Não entendemos muito bem porque duas pessoas tinham que fazer o trabalho de uma só, mas mesmo assim... Fomos buscar a tal câmera. Nem bem tínhamos começado a procurar e a porta foi fechada e trancada. A Luiza correu para tentar abrir e começou a bater, pedindo para que abrissem. Ouvimos a voz da Nicola:

- Feliz ano novo!

E foi embora.

- Eu mato a Lola. - A Luiza avisou, calmamente.

- Isso vai ser antes ou depois de a gente fugir do Alex? Sim, porque se ele desco-brir...

- Então. Eu escapo. Agora você e a Lola... - Disse, se sentando sobre o tampo da mesa. Fiquei ao seu lado e em silêncio até que começamos a ouvir a contagem. Assim que os gritos de “Feliz ano novo” começaram, a Luiza se levantou, ficando de frente para mim e, enquanto me abraçava, disse:

- Frohes neues jahr, Bill.

- Feliz ano novo, Luiza. - Falei em português e ela sorriu. Antes que eu pudesse reagir, ela me deu um beijo no rosto. A abracei um pouco mais forte (Mas sem realmente machucá-la) e a ouvi perguntar:

- As coisas não podiam ser mais fáceis, só para variar?

Ri fraco e respondi:

- Se fossem fáceis, não teriam graça, não é?

Se endireitou, mas sem se afastar de mim, e, vendo seu olhar triste, falei:

- Mas, para começar a fazer as coisas mais fáceis, você pode muito bem mandar o Alex para a...

- Oi! - Me repreendeu e continuei:

- Eu ia dizer que era só mandar o Alex para a Austrália. É longe o suficiente e aposto que ele não vai demorar a achar uma australiana gostosa que... - O olhar da Luiza foi ficando cada vez menos amistoso. - Ok. Uma australiana bem feia que vai satisfazer ele.

Me olhou desconfiada e decidi distraí-la:

- E vai ser bem melhor com ele longe. Já que está difícil me controlar com você assim.

- Assim como, exatamente?

- Usando um vestido vermelho. - Respondi. - E com decote nas costas.

- E o que tem de mais?

- É que... - Tentei dizer e sua pose de inquisidora não ajudava em nada. - Quer sa-ber? Foda-se. - Ergueu a sobrancelha. - Dane-se se estamos no trabalho, se tem mais gente aqui e se tem aquele filho da mãe do Alex te rondando que nem um cão de guarda. Eu estou começando a cansar dessa história de ter me de contentar em ser só seu amigo quando eu quero muito mais do que isso. Não dou a mínima para o Alex. Ainda mais depois que ele te traiu.

- Não foi só ele. - Ela falou e entendi na mesma hora.

- Eu não tenho tanta certeza assim. - Retruquei e pude ver que ela ficou confusa. - Mas e se eu não tiver te traído?

- E como é que você tem tanta certeza que pode não ter ido para a cama com aquela garota?

- É justamente isso. Eu me lembraria. Mesmo se tivesse exagerado na bebida.

- Você só está me falando isso porque está querendo que eu termine tudo com o Alex para ficar com você.

- E se for? Eu nunca deixei de te amar, Luiza.

- Se não deixou de me amar, então porque não pegou a porcaria de um avião e veio atrás de mim depois do que aconteceu em Roma? Talvez, à essas alturas, você fosse meu namorado, não o Alex. Talvez, a gente tivesse retomado o casamento...

- Eu fui covarde, reconheço e me arrependo disso.

- Pois é. O que te custava pegar o maldito do telefone e me ligar?

- Eu não sabia qual seria sua reação! Eu tive medo. De você não me querer mais, de não dar certo, de você fugir...

- Eu não ia fugir.

- Ah não? Bastou o juiz dar o divórcio para você ir correndo para Roma.

- Quer saber por quê? - Perguntou, começando a ficar irritada. Àquelas alturas, ela já tinha se soltado do abraço.

- Quero.

- Porque eu tinha certeza de que não ia mais te ver depois que fui embora de Los Angeles.

- Estou aqui, na sua frente, não é?

- É. Dois anos depois e quando eu finalmente dei uma chance para o Alex. Aliás, você está conseguindo acabar com o meu namoro com ele.

- Ainda bem!

- Ainda bem? Como é que você ainda tem coragem de falar que me ama se é egoísta a ponto de fazer isso comigo? Eu preferia um milhão de vezes que você fosse feliz com outra mulher a ficar do meu lado, obrigado e sentindo que tem a pior vida do mundo! Está vendo? É por isso que eu não acho que a gente ia dar certo.

- Você está se esquecendo de um detalhe importante.

- O quê?

- Não somos tão diferentes assim um do outro. E se você realmente não tivesse a esperança de voltar comigo, não passaria mais tempo comigo do que com o Alex, não teria ido comigo para a Alemanha, não teria me beijado daquele jeito na noite de Natal e provavelmente, já teria dado um jeito de botar essa porta abaixo. - Falei. - Você está com o Alex por pura teimosia, Luiza. Não quer perder a amizade dele e por isso que fica insistindo nesse namoro. Que, aliás, por mais que todo mundo fale o contrário, te faz infeliz.

- Como você pode ter tanta certeza assim?

- Como? É só perguntar para as meninas e até os caras que eles vão te dizer. E eu vi como você me olhava naquele leilão. Não era só por raiva de eu ter arrematado a pulseira que você pediu para o Alex. Era porque eu estava acompanhado. Eu vi o jeito que você olhou para ela. Não consegue disfarçar quando está com ciúmes. Se lembra do show da Rock Shelter?

- E como eu ia me esquecer do dia em que você provou ser um troglodita?

- Você me fuzilou porque eu estava com uma garota agarrada no meu pescoço. Foi naquele dia que tive certeza que você gostava de mim.

Travou o maxilar e fechou as mãos em punho. Veio andando na minha direção e esperei até que estivesse perto o bastante para imobilizá-la. A segurei muito perto de mim e ela se debatia para tentar se soltar, sem sucesso, claro.

- Sabe o que a socialite que me arrematou naquele leilão me disse? - Me olhou fixamente. - Que ela sabia que você estava namorando com o Alex, mas que pareciam um casal daqueles que estão juntos há tanto tempo e estavam entediados com o próprio relacionamento.

- Você está inventando. - Resmungou.

- Sabe o que mais ela disse? Que, não fosse a interrupção da Nicola, não duvidava que a gente teria ido muito mais além.

- Me solta. - Falou, me olhando fixamente.

- Eu vou... Mas só depois que eu fizer uma coisa.

Ela se enrijeceu e provavelmente imaginou que eu fosse beijá-la. Mas como me lembrava que a Luiza gostava de ser surpreendida...

A puxei para mais perto ainda e, aproveitando que estava com os cabelos presos num rabo-de-cavalo, me inclinei na direção do seu pescoço e comecei a beijá-lo. Vez ou outra, inspirava e sentia o cheiro da sua pele e percebia que se arrepiava. Tentado a fazer uma coisa, beijei o ponto perto da sua orelha e deixei a minha barba arranhá-la de leve. Notei que sua respiração ficou mais forte e ela não conseguiu segurar um gemido fraco. Não resisti e subi um pouco mais, mordendo o lóbulo da sua orelha e senti que fechou os dedos, quase entrelaçando-os nos meus. Continuei beijando a linha do seu maxilar e, quando estava muito perto da sua boca, vi que fechou os olhos e soltei uma das minhas mãos. Refiz o caminho de volta até sua orelha e falei:

- Eu quero você. Für immer.

Ela estremeceu e eliminei a distância entre nós. Com a mão livre, gentilmente virei seu rosto na direção do meu e deixei a minha boca colada à sua, embora não começasse o beijo.

- Eu quero acordar todo dia de manhã e te encontrar do meu lado na cama... - Falei, acariciando a parte exposta das suas costas. - Quero poder te beijar quando eu chegar em casa... - Percebi que ela ia amolecendo aos poucos. - Quero poder te tocar onde eu quiser... - Baixei a mão até a sua bunda. - Quero poder te ouvir gemendo o meu nome quando eu estiver dentro de você... - Sem o menor pudor, apertei aquela parte do seu corpo e puxei o seu quadril na minha direção. - E principalmente: Eu quero poder ficar do seu lado, sem medo de nada e nem ninguém pelo resto da vida.

Eu podia sentir sua respiração ainda mais acelerada que antes e, quando me atrevi a olhá-la, notei que estava corada. Quase não resisti. Mas consegui manter meu autocontrole e, de repente, ouvimos o barulho da chave. A soltei imediatamente e ela me olhou como se dissesse: “Vai ter volta.”.

Algum tempo depois, já de volta ao trabalho, pelo menos umas cinco clientes deram em cima de mim, sendo que uma estava caindo de bêbada e nem sabia o que estava fazendo direito. Duas até chegaram a me fazer uma proposta que eu tive de recusar porque, pelo visto, não ia conseguir sair do bar até que amanhecesse. E as outras duas... Bom, uma tinha namorado e não sei como, mas consegui explicar tudo o que tinha acontecido para ele. E a outra... Depois de se dar conta de que eu ainda ia demorar a sair dali, acabou desistindo da ideia.

Quando eu estava terminando de entregar as bebidas para um único cliente, tive um pressentimento e, assim que as meninas voltaram ao palco, eu sabia que a Luiza ia me dar o troco pelo que aconteceu no escritório. Quer dizer, o que quase aconteceu. Dito e feito: A hora que elas começaram a se apresentar e o olhar dela foi na minha direção, eu tinha certeza de que estava ferrado.

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