You can make a sinner change his ways
Nunca botei muita fé no amor ou em milagres
Nunca quis pôr meu coração em jogo
Mas nadar em seu mundo é algo espiritual
Eu nasço de novo cada vez que você passa a noite
(Bruno Mars - Locked out of heaven)
Depois que terminei de ajudar a arrumar um pouco a casa, não aguentei ficar em pé e me sentei numa das poltronas da sala. Fechei os olhos, depois de tirar as sandálias e estava quase pegando no sono quando senti que o estava ali. Se sentou ao meu lado e perguntou:
- Quer que eu te leve lá para cima?
- Não, pode deixar. - Respondi, abrindo os olhos e o fixando. - Daqui a pouco eu animo e vou deitar.
- Posso ficar aqui?
- É a casa da sua mãe. Não tem que pedir.
- Podia até ser a TARDIS que, se você quisesse ficar sozinha, eu ainda ia pedir per-missão.
Dei um sorriso fraco e ele disse:
- Se você não gostasse nem da pulseira e nem da caixa de música... Eu estava contando que ainda tivesse alguma coisa do Doctor Who que você ainda não tivesse.
- E posso te perguntar como você ia descobrir?
- Ou ia pedir ajuda para as meninas, que com certeza, sabem. Ou então daria um jeito de eu mesmo descobrir. Sério, o que ainda te falta? Já tem camiseta, forma de gelo, saleiro e pimenteiro...
- Um daqueles bagulhos anti-stress em formato do Adipose e outro em formato de Dalek, que daqui a pouco vai ter de ser substituído porque eu estou arrancando pedaços dele com as unhas...
Me olhou de um jeito que eu não segurei a risada. Foi então que eu percebi uma mudança no seu olhar. Era... Diferente.
- O que foi? - Perguntei.
- Acho que essa é a primeira vez que te vejo rir desse jeito desde que cheguei em Londres.
Mantive o sorriso.
- Acho que é justamente porque estou bem. Quer dizer, eu me sinto bem. Foi bom ter vindo aqui.
Sorrindo fraco, pegou a minha mão e começou a desenhar círculos com o seu polegar e observava aquilo como se fosse a coisa mais interessante do universo.
-... E você continua com a obsessão com as minhas mãos. - Falei e ele sorriu um pouco menos tímido.
- Sempre gostei da forma que os seus dedos encaixam nos meus. Sempre gostei do seu toque e a temperatura da sua pele. Mesmo no calor. - Ri fraco. - E eu não deixei de gostar nem quando você me bate.
- Tem vez que você merece, admite.
- Eu mereço? Você é que é chegada nesse tipo de coisa...
Arqueei a sobrancelha e o provoquei:
- Se eu bem me lembro, logo depois que a gente voltou de Londres, alguém... - Dei ênfase. - Me fez uma proposta.
- Proposta essa que outro alguém - Ele me imitou e dei um estalo com a língua. - nem pensou duas vezes antes de aceitar.
- Está arrependido?
- Não. E você?
- Só tem uma coisa que eu me arrependo. E você sabe muito bem o que é.
- Sei. Ter voltado com o . Aposto que ele é o tipo que, depois que goza, vira para o lado, dorme e ronca.
Meu queixo caiu e ele gargalhou.
- Você é inacreditável, ! - Falei e ele logo foi tirando conclusão precipitada:
- Quer dizer então que é isso mesmo? Ele realmente é tão ruim assim? Se quiser, eu posso...
- Pode é sossegar seu facho! Eu nem confirmei e muito menos desmenti.
- Mas se você está mais rabugenta do que antes é porque tem motivo. Eu acho que não é só por causa da implicância dele com as coisas tipo o bar, eu...
Não resistindo, perguntei:
- O que você acha que ele não faz?
- Quase tudo. Tem cara de quem é fresco.
Tentei me manter séria à medida que ele ia falando.
- E aí? - Perguntou, quando terminou de enumerar as coisas que ele achava que o não fazia. - O que eu acertei?
- Nada. - Respondi. - O não é tão conser-vador assim quanto você pensa. Para falar a verdade... Ele é bem... Liberal para quase tudo.
- “Quase”?
- É. Aquelas... Coisas de segurar respiração e qualquer outra... Ideia que possa ser perigosa.
Ficou sério de repente e perguntou:
- Eu lembro que, na época, você falou que não tinha feito strip para ninguém além de mim...
- E você continua sendo o único. Tem... Certas coisas que eu só fiz com você. - Respondi.
- Por quê?
- Eu não sei. Não senti vontade - Respondi, vagamente. - ou coragem.
Manteve o olhar fixo em mim enquanto dizia:
- Não importa o que aconteça. Você pode morar em Sydney e eu fique de vez aqui na , pode namorar quantos caras quiser e até se casar com um ou todos eles que não vou mais te deixar fugir de mim de novo.
- Eu não vou.
- Se fugir, pode saber que eu vou atrás de você de novo.
Sorri e ele comentou:
- As coisas tinham que ser difíceis...
- Se fossem fáceis, não teriam graça.
Assentiu. Seu olhar baixou até a minha boca e comecei a me sentir nervosa. Não era ruim. Muito pelo contrário; Era uma ansiedade, mas boa. Sem poder me controlar, passei a ponta da língua sobre o lábio inferior e ele parecia hipnotizado com aquele simples gesto.
- Eu... - Comecei a dizer, mas ouvimos a voz da :
-... E é sempre a mesma coisa. Incrível. E o que vocês dois estão fazendo aqui?- Ela perguntou, parando na entrada da sala.
- Estamos só conversando. - O falou. - Já vamos dormir.
- Tá. Mas vejam se não demoram muito para subirem, ok? - Ela falou e deu um beijo de boa noite em cada um. Depois que a subiu, perguntei:
- De curiosidade, tá? - O concordou. - Ela ainda tem esperança de... Nós, não é?
Deu um meio sorriso antes de responder:
- Se eu te disser que passei os dois últimos anos ouvindo a minha mãe me xingar de idiota, para falar o mínimo, me mandar ir atrás de você pelo menos umas trinta vezes a cada ligação, entre muitas outras coisas, inclusive tapas quando estávamos de frente um para o outro... Serviria de resposta?
Sorri e concordei.
- Apesar de tudo, eu senti falta dela. Nesses dois anos, acho que a gente se viu umas quatro vezes, no máximo.
- E como foram esses encontros?
- Se esqueceu que a Nadine está com o ? Me encontrei com a em Londres, sempre. Três foram em aniversários e uma vez ela foi visitar o . E a gente se encontrou nessa vez por acidente. Eu não sabia que ela tinha ido e a Di me chamou para ir lá. Quando cheguei lá na casa dela, a estava lá.
- E o que ela te falou em todos esses encontros?
- Ah... Queria saber como eu estava, me dava notícias suas...
- Ela... Também me falava de você.
- Quem é que não dava notícias nossas um para o outro?
Ele sorriu.
- Bom... Eu vou deitar. Vai ficar aí? - Quis saber e neguei. Estiquei a mão quando ele se pôs de pé e me puxou. Exagerou um pouco na força e quase caí em cima dele, que conseguiu me segurar bem a tempo. Só que, obviamente, ficamos muito perto um do outro e inevitavelmente, nossos olhares se encontraram. Engoli em seco e ele também, olhando para a minha boca logo em seguida.
- Eu... - Começou a dizer e, sabendo onde aquilo ia dar, fui firme ao anunciar:
- Obrigada. E é melhor a gente subir.
Me odiei por fazer aquilo, ainda mais depois de ver sua expressão, mas, mesmo assim, não vacilei.
Depois que cada um trocou de roupa e nos deitamos, ele perguntou:
- Eu... Estava pensando...
- O quê? - Me virei para olhá-lo.
- O sabe que você está dormindo comigo?
- , eu não estou... - Comecei a dizer e grunhi. - O que eu faço é dividir a cama com você. Só.
- Mas ele sabe?
- E o que isso importa agora? Você realmente não podia ter me aparecido com um assunto mais... Sem pé nem cabeça e à essa hora!
- Está achando tão ruim de voltar a dormir na mesma cama que eu? - Insistiu e bufei.
- Estou, porque eu estou tentando pegar no sono, mas você não está me deixando!
- E eu achei que era porque você estava aqui comigo... Bem perto de mim... Podendo me tocar, se quisesse... Aliás, eu acho que você quer. Só que é orgulhosa demais para fazer qualquer coisa. Logo, vai começar com a ladainha de que está namorando o , que vai ser fiel à ele, que eu estou me achando demais... Te conheço, . Um ano, em comparação aos quase dez que o te conhece, não é muito, mas ainda sim, foi o suficiente para saber esse tipo de coisa.
Ergui a sobrancelha e perguntei:
- Quer dizer então que, você acha que eu não seria capaz de... Me deixar levar pelos meus instintos e satisfazer as minhas vontades, é isso?
- É. - Respondeu. - Eu não acho que você teria coragem... Já passamos por isso várias vezes, inclusive, me lembro muito bem que, em Nova Iorque, você teve uma postura parecida. Ficou em negação por bem uns quinze minutos até se deixar levar. E, quando assustei, você já estava em cima de mim, abrindo a minha calça e não demorou para começar a lamber o meu...
- OK. Já entendi. - O interrompi. - você está se usando de psicologia inversa e me desafiando porque sabe que, se você fizer isso, eu não vou resistir.
- Eu não estou fazendo nada!
- Sei... E eu sou tão ruiva quanto a Nicola!
- Considerando que, na época que você era minha mulher, não tinha como saber...
- Ai meu Deus... - Resmunguei. - Eu sabia que não ia prestar quando você tomasse o vinho...
- Você também tomou uma taça que eu vi.
- Que seja. E me deixa dormir senão eu te boto para fora do quarto. Azar se for seu.
- Teria coragem?
- , não testa minha paciência, que conti-nua tão curta quanto antes...
Sabia que aquela praga estava sorrindo.
- Posso te pedir uma última coisa?
Suspirei e olhei para ele. Mesmo no escuro, eu tinha certeza que a expressão tinha se transformado numa que eu dizia que era a de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
- O quê?
- Um beijo de boa noite.
Respirei fundo e já estava mirando na sua bochecha quando, de repente, ele virou o rosto muito rápido e obviamente, acabei acertando a sua boca. Eu não havia percebido que seus braços me envolviam até quando tentei escapar. Tentei fazer com que me soltasse, em vão, mas claro que não consegui. De repente, senti sua mão bem acima da minha bunda e fazia uma carícia deliciosa, verdade seja dita. Ao mesmo tempo, me puxava para mais perto, se é que aquilo era fisicamente possível, e o beijo se tornava cada vez mais... Ansioso e até mesmo mais sensual e cada vez menos delicado e... Havia alguma coisa a mais que não conseguia perceber o que era. Não quando ele me beijava daquele jeito, acabando aos poucos com o meu ar e, principalmente, o juízo.
Deu um jeito de ficar por cima de mim e, quando percebi, já estava com uma perna envolvendo seu quadril enquanto ele deixava as mãos passearem livremente pelo meu corpo. Começou na cintura e aos poucos foi explorando outros lugares. Quando dei por mim, já estava com a barriga de fora e sentia seus dedos ameaçando invadirem a blusa. Não bastasse tudo isso, ainda tinha um fator... Crescente. Como só tinha três camadas de tecido fino servindo de barreira, então senti tudo. Àquelas alturas, eu já não conseguia nem respirar direito. Foi quando ele se aproveitou para começar a beijar o meu pescoço, indo nos pontos certos, que sabia que iam me desarmar completamente. Quando eu percebi que estava com a boca perto demais da minha orelha, o ouvi dizer, com os lábios colados à minha pele:
- Senti tanta falta do seu cheiro...
Não consegui segurar um gemido e soube naquele instante que estava ferrada. Tive a certeza quando ele encarou o gemido como uma espécie de permissão para avançar mais e, por isso, acabou realmente deslizando a mão por baixo da minha blusa. Foi nesse instante em que tive um estalo e finalmente percebi o que estava acontecendo. Consegui afastá-lo e ignorei seu olhar confuso.
- O que foi? - O perguntou.
- Isso não tinha que ter acontecido. De jeito nenhum!
- Vai mesmo começar com essa ladainha?
Me virei para ele e, pegando o travesseiro e um cobertor, fui dormir na sala. Tinha certeza de que ele ia tentar me fazer voltar para o quarto, só que eu estava disposta até a, literal-mente, brigar.
Quando acordei na manhã seguinte, eu conseguia ouvir a conversando com o em um volume de voz bem baixo. Pisquei algumas vezes e, quando me espreguicei, notei que não estava sozinha. Olhei para o sofá do lado e me segurei para não dar um estalo com a língua. Me levantei, tentando fazer o mínimo possível de barulho e fui até o quarto. Peguei uma muda de roupa e me enfiei no banheiro. Depois que saí, passados alguns minutos, encontrei o , com aquela cara de sono, se arrastando até a escada e falou:
- Bom dia.
- Bom dia. Não era melhor ter ficado na cama?
Negou com a cabeça.
- A tia me avisou que quer que eu a ajude hoje...
- Ah sim... - Respondi. Ele tinha me deixado passar primeiro, mas não sei como, conseguiu ver que tinha alguma coisa errada. Segurou meu braço e perguntou:
- O que foi?
Respirei fundo e, ouvindo a voz da ficando mais alta, o puxei até o seu quarto. Encostei a porta e ele não entendia nada.
- O tem uma sorte... - Respondi, começando a andar de um lado para o outro.
- O que ele fez? Ele te obrigou a...
- Ele nunca me obrigou a fazer algo que eu não queria e é justamente esse o problema. , eu estou morrendo de ódio do .
- Vai direto ao ponto.
- A gente se beijou ontem.
- Mas... Beijo mais tipo...
- Beijo de língua. E evoluiu para um amasso.
- Por isso que você está surtando desse jeito?
Dei um estalo com a língua e ele disse:
- Posso te ser sincero? Eu nunca gostei tanto assim do . Sei lá, é como se... Ele te transformasse em outra pessoa. Eu sei que você gosta dele e tal, mas sempre achei que era mais como um amigo do que como homem. Aliás... Eu não sou o único.
Respirei fundo e, só para completar, ele disse:
- E sei que você provavelmente vai me bater, mas foi exatamente como me falou: Se você não quisesse, o não teria ido em frente e te beijado.
- Eu sei que ele não é o único culpado nessa história.
- Qual é o problema então?
Suspirei antes de me sentar ao seu lado.
- Se contar para ele, eu te castro e depois te mato, ok? - Falei, olhando para ele e esperando que conseguisse soar tão séria quanto pretendia. - O problema foi que, se eu não tivesse um estalo na hora... Teria deixado que ele continuasse. Eu achei que ia conseguir levar essa história de amizade com ele, mas... Estou vendo que não vai dar certo.
- E vai afastar o por isso?
Neguei com a cabeça.
- Para o bem de todo mundo, eu acho que o que preciso fazer é... Impor limites. Senão, vou acabar fazendo algo de que vou me arrepender depois, apesar de querer muito.
- Eu não sou tão bom conselheiro quanto você. - Dei um meio sorriso. - Mas acho que você tinha que usar sua... Intuição, apesar de eu ter certeza de que está óbvio de quem você gosta e quem você ama. Só... Tenta não fazer a escolha errada e acabar magoando todo mundo, além de si mesma.
Baixei o olhar e ele me abraçou de lado.
- Agora vamos lá antes que a tia venha buscar a gente. E aí sim... Ferrou.
Ri e fomos até a cozinha. Mas, ao passar pela sala, o viu o melhor amigo ainda dormindo no sofá e perguntou:
- Você botou ele para fora do quarto?
- Não. Eu saí e como ele gosta de bancar minha sombra...
Sorriu.
Assim que sentamos à mesa, só nós dois, porém, ouvi meu celular dando o aviso de mensagem e, assim que peguei o aparelho, vi que era uma mensagem da Nicola. Franzi as sobrancelhas e o perguntou:
- O que foi?
- “Acabei de descobrir que o chegou de surpresa em Londres na noite do dia 23 e está furioso porque ele sabe onde e com quem você está.”.
- Mas se ele... Sabe que você está aqui com a gente, então por que simplesmente não veio para cá e armou a maior confusão?
- Porque ele está esperando que eu volte para Londres. Conheço o melhor do que ele imagina.
De repente, o ficou pensativo e falei:
- Pela sua cara, você está pensando se o já...
Me olhou.
- Ele sabe que, no instante em que experimentar levantar a mão para mim, não vou pensar duas vezes antes de sumir no mundo. Aliás... Não só ele, mas qualquer outro cara.
- Vai só sumir? - Perguntou.
- Ah não... Antes eu dou um jeito de garantir que ele nunca mais levante a mão para nenhuma outra mulher.
- Não vai me dizer que teria a coragem de...?
- , eu não aguento nem ver sangue sem quase cair que nem uma pera cozida! - Exclamei e ele, como sempre que ouvia a expressão, riu. - Até parece que eu ia ter coragem de, no mínimo, cortar a mão de alguém!
- E o que você ia fazer então? Supondo que o realmente te batesse.
Dei um meio sorriso e falei:
- Se fosse especificamente o ... Para começo de conversa, eu ia trazer o caso à público, justamente para a próxima namorada dele não sofrer o mesmo. Segundo que eu não ia deixar sair impune.
Continuei falando tudo o que faria até que o assunto inevitavelmente voltou para o beijo:
- Se... Ele souber que você e o se beija-ram... - O começou a falar.
- Eu instaurei aquela política de não ter segredos justamente para o namoro dar certo. Por enquanto, tem funcionado.
- Ele já fez alguma coisa desse tipo?
Hesitei e ele entendeu na mesma hora.
- Eu perdoei por causa da honestidade dele. Ao invés de vir com mentiras, abriu o jogo comigo e eu percebi que ele estava realmente arrependido.
- Você vai me odiar por dizer isso, mas... Se eu fosse você, ficava de olho aberto. Se te traiu uma vez, não custa nada ele ir para a cama com outra de novo. Ainda mais que está incomodado com o .
Respirei fundo e perguntei:
- Não podia ser fácil, não é? - Ele deu um sorriso fraco e respondi: - É, não podia. Imagina se o Drácula tivesse a Mina de bandeja, sem o Jonathan e o Van Helsing para salvar o dia?
Sorriu mais largamente e me garantiu que, se eu precisasse... Podia contar com ele.
Quando terminamos de tomar o café, a entrou na cozinha e os dois conversaram em alemão. Consegui pescar algumas coisas e entendi que ela queria que acordássemos o .
Assim que ela saiu da cozinha, o me fez um imbróglio e, quando fui ver... Ele tinha sumido, deixando a tarefa árdua de acordar o belo adormecido. Respirando fundo, fui até a sala e, me ajoelhando no chão, bem em frente ao sofá que o estava, o observei por alguns instantes, não conseguindo resistir à tentação. Como sempre... Estava dormindo sem camisa. E a coberta ia até um pouco abaixo do elástico da boxer. Sua respiração, naquele instante, estava calma; O peito subia e descia lentamente e me perguntei, ao olhar para o seu rosto, com o que ele deveria estar sonhando. Não resisti e estiquei a mão, tocando de leve no seu cabelo.
- ... - Chamei baixinho. - Acorda.
Se mexeu um pouco, mudando de posição e ficando de costas para mim. Apoiando as mãos na beirada do sofá, falei:
- Ah, ... Não tinha nada que ter se vira-do...
Percebi que já tinha acordado e resmunguei:
- Seu... Descarado sem-vergonha!
Bati na sua bunda e ele riu.
- Inacreditável! - Eu disse, baixo e me levantando para que ele pudesse se sentar. - Eu te odeio, sua peste!
Ainda rindo, me olhou e claro que tinha que me provocar:
- Depois de ontem... Eu não teria tanta certeza...
Agarrei o meu travesseiro e joguei nele.
- Você que me aguarde! - Avisei, dobrando o cobertor que eu levara na noite anterior. - Besta.
Ele continuou rindo e me observava atentamente.
- Você trocou de roupa?- Perguntou e respondi:
- E eu sou bem o tipo que quase anda pelada na casa dos outros, ainda mais na da sua mãe!
- Eu tenho certeza que ela não ia se incomodar.
- Ai meu Deus... Anda, vai comer alguma coisa antes que eu perca a paciência.
Ele se levantou e, ao passar por mim, simplesmente me deu um tapa na bunda. Olhei para ele, que nem se deu ao trabalho de virar para trás. Enquanto subi as escadas até o seu quarto, eu resmunguei os piores xingamentos (Claro que nenhum deles era direcionado à ) e, quando passei pelo , ele ficou me olhando.
- E a culpa é sua também! - Resmunguei e ele fez cara de quem não tinha enten-dido nada. - Apanhei por sua causa, sua peste!
- Como assim? - Ele perguntou, me seguindo até o quarto do . Contei tudo e ele ficou rindo.
- Sério, eu devo ter sido o capeta de saia na outra vida, porque estou pagando to-dos os meus pecados nesta com vocês dois... Tô com dó da Di por ter de te aguentar quando está com a pá virada! - Retruquei e ele ficou rindo.
- Como se ela fosse a santa da história... - Ele respondeu e parei no meio do cami-nho.
- Mais santa que você... Ah, ela é. - Devolvi.
Só paramos com a “discussão” quando o entrou no quarto. Eu queria ter saído com o , mas não consegui.
- Eu escutei a sua conversa com o . - Ele falou enquanto vestia uma roupa. Por sorte, estava no banheiro, então não precisei ficar olhando para ele e os músculos se contraindo e relaxando à cada movimento que ele fazia.
- E o que você ouviu, exatamente?
- Tudo. Quer dizer, a partir do momento que vocês chegaram na cozinha. Falaram alguma coisa antes?
- É incrível como você consegue ser intrometido...
- E é incrível como você consegue ser rabugenta!
- O problema não é a sua mania de intromissão e nem minha rabugice. Mas que você não tinha nada que me beijar...
- Como se você não tivesse correspondido e muito bem! - Ele retrucou. De repente, saiu do banheiro e disse, não escondendo a irritação: - Você não foi obrigada a nada. A hora que você não quis mais, eu parei. Para de ficar me apontando como único culpado dessa história toda quando você também não é tão inocente assim.
Olhei para ele, que respirou fundo antes de voltar para o banheiro.
- Sabe o que eu não entendo? Como você pode ser tão teimosa. - Disse. - Eu ouvi quando o te perguntou se o tinha te traído e a resposta é óbvia.
Saiu do banheiro de novo, já completamente vestido, e me olhava fixamente.
- Agora eu te pergunto: Por quê?
- Por quê? Durante todos esses anos em que eu conheço o , ele não foi só um cara com quem eu ia para a cama. Ele foi e é muito mais do que isso. É meu namorado por um motivo. Perdoei a traição dele por um motivo. E esse motivo é que ele é importante para mim. Sempre que precisei, o estava ao meu lado para me apoiar quando era preciso, do mesmo jeito que, quando eu precisava, ele “puxava a minha orelha”. É justamente por ele ser muito mais do que um cara bonito, educado e gentil que quis dar essa chance para ele. Por mais que todo mundo teime em dizer o contrário, eu realmente amo o .
- Mais do que me amou?
Me lembrei de todos os sinais que davam a indicação antes de contar, talvez, a maior mentira da minha vida:
- Sim.
Nunca botei muita fé no amor ou em milagres
Nunca quis pôr meu coração em jogo
Mas nadar em seu mundo é algo espiritual
Eu nasço de novo cada vez que você passa a noite
(Bruno Mars - Locked out of heaven)
Depois que terminei de ajudar a arrumar um pouco a casa, não aguentei ficar em pé e me sentei numa das poltronas da sala. Fechei os olhos, depois de tirar as sandálias e estava quase pegando no sono quando senti que o estava ali. Se sentou ao meu lado e perguntou:
- Quer que eu te leve lá para cima?
- Não, pode deixar. - Respondi, abrindo os olhos e o fixando. - Daqui a pouco eu animo e vou deitar.
- Posso ficar aqui?
- É a casa da sua mãe. Não tem que pedir.
- Podia até ser a TARDIS que, se você quisesse ficar sozinha, eu ainda ia pedir per-missão.
Dei um sorriso fraco e ele disse:
- Se você não gostasse nem da pulseira e nem da caixa de música... Eu estava contando que ainda tivesse alguma coisa do Doctor Who que você ainda não tivesse.
- E posso te perguntar como você ia descobrir?
- Ou ia pedir ajuda para as meninas, que com certeza, sabem. Ou então daria um jeito de eu mesmo descobrir. Sério, o que ainda te falta? Já tem camiseta, forma de gelo, saleiro e pimenteiro...
- Um daqueles bagulhos anti-stress em formato do Adipose e outro em formato de Dalek, que daqui a pouco vai ter de ser substituído porque eu estou arrancando pedaços dele com as unhas...
Me olhou de um jeito que eu não segurei a risada. Foi então que eu percebi uma mudança no seu olhar. Era... Diferente.
- O que foi? - Perguntei.
- Acho que essa é a primeira vez que te vejo rir desse jeito desde que cheguei em Londres.
Mantive o sorriso.
- Acho que é justamente porque estou bem. Quer dizer, eu me sinto bem. Foi bom ter vindo aqui.
Sorrindo fraco, pegou a minha mão e começou a desenhar círculos com o seu polegar e observava aquilo como se fosse a coisa mais interessante do universo.
-... E você continua com a obsessão com as minhas mãos. - Falei e ele sorriu um pouco menos tímido.
- Sempre gostei da forma que os seus dedos encaixam nos meus. Sempre gostei do seu toque e a temperatura da sua pele. Mesmo no calor. - Ri fraco. - E eu não deixei de gostar nem quando você me bate.
- Tem vez que você merece, admite.
- Eu mereço? Você é que é chegada nesse tipo de coisa...
Arqueei a sobrancelha e o provoquei:
- Se eu bem me lembro, logo depois que a gente voltou de Londres, alguém... - Dei ênfase. - Me fez uma proposta.
- Proposta essa que outro alguém - Ele me imitou e dei um estalo com a língua. - nem pensou duas vezes antes de aceitar.
- Está arrependido?
- Não. E você?
- Só tem uma coisa que eu me arrependo. E você sabe muito bem o que é.
- Sei. Ter voltado com o . Aposto que ele é o tipo que, depois que goza, vira para o lado, dorme e ronca.
Meu queixo caiu e ele gargalhou.
- Você é inacreditável, ! - Falei e ele logo foi tirando conclusão precipitada:
- Quer dizer então que é isso mesmo? Ele realmente é tão ruim assim? Se quiser, eu posso...
- Pode é sossegar seu facho! Eu nem confirmei e muito menos desmenti.
- Mas se você está mais rabugenta do que antes é porque tem motivo. Eu acho que não é só por causa da implicância dele com as coisas tipo o bar, eu...
Não resistindo, perguntei:
- O que você acha que ele não faz?
- Quase tudo. Tem cara de quem é fresco.
Tentei me manter séria à medida que ele ia falando.
- E aí? - Perguntou, quando terminou de enumerar as coisas que ele achava que o não fazia. - O que eu acertei?
- Nada. - Respondi. - O não é tão conser-vador assim quanto você pensa. Para falar a verdade... Ele é bem... Liberal para quase tudo.
- “Quase”?
- É. Aquelas... Coisas de segurar respiração e qualquer outra... Ideia que possa ser perigosa.
Ficou sério de repente e perguntou:
- Eu lembro que, na época, você falou que não tinha feito strip para ninguém além de mim...
- E você continua sendo o único. Tem... Certas coisas que eu só fiz com você. - Respondi.
- Por quê?
- Eu não sei. Não senti vontade - Respondi, vagamente. - ou coragem.
Manteve o olhar fixo em mim enquanto dizia:
- Não importa o que aconteça. Você pode morar em Sydney e eu fique de vez aqui na , pode namorar quantos caras quiser e até se casar com um ou todos eles que não vou mais te deixar fugir de mim de novo.
- Eu não vou.
- Se fugir, pode saber que eu vou atrás de você de novo.
Sorri e ele comentou:
- As coisas tinham que ser difíceis...
- Se fossem fáceis, não teriam graça.
Assentiu. Seu olhar baixou até a minha boca e comecei a me sentir nervosa. Não era ruim. Muito pelo contrário; Era uma ansiedade, mas boa. Sem poder me controlar, passei a ponta da língua sobre o lábio inferior e ele parecia hipnotizado com aquele simples gesto.
- Eu... - Comecei a dizer, mas ouvimos a voz da :
-... E é sempre a mesma coisa. Incrível. E o que vocês dois estão fazendo aqui?- Ela perguntou, parando na entrada da sala.
- Estamos só conversando. - O falou. - Já vamos dormir.
- Tá. Mas vejam se não demoram muito para subirem, ok? - Ela falou e deu um beijo de boa noite em cada um. Depois que a subiu, perguntei:
- De curiosidade, tá? - O concordou. - Ela ainda tem esperança de... Nós, não é?
Deu um meio sorriso antes de responder:
- Se eu te disser que passei os dois últimos anos ouvindo a minha mãe me xingar de idiota, para falar o mínimo, me mandar ir atrás de você pelo menos umas trinta vezes a cada ligação, entre muitas outras coisas, inclusive tapas quando estávamos de frente um para o outro... Serviria de resposta?
Sorri e concordei.
- Apesar de tudo, eu senti falta dela. Nesses dois anos, acho que a gente se viu umas quatro vezes, no máximo.
- E como foram esses encontros?
- Se esqueceu que a Nadine está com o ? Me encontrei com a em Londres, sempre. Três foram em aniversários e uma vez ela foi visitar o . E a gente se encontrou nessa vez por acidente. Eu não sabia que ela tinha ido e a Di me chamou para ir lá. Quando cheguei lá na casa dela, a estava lá.
- E o que ela te falou em todos esses encontros?
- Ah... Queria saber como eu estava, me dava notícias suas...
- Ela... Também me falava de você.
- Quem é que não dava notícias nossas um para o outro?
Ele sorriu.
- Bom... Eu vou deitar. Vai ficar aí? - Quis saber e neguei. Estiquei a mão quando ele se pôs de pé e me puxou. Exagerou um pouco na força e quase caí em cima dele, que conseguiu me segurar bem a tempo. Só que, obviamente, ficamos muito perto um do outro e inevitavelmente, nossos olhares se encontraram. Engoli em seco e ele também, olhando para a minha boca logo em seguida.
- Eu... - Começou a dizer e, sabendo onde aquilo ia dar, fui firme ao anunciar:
- Obrigada. E é melhor a gente subir.
Me odiei por fazer aquilo, ainda mais depois de ver sua expressão, mas, mesmo assim, não vacilei.
Depois que cada um trocou de roupa e nos deitamos, ele perguntou:
- Eu... Estava pensando...
- O quê? - Me virei para olhá-lo.
- O sabe que você está dormindo comigo?
- , eu não estou... - Comecei a dizer e grunhi. - O que eu faço é dividir a cama com você. Só.
- Mas ele sabe?
- E o que isso importa agora? Você realmente não podia ter me aparecido com um assunto mais... Sem pé nem cabeça e à essa hora!
- Está achando tão ruim de voltar a dormir na mesma cama que eu? - Insistiu e bufei.
- Estou, porque eu estou tentando pegar no sono, mas você não está me deixando!
- E eu achei que era porque você estava aqui comigo... Bem perto de mim... Podendo me tocar, se quisesse... Aliás, eu acho que você quer. Só que é orgulhosa demais para fazer qualquer coisa. Logo, vai começar com a ladainha de que está namorando o , que vai ser fiel à ele, que eu estou me achando demais... Te conheço, . Um ano, em comparação aos quase dez que o te conhece, não é muito, mas ainda sim, foi o suficiente para saber esse tipo de coisa.
Ergui a sobrancelha e perguntei:
- Quer dizer então que, você acha que eu não seria capaz de... Me deixar levar pelos meus instintos e satisfazer as minhas vontades, é isso?
- É. - Respondeu. - Eu não acho que você teria coragem... Já passamos por isso várias vezes, inclusive, me lembro muito bem que, em Nova Iorque, você teve uma postura parecida. Ficou em negação por bem uns quinze minutos até se deixar levar. E, quando assustei, você já estava em cima de mim, abrindo a minha calça e não demorou para começar a lamber o meu...
- OK. Já entendi. - O interrompi. - você está se usando de psicologia inversa e me desafiando porque sabe que, se você fizer isso, eu não vou resistir.
- Eu não estou fazendo nada!
- Sei... E eu sou tão ruiva quanto a Nicola!
- Considerando que, na época que você era minha mulher, não tinha como saber...
- Ai meu Deus... - Resmunguei. - Eu sabia que não ia prestar quando você tomasse o vinho...
- Você também tomou uma taça que eu vi.
- Que seja. E me deixa dormir senão eu te boto para fora do quarto. Azar se for seu.
- Teria coragem?
- , não testa minha paciência, que conti-nua tão curta quanto antes...
Sabia que aquela praga estava sorrindo.
- Posso te pedir uma última coisa?
Suspirei e olhei para ele. Mesmo no escuro, eu tinha certeza que a expressão tinha se transformado numa que eu dizia que era a de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
- O quê?
- Um beijo de boa noite.
Respirei fundo e já estava mirando na sua bochecha quando, de repente, ele virou o rosto muito rápido e obviamente, acabei acertando a sua boca. Eu não havia percebido que seus braços me envolviam até quando tentei escapar. Tentei fazer com que me soltasse, em vão, mas claro que não consegui. De repente, senti sua mão bem acima da minha bunda e fazia uma carícia deliciosa, verdade seja dita. Ao mesmo tempo, me puxava para mais perto, se é que aquilo era fisicamente possível, e o beijo se tornava cada vez mais... Ansioso e até mesmo mais sensual e cada vez menos delicado e... Havia alguma coisa a mais que não conseguia perceber o que era. Não quando ele me beijava daquele jeito, acabando aos poucos com o meu ar e, principalmente, o juízo.
Deu um jeito de ficar por cima de mim e, quando percebi, já estava com uma perna envolvendo seu quadril enquanto ele deixava as mãos passearem livremente pelo meu corpo. Começou na cintura e aos poucos foi explorando outros lugares. Quando dei por mim, já estava com a barriga de fora e sentia seus dedos ameaçando invadirem a blusa. Não bastasse tudo isso, ainda tinha um fator... Crescente. Como só tinha três camadas de tecido fino servindo de barreira, então senti tudo. Àquelas alturas, eu já não conseguia nem respirar direito. Foi quando ele se aproveitou para começar a beijar o meu pescoço, indo nos pontos certos, que sabia que iam me desarmar completamente. Quando eu percebi que estava com a boca perto demais da minha orelha, o ouvi dizer, com os lábios colados à minha pele:
- Senti tanta falta do seu cheiro...
Não consegui segurar um gemido e soube naquele instante que estava ferrada. Tive a certeza quando ele encarou o gemido como uma espécie de permissão para avançar mais e, por isso, acabou realmente deslizando a mão por baixo da minha blusa. Foi nesse instante em que tive um estalo e finalmente percebi o que estava acontecendo. Consegui afastá-lo e ignorei seu olhar confuso.
- O que foi? - O perguntou.
- Isso não tinha que ter acontecido. De jeito nenhum!
- Vai mesmo começar com essa ladainha?
Me virei para ele e, pegando o travesseiro e um cobertor, fui dormir na sala. Tinha certeza de que ele ia tentar me fazer voltar para o quarto, só que eu estava disposta até a, literal-mente, brigar.
Quando acordei na manhã seguinte, eu conseguia ouvir a conversando com o em um volume de voz bem baixo. Pisquei algumas vezes e, quando me espreguicei, notei que não estava sozinha. Olhei para o sofá do lado e me segurei para não dar um estalo com a língua. Me levantei, tentando fazer o mínimo possível de barulho e fui até o quarto. Peguei uma muda de roupa e me enfiei no banheiro. Depois que saí, passados alguns minutos, encontrei o , com aquela cara de sono, se arrastando até a escada e falou:
- Bom dia.
- Bom dia. Não era melhor ter ficado na cama?
Negou com a cabeça.
- A tia me avisou que quer que eu a ajude hoje...
- Ah sim... - Respondi. Ele tinha me deixado passar primeiro, mas não sei como, conseguiu ver que tinha alguma coisa errada. Segurou meu braço e perguntou:
- O que foi?
Respirei fundo e, ouvindo a voz da ficando mais alta, o puxei até o seu quarto. Encostei a porta e ele não entendia nada.
- O tem uma sorte... - Respondi, começando a andar de um lado para o outro.
- O que ele fez? Ele te obrigou a...
- Ele nunca me obrigou a fazer algo que eu não queria e é justamente esse o problema. , eu estou morrendo de ódio do .
- Vai direto ao ponto.
- A gente se beijou ontem.
- Mas... Beijo mais tipo...
- Beijo de língua. E evoluiu para um amasso.
- Por isso que você está surtando desse jeito?
Dei um estalo com a língua e ele disse:
- Posso te ser sincero? Eu nunca gostei tanto assim do . Sei lá, é como se... Ele te transformasse em outra pessoa. Eu sei que você gosta dele e tal, mas sempre achei que era mais como um amigo do que como homem. Aliás... Eu não sou o único.
Respirei fundo e, só para completar, ele disse:
- E sei que você provavelmente vai me bater, mas foi exatamente como me falou: Se você não quisesse, o não teria ido em frente e te beijado.
- Eu sei que ele não é o único culpado nessa história.
- Qual é o problema então?
Suspirei antes de me sentar ao seu lado.
- Se contar para ele, eu te castro e depois te mato, ok? - Falei, olhando para ele e esperando que conseguisse soar tão séria quanto pretendia. - O problema foi que, se eu não tivesse um estalo na hora... Teria deixado que ele continuasse. Eu achei que ia conseguir levar essa história de amizade com ele, mas... Estou vendo que não vai dar certo.
- E vai afastar o por isso?
Neguei com a cabeça.
- Para o bem de todo mundo, eu acho que o que preciso fazer é... Impor limites. Senão, vou acabar fazendo algo de que vou me arrepender depois, apesar de querer muito.
- Eu não sou tão bom conselheiro quanto você. - Dei um meio sorriso. - Mas acho que você tinha que usar sua... Intuição, apesar de eu ter certeza de que está óbvio de quem você gosta e quem você ama. Só... Tenta não fazer a escolha errada e acabar magoando todo mundo, além de si mesma.
Baixei o olhar e ele me abraçou de lado.
- Agora vamos lá antes que a tia venha buscar a gente. E aí sim... Ferrou.
Ri e fomos até a cozinha. Mas, ao passar pela sala, o viu o melhor amigo ainda dormindo no sofá e perguntou:
- Você botou ele para fora do quarto?
- Não. Eu saí e como ele gosta de bancar minha sombra...
Sorriu.
Assim que sentamos à mesa, só nós dois, porém, ouvi meu celular dando o aviso de mensagem e, assim que peguei o aparelho, vi que era uma mensagem da Nicola. Franzi as sobrancelhas e o perguntou:
- O que foi?
- “Acabei de descobrir que o chegou de surpresa em Londres na noite do dia 23 e está furioso porque ele sabe onde e com quem você está.”.
- Mas se ele... Sabe que você está aqui com a gente, então por que simplesmente não veio para cá e armou a maior confusão?
- Porque ele está esperando que eu volte para Londres. Conheço o melhor do que ele imagina.
De repente, o ficou pensativo e falei:
- Pela sua cara, você está pensando se o já...
Me olhou.
- Ele sabe que, no instante em que experimentar levantar a mão para mim, não vou pensar duas vezes antes de sumir no mundo. Aliás... Não só ele, mas qualquer outro cara.
- Vai só sumir? - Perguntou.
- Ah não... Antes eu dou um jeito de garantir que ele nunca mais levante a mão para nenhuma outra mulher.
- Não vai me dizer que teria a coragem de...?
- , eu não aguento nem ver sangue sem quase cair que nem uma pera cozida! - Exclamei e ele, como sempre que ouvia a expressão, riu. - Até parece que eu ia ter coragem de, no mínimo, cortar a mão de alguém!
- E o que você ia fazer então? Supondo que o realmente te batesse.
Dei um meio sorriso e falei:
- Se fosse especificamente o ... Para começo de conversa, eu ia trazer o caso à público, justamente para a próxima namorada dele não sofrer o mesmo. Segundo que eu não ia deixar sair impune.
Continuei falando tudo o que faria até que o assunto inevitavelmente voltou para o beijo:
- Se... Ele souber que você e o se beija-ram... - O começou a falar.
- Eu instaurei aquela política de não ter segredos justamente para o namoro dar certo. Por enquanto, tem funcionado.
- Ele já fez alguma coisa desse tipo?
Hesitei e ele entendeu na mesma hora.
- Eu perdoei por causa da honestidade dele. Ao invés de vir com mentiras, abriu o jogo comigo e eu percebi que ele estava realmente arrependido.
- Você vai me odiar por dizer isso, mas... Se eu fosse você, ficava de olho aberto. Se te traiu uma vez, não custa nada ele ir para a cama com outra de novo. Ainda mais que está incomodado com o .
Respirei fundo e perguntei:
- Não podia ser fácil, não é? - Ele deu um sorriso fraco e respondi: - É, não podia. Imagina se o Drácula tivesse a Mina de bandeja, sem o Jonathan e o Van Helsing para salvar o dia?
Sorriu mais largamente e me garantiu que, se eu precisasse... Podia contar com ele.
Quando terminamos de tomar o café, a entrou na cozinha e os dois conversaram em alemão. Consegui pescar algumas coisas e entendi que ela queria que acordássemos o .
Assim que ela saiu da cozinha, o me fez um imbróglio e, quando fui ver... Ele tinha sumido, deixando a tarefa árdua de acordar o belo adormecido. Respirando fundo, fui até a sala e, me ajoelhando no chão, bem em frente ao sofá que o estava, o observei por alguns instantes, não conseguindo resistir à tentação. Como sempre... Estava dormindo sem camisa. E a coberta ia até um pouco abaixo do elástico da boxer. Sua respiração, naquele instante, estava calma; O peito subia e descia lentamente e me perguntei, ao olhar para o seu rosto, com o que ele deveria estar sonhando. Não resisti e estiquei a mão, tocando de leve no seu cabelo.
- ... - Chamei baixinho. - Acorda.
Se mexeu um pouco, mudando de posição e ficando de costas para mim. Apoiando as mãos na beirada do sofá, falei:
- Ah, ... Não tinha nada que ter se vira-do...
Percebi que já tinha acordado e resmunguei:
- Seu... Descarado sem-vergonha!
Bati na sua bunda e ele riu.
- Inacreditável! - Eu disse, baixo e me levantando para que ele pudesse se sentar. - Eu te odeio, sua peste!
Ainda rindo, me olhou e claro que tinha que me provocar:
- Depois de ontem... Eu não teria tanta certeza...
Agarrei o meu travesseiro e joguei nele.
- Você que me aguarde! - Avisei, dobrando o cobertor que eu levara na noite anterior. - Besta.
Ele continuou rindo e me observava atentamente.
- Você trocou de roupa?- Perguntou e respondi:
- E eu sou bem o tipo que quase anda pelada na casa dos outros, ainda mais na da sua mãe!
- Eu tenho certeza que ela não ia se incomodar.
- Ai meu Deus... Anda, vai comer alguma coisa antes que eu perca a paciência.
Ele se levantou e, ao passar por mim, simplesmente me deu um tapa na bunda. Olhei para ele, que nem se deu ao trabalho de virar para trás. Enquanto subi as escadas até o seu quarto, eu resmunguei os piores xingamentos (Claro que nenhum deles era direcionado à ) e, quando passei pelo , ele ficou me olhando.
- E a culpa é sua também! - Resmunguei e ele fez cara de quem não tinha enten-dido nada. - Apanhei por sua causa, sua peste!
- Como assim? - Ele perguntou, me seguindo até o quarto do . Contei tudo e ele ficou rindo.
- Sério, eu devo ter sido o capeta de saia na outra vida, porque estou pagando to-dos os meus pecados nesta com vocês dois... Tô com dó da Di por ter de te aguentar quando está com a pá virada! - Retruquei e ele ficou rindo.
- Como se ela fosse a santa da história... - Ele respondeu e parei no meio do cami-nho.
- Mais santa que você... Ah, ela é. - Devolvi.
Só paramos com a “discussão” quando o entrou no quarto. Eu queria ter saído com o , mas não consegui.
- Eu escutei a sua conversa com o . - Ele falou enquanto vestia uma roupa. Por sorte, estava no banheiro, então não precisei ficar olhando para ele e os músculos se contraindo e relaxando à cada movimento que ele fazia.
- E o que você ouviu, exatamente?
- Tudo. Quer dizer, a partir do momento que vocês chegaram na cozinha. Falaram alguma coisa antes?
- É incrível como você consegue ser intrometido...
- E é incrível como você consegue ser rabugenta!
- O problema não é a sua mania de intromissão e nem minha rabugice. Mas que você não tinha nada que me beijar...
- Como se você não tivesse correspondido e muito bem! - Ele retrucou. De repente, saiu do banheiro e disse, não escondendo a irritação: - Você não foi obrigada a nada. A hora que você não quis mais, eu parei. Para de ficar me apontando como único culpado dessa história toda quando você também não é tão inocente assim.
Olhei para ele, que respirou fundo antes de voltar para o banheiro.
- Sabe o que eu não entendo? Como você pode ser tão teimosa. - Disse. - Eu ouvi quando o te perguntou se o tinha te traído e a resposta é óbvia.
Saiu do banheiro de novo, já completamente vestido, e me olhava fixamente.
- Agora eu te pergunto: Por quê?
- Por quê? Durante todos esses anos em que eu conheço o , ele não foi só um cara com quem eu ia para a cama. Ele foi e é muito mais do que isso. É meu namorado por um motivo. Perdoei a traição dele por um motivo. E esse motivo é que ele é importante para mim. Sempre que precisei, o estava ao meu lado para me apoiar quando era preciso, do mesmo jeito que, quando eu precisava, ele “puxava a minha orelha”. É justamente por ele ser muito mais do que um cara bonito, educado e gentil que quis dar essa chance para ele. Por mais que todo mundo teime em dizer o contrário, eu realmente amo o .
- Mais do que me amou?
Me lembrei de todos os sinais que davam a indicação antes de contar, talvez, a maior mentira da minha vida:
- Sim.