sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - Especial de Natal


Raise up the cups of Christmas cheer

E, de repente, nós rimos muito
E percebemos o que havia acontecido
A magia do Natal deu a esta história
Um final muito feliz

(Spice Girls - Christmas Wrapping)

Luiza

[Flashback - Um ano antes]

Ok. Pode falar que eu sou louca, mas sabe quando você começa a desconfiar que tudo tá dando errado, não por culpa daquele infeliz do Murphy, mas por pura obra do destino? Tipo, meus planos para aquele Natal eram ir para Roma, ficar com a família, comer todas aquelas coisas absurdamente engordativas e, para perder todos aqueles quilos que havia ganhado, ia levar os Pugs da Nicola para passear. Sem falar que ia queimar muitas calorias dançando no balcão, como sempre. E o principal detalhe: O Alex ia ficar em Londres e íamos nos ver quando eu voltasse. As meninas iam para as respectivas casas e beleza. Só que a Lee, mãe do Alex, teve a brilhante ideia de fugir do frio londrino e arrastou os filhos (O Alex tinha um meio irmão) para um lugar onde estava longe de ser frio: Sydney. Eu sabia que a Lee tinha uma irmã que morava lá e, por isso, para fugir do inverno... Foi ver os cangurus de perto. Resultado? Já estava na abstinência por uns dias. Ia ficar mais de mal humor que antes. Mal humor que foi piorado quando o meu voo para Roma foi cancelado por causa de uma nevasca daquelas. Ou seja? Ia ficar sozinha em Londres em pleno Natal...

... Isso até a Deborah e a Lillian, mães das meninas, terem a brilhante ideia de virem a Londres com toda a turma e almoçar na casa do Charlie, que era suficientemente espaçosa. O Stephen, no entanto, decidira que ia abrir o bar de um jeito ou de outro. Ainda mais que estava falando para quem quisesse ouvir que ia ser diferente...

Afora isso, eu estava sentindo que alguma coisa ia acontecer. Era a primeira vez na vida que aquele sentimento aparecia e era estranho, não tinha como negar. Estava cismada, como sempre, e as meninas perceberam isso. Não falaram um A enquanto nos arrumávamos para ir ao bar e elas sabiam que, quando eu quisesse, ia falar com as duas.

Quando estávamos prontas, olhamos uma para a outra e a Di perguntou:

- Só eu que estou com um instinto assassino para com nosso chefe?

Rimos e falei:

- Ok. Ideia: Sobretudo por cima das roupas e botas comuns. Essas de elfos a gente leva numa bolsa grande e troca quando chegar lá. Quem concorda... Fala Louboutin.

- Louboutin! - As duas disseram ao mesmo tempo e eu fui buscar a bolsa enquanto elas providenciavam os casacos. Estávamos vestidas como ajudantes sexies de Papai Noel, com meias-calças listradas de branco e vermelho. A fantasia não era feia. O problema era andar pela rua vestida com ela. E a bota com a ponta curvada e guizo. A bota era demais. Era implorar para o povo rir da nossa cara.

De repente, ouvi a Di falando:

- As orelhas! Alguém viu as orelhas?

Ergui o olhar e vi as orelhas pontudas sobre a minha mesa. Estava encarregada de tentar achar um jeito de fixa-las melhor e decidi levar para colarmos no bar. Pus na bolsa e, depois de avisar as meninas, a Lola me entregou o sobretudo e trocamos as botas. Assim que saímos, depois de certificar que não tínhamos nos esquecido de nada, fomos até a estação de metrô, tentando segurar o riso e a Di falou, quando estávamos descendo as escadas:

- Imagina se alguém tenta roubar a gente? A frustração que vão ficar ao abrir a bolsa e encontrar três pares de sapatos de elfos?

Conseguimos nos manter sérias.

Logo que chegamos ao bar, o Stephen não estava à vista e corremos para o nosso cantinho e trocamos as botas e colocamos as orelhas. Às dez, o bar abriu e já estávamos à postos. Fizemos alguns vários drinks e, quando estava perto das onze, nosso chefe nos mandou subir no balcão.

- Vejam pelo lado positivo. - Falei, tentando animar as meninas enquanto checávamos os microfones. - Pelo menos a gente não está como a Caroline e as outras...

As duas olharam para um pequeno grupo de Coyotes que tinham sido obrigadas a se vestirem de renas. Assim, a fantasia não era feia. O problema eram os arcos com galhos de pelúcia e a pior parte: Os narizes tiveram de ser pintados de vermelho.

- Vejam pelo lado positivo: Se a gente jogar o Stephen no Tâmisa... A gente perde a casa. - A Lola disse.

- E desde quando isso é positivo? - Perguntei.

- Ele fica vivo e a gente fica com a casa. - Respondeu sorrindo.

- Okay... - Falei, assentindo. Quando já estava tudo pronto, ouvimos os primeiros acordes da música e cantei, dançando meio de lado e fazendo um passinho que consistia em bater cada pé uma vez:

Jingle bell, jingle bell
(Toca o sino, toca o sino)
Jingle bell rock
(Toca o embalo do sino)
Jingle bell swing
(O sino toca e balança)
And jingle bells ring
(E os sinos tocam)

Logo, a Di, que estava atrás de mim, cantou também:

Snowing and blowing
(Nevando e ventando)
Up bushels of fun
(um monte de diversão)

E nós três cantamos, mexendo os quadris de um lado para o outro e quase perdendo o controle sobre o riso:

Now the jingle hop has begun
(Agora a dança do sino começou)

Será que podia ficar pior?

Bill

Quando o Tom cismou em vir para Londres e tentar encontrar a garota do bar, não imaginávamos que ela ainda estaria lá e trabalhando em plena noite de Natal. E vestida de elfo. Ela e mais duas amigas quase não aguentavam e riam da própria apresentação. Estava realmente... Bonitinha justamente por isso. A garota que tinha cantado primeiro tinha chamado minha atenção. Não por ser tão branca quanto a ruiva. Mas... Havia algo de hipnotizante nela. Não sabia dizer o que era, exatamente. Mas ela conseguia ser... Cativante. Essa era a palavra.

Elas dançavam em perfeita sincronia, embora a música fosse uma daquelas clássicas de Natal e o arranjo não fosse monótono. Assim que acabou, outra começou, só que muito mais animada e o Tom disse:

- Estou começando a sentir dó dessas meninas... Além de trabalhar em pleno Natal, ainda têm que ficar apresentando esse tipo de coisa.

De graça, elas se juntaram às colegas de trabalho que subiram ao balcão e ficaram lado a lado. De repente, começaram a dar tipo um chute no ar e só então, percebi que elas usavam botas com as pontas curvadas, como as dos elfos.

- Espero que o chefe delas realmente esteja pagando muito bem para que façam isso. - O meu irmão falou e sorri fraco.

Depois da apresentação, elas sumiram por uns instantes e, entre uma coisa e outra, me distraí e não vi mais a garota. Estávamos em uma área reservada do bar e, portanto, apesar vermos todo mundo, o contrário não acontecia. Perto da meia-noite, quando eu precisei ir ao banheiro, um dos funcionários me avisou que eu teria de usar o outro, já que o que estava perto de onde estávamos tinha dado problema. Então, evitando ao máximo de ser reconhecido, fui na direção que tinha me sido indicada e, logo que fechei a porta... Acabou a luz. Não fosse o suficiente...

- Ai, tá de sacanagem comigo! - Ouvi uma garota dizer.

Ela pareceu perceber que eu estava ali e perguntou:

- Di? É você?

Pigarreei e a minha garganta doeu. Acho que essa viagem para Londres não foi uma boa ideia...

- Na realidade... Eu estava precisando usar o banheiro, se você não se importar. Um cara me falou que o outro banheiro está quebrado...

- Ah... Ok. - A ouvi dizer e, com o celular, consegui encontrar uma das cabines. Perguntei:

- Desculpa, mas... Onde você está?

Houve um instante de silêncio e disse:

- Terminando de me arrumar. Tem medo do escuro?

- Não. Só... Não quero que... Aconteça algum acidente.

A ouvi fazer um barulho, como se estivesse rindo e ela saiu. Usei o banheiro e, logo que terminei de lavar as mãos, ouvi um barulho e perguntei:

- Tem alguém aí?

- Sou eu ainda! - A garota falou. - E eu realmente espero que você não sofra de claustrofobia, porque essa porcaria de porta acabou de bater e emperrar. Estou tentando avisar o Stephen.

- Stephen? - Perguntei.

- Dono do bar. - Ela respondeu. De repente, falou um palavrão.

- O que houve?

- A bateria do meu celular acabou.

- Quer o meu emprestado?

- Ah... Obrigada, mas já consegui mandar a mensagem. - Respondeu. Consegui encontra-la e não consegui controlar a curiosidade:

- Você estava cantando em cima do balcão?

- Estava. Com as botas e orelhas de elfo, meias listradas e tal.

- Vocês usaram orelhas de elfo?

- É. Ossos do ofício.

Ficou quieta por um instante e, quando tornou a falar, quis saber:

- Veio sozinho?

- Não. Meu irmão, minha mãe e meu padrasto estão com a gente. E você?

- É... Não tive tanta sorte, já que a minha família está longe e não pôde vir...

- Se... Quiser, pode se juntar à nós. - Ofereci e percebi que ela estava sorrindo.

- Obrigada, mas... Este vai ser o primeiro Natal que consigo passar com as minhas amigas. Sempre cada uma vai para um lado...

- Ah... Sem problemas. - Garanti. De repente, ouvimos um vozerio e ela grunhiu um pouco fraco.

- Já é meia-noite.

- Bom... Nesse caso... - Saí em busca dela, apesar de estarmos perto um do outro. De repente, toquei algo morno e macio e me dei conta que era a mão dela.

- Espera. Fica quieto por um instante, por favor. - Pediu. Não me mexi e ela conseguiu me abraçar. Me surpreendi por ela ser mais alta do que eu imaginava. Quer dizer, era mais baixa que eu, mas... Enfim, deu para entender. De repente, começamos a ouvir uma música de Natal estranha e erguemos as cabeças para ver um daquele visco, aparentemente de plástico e com a bateria fraca. Ela suspirou e disse:

- Eu vou matar minha amiga. Ela que pendurou essa porcaria aí em cima e...

- Acho que a gente tem que seguir com a tradição... - Arrisquei. - Isto é... Você não tem namorado, tem?

Riu fraco e disse:

- Não. E você? Tem namorada?

- Não. E por mim...

- Ok... Deixa só...

Percebi que se esticou um pouco e me inclinei na sua direção. Como ia conseguir achar a sua boca naquela escuridão toda... Era um mistério. Por sorte, a porta tinha um vidro. E alguém passou por ali segurando uma vela. Mesmo com a pouca iluminação, consegui ser rápido o bastante para não errar e a beijei. De cara, senti que sua boca era carnuda e, claro que não perdi a oportunidade para mordê-la de leve. Em resposta, ela entrelaçou os dedos no meu cabelo e os puxou de leve. Com a outra mão, arranhava a minha nuca e tinha certeza que, se demorasse mais um pouco, não ia conseguir me segurar. Era estranho. Nem ao menos sabia como ela era (Principalmente porque só me preocupei em ver onde ela estava) e me sentia completamente atraído por essa garota.

Quando nos separamos, ambos ofegantes, ouvimos uma movimentação em que pareciam ter se dado conta do nosso sumiço e perguntei:

- Qual é o seu nome?

- Izzy. - Respondeu. - E o seu?

Hesitei por um instante e respondi:

- Will.

Sabia que ela estava sorrindo e, graças à confusão, pude “sumir” sem que ela percebesse. Era melhor que não soubesse quem eu era, senão não queria nem imaginar o que ia acontecer caso descobrisse...

[/Flashback]

Luiza

Estava me lembrando do último Natal, sentada à beirada da janela quando notei o Bill chegando perto de mim. Perguntou:

- O que foi?

- Estava... Lembrando de uma coisa que me aconteceu no ano passado.

- O que era?

Respirei fundo.

- Eu fiquei com um cara.

- Não era o Alex?

Neguei. Franziu as sobrancelhas e disse:

- E como ele se chamava? Você sabe?

- Will.

Fez uma cara engraçada e perguntou:

- Você não trabalhou no bar ano passado, em pleno dia de Natal, trabalhou?

Concordei.

- O Stephen nos fez usar uma roupa de elfo que era até bonitinha, junto de umas próteses de orelhas e umas botas que as meninas nem sonham que eu guardei. Eram pretas, de salto e com pontinhas viradas para dentro.

- Ok... - Assentiu lentamente.

- O que foi?

- Você por um acaso se lembra de alguma outra coisa desse tal de Will?

- Era fumante, mais alto e tinha spiderbites. E a voz dele era parecida com a sua. Por quê?

Me olhou e na mesma hora a ficha não caiu. Despencou em queda livre.

- Eu não acredito! - Exclamei, batendo no seu ombro enquanto ele ria.

- Quem diria, hein?

- Por que você não me falou nada?

- Você nunca tocou no assunto... Até achei que não se lembrava... - Respondeu, sorrindo.

- Meu Deus! Então o nosso primeiro beijo não foi em Las Vegas, mas em Londres... As meninas vão surtar se eu contar para elas.

- Filma e depois me mostra.

Ri e concordei.

- A propósito... - Falou, mexendo no bolso da jaqueta. Prendeu algo na janela e, assim que terminou, vi que era o mesmo visco que a Nicola tinha prendido acima da porta. - Me lembra de agradecer à Nicola por ter guardado.

Sorri e ele disse:

- Acho que a gente tem que seguir com a tradição... Isto é... Você não tem namorado, tem?

- Não. E você? Tem namorada?

- Não. E por mim...

Sorri e claro que nos beijamos.

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