quarta-feira, 15 de julho de 2015

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 16º capítulo



Que eu estou caminhando pelas nuvens
Quando você me olha
Eu me sinto como uma criança
Vulnerável
Eu tremo como uma folha se você chega perto de mim
E você é tudo o que eu vejo

(the Corrs - No good for me)

Bill

Me sentia um pouco zonzo. E não conseguia parar de olhar para a Luiza, que parecia ainda mais linda e atraente, com aquelas bochechas rosadas, boca ainda mais vermelha e o olhar tão iluminado quanto o da Nadine. Percebi que ela tomava, sempre, um copo de água entre cada gole de vodca.

Já havia algum tempo desde que o tal jogo havia começado e realmente, tinha mudado um bocado o meu ponto de vista sobre cada uma delas. Antes, a impressão que eu tinha da Nadine era a de alguém grossa, impaciente e até mesmo ranzinza. Agora, eu via uma mulher totalmente diferente à minha frente, sendo mais espontânea, simpática, alegre e que brincava e ria o tempo inteiro. A Nicola, por outro lado, sempre me dava uma ideia de alguém frágil, com a fala mansa e calma. E era uma das mais engraçadas. Havia se revelado extremamente apaixonada pelo namorado e, para a surpresa de todo mundo, ciumenta.

De longe, quem me surpreendeu mais foi a própria Luiza. A começar pelo fato que teve só dois namorados a vida inteira. O Alex seria o terceiro e, pelo que pude entender (Apesar de ter fingido o contrário), ela nunca gostou tanto assim dele. Era mais um sentimento fraternal e, graças a um comentário na Nicola, a Luiza estava gostando era de outra pessoa. No instante, senti o olhar da Nadine e do Tom em cima de mim.

O tal jogo era basicamente: Tínhamos de revelar alguma coisa que estávamos sentindo. Se não fôssemos convincentes o suficiente, o “castigo” era beber a dose de vodca. As meninas haviam trazido mais duas garrafas e eu não duvidava muito que, a qualquer minuto, uma delas ia ter um coma alcóolico.

          - Sua vez, Bill. - A Nicola falou, empurrando o copo na minha direção. Parei para pensar e falei:

          - Eu não disse a verdade quando estávamos em Nova Iorque.

A Luiza me olhou, sem entender.

          - Eu tinha plena consciência do que estava fazendo. E não me arrependo, principalmente porque não fui o único a querer.

O meu irmão e as meninas me olhavam, com uma expressão que não conseguia descrever. A Luiza havia baixado o olhar para o próprio colo e parecia interessada demais nas próprias unhas.

          - Mentiroso. - Falou, finalmente. Os outros três estavam surpresos. Suspirei, pegando o copo, quando este foi tomado da minha mão pela própria Luiza, que o bebeu em um único gole. Assim que o pôs sobre a mesa de centro da sala, disse: - E eu sou uma mentirosa porque também não estava tão bêbada assim. Também tive consciência do que estava fazendo e... - Me olhou. - Fiz porque eu queria.

Pelo canto do olho, vi as amigas disfarçarem um sorriso, ao contrário do meu irmão, que foi mais... Bom, menos discreto.

          - OK. Acho melhor a gente parar por aqui. - A ruiva falou, se levantando e quase caindo por causa da tontura. Imediatamente, foi acudida pela Nadine e o Tom, já que estava entre os dois. - Estou começando a sentir aquele sono descontrolável e uma vontade igualmente intensa de fazer xixi. Com licença.

Não teve como não rir dela e, de repente, me ocorreu uma coisa.

          - Hã... Luiza, me ajuda um instante? - Falei, levantando do chão e ela, mesmo sem entender, atendeu. Quando estávamos na cozinha, comecei a procurar por pacotes de balas e ela perguntou:

          - Por um acaso... Você não está realmente precisando de ajuda, está?

          - Na realidade... Estou. Preciso que intercepte a Nicola antes de ela entrar na sala.

          - Querendo bancar o cupido, Sr. Kaulitz?

          - Sabia que estou começando a gostar de verdade dessa sua... Coisa de pegar as coisas no ar?

Sorriu e pegou uma mão cheia de balas.

          - Bendita a hora em que inventaram a bala. E mais bendita ainda a hora em que descobriram que ela levanta a glicose que é uma maravilha. - Disse. Por um instante me pareceu tão inocente que fiz a primeira coisa que me deu vontade. Me aproximei dela e dei um beijo no seu rosto. Se encolheu, dando um gemido agudo e se encolhendo.

          - O que foi?

          - Sua barba me arranhou.

Ri.

De repente, a Nicola apareceu, ofegante, e disse:

          - Acabei de ligar a TV do seu quarto... Tá passando o jogo do Mancha contra o Arsenal.

          - De novo?

          - O que eu fiquei sabendo foi que o Arsenal jogou contra o Manchester City.

A Luiza arqueou a sobrancelha e, rapidamente, se levantando do banco, arrastou a Nicola escada acima. Antes de segui-las, fui espiar o Tom e a Nadine, que estavam se beijando. Dei um jeito de atrair a atenção da Luiza, que desceu, com a ruiva em seu encalço. Indiquei meu irmão e a amiga delas, que se seguraram para não fazer qualquer barulho.

Assim que estávamos no quarto, a TV mostrava o jogo e as meninas conversavam, animadas. De repente, um dos jogadores do Manchester começou a correr, com posse da bola, e a Luiza prestou atenção. Imediatamente, aconteceu algo realmente engraçado e inesperado: Ela realmente começou a torcer. Estava sentada na beirada da cama (A Nicola havia tomado o cuidado de me deixar ao lado da amiga), com os cotovelos apoiados na perna e se inclinava para a frente, enquanto murmurava, em português “Vai”. Quando o time marcou o primeiro gol, ela saiu procurando pelo celular e digitou uma mensagem, obviamente para provocar o Alex.

No intervalo, a Nicola saiu do quarto, dizendo que ia tomar água. Quando ficou sozinha comigo, a Luiza perguntou:

          - Estou te assustando, não é?

Sorri fraco e falei:

          - Não. Quer dizer, não ia me assustar por causa de um jogo de futebol.

Me olhou e comentou:

          - A gente podia ter pedido para a Nicola dar uma olhada nos dois...

          - Contanto que não quebrem nada...

Se afastou dois centímetros de mim e ri. De repente, a Nicola reapareceu, avisando:

          - Acabei de descobrir que estou de vela.

          - Só agora? - A Luiza a provocou e a ruiva fez uma cara de impaciência. - Que é isso? - Indicou o pedaço de papel que a amiga segurava.

          - “Amados, estamos na casa do Tom. Não liguem para lá e nem nos perturbem. Beijo, Di. (E Tom)”. Para não piorar minha situação ainda mais... Vou para a casa. - Avisou, pegando a bolsa.

          - Lola, não... Fica. - A Luiza falou, se levantando, mas a outra não ia ser convencida tão facilmente. Intervi:

          - Por um bom tempo, fui o único solteiro na banda. Te garanto que, ficar de vela para duas amigas não é nem um pouco comparado às velas que segurei para os caras, que eram três e até chegavam a ser constrangedores.

Ela hesitou e respondeu:

          - Eu estou sentindo falta do Charlie, tem isso também.

A Luiza ficou mais quieta e a Nicola pediu:

          - Me empresta seu marido por um instante? Só para ele me levar em casa?

A minha mulher assentiu, sorrindo. Depois que se despediram, fui andando até a casa em frente e perguntei:

          - O seu namorado não pode tentar vir para cá por uns dias?

          - Então. Até falou que viria me visitar, mas o pub do pai dele está passando por um período... Difícil e, por enquanto, não tem como.

          - Estão com dificuldade financeira, é isso?

          - Não, pelo contrário. Está tão bem que até estão com falta de empregados extras.

          - Ainda bem. - Respondi. Quando paramos em frente do portão, ela se virou para mim e disse:

          - Não conta para a Iza, mas... Estou feliz que tudo esteja dando certo entre vocês.

          - Eu também. - Falei e ela deu um sorriso fraco.

          - Sabe, a Luiza só tem essa postura, de te repelir o tempo inteiro porque está com medo.

          - Medo de quê?

          - De admitir para si mesma que gosta de você. E não estou falando porque nos conhecemos o suficiente para ter certeza, mas porque dá para ver isso. Claramente. E estou errada em dizer que ela é correspondida?

Neguei.

          - Então. Só um conselho de amiga: Dá um pouco de espaço para ela. A Luiza fica ainda mais embirrada quando está sob pressão. Ficar insistindo também tira ela do sério.

Assenti e perguntei:

          - Deixa eu te perguntar uma coisa?

Concordou.

          - Por um acaso uma de vocês decidiu me ajudar com a Luiza?

          - Como assim?

          - Na realidade, estou recebendo umas mensagens e achei que, como vocês duas resolveram nos ajudar, podiam ser as autoras...

Assentiu lentamente e disse:

          - Que eu saiba, a Nadine tem seu número gravado no celular dela, mas para emergência. E eu gravei com a mesma finalidade, mas nenhuma de nós duas te mandou qualquer mensagem. Não sabe quem possa ser?

          - Não, porque é número privado.

          - Ah, sim... Bom, se a gente precisar, vai saber que somos nós porque compramos um chip daqui para cada uma. E o de Londres nem estamos usando. Se tivéssemos, também, não ia ser privado.

          - Pois é... Bom, vou te deixar entrar.

          - Qualquer coisa, se precisar de ajuda para descobrir...

Assenti, sorrindo e me despedi dela.

Tão logo voltei para a casa, ouvi meu celular apitando e, quando peguei o aparelho, tinha outra SMS anônima:

A Luiza adora surpresas e doces. Depois procure no Google por um doce brasileiro chamado Brigadeiro. Boa sorte na cozinha.

Estranhei.

Quando passei pelo seu quarto, ela já estava deitada e entrei, única e exclusivamente para cobri-la. Não resisti e beijei seu rosto.

Um pouco depois do almoço no dia seguinte, quando a Luiza ainda não tinha voltado, a Claire apareceu e trazia uma daquelas capas protetoras de roupa. A colocou sobre o sofá e, não resistindo, fui até lá e a abri.

          - Nossa... - A ouvi sibilar e perguntei:
         
          - Você acha que ela vai gostar?

Assentiu.

          - Já conseguiu as máscaras? - Ela quis saber e neguei.

          - Daqui a pouco, você está liberada. Vou naquela loja aqui perto com a Luiza para a gente ver o que conseguimos encontrar por lá.

Concordou. Em seguida, fechei o zíper da capa e a levei até o carro. Destranquei o porta-malas e guardei ali. Quando voltei para o estúdio, a Luiza já estava de volta. E comia uma barrinha de chocolate. Me ofereceu e recusei.

          - Acho impressionante sua fixação com doce... - A provoquei e fez língua.

          - Luiza...

          - Quê? Vai me dizer - Começou a fazer voz grossa e me imitar. - “Já te digo onde enfiar essa língua”? Se for, já te respondo à altura.

Tive um pressentimento não tão bom assim...

Se aproximou de mim e, sentando no meu colo, se inclinou na minha direção e, de repente, começou a, lentamente, beijar o meu pescoço, muito próxima da orelha.

          - Luiza... - Falei, em tom de aviso. - Se eu chegar no meu limite, não vai ter como me parar...

Senti que sorriu e, de repente, fui surpreendido ao sentir sua língua deslizando lentamente pelo meu lóbulo. A calça que eu estava usando começou a ficar incomodamente apertada e a ouvi dizer, em um tom de voz mais baixo que o normal:

          - Na realidade... Eu quero passar a língua por outro lugar... Bem mais... - Do nada, percebi que sua mão deslizava do meu peito e chegava na barriga, bem próxima ao cós da minha calça. Claro que aquilo mexeu mais ainda comigo. - Embaixo.

          - Ontem mesmo você não queria fazer nada aqui no estúdio... O que te fez mudar de ideia? - Perguntei, tentando manter o meu controle. Se endireitou e, me olhando fixamente e apenas apoiando as mãos sobre meus ombros, respondeu:

          - O que você falou ontem. Sobre o que aconteceu em Nova Iorque.

          - Engraçado porque, se bem me lembro, você tinha jurado que nunca mais aconteceria de novo...

          - Até hoje não aprendeu que sou instável nas minhas decisões? Que vergonha, Kaulitz... Ainda tem a cara-de-pau de dizer que sou sua mulher...

          - E não é? Se pensar bem, o casamento já foi consumado. Agora, mais do que nunca, é um caminho sem volta. Desde Nova Iorque.

Respirou fundo, mas sem desviar o olhar de mim, e disse:

          - Aí que você se engana. É um caminho sem volta sim, mas não desde Nova Iorque e sim, desde Las Vegas. Afinal, como eu já te falei, vou ser reconhecida por ter me casado com você, ou está se esquecendo?

          - Acha mesmo que é um estigma?

          - Só o de ser ex-esposa.

Ergui minha mão até tocar seu rosto e comecei a acaricia-lo de leve, usando principalmente o polegar.

          - Eu... Sei que é cedo para te pedir uma coisa desse tipo, mas... - Comecei a falar, olhando fixamente para ela. - Depois que o prazo do juiz terminar... Não vai. Fica. Quero ter a chance de... Fazer tudo como se deve.

Respirou fundo novamente e disse:

          - Em dez meses pode acontecer um bocado de coisas. A gente pode até tentar ir mais devagar...

Concordei.

          - A propósito... A gente tem que ir atrás das máscaras, não se esqueça.

Assentiu.

Algum tempo depois, decidimos sair mais cedo, justamente para dar tempo e, assim que chegamos à loja, a vendedora foi muito solícita e mostrou várias máscaras para a Luiza e gostei de algumas para mim, mais básicas.  Por fim, escolheu uma e, depois que paguei, fomos para a casa.

Logo que chegamos, fui tomar banho e ela imediatamente foi fazer o jantar. Depois que terminei, me preocupei em colocar só uma calça e desci. Para encontrar a Luiza usando a mesma combinação de camiseta e shorts curtos, descalça, e dançando pela cozinha. Como não bastasse ela rebolar no ritmo da música, que era latina, ainda estava usando um coque alto. Só para registrar... Uma das coisas que mais me enlouquecia nela era a nuca. Imagine uma nuca perfeita. Era a dela. Principalmente por causa do cheiro da sua pele.

Assim que me notou ali, não se intimidou (Apesar de eu ter visto que teve um leve choque ao me ver sem camisa) e continuou dançando como se ainda estivesse sozinha. Parei para reparar nos seus movimentos e estavam... Caprichados demais para serem de amadora...

          - De curiosidade... - Atraí sua atenção. - Você teve que fazer aula de dança por causa do bar?

Negou.

          - A dança do bar é diferente, usando mais... A intuição. Por quê?

          - Nada. Eu só... Estava te observando e seus passos estão parecendo de profissional.

          - Profissional? Está lembrado que eu venho de um país latino, onde todas as meninas já nascem com um rebolado natural, não é? E não estou falando só em termos de dança, mas do caminhar mesmo.

          - É, eu reparei. - Respondi, mais de provocação do que de qualquer outra coisa. Ergueu a sobrancelha e perguntou, estreitando os olhos:

          - Quer dizer então que andou reparando no rebolado das brasileiras, é, sua peste?

Dei de ombros e, no instante seguinte, ela me bateu com o pano de prato.

          - Sossega seu facho. - Avisou e respondi:

          - Por quê? Olhar não tira pedaço e eu sei muito bem que você também olha para os caras... E eu tenho que ficar quieto.

          - A diferença é que eu não olho para a bunda dos caras.

          - Mentirosa. Já te vi olhando sim.

Abriu a boca para responder e aquilo era inédito.

          - Sem resposta, Sra. Kaulitz? - A provoquei e disse, empinando o nariz:

          - Não. Acontece que tem só uma bunda que eu costumo olhar mais e ter vontade de apertar. E nesse instante... Ela está apoiada num banco.

Me levantei, só para fazer graça mesmo, e parei de costas para ela.

          - Aproveita então.

De repente, me bateu e disse:

          - Senta antes que eu perca o resto de paciência que tenho.

          - Você é uma incógnita, Luiza. Sinceramente.

          - E você é um safado. Anda, senta.

          - E se eu não quiser?

Suspirou e disse:

          - Então já que decidiu se rebelar, me faz o favor de ir cortando os gnocchi.

Fui até a bancada e ela parou ao meu lado. Fui seguindo suas instruções e, cada vez que eu cortava um pedaço, notei que ficava dando dedadas. Perguntei:

          - Por que você está fazendo isso?

          - Truque da minha avó para absorver melhor o molho.

Assim que terminei, me pediu para coloca-los na panela com água fervente enquanto ela fazia o molho. Fiquei esperando até todos subirem para ir tirando e, logo em seguida, colocando mais um pouco dos gnocchi. Assim que o molho estava pronto, me pediu para por a massa numa travessa. Quando ia colocar tudo, me interrompeu e despejou um pouco do molho. Em seguida, disse:

          - Outra camada, por favor.

Fiz o que pediu e, de novo, ela pôs um pouco mais de molho. Fomos intercalando até que os gnocchi e o molho acabassem. Me pediu:

          - Leva para a mesa, por favor. Já venho.

Em seguida, saiu da cozinha. Fui até a sala de jantar, com a travessa nas mãos e, de repente, notei que a Vivi estava parada na entrada, me olhando. Tentei enxergar a Luiza, mas não havia sinal. Peguei um pedacinho da massa e a gata veio rapidamente. Me abaixei, oferecendo o gnocchi e ela farejou por alguns instantes e, logo em seguida, deu meia volta, se lambendo.

          - Por que você acha que eu não dou comida para ela? - Ouvi a Luiza perguntar e falei:

          - Por que ela é chata para comer como a dona?

Deu um estalo com a língua e ri. Só então notei que segurava uma garrafa de vinho.

          - Tem certeza? - Perguntei.

          - Justamente por não estarmos de estômago vazio que não vai ter problema.

Em seguida, foi buscar as taças.

Como sempre, ficou me observando enquanto eu experimentava a primeira garfada. Depois de mastigar e engolir, falei:

          - Ficou delicioso.

Sorriu, toda satisfeita.

Assim, os dias foram se passando, continuamos a ir ao terapeuta, que parecia satisfeito com o progresso que estávamos fazendo.

Quando o dia do baile de máscaras finalmente chegou, a Luiza, até então, não havia visto o próprio vestido. Esperei que estivesse no banho para coloca-lo num cabide e escolher um lugar bem... Específico do seu closet. Em seguida, fui me arrumar, tomando o cuidado para não fazer qualquer barulho.

Estava tentando à duras penas fazer o nó na gravata quando ouvi a Luiza me chamar, brava. Não era exatamente a reação que eu estava esperando, mas... Decidindo não insistir mais na gravata, fui até seu quarto e a encontrei usando só o roupão e já com os cabelos secos.

          - Se a gente não estivesse quase saindo, juro que cometia um mariticídio doloso aqui e agora. Por que não me falou do vestido?

          - Queria te fazer uma surpresa... Achei que ia gostar.

Suspirou e disse:

          - Gostei. Só que... Deveria ter me contado. Acabei comprando outro vestido.

Fui até ela e, depois de parar na sua frente, pus a mão sobre seu rosto e falei:

          - Me desculpe.

          - Está tudo bem. E da próxima... Me avisa, tá?

Sorri, concordando e ela perguntou, percebendo a gravata:

          - Quer ajuda?

          - Por favor.

Rindo, a passou pelo meu pescoço e, em questão de poucos segundos, conseguiu dar um nó perfeito. Perguntei, me olhando no espelho:

          - Como você conseguiu?

          - Então... Pratiquei, justamente para o caso de aparecer uma situação dessas. A primeira... Cobaia foi o irmão da Nicola, Clayton. Ia fazer uma apresentação na escola e era a oportunidade perfeita. E se não se incomodar... Preciso me vestir, mas, como sua ajuda me é necessária... Senta lá na minha cama, por favor?

Obedeci enquanto ela se vestia. Assim que me chamou, fui de volta ao closet e estava parada de costas para mim.

          - Fecha o zíper para mim, por favor?

Parei perto dela e, quando estava na metade do caminho, não resisti e toquei a sua pele.

          - Já disse o quanto adoro a sua cor? - Falei e ela respondeu:

          - Essa é a primeira vez.

Percebendo o que ia acontecer, tive que me controlar e, dei uma desculpa qualquer, saindo do quarto.

Não muito tempo depois, chegamos ao baile e estava lotado. Olhei para a Luiza, que estava claramente nervosa com aquilo tudo. Sabia que ia ter de passar pelo tapete vermelho, abraçada comigo, e provavelmente era isso o que estava tirando o sossego dela. Falei, antes de sairmos:

          - Não se preocupe. Tenho certeza absoluta de que você vai conseguir tirar isso tudo de letra.

          - É... Afinal de contas... Não vai ser a primeira vez. - Respondeu, com a voz indicando que iria ter um ataque a qualquer instante. Peguei na sua mão, tentando tranquiliza-la e falei:

          - Eu vou estar ao seu lado a todo instante. Não tem com o que se preocupar. Vamos?

Assentiu, respirando fundo. Em seguida, saímos do carro e houve aqueles clarões dos flashes das câmeras dos fotógrafos. Até que foi melhor que o esperado e, uma vez lá dentro, no exato instante em que pisamos no salão, senti a Luiza amolecer um pouco.

          - O que foi? - Perguntei para ela, que negou com a cabeça e sorriu. Logo, estávamos cumprimentando boa parte das pessoas que estavam ali e, quando finalmente conseguimos, fomos nos sentar.

          - Kaulitz, cuidado senão tu fica sem sua mulher... - O J.J. falou, assim que os cumprimentamos. - Minha senhora, com todo o respeito, mas hoje caprichou, hein?

A Luiza sorriu e, logo um garçom veio nos servir. Enquanto ela tomava um copo de água, decidi começar tomando algo mais leve.

Na primeira hora, a festa me pareceu um pouco monótona. Mas, depois que começaram a tocar músicas mais animadas, fiquei observando a Luiza e a cutucada que o J.J. me deu por baixo da mesa, como se me incentivasse a ir para a pista de dança com a minha mulher acabou sendo desnecessária. E justo quando ia chama-la para sair...

          - Só um aviso: Eu adoro essa música. Se você não for dançar comigo... Vou sozinha. - Ela avisou e, no instante seguinte, já estava sendo guiado por ela, que segurava meu pulso. Aproveitando um trecho mais calmo, perguntei para ela:

          - Tem mais alguma surpresa a respeito do seu gosto musical?

Riu e deu de ombros. Logo, começou outra música e ela se tornou ainda mais animada. Apesar de tudo, foi realmente bom ter visto a Luiza tão mais... Espontânea e alegre daquele jeito...

Quase duas horas direto, dançando com ela, comecei a cansar e perguntei:

          - Não quer se sentar um pouco?

          - Já cansou? Ih, Kaulitz, você é bunda mole demais... E olha que sou eu quem está em cima de um salto!

          - Seu pé não está doendo?

Negou.

          - Eu dificilmente ia no bar de sapato baixo. Logo... Estou acostumada. Mas... Estou com sede.

Seria egoísmo demais dizer que fiquei feliz com aquilo? Depois que tomou um senhor gole de refrigerante, avisou que ia ao banheiro e o J.J., aproveitando a oportunidade, brincou:

          - Já tá pedindo arrego só porque ela dançou com você? Imagina quando vocês forem para a cama pela primeira vez?

Dei um sorriso amarelo e, por sorte, ele viu alguma garota e foi tentar a sorte com ela. Quase imediatamente, o James (anfitrião do jantar de fusão do estúdio com a gravadora) apareceu e veio me cumprimentar.

          - Fiquei sabendo que você contratou sua esposa como assistente...

          - É. Ela não conseguiu emprego e uni o útil ao agradável.

          - Como sempre... Cuidando do que é seu.

Assenti e continuamos a conversar até que a Luiza apareceu.

          - Soube da lição que você deu no Paul depois do jantar... - Ele comentou e ela o olhou, surpresa.

          - E como você soube?

          - Então... Fontes seguras e totalmente confiáveis.

          - Ei! Que história é essa de contar o milagre, mas não revelar o santo? Ah, assim não vale!

Riu e disse:

          - Só te digo que ele estava merecendo uma dessas já tem ó... O Paul é um excelente profissional. Mas tem um dos piores caráteres que já vi.

          - Ah, mas deixa que o castigo vai vir a cavalo. É infalível! - Ela disse e rimos.

Depois de um tempo, ficamos só nós dois à mesa e ela perguntou:

          - Vai ficar bravo se eu te fizer uma pergunta?

          - E por que eu ficaria?

Deu de ombros, fazendo beicinho. De repente, tive uma súbita vontade de morder seu lábio inferior.

          - Faz a pergunta.

          - Por um acaso você andou mexendo uns pauzinhos para que eu não descobrisse o que tem saído na mídia a respeito do nosso casamento?

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