quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

What happens in Vegas... Might not stay in Vegas - 14º capítulo


É difícil dizer em que estrada nós estamos viajando
às vezes ela nos leva a algumas cidades horríveis
mas de algum jeito, nós continuamos, ambos: nossas mãos e pés
no chão do carro e no volante

(Sixpence none the richer - Us)

Luiza

Ai minha cabeça. Maldita hora em que decidi parar de frescura e tomar aquele monte de drinks. Tentei me mexer, mas tinha alguma coisa pesada, grande e quente me segurando. Sem falar que, mesmo de olhos fechados, a claridade incomodava e muito. Fazendo um esforço tremendo, abri os olhos e gemi ao senti-los ardendo. Sem falar na maldita fotofobia. A coisa grande, pesada e quente se mexeu e me puxou para mais perto. Foi quando caiu a ficha. Era o Bill. Me obriguei a abrir os olhos de novo e a primeira coisa que vi foi o meu vestido jogado perto da janela. “Estou usando pelo menos a calcinha! Estou usando pelo menos a calcinha!” era meu mantra. O Bill se mexeu e, com isso, senti uma coisa e percebi que não estava usando nada. E nem ele. Grunhi e ele acordou, me dizendo com a voz mais sexy e rouca do universo:

          - Bom dia, rabugenta...

Consegui soltar um braço e levantei o lençol, gemendo ao constatar que realmente estava pelada.

          - O que foi? - Ele perguntou e o empurrei, para que finalmente me libertasse. Assim que o fez, me sentei, tomando o máximo de cuidado para não mostrar nada além dos braços e, no máximo, o colo e as costas. Pedi:

          - Por favor, me diz que a gente não fez o que acho que a gente fez.

Me olhou, com uma cara de confusão e disse:

          - Se você está achando que a gente fez sexo... Eu não sinto muito, mas... A gente fez.

Gemi, escondendo o rosto nas mãos e ele, só para me provocar, falou:

          - E cá entre nós... Você está entre as melhores.

Olhei para ele e falei:

          - E você é o pior!

Me levantei da cama, tomando o cuidado de me cobrir e ele continuou:

          - Não sei para quê ficar se cobrindo, se conheci cada mínimo pedaço do seu corpo... Até os mais escondidos...

Aproveitando que tinha uma poltrona com uma almofada ali ao lado, agarrei a bendita e atirei nele com o máximo de força que consegui. Fui até o banheiro e, depois de fazer xixi, me olhei no espelho. Meu cabelo estava num desgrenho que dava até vontade de chorar. Essa era a única coisa ruim, porque de resto...

Notei o roupão em um cabide ao lado do box e o vesti. Voltando ao quarto, o Bill continuava deitado, só que com o lençol quase mostrando o... Enfim. Peguei o celular e vi que era quase meio-dia. Resmunguei um palavrão em português e corri para me arrumar. Enquanto caçava uma roupa dentro da mala, ouvi o Bill perguntar:

          - Vai sair?

          - E desde quando isso é da sua conta? - Respondi, de péssimo humor.

          - Se toda vez que a gente transar, você ficar assim...

Estreitei os olhos, já com a camiseta e a calça na mão.

          - Essa foi a primeira e única vez que esse deslize acontece.

          - Se esqueceu da aposta?

Bufei.

          - A aposta ainda não está ganha, Kaulitz. E se bem me lembro... Foi sua ideia de suspendê-la.

          - Será mesmo? - Perguntou, se levantando e desviei o olhar dele quando ficou de pé. Corri para o banheiro e me arrumei o mais rápido que pude. Quando saí, ele entrou e rapidamente peguei o par de sandálias e a bolsa e saí. Ainda no lobby do hotel, pus os óculos escuros e saí andando, pensando em como ia conseguir um táxi. O porteiro do hotel me ajudou, dando um senhor assobio e um carro parou ali na frente. Agradeci a ajuda e disse ao motorista aonde queria ir.

          No meio do caminho, digitei uma mensagem rápida, avisando que ia me atrasar um pouco. Desde que me mudei para Londres, aprendi a chegar na hora e passei a detestar quando demorava, mesmo que cinco minutos a mais, até chegar.

Assim que o carro parou em frente ao restaurante italiano em Astoria, paguei a corrida e desci do carro. Entrando no restaurante, um dos garçons veio me oferecer uma mesa e falei:

          - Na realidade... Estou procurando uma pessoa.

Dei a descrição e me pediu para acompanha-lo. Me guiou até os fundos do lugar, que era tipo uma área privativa, e, logo que me viu ali, se levantou e veio me cumprimentar, com dois beijos no rosto.

          - Me desculpe. - Falei, depois que o garçom se afastou para pegar os cardápios.

          - A farra ontem foi boa pelo visto...  - Disse e queria me enfiar debaixo da mesa. O garçom voltou e cada um fez um pedido:

          - Não vou querer antepasto, então pode me trazer uma dessa salada de carpaccio de Bresaola. E água sem gás, com uma rodela de laranja e sem gelo, por favor.

          - Vou querer o mesmo que ela.

O garçom se afastou e tivemos a oportunidade de conversar.

          - Ei... Eu falei sobre ontem, mas foi brincando. - Disse, erguendo meu queixo.

          - Não é culpa sua. Eu... Tenho que te contar uma coisa.

          - Já está grávida?

          - Quê? Não! Quer dizer, até onde eu sei, não.

          - Então... Já dormiu com ele?

          - Era justamente isso que eu quero te dizer. Ontem foi a primeira e única vez.

Me olhou, analisando e diria que até estava especulando.

          - Mesmo se não tivesse se casado com ele, é livre para fazer o que quiser. - Respondeu e prendi a respiração. O garçom trouxe os pedidos e falei, depois que se afastou:

          - Aí que está. Você me conhece. Eu não queria que tivesse acontecido!

          - Tem certeza? - Perguntou e assenti.

          - Você sabe que se não quero, não faço.

Continuou me avaliando com o olhar e falei:

          - Eu ia aceitar.

          - Ia?

Assenti.

De repente, ergueu o olhar e fez uma cara estranha. Como eu estava sentada de costas para a entrada, não consegui entender de imediato o que havia acontecido.

          - Podia pelo menos ter me dito quem era. - Disse, antes de se levantar. Naquele instante, a ficha caiu e não me levantei. Nem olhei para trás, embora pudesse ouvir sua voz:

          - Ah, Luiza... Podia ter me dito que ia almoçar fora...

Finalmente ergui o olhar e o filho da mãe estava com um sorriso irritante no rosto.

          - Sou o marido dela. - Falou, esticando a mão.

          - Eu sou...

          - É, eu sei quem você é... Alex Ireland. E então? Posso me juntar à vocês?

          - Claro. - O Alex disse e tive vontade de dar um soco nele também. O Bill se sentou ao meu lado e ainda passou o braço sobre meus ombros. Comecei a cutucar um pedaço de anchova com a ponta do garfo e o Alex comentou:

          - Engraçado, porque sabia que a Luiza tinha se casado em Las Vegas, mas nunca ia imaginar que era com você...

          - Por quê? - O Bill perguntou.

          - Quais são as chances de isso acontecer com uma fã? - O Alex devolveu a pergunta e o chutei por debaixo da mesa. Senti o olhar do Bill em cima de mim e me concentrei em continuar a cutucar a anchova.

          - Você não falou que era minha fã... - Disse e finalmente desviei a atenção para ele.

          - Dei bandeira por todo esse tempo, sem falar na condição que te impus... E você não perguntou. Achei que fosse um pouco mais... Esperto. - Respondi, usando o mínimo de sarcasmo possível. O Alex só nos observava, com o sorrisinho canalha.

          - Teria me respondido ou ia fazer como nas outras vezes em que tentei descobrir mais coisas ao seu respeito? - Perguntou, usando o mesmo tom ácido que o meu.

          - Kaulitz, eu realmente estou me controlando para não enfiar esse garfo na sua coxa. Não abusa da sorte.

Manteve o sorriso torto e começou a conversar com o Alex. Dava para sentir o clima de tensão ali e eu estava me sentindo no meio do fogo cruzado. Sabia que o Bill estava morto de ciúmes do Alex e vice-versa, já que eles sutilmente se alfinetavam. Por fim, quando toda aquela tortura acabou, aproveitei a chance que tive, quando o Bill foi ao banheiro para pedir para o Alex:

          - Você sabe muito bem que a gente precisa realmente conversar. Sem interrupções.

          - É, mas depois de amanhã você vai estar em Los Angeles.

De repente, me ocorreu uma ideia.

          - As meninas.

Me olhou, sem entender e expliquei:

          - Elas estão aqui. Bom, aqui em Nova Iorque só a Lola. Mas elas são minhas vizinhas. Se você pudesse esticar sua estada aqui nos Estados Unidos por... Sei lá, nem uma semana, te seria eternamente grata.

          - Como sempre... A gênia do crime.

Sorri e disse:

          - Faz o seguinte: Se conseguir, liga para a Lola e pede para passar o recado. Senão, pode me mandar mensagem. Depois, tão logo eu consiga falar com você, caso possa ir para Los Angeles, te explico direitinho como a gente vai fazer para conversar.

          - Tudo bem. Iza, só... Me responde uma coisa. Ele está te tratando bem?

          - É um pouco implicante, mas isso aí já é característica natural dele. - Respondi. - Pode deixar que, qualquer coisa, tenho amigas que não são grandes, mas são duas. Dão conta do recado tranquilamente.

Riu e falou:

          - Se ele fizer qualquer coisa com você, me avisa que eu venho correndo te buscar, entendido?

Concordei e justamente nesse instante, o Bill voltou. Fez questão de manter o braço em torno da minha cintura e, quando consegui afastar, insistiu no contato físico. Na mesma hora, pensei nele como um gato, que fica se esfregando em tudo para demarcar território. Ficou óbvia a simpatia forçada que teve ao se despedir do Alex e nem pude me despedir direito, já que saiu me puxando pela cintura antes mesmo que eu demorasse um segundo a mais.

Quando chegamos à suíte, claro que houve briga e justo quando estava começando a perder o controle, bateram na porta. Era o gerente, avisando que alguns hóspedes estavam se queixando e, como eu ainda estava irritada, acabou sobrando para ele também:

           - Então o senhor me faça o obséquio de falar com esses hóspedes que é para experimentarem viver obrigada com uma criatura que nem esse... Aí, controlando absolutamente a vida inteira!

          - Aproveita e pergunta para os hóspedes se eles iam concordar que o marido ou esposa se encontrasse escondido de alguém com quem eles dormem com certa frequência!

A cara de surpresa do gerente foi hilária. Mas ele escapou por muito pouco mesmo de tomar uns tapas.

          - Dormia! - Me defendi.

          - É... Só porque ele estava a um oceano inteiro de distância. Senão, duvido que você não iria correndo para a cama dele!

Em poucas passadas, me aproximei do Bill e dei aquele tapa estalado no seu rosto, reunindo o máximo de coragem e força que consegui.

          - Nunca mais faça uma insinuação desse tipo. Se eu estou casada com você, não vou te trair.

Só então notei que a Nicola estava parada ali na porta, com expressão do mais absoluto choque, olhando do Bill para mim.

Assim que chegamos ao seu quarto, não consegui mais me segurar e a Lola tentou me acalmar.

          - Não estou te culpando em cem por cento. Mas te garanto que essa confusão toda seria evitada se tivesse dito a verdade para ele.

          - Quem te garante? Quer dizer, não duvido nada que ele teria me prendido no quarto de uma maneira ou de outra!

Suspirou e falei:

          - E essa crise de ciúmes dele foi o menor dos problemas.

          - Tem mais?

Assenti.

          - Estou até com medo de descobrir...

          - A gente transou noite passada. - Falei.

          - ALELUIA! - Disse, se levantando e me abraçando. - Ai, tenho que dar a notícia para a Nadine!

De repente me ocorreu uma coisa e ela, percebendo meu ar de preocupação, perguntou:

          - Me diz que eu estou pensando coisa errada...

          - Acho que você está pensando certo. - Falei. - Ai que raiva que eu fiquei bêbada ontem! Odeio quando isso acontece nessas circunstâncias.

Arqueou a sobrancelha e disse:

          - Bom, sempre tem a pílula do dia seguinte.

Me lembrei de uma coisa e saí do quarto, sendo seguida pela ruiva. Entrei no quarto, ignorando totalmente se o Bill estava lá ou não e fui até a minha bolsa. A pus sobre a cama e olhei o compartimento secreto. Assim que tirei todos os pacotes de camisinha, a Lola arregalou os olhos e falou:

          - Acho que nunca vi tanta camisinha junta num só lugar na minha vida inteira.

Ri e falei:

          - Tem mais na mala.

          - Wow! Você estava realmente planejando transar com o Bill, é isso?

          - Claro que não! E as da mala estão aí por causa daquela viagem que fiz com o Alex, antes de ter a ideia de irmos para Las Vegas.

          - Suas explicações não estão ajudando, Luiza. - Falou, rindo e tive que acompanha-la.

          - Quer uma que vai ajudar e muito? - Assentiu. - Estou cercada de homens gostosos. Tenho mais é que ser prevenida até que chegue a hora certa, não é?

Riu e contei os pacotes. Não contive o sorriso ao ver que tinha um faltando. O que só podia significar uma coisa. Me abaixei, olhando debaixo da cama e realmente tinha o plástico da embalagem ali de baixo. Fui até o banheiro e era o único lugar que não tinha nenhuma evidência, digamos assim.

          - E aí?

Assenti, sorrindo.

          - Mas como camisinha pode estourar... Vamos comigo atrás de uma farmácia?

          - Vou só pegar a bolsa. - Disse, se levantando e saindo do quarto. Estava terminando de guardar as camisinhas na mala quando senti que estava sendo observada. Sem olhar para trás, falei:

          - Apesar de tudo que você me disse, vou dormir aqui. Reconheço que errei em não ter te dito que ia encontrar o Alex. Fiz isso justamente porque sabia que ia ter toda essa confusão.

O ouvi suspirar e, quando me levantei e fiquei de frente para ele, disse:

          - Me desculpa. Não deveria ter te dito tudo aquilo e muito menos ter me comportado daquela maneira.

          - Realmente. Olha, apesar de tudo que eu possa ter dado a entender, sou fiel à você. Do mesmo jeito que, ainda que não fosse nem um namoro oficial, nunca traí o Alex. E nem outro cara com quem me relacionei. Pode não parecer, mas não sou nada do que imagina. A prova disso é que a coisa mais... Radical que fiz na vida até agora foi ter ido à Las Vegas. Antes disso, tinha sido dançar em cima de um balcão de bar, com um bando de caras me chamando de gostosa. Foi estranho. - Riu fraco e falei: - Eu te entendo perfeitamente. Sei que não sou a pessoa mais fácil de se lidar, mas... É o meu jeito. O que pode aceitar é o fato de que não vou mudar para agradar ninguém. Nem mesmo você. Do mesmo jeito que vou ter de me acostumar à sua personalidade. Principalmente os traços que eu mais odeio.

Me olhou de um jeito que fez meu coração ficar miudinho. Mas não podia vacilar. Peguei a bolsa e, antes de sair, falei:

          - A propósito... Eu menti hoje de manhã.

Me olhou, sem entender.

          - Você foi o melhor. Pelo menos até onde eu lembro...

E saí antes que aquilo ficasse mais constrangedor ainda.

Quando estava andando com a Nicola pela Times Square, conversávamos e ela perguntou, depois que passamos na farmácia (E já aproveitei para tomar a pílula) e fomos à Starbucks:

          - Então... Como foi ontem à noite?

          - Não me lembro, honestamente. Pena, porque foi a única vez. - Falei, firme e ela fez uma expressão de descrença que não deu para me controlar: Bati em seu braço e ela, mesmo reclamando, não desfez a cara. - Estou falando sério.

          - E você quer mesmo que eu acredite em você, com aquele monte de camisinhas dentro da mala? Justamente em você, Luiza, que só não é pior que a Nadine e só pega um cara gostoso atrás do outro?

          - Oi! Um desses caras gostosos é meu marido. Posso não estar apaixonada por ele, mas...

          - Eu te conheço tempo o bastante para saber que você não vai para a cama com um carinha lindo e muito menos porque conquistou a confiança dele. O que eu vi ontem... Iza, não era nem de perto parecido com o que você sente pelo Alex. Era muito mais... Forte.

          - Ah é, espertinha? E como você sabe que era muito mais forte?

          - Porque, apesar de tudo, você olha para o Alex do mesmo jeito que olha para um modelo de cueca da Calvin Klein. Fica babando, gosta muito dele e tal, até tem química, mas com o Bill... Por mais puta que esteja com ele, seu olhar brilha. Quando a Di chegou em Londres e me contou da sentença do juiz, pode ficar brava comigo, mas fiquei feliz por ele ter decidido te deixar morando com o Bill. Sempre soube que você não gostava dele só como fã, por mais teimosa que seja. E sabe disso. Eu sinceramente acho que deveria desistir de ir morar em Roma sozinha. Se teimar, leva ele junto. Ou senão... Fica com ele. Afinal de contas, essa é uma oportunidade única e se você deixar ele fugir assim... - Estalou os dedos. - Juro que vai ter meu ódio eterno.

Arqueei a sobrancelha e disse:

          - E eu sei que a Di vai me apoiar.

          - Nem um pouco de pressão. - Falei e ela, rindo, respondeu:

          - É proposital justamente porque eu sei que é uma coisa que você odeia...

          - Sabe muito bem que eu posso fazer o oposto de birra, só porque você está me pressionando desse jeito, não é?

          - Bom, você é quem sabe... Se quiser se arriscar a perder duas amigas numa só tacada... - Disse e falei:

          - Você é inacreditável, Roberts!

Sorriu de um jeito inocente e doce.

Voltamos para o hotel, quase no começo da noite e, assim que entrei no quarto, estava tudo escuro e silencioso. No entanto, sabia que o Bill estava ali. Fui andando até o quarto em estado de alerta e, vendo que a sua jaqueta estava jogada sobre a cama. Fui andando até lá e pus a mão sobre o forro, sentindo que estava quente. De repente, ouvi o barulho do chuveiro e resisti à tentação de ir lá. Em vez disso, troquei de roupa e liguei a TV depois de deitar na cama, com os pés na direção da cabeceira. Estava passando uma reprise de Friends e era um dos episódios mais engraçados. Não consegui me controlar e ri de várias coisas que aconteceram. De repente, notei um movimento perto de mim e, quando vi, o Bill tinha saído do banheiro. Como sempre, não se intimidou em trocar de roupa na minha frente e me esforcei para prestar atenção ao comentário infeliz que o Joey fazia. Depois de colocar só uma boxer preta, o Bill se deitou ao meu lado, e perguntou:

          - Tem muito tempo que você chegou?

Neguei.

          - O suficiente para trocar de roupa e descobrir essa reprise. - Falei, me sentando de frente para ele, na posição de índio.

          - Está com fome?

          - Descobri que aqui perto tem Starbucks.

          - Está lembrada que amanhã a gente volta para Los Angeles, não é?

          - Já?

          - Acabamos ficando um dia a mais...

          - E sua mãe vai voltar para a Alemanha com o Gordon?

          - Sim. Mas mês que vem eles vão para LA por causa do meu aniversário.

          - Já sabe o que vai fazer?

          - Alguma ideia?

          - Para te falar a verdade... Tenho. E vou precisar da sua ajuda.

Me olhou, estranhando e garanti:

          - Não se preocupe, porque você e o Tom vão gostar. E muito.

          - Estou com medo. - Disse, rindo fraco e dei um estalo com a língua.

          - O fato de eu não gostar do meu próprio aniversário te diz alguma coisa?

          - Sim. Que estou certo em ter medo.

Bati no seu ombro de leve e riu.

          - Pergunta para a Lola e a Di. É a melhor coisa que você tem a fazer.

Assentiu e, de repente, propôs:

          - Tive uma ideia. Vai se arrumar que vamos sair.

          - E aonde vamos?

          - Do mesmo jeito que vou confiar em você para o meu aniversário... Vai ter de confiar em mim.

          - Tá... E me visto como?

          - Jeans e camiseta está bom.

Concordei, indo até a mala e já escolhendo a roupa.

Pouco tempo depois, estávamos andando lado a lado e, em menos de dez minutos depois, quando chegamos, falei:

          - Está de sacanagem comigo!

          - Já tentou alguma vez?

          - Tem sorte de estarmos em público e eu não poder dar chilique. - Riu e falei: - E me vangloriando um pouco... Na primeira vez em que patinei no gelo, consegui ficar quase uma hora inteira sem cair. Em compensação, faltando uns... Cinquenta segundos para terminar o tempo, acabei tomando um tombo. Foi efeito dominó.

          - Convencida. Quero ver se vai conseguir ficar esse tempo todo em cima dos patins...

          - Beleza. Vamos fazer uma aposta então. Se eu conseguir ficar uma hora inteira sem tomar um único tombo... Você vai me pagar um café da Starbucks.

          - E se você cair?

          - Então, eu te pago o café e - Enfatizei o “e” - um bolinho e mais alguma outra coisa para comer.

          - Me parece justo.

Só quando estava terminando de calçar os patins é que notei uma coisa.

          - Você realmente fechou a pista só para nós dois?

Deu um sorriso daqueles mais fofos e falei:

          - Era o mínimo que eu tinha que fazer para me redimir.

Arqueei a sobrancelha.

          - Imagino o máximo...

Riu e logo, pudemos ir. E ele, logo de cara, já tomou um tombo. Desde que conheci as meninas, costumávamos ir às pistas de patinação no gelo quase todos os dias e, por isso, já tinha um pouco de prática e confiança. Foi por isso mesmo que decidi me arriscar a dar uma pirueta. E a cara dele ao ver isso foi hilária. Me aproximando dele, falei:

          - Estou pensando seriamente em incluir um bolinho no meu prêmio da aposta...

          - Convencida!

Ri e comecei a deslizar, cada vez mais me afastando dele.

Quase meia hora depois, me lembrei dos casos que minha avó me contava. Por ser oito anos mais nova que a minha tia-avó, minha bisavó acabava mandando as duas irem juntas para patinarem no gelo. Minha tia, de braços dados com as amigas, naquela coisa mais graciosa de todas. E minha avó, coitada, só tomando tombo atrás de tombo*. E naquele instante específico, o Bill fazia exatamente como minha avó.

Quando saímos de lá, falei:

          - De prêmio de consolação, te compro o bolinho do mesmo jeito.

          - Obrigada, mas não acho que vai adiantar muita coisa. Quer dizer, vou ter de dormir de bruços por um bom tempo depois de hoje.

Acabei rindo dele, que me provocou:

          - Ah, Belotti... Melhor você correr.

          - E você vai muito conseguir correr atrás de mim, com a bunda doendo...

Deu um sorriso malicioso e, quando vi, estávamos os dois correndo feito duas crianças, quase às nove da noite. Detalhe: Eu estava de salto. Atravessamos a rua até chegarmos à Starbucks e, depois que cada um fez o pedido e nos sentamos à uma das mesas, cada um estava comendo em silêncio até que ele, do nada, roubou um muffin de mirtilo que havia pegado para mim e deu uma generosa mordida. Arqueei a sobrancelha e perguntei:

          - Ah, então é assim?

Sorriu e, depois de engolir, respondeu:

          - Não reclama que eu podia ter te mordido.

          - Experimenta...

          - Já experimentei ontem à noite. E tenho que te dizer que você é deliciosa.

Eu mereço...

           - Seu canibal.

Riu e, depois que terminamos de comer, acabamos indo ao Central Park, que estava perto. Quando nos sentamos em um banco, perguntou:

          - No que está pensando?

          - De segunda à quinta-feira, costumava ir ao Hyde Park perto da hora de fechar e ficava andando por quase todo o lugar.

          - Você realmente gosta de correr riscos...

Sorri e falei:

          - Eu ia com a Bertha, minha chefa. Pode não parecer muita coisa, mas era melhor do que andar totalmente sozinha.

Passou o braço sobre o meu ombro e me fez deitar a cabeça sobre seu ombro.

          - Por que você quer ir para Roma? - Perguntou, depois de um tempo em silêncio.

          - Dê-se por satisfeito em saber que eu quero ir para lá. - Respondi e apertou minha cintura. Na mesma hora, senti uma cócega e ele percebeu.

          - Quer dizer então que você é sensível... Bom saber.

          - Não ouse! - Avisei e ele riu.

Depois que voltamos para o hotel, fomos arrumar as malas e, enquanto fazíamos isso, claro que houve algumas provocações e, quando fomos dormir, não resisti. Esperei até que estivesse deitado para me virar de frente para ele e, sem qualquer aviso, o beijei.


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* Fato 100% verdadeiro.


2 comentários:

  1. Mas que Luiza mais rabugenta pela manhã é essa? Bill ainda não tem medo da morte, provocando.
    Nem desconfiei de que ela iria se encontrar com o Alex... Achei que eram as meninas.
    Bill não foi nem um pouco ciumento, imagina, quase nada.
    E o que foi esse barraco no quarto do hotel gente? Até imaginei que iria rolar um. Pelo menos se fosse comigo rolaria. Certeza!
    Quase, quase achei que a Lu ficaria grávida :3
    Já patinei no gelo uma vez... e morri de medo de cair e acertar o patins na cabeça de alguma criança '-'

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    1. Oie!
      E você não acredita, mas eu NUNCA acordei de mal humor. Fico mais rabugenta que o normal se nem bem abri o olho e tem uma matraca falando na minha orelha. Aí perco mesmo a paciência. E o Bill gosta de viver perigosamente... Já até pulou de pára-quedas e se achou o anjo do X-Men xD
      E o Alex, apesar de gostoso, é... Bom, pensei em vários adjetivos para ele, mas não dá para publicar aqui xD O mais light é pentelho.
      Fico falando dos ciúmes do Bill, mas eu também não sou mole. Ia ter uma luta de UFC para botar inveja em Anderson Silva! xD
      Eu patinei pela primeira vez na vida na semana santa de 2011. Para quem é fisicamente desequilibrada, me saí muito bem, realmente tomando um tombo (Os espetaculares eu deixo para tomar na rua) faltando poucos minutos para acabar o tempo. Gritei, chamei a atenção, mas me diverti. Morri de medo de cair e me cortar com a lâmina, mas no final, deu tudo certo :)
      Obrigada pelo comentário!
      Beijinhos e até a próxima ;*

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