terça-feira, 19 de maio de 2015

The fair lady: 2º capítulo



02.

Sarah

Mais tarde, quando estávamos no hotel, o Ed comentou:

          - Não pude evitar de notar o quanto a Eavan ficou feliz de vir para cá.

          - Acho que o problema é que ela é... Como um pássaro enclausurado numa jaula. E a Eavan tem esse desejo de esticar as asas.

          - Só ela? - Ele perguntou, me observando.

          - Você sabe muito bem que eu não acho que o mundo se resume somente à Bibury. - Retruquei. - Tem tanta coisa para ser vista e a gente pode ir atrás de todas elas.

          - Eu sei o que você pensa. Mas... Estamos confortáveis. Moramos juntos, temos uma vida feliz juntos... Por mim, só basta o casamento e os filhos para ser feliz pelo resto da vida.

Segurei a língua para não perguntar: “E eu? O que basta para mim não importa?”. Fomos dormir pouco tempo depois.

Na tarde de domingo, descobrimos que havíamos comprado mais do que havíamos planejado, mas não tínhamos extrapolado muito o quanto tínhamos estipulado. Voltamos para a casa e, depois de deixar meus irmãos em casa, fomos para a nossa e o Ed propôs:

          - Estava pensando... A gente podia aproveitar e tomar banho juntos, o que você me diz?

Concordei, dando um sorriso sem mostrar os dentes. Não sabia o porquê, mas me senti desanimada.

Pouco depois, estava parada de frente para ele, de pé no meio do banheiro, com a banheira com um pouco de água (Afinal de contas, suas intenções ficaram claras desde o início) e ele, sem pressa, me despia de cada uma das peças de roupa que eu usava. Quando não sobrou nenhuma, fiz o mesmo com ele e entramos na água.

Algum tempo depois, quando ainda estava me sentindo um pouco lânguida, ele perguntou:

          - Você está estranha desde que voltamos... Aconteceu alguma coisa?

          - Estranha como?

           - Mais distante. Distraída, quase como se estivesse com o pensamento longe.

... E esse era um dos problemas de ele me conhecer tão bem.

          - E aquela história do seu celular não ficou bem explicada. - Ele reclamou e falei:

          - Te falei: Quase fui atropelada, estava com o celular nas mãos e, quando um daqueles heróis anônimos me salvou, o celular ficou no meio da rua e na reta da roda do caminhão. O que tem demais isso?

Afora a ocultação proposital da identidade do herói anônimo. Que, de anônimo, não tinha nada...

Quando ele foi dormir, eu não consegui resistir à tentação e fui até a sala de estar com meu computador e, assim que abri o navegador, joguei o nome do Bill na busca. A quantidade de sites de tabloides e de fofoca que postavam notícias, quase diárias, dele e cada uma mais escandalosa do que a outra... A mais comum era que ia à festas e estava sempre supostamente envolvido com alguma modelo. Sempre alta e magra, mais parecendo a Olivia Palito que qualquer outra coisa, apesar de ser sempre estonteante. Ao ler uma das notícias mais pesadas, entendi o motivo da Eavan não querer entrar em maiores detalhes com a minha mãe: Ele tinha sido detido por posse de cocaína. Mas, menos de um dia depois, tinha sido liberado. Obviamente porque o advogado dele era ótimo e deve ter feito alguma negociação excelente.

Virei a noite olhando as notícias e, no final, estava confusa. Se os tabloides e fofoqueiros faziam questão de passar uma imagem negativa dele... Por que então, se ele era tão mau quanto diziam, me salvou do atropelamento? Percebi que não era por pura educação, ainda mais que não pude evitar seu olhar, que era de preocupação.

Só fui me dar conta de que tinha amanhecido quando o Ed apareceu e me chamou. Rapidamente, baixei a tampa, para que ele não visse o que fiquei a noite inteira pesquisando e perguntou:

          - Onde você dormiu?

          - Eu fiquei sem sono, desci para ler alguma coisa e acordei tem pouco tempo. - Menti.

          - Sei. - Ele falou e deu para notar a desconfiança em sua voz. - Escuta, estou pensando aqui... Se quiser, pode tirar o dia de folga hoje. Eu lembrei que você queria visitar sua tia... Por que não vai lá?

Concordei, ainda mais que era justamente o que estava precisando.

Algum tempo depois, quando saímos, deixei o Ed no restaurante e segui para Gloucester. E, assim que cheguei à casa da minha tia, a encontrei mexendo no jardim. Assim que parei ao portão, ela estava distraída e perguntei:

          - A salsinha está murcha... Deu algum bichinho de novo?

          - Que murcha o quê! E vai dar bicho é na sua... - Ela finalmente ergueu o rosto e me viu. - Lembrou-se que tem uma tia, não é, sua sem-vergonha?

          - Eu nunca esqueci. O problema é saio cedo e chego tarde demais em casa.

Ela se levantou e, depois de dar uma boa olhada em mim, resmungou:

          - Uh-oh... Tem alguma coisa errada acontecendo. Das três, você sempre foi a mais fácil de se desvendar. Chá de camomila?

Assenti.

Tia Eleanor era, na realidade, irmã da minha avó materna. Mas não parecia que havia qualquer distinção de parentesco entre as duas, já que nós sempre éramos tratados de maneira igual entre as duas.

          - Então... - Ela perguntou, servindo o chá. - O que houve?

          - Eu preciso de uma direção. Estou pensando muito em algumas coisas e... Não sei o que fazer.

          - Mas eu sim.

Esperou que eu terminasse de tomar o chá para me pedir a xícara. Antes de entrega-la, porém, a sacudi três vezes, com a boca virada para baixo. Minha tia a girou várias vezes e perguntou, me mostrando o fundo:

          - O que você vê?

Peguei a xícara e falei:

          - Parece um anel. Mas, também... Parece... - Tentei ver melhor. - Um ovo.

          - Bom... Se lembra dos significados?

          - Eram óbvios, não? - Perguntei e ela assentiu. - Anel significa casamento e ovo... Filhos. Mas é justamente esse o problema. Eu... - Me freei, mas ela me observava e incitou que continuasse. - Não sei mais se quero que seja com o Ed.

          - Por que não?

          - Eu sei que não é a primeira vez, mas, minha mãe me falou do jeito que o Ed me trata e, não sei exatamente o porquê, mas, desta vez, não pude deixar de ficar pensando.

          - Mas o que aconteceu?

Suspirei e admiti a verdade. Contei tudo o que tinha acontecido em Londres, mas não falei quem era.

          - Eu sempre achei que você não tinha nada que voltar para Bibury depois de ter feito a faculdade. Tinha que ter ido para Londres, para falar a verdade.

          - Mas não podia ter deixado o Ed sozinho com o restaurante!

          - Sarah, presta atenção: O Ed é um filho da mãe egoísta que, por ele, você vai se casar, ter uma penca de filhos com ele e criar raízes em Bibury. E o pior: Vai ser infeliz. Acho que, se você está começando a questionar o namoro... É melhor não continuar.

Suspirei de novo e encarei o círculo que as ervas de chá formavam no fundo da caneca.

Quando voltei para a casa, no final do dia, o Ed já tinha saído para o restaurante. Aproveitei que estava sozinha em casa para tomar um belo banho de banheira, com uma taça de vinho do lado, e deixei os pensamentos fluírem. Eu mal sabia o que estava me aguardando no dia seguinte...

Bill

Não sabia explicar o que tinha me levado à Londres. Meus planos eram ir para Nova Iorque e tentar achar alguém que pudesse ser perfeita para a... Minha esposa. E no entanto, quando decidi, do nada, ir até Covent Garden... Foi quando tudo aconteceu. No exato instante em que ela saiu da loja e derrubou o trombadinha, eu tive certeza de que aquela garota não era como as outras. E verdade fosse dita: Ela me despertou certa curiosidade. Depois da confusão, notei que ela saiu de uma das lojas com uma menina de uns quinze, dezesseis anos, e um garoto que devia ter uns dezoito. As duas eram muito parecidas, embora tivessem leves diferenças.

Quando foram comer alguma coisa, me sentei perto de onde estavam e, num instante em que a garota que tinha derrubado o assaltante se virou, não perdi a oportunidade e fingi que estava mexendo no celular quando, na realidade, tirei a sua foto. Não sei por que fiz aquilo, mas não tinha como negar que ela era bonita, mesmo que não fosse como a maioria das meninas que eu conhecia, que só andavam de maquiagem, demoravam um século para se arrumar, gastavam um absurdo no salão de beleza. Na realidade, ela estava vestida de maneira simples, com camiseta listrada e jeans largos demais, tênis branco e estava com os cabelos soltos. Aliás... Chegavam na cintura. Eram escuros, como os da garota mais nova e a diferença era a cor dos olhos: Os da mais nova eram castanhos enquanto os da outra eram azuis; Pude ver aumentando o zoom da foto. Eram da cor exata de safira e contrastavam com os cabelos e a pele branca. Ela me lembrou a boneca de porcelana de uma amiga, com o rosto redondo, nariz de ponta arrebitada e boca carnuda.

A mais nova, pouco tempo depois, percebeu que eu estava a observando e, obviamente, me entregou para a outra. Quase imediatamente, os três saíram e paguei a conta. Fui atrás deles e, ao conseguir encontra-los no meio da multidão, os dois mais novos já estavam do outro lado da rua enquanto a que tinha parado o trombadinha ainda atravessava a rua e notei que mexia no celular. Tudo aconteceu lentamente e, ao ver o caminhão pequeno vindo na sua direção, parei de pensar e, quando vi, estava tirando-a da reta do caminhão e nós dois caíamos na rua, a salvo de um atropelamento.

          - Você está bem? - Perguntei enquanto a ajudava a levantar e ela me agradeceu.

          - Eu... Estou. - Ela disse e notei que algumas pessoas começavam a notar o que tinha acontecido.

          - Sarah! - Ouvi o grito e, quando olhei para o lado, vi que os mais novos estavam vindo na nossa direção. Antes de chegarem, falei:

          - Toma cuidado da próxima vez... Sarah.

E saí de perto dela, me misturando à multidão. Assim que cheguei em casa, disquei um número e, no terceiro toque, fui atendido:

          - Fala, Kaulitz...

          - Doyle? Preciso de um favor. Quero que você descubra o máximo que puder sobre uma pessoa...

          - Por que eu não estou surpreso? Então... Tem um nome?

 
         - Só o primeiro e a foto. E sei de uma coisa para facilitar tudo.

Contei e avisei que estava mandando a foto. Ele falou que iria fazer o possível e o impossível para conseguir descobrir tudo até o final daquele dia.

Tinha acabado de sair do banho quando o telefone tocou e atendi:

          - Pronto?

          - Kaulitz, é o Doyle. Achei quem você estava procurando. E já estou entrando em contato com os advogados do seu padrinho. Vou te mandar o endereço do restaurante onde ela trabalha por mensagem daqui a pouco. É em um vilarejo chamado Bibury. Fica perto de Gloucester. Mas tem uma coisa.

          - Que coisa?

          - Eu descobri que ela já tem um namorado. Os dois moram juntos. Mas, em compensação... Você pode ter uma carta na manga. O pai dele tem Parkinson e tem um tratamento experimental em um hospital de Zurique.

Entendi tudo na mesma hora. Nos despedimos e, em seguida, comecei a arrumar as minhas coisas. Quando estava tudo pronto, saí e, quando fui olhar o caminho no GPS, e vi que não era muito longe, cerca de duas horas. Assim que cheguei, procurei um hotel e na recepção, perguntei:

          - Escuta... Eu estava pensando em jantar fora amanhã à noite e... Tem alguma ideia de onde posso ir?

          - Bom, tem um. Os atuais donos foram para Londres e voltam amanhã à noite. É perto da escola...

          - Ah, sim... Obrigada. - Respondi, sorrindo e fui logo para o quarto. Me deitei na cama e fiquei olhando as coisas que o Doyle tinha me mandado sobre a garota. Eu sabia que era coisa de stalker, mas não conseguia tirá-la da cabeça e estava curioso para saber como ficaria se ela se arrumasse um pouco mais, usasse vestido e salto alto.

O Doyle não brincava em serviço e tinha em mãos, a ficha completa sobre ela. Desde uma cópia da certidão de nascimento, passando pelo seu histórico escolar e as cartas de recomendação dos professores para a faculdade. Era ótima aluna e uma coisa me chamou a atenção nela: Até uns quatorze anos, os professores só tinham uma única queixa da Sarah. Que ela se metia em brigas com os colegas do irmão mais velho. E eram brigas para valer. Não era por ser menina que tinha medo de enfrentar os caras e, pelo que li das reclamações, ela dava uma lição neles.

O meu telefone tocou e, assim que vi quem era, atendi:

          - Poppy Bennett...

          - Que história é essa de você ter de se casar para se tornar um duque e herdar tudo?

          - Você conhecia o Hans...

          - Sim. E se ele te impôs essa condição é porque você estava descontrolado novamente... E aí? Já achou a candidata perfeita?

          - Sim. Mas tem algumas coisas para serem resolvidas antes. A começar que tenho dois problemas: Convencê-la a se casar comigo e o pior de tudo é que ele tem namorado. Estão juntos há uns doze anos.

Ela soltou um palavrão.

          - Por que não estou surpresa? E, pelo que te conheço, você não vai sossegar até conseguir fazer com que os dois se separem, não é?

Não respondi e ela concluiu por si mesma qual era a resposta.

          - Kaulitz, já te falei que você é a pior pessoa que eu conheço? - Ela falou brincando, mas tinha um fundo de verdade.

          - É só por um ano e meio, Poppy. Depois, se ela quiser, pode voltar para a vidinha sem-graça dela aqui em Bibury.

          - “Aqui”? Espera. Você está em Bibury?

          - Estou. Vim atrás dela. E... O Doyle descobriu uma coisa muito... Interessante.

          - Meu Deus, Kaulitz, você é doente! Olha, eu espero que ela não descubra esse seu lado stalker.

Ri fraco e continuei conversando com ela. A Poppy era ex-namorada do meu irmão, mas mesmo antes, éramos amigos. Não conseguia vê-la como nada além de uma irmã de criação, ao contrário do Tom.

          Conversamos até altas horas e, no dia seguinte, conforme o planejado... Fui ao restaurante à noite e, assim que entrei, a vi. Estava conversando com uma típica família, daquelas com os pais e três filhos que não conseguiam sossegar e ficavam correndo e gritando o tempo inteiro.

Quase na mesma hora em que entrei no lugar, ela me viu. E veio me atender. Surpreendentemente, seu sotaque não denunciava de onde vinha e foi educada. Nem parecia aquela mesma garota que derrubou o ladrãozinho no mercado.

Me entregou o cardápio e, um pouco impaciente, falei:

          - Ah... Por enquanto pode me trazer uma pint da melhor cerveja. Quero esperar para fazer o pedido.


Foi rápida ao trazer a cerveja e, quando eu estava na metade do copo, ela sumiu. Perguntei a um garçom:

          - Escuta... Tem uma moça que me recebeu...

          - A Sarah? - Ele perguntou e concordei.

          - Eu gostaria de falar com ela, se possível...

          - Só um instante, por favor.

E saiu. Depois de alguns poucos minutos, a Sarah veio.

          - Pois não?

          - Eu... Queria fazer o pedido agora, por favor.

Assentiu e deu para perceber que estava irritada.

          - Esse ensopado aqui... É bom?

          - É um dos pratos que mais saem.

          - Ah é? Pode me trazer então, por gentileza. Por enquanto é só.

Ela anotou o pedido e foi até a cozinha.

Não muito tempo depois, paguei a conta e deixei uma boa gorjeta especificamente para ela, que até tentou recusar, mas insisti e acabou concordando.

Fingi que fui embora, mas fiquei esperando até o fim do expediente em um ponto mais escondido do outro lado da rua, mas que podia ter uma boa visão do restaurante. Assim, quando fecharam, pude ver. E vi o famigerado namorado. Era um cara comum. Quer dizer, com certeza, as meninas do vilarejo deviam ser loucas por ele e era o típico cara que toda mãe queria como genro. Não só pela aparência, mas pela postura que, claramente, era de bom-moço. Era mais baixo que eu, tinha os cabelos castanhos e não deu para ver a cor dos olhos. De repente, me lembrei de uma coisa que a avó da Poppy falava e muito: Os caras como o namorado da Sarah, segundo ela, tinham cara de fuinha.

No entanto, o cara fez algo que me chamou a atenção: Achei que ele fosse abrir a porta do carona do carro para ela, mas foi direto para o lado do motorista.

          - Quer dizer que ele tem um defeito... - Pensei em voz alta. Ao voltar para o hotel, não pude deixar de pensar que a Sarah obviamente não ia aguentar aquele... Conformismo que ele inspirava por muito mais tempo...

Na manhã seguinte, consegui descobrir quem era a fofoqueira da vila. Era uma senhora viúva que, apesar de cuidar da vida de todo mundo, era bastante querida. E, para minha sorte, uma das sacolas de mercado que estava carregando arrebentou a alça justamente quando eu estava passando. Ofereci ajuda e ela, obviamente, aceitou. Assim que entrei em sua casa, disse:

          - Muito obrigada. Foi mesmo um golpe de sorte ter você passando aqui.

Sorri e me ofereceu uma xícara de chá, que eu aceitei mais por educação e por saber que aquilo abriria uma brecha que eu queria. Dito e feito: Foi a conta de eu começar a tomar chá que a senhora, que eu descobri se chamar Jane Atkins, abriu o bico:

          - A Sarah é uma excelente menina. Tem um jeito bem... Fora do comum para uma garota, mas tem um coração de ouro. Todo mundo conhece, tanto ela quanto o Edward, o namorado. Estão juntos desde que a Sarah tinha quatorze anos e ele dezessete.

          - Ele é mais velho, então? - Perguntei e a senhora concordou.

          - Todo mundo ficou surpreso com isso. Quer dizer, sempre tiveram ótimos pretendentes da mesma idade para os dois, mas o Edward encasquetou com a Sarah e não teve jeito. Até hoje a gente lembra quando ela foi para Oxford. Foram os quatro anos mais longos da vida dele. Mas mais do que sofrer pela distância, a gente não esquece o escândalo que ele deu.

          - Como assim?

          - Ele foi até a faculdade e queria trazer ela de volta e por muito pouco, não foi expulso de lá e proibido de entrar de novo.

          - Nossa. - Respondi. - Mas... - Ele não se formou?

          - Não. O pai foi diagnosticado com Parkinson e ele teve que assumir o restaurante. Quando a Sarah voltou, ela decidiu ajuda-lo. Eu tenho a seguinte impressão: Ele está enraizado aqui em Bibury. Nasceu, cresceu e vai morrer aqui. E a Sarah... Bom, não é segredo que quer seguir o caminho dos irmãos. E dos cunhados. Os três irmãos dele e os mais velhos dela, Julie e Andrew, moram fora. A Julie mora em Gloucester e o Andrew mora em Eastbourne. O Ben... Acho que é em Edimburgo. O Dan mora em Bristol e o Joe em Liverpool.

          - Ela tem só esses dois irmãos? - Perguntei, embora já soubesse da resposta.

          - Não. A Carmen e o Richard tiveram cinco filhos. Só os mais novos, Robbie e Eavan moram com eles ainda.

Apesar de a senhora ter me dito a maioria das coisas que eu já sabia... Ainda sim, as notícias sobre o falso príncipe encantado foram bastante animadoras.

No dia seguinte, encontrei a irmã mais velha da Sarah. A que estava com ela era mais parecida. E me lembrei qual era o seu nome mais por causa do relatório.

          -... E o Ed falou que já estão juntando o dinheiro para pagar a viagem do pai dele até a Suíça para o tratamento. - Ouvi a Julie comentar com o feirante. Eu tinha resolvido dar uma volta pela feira quando tirei a sorte grande. De novo.

          - Ah é? Bom, se ele precisar... Fala com a Sarah que a gente ajuda. - O feirante respondeu. - O Mark é muito querido para a gente.

Dois dias depois, a sorte continuou e descobri que o falso príncipe encantado tinha saído da cidade para resolver algumas coisas em Gloucester e a Sarah tinha ficado sozinha em casa. Graças ao relatório do Doyle, descobri onde era e, depois de tocar a campainha, não demorou muito para que a porta fosse aberta.

          - Ah... É você. - A Sarah disse, desanimada. - Está me seguindo, não é?

          - Posso entrar? Quero conversar por um instante e tenho a sensação de que você vai querer me ouvir.

Mesmo impaciente, abriu um pouco mais a porta e me deixou passar. Logo, vi que a casa era simples, mas perfeita para ela e o namorado. Não demorei a ver que tinham dois gatos ali.

          - Eu... Posso te oferecer alguma coisa? - Ela perguntou e respondi:

          - Não, obrigada.

A segui até a sala de estar e, assim que nos sentamos um de frente para o outro, perguntou:

          - E então? O que quer falar comigo?

          - Eu soube que o pai do seu namorado tem Parkinson...

          - E... É por isso que você veio?

          - Também. Sei do tratamento na Suíça e que o seu namorado quer pagar, porém, não tem como.

Ela franziu as sobrancelhas.

          - Escuta... Eu detesto que as pessoas fiquem enrolando. Portanto, se você for diretamente ao ponto, vai ser melhor.

          - Sou o herdeiro de um duque. Tenho direito ao dinheiro e ao título. Mas o meu padrinho estipulou uma condição para que eu receba a herança. - Ela não me interrompeu e me ouviu atentamente. - Eu tenho como pagar esse tratamento para o pai do seu namorado. Nasci em uma família rica e, portanto, não vai me custar fazer essa... Boa ação.

          - Sei... E onde, exatamente, você está querendo chegar?

          - A condição para que eu receba a herança é que fique um ano e meio casado. E você é a candidata perfeita.

Ela gargalhou. Assim que se recuperou, disse:

          - Você realmente acha que eu vou aceitar toda essa maluquice? Quer dizer, sei que você é rico e afilhado de um duque. Mas que ele te impôs a condição de ficar casado com alguém por um ano e meio... Não sou idiota.

          - Eu nunca disse que era.

          - Realmente não deveria ter aberto a porta para você. Por favor, estou cheia de coisas para fazer e já perdi tempo demais.

Ela havia se levantado e me indicava a saída.

          - Bem que eu fui avisado de que você podia ser extremamente grossa.

          - Não é porque sou mulher que não sei me defender. E você pôde ver isso em Londres.

          - Eu sei. - Respondi. - Bom, pelo menos tentei.

Ela manteve o braço esticado na direção da porta e não me demorei muito tempo ali. De volta ao hotel, liguei de novo para o Doyle e falei:

          - Preciso que você ligue para os advogados do meu padrinho e avise que vou precisar de mais tempo. Mas que vou voltar para Londres com a minha noiva. Ela ainda está um pouco... Difícil, mas vou conseguir.

          - Tem certeza?

          - Absoluta. E Doyle... Uma última coisa...